terça-feira, 9 de março de 2010

Saartjie Baartman: A Vênus Hotentote



Imagem capturada na Internet (Google)



Como já comentei em sala de aula, as Atividades Dirigidas acerca do Dia Internacional da Mulher foram transferidas para abril, quando é comemorado – também – o Dia Nacional da Mulher (30 de abril).

Minha decisão pelo adiamento se deu em razão de termos iniciado o ano letivo de 2010 no final do mês de fevereiro, isto é, bem próximo da data comemorativa, o que acabaria prejudicando o andamento do período de revisão e de matéria nova.

Embora, a data nacional não tenha grande projeção nas mídias, sendo pouco conhecida - de uma forma geral - pela população, espero obter maior participação e resultados positivos durante o seu desenvolvimento.

Este ano não irei solicitar pesquisas (Biografias, por exemplo) e nem entrevistas. Vamos trabalhar com textos (leitura, interpretação e produção de texto).

Irei postar, neste espaço, artigos referentes a determinadas situações vividas por mulheres de acordo com a cultura do seu povo, algumas personalidades femininas, entre outros tópicos referentes à mulher.

Para iniciar esta série de artigos, o tópico escolhido é sobre a Vênus Hotentote, isto é, Saartjie Baartman ou Sarah Baartman. A mais famosa entre duas mulheres hotentotes, que foram exploradas como atrações exóticas na Europa, no século XVIII.

Sua história de vida foi marcada pelo colonialismo na África do Sul, pelo racismo e o sexismo seja na condição de mulher e vítima de exploração humana, tornando-a um objeto para satisfazer – exclusivamente – os interesses daqueles que eram seus proprietários (ou julgavam ser).

Como não haveria de ser, o seu destino foi severamente desumano e de uma barbaridade sem precedente.

Saartjie Baartman nasceu, em 1789, às margens do rio Gamtoos, no atual Cabo Oriental, na África do Sul. Ela pertencia à família Khoisan (denominada também por bosquímanos, hotentotes, coisã ou san), típica da região sudoeste do continente africano, cujas características físicas e linguísticas eram peculiares.

Fisicamente, os khoisan apresentam – em média – estaturas mais baixas e esguias que os demais povos africanos; uma coloração de pele amarelada; prega epicântica nos olhos (tais como os chineses e outros povos do Extremo Oriente) e a esteatopigia, comum entre ambos os sexos, mas com maior incidência entre as mulheres.

Saartjie Baartman chamava a atenção, principalmente, devido a isso (esteatopigia), que na verdade é uma hipertrofia das nádegas provocada pelo acúmulo de gordura.

Esteatopigia - Imagem capturada na Internet (Google)

E foi devido a suas volumosas nádegas, consideradas estranhas e, ao mesmo tempo, exóticas aos olhos do colonizador europeu, que Saartjie Baartman saiu da África e foi direto para a Europa.


Imagem capturada na Internet (Google)

Em sua terra natal, ela trabalhou como escrava para colonizadores brancos, isto é, fazendeiros holandeses que moravam próximos da Cidade do Cabo, na África do Sul. Daí, o fato dela falar fluentemente o holandês.

Por sugestão de um cirurgião britânico Naval, William Dunlop, Saartjie Baartman aceitou a ideia de se exibir na Inglaterra, acreditando que suas apresentações a tornaria rica. Na verdade, a intenção de William Dunlop era enriquecer-se graças à exploração desumana e sexual de Saartjie Baartman. E assim, o seu destino foi traçado...

Em 1810, com a idade de 20 anos, ela foi para Londres, onde se apresentou nua - em circos, museus, bares e universidades - por toda a Inglaterra.

Suas nádegas e seus órgãos genitais eram as principais atrações para o público europeu, que curioso, podia tocar em suas nádegas mediante pagamento extra.

Às vezes, sua exibição era feita em gaiola, sendo esta forçada a se comportar como um “animal selvagem”.

Suas apresentações ratificavam, cada vez mais, as ideias pré-concebidas acerca da superioridade branca face à inferioridade negra.


Imagem capturada na Internet (Google)





Ela passou quatro anos na Inglaterra, depois se mudou para Paris (França), onde permaneceu no período de quinze meses, entre 1814 a 1815, onde já nas mãos de Henry Taylor e, posteriormente, por Reaux, continuou se apresentando em de forma degradante em shows e exposições. Neste mesmo período, ela também foi explorada por um treinador de animais.

Além das exibições em público, Saartjie Baartman também foi forçada a se prostituir e, em desespero, ela recorreu ao consumo “pesado” de álcool.

Ainda em Paris, ela atraiu a atenção e recebeu a visita de cientistas franceses, em particular, do anatomista francês Georges Cuvier, tendo sido objeto de inúmeras ilustrações científicas, como no Jardin du Roi.

A Vênus Hotentote (Saartjie Baartman) morreu no dia 29 de dezembro de 1815 em decorrência de uma doença inflamatória, provavelmente de sífilis.

Seu corpo foi dado a Georges Cuvier, que fez um modelo em gesso, tendo o cuidado de preservar suas dimensões corporais em termos das nádegas e dos órgãos genitais para serem exibidos no Musée de l'Homme, em Paris.

A réplica de seu corpo (em gesso) e o seu esqueleto ficaram expostos no Musée de l'Homme, até o ano de 1985, assim como também os seus órgãos genitais e o cérebro, conservados em frascos de formol.

No entanto, desde a década de 1940 do século passado, vários apelos foram feitos a fim de que seus restos mortais retornassem para o seu país de origem, mas o caso só ganhou maior repercussão e relevância após a publicação do The Hottentot Venus, de autoria do biólogo estadunidense Stephen Jay Gould, na década de 80 do mesmo século.

Ao assumir a presidência da República da África do Sul (1994-1999), o presidente Nelson Mandela solicitou – formalmente - à França, o regresso dos restos mortais de Saartjie Baartman.

No dia em que a legislação necessária para a liberação dos seus restos mortais foi aprovada no dia 21 de fevereiro de 2002 e, em 3 de maio do mesmo ano, estes foram devolvidos à Gamtoos Valley, sua terra natal. Sendo enterrados em cima de Vergaderingskop Hill, com vista para seu amado Gamtoos River. Seu túmulo foi declarado patrimônio nacional.

Musée de l'Homme, Paris - Imagem capturada na Internet















Crianças Khoisan na chegada dos restos mortais no Aeroporto de Cape Town











Gamtoos Valley


Fontes de Consulta

. ChinkenBones: A Journal

. Wikimedia Commons

9 comentários:

  1. Ah tá entaum é assim que ela era
    =D

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  2. Ai professora, tadinha. Será que ela não pensava em larga essa vida que levava? É um coisa totalmente humilhante :\

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  3. E verdade professora, concordo com a tamiris. Mais ela era obrigada certo?
    Bjs :*

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  4. Parabéns, belo texto. Estava pesquisando sobre o assunto e seu texto me deu uma boa ideia sobre este fato.
    Me interessei após ler isto: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/09/08/filme-sobre-aberracao-do-seculo-19-impressiona-em-veneza-917580460.asp

    Creio que também te interesse.

    Abs,
    Marcelo

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  5. Parabens pelo texto incrível e de fácil entendimento. Já li muitos artigos, vi imagens e ate o longa metragem que tenta retratar a curta vida de Sara Baartman, e sem dúvida, nossa alma e ancestralidade preta grita por ela e por tantas outras vidas escravizadas.
    Gratidão por trazer a seus alunos a história .

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  6. Foi uma mulher que muito sofreu mas tinha, força de viver mas foi enganada por muitos mas a sua beleza ou seu co rpo era uma escultura. Linda negra e pura africana

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  7. Gostei da história dessa linda africana, sei que somos desvalorizadas, como africana que somos, temos orgulho de ser ...

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  8. Uma das coisas que temos como africana, e as nossas dança, nós ritmos de batuque, as nossas culturas, as nossas caças,pescas,tudo isso é nós faz ser um povo especial povo de África...

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