quinta-feira, 28 de junho de 2018

26 de Junho: Dia do Professor de Geografia

Imagem capturada na Internet

Ontem, 26 de junho, foi o Dia do Professor de Geografia e eu aproveitei para homenagear alguns colegas de profissão e de minha área de conhecimento, em ambas Unidades Escolares onde trabalho, bem como de outras, em que trabalhei.
E, tal como, eu sempre comentei com os alunos acerca da importância da Geografia... “Vocês vivenciam a Geografia desde o momento em que abrem os olhos após acordarem”, resolvi escrever uma crônica sintetizando a sua relevância sob esse contexto diário.

As palavras ou expressões em negrito são correlatas aos tópicos abordados no estudo geográfico.


FAZENDO E VIVENCIANDO A GEOGRAFIA
                                                  Marli Vieira de Oliveira da Silva


Mais um dia...

Abri os olhos e, sob um gesto mecânico, desliguei o despertador no meu criado mudo.
Acordei e levantei, ainda sonolenta, iniciando mais um dia da semana e a Geografia...
A minha, enquanto cidadã ou a nossa, enquanto membro da sociedade brasileira, parte da humanidade.

Liguei a televisão na intenção de assistir o telejornal e saber das últimas notícias do Brasil e do mundo...

Preparei e tomei o café da manhã, nos padrões normais de ingestão de calorias, nem muito abaixo e nem muito acima do nível recomendado pelo Ministério da Saúde... Sou classe média.

Em meio aos goles de café e os pedaços de pão ingeridos, surpreendi-me com as últimas notícias no telejornal... Erupção vulcânica em um país da América Central; uma nova epidemia da febre ebola na República Democrática do Congo, no continente africano; o inusitado acordo de desnuclearização da península coreana firmado pelo presidente Donald Trump (EUA) e o líder norte-coreano Kim Jong-um e outras reportagens.

A nível nacional, o destaque foi para o fato do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Pedro Gomes permanecer ainda sem solução, sem identificação dos assassinos e de seus mandantes, bem como as manifestações populares, do dia anterior, contra o aumento da passagem dos ônibus e a chegada de uma frente fria na cidade.

Apressei-me pelo adiantado da hora, tomei banho e me arrumei para o trabalho. Lembrei-me de economizar a água e, ao mesmo tempo, a energia, pois o país está enfrentando um longo período de estiagem, estando muito baixo o nível de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas. O governo, inclusive, articulou o uso das usinas termelétricas como medida alternativa a fim de garantir o fornecimento de energia durante esse período crítico.

Saí de casa e continuei a vivenciar a Geografia, só que mais intensamente, pois encontrava-me integrada e, ao mesmo tempo, interagindo no cenário, na paisagem, em um lugar conhecido, no espaço geográfico e em um território delimitado...

Durante o meu deslocamento até o ponto do ônibus foi possível ver vários moradores de rua, ainda, dormindo embaixo das marquises de estabelecimentos comerciais, alguns tendo a companhia de seus fiéis amigos caninos.

Vida difícil, de total desesperança em dias melhores, pois cada dia é uma batalha de sobrevivência com baixas expectativas...

Discriminação, fome, doenças diversas etc. Todos desassistidos pelo Poder Público, marginalizados e colocados à parte da sociedade. Nenhum deles se vê como cidadão, com seus direitos e deveres assegurados...

O ônibus chegou e ao subir os degraus, percebi - após cumprimentar o motorista - que ele estava dando o troco da passagem a outro passageiro, com dificuldades em passar pela roleta eletrônica devido ao excesso de peso. Aguardei a minha vez e paguei a passagem, contrariada, pois esta sofreu novo aumento, mesmo sem ter havido melhorias na qualidade dos veículos de transporte coletivo, principalmente, rodoviário.

Se já não bastasse o desconforto dos assentos, pude verificar que o projeto de climatização dos transportes coletivos, exigido por lei, não foi cumprido pela maioria das empresas de ônibus urbanos, municipais e/ou intermunicipais. Projeto este de grande importância, tendo em vista que se trata de uma questão de saúde pública, uma vez que o clima de nossa cidade é quente, praticamente, o ano inteiro e, sobretudo, no verão. 

Começou a chover, tal como fora anunciado no noticiário matinal. Chuva frontal e não parece que ela vai cessar logo...

Durante o longo trajeto entre a minha residência e a escola onde trabalho, cujo movimento é tipicamente pendular, vivenciei as mais diversas situações típicas dos grandes centros urbanos de países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento.

Um vendedor ambulante adentrou no veículo, sob o consentimento do motorista, anunciando – aos gritos - a venda de saquinhos de balas, paçocas, amendoins e outras guloseimas a preços módicos, ignorando completamente o cansaço de alguns passageiros após uma noite exaustiva de trabalho, bem como a dificuldade de outros em acordar cedo para trabalhar ou estudar, os quais acordaram assustados de seus breves cochilos dentro do coletivo.

A cada parada do ônibus, mais e mais passageiros entram, em uma nítida desigualdade entre aqueles que desembarcavam por terem chegado ao seu destino. Aos poucos, o ônibus ficou superlotado e, simultaneamente, o burburinho entre os passageiros aumentou, piorando a poluição sonora e, também, o estresse do motorista. Nervoso por sua dupla função: motorista e cobrador.

Uma passageira distraída, sentada no banco próximo à janela, ouve a chamada e atende o seu celular. Sua conversa é curta e interrompida, pois no momento em que o ônibus parou no sinal de trânsito, um meliante, esperto, conseguiu arrancar o aparelho de suas mãos, pela janela, atravessando a via pública, correndo e desaparecendo entre o trânsito parado.

A ação foi muita rápida, tal como a frustação e o sentimento de impotência da passageira, vítima do furto, assim como o dos demais passageiros. Foi mais um caso para entrar na estatística de furto de celulares da cidade...

Cheguei ao meu ponto de desembarque, agradeci ao motorista e desci do ônibus. Caminhei a pé, ainda, por dois quarteirões para chegar na Unidade Escolar em que trabalho. Casas simples, com jardins e com vasos de plantas nas janelas, típicas de subúrbio, dão cor e mais vida ao meu trajeto.

Fui cumprimentada por alguns moradores locais, que já haviam iniciados as suas tarefas diárias, varrendo a calçadas, regando as plantas ou passeando como os seus cães. Estes fazem parte da Comunidade Escolar, daí me conhecerem.

Entrei e estranhei a baixa frequência de alunos na Unidade Escolar... Mas, quando perguntei à inspetora sobre a razão disso, ela me respondeu que, desde a noite passada, estava havendo incursões e operação militar na Comunidade, onde a maioria dos alunos mora e que o tiroteio acirrado os impediu de sair de casa, pela manhã.

A violência é uma marca negativa da vida de nossa comunidade escolar, do bairro, da nossa cidade, do nosso estado e do país. Em outras palavras, é um problema nacional e de difícil solução, porém mais agravante em nosso município.

Em meio ao som de tiros e dos voos rasantes do helicóptero da polícia, nos chega a notícia de uma vítima fatal, por bala perdida. Foi um morador da comunidade que estava indo trabalhar. Mais um inocente é morto e entra no ranking de vítimas da violência urbana. É o retrato da nossa violência, da realidade de muitos...

Cumprimentei aos poucos alunos que se encontravam na sala de aula e comecei a minha aula. No entanto, não pude deixar de ouvir os relatos de alguns alunos sobre a situação caótica e de riscos por qual a comunidade deles está enfrentando.

Fiquei a pensar... Que vida é essa?! Medo, insegurança e nenhuma certeza de haver outro amanhecer... Dura e sofrida realidade!

"Vamos, galera! Prestem atenção, pois vou começar a aula!"

Vejo um dedo levantado e cobro a razão da intervenção... É a aluna transferida, recentemente, de outra Unidade Escolar...

"Por que devemos estudar Geografia? Qual é a importância dela para nós?"

Fiquei a pensar, desde o momento em que meus olhos abriram, pela manhã... Não tive dificuldade nenhuma em esclarecer as dúvidas da aluna. Inclusive, prometendo esse texto.

A Geografia tem suas múltiplas facetas e áreas de abrangência, sob uma ótica interdisciplinar. Seu estudo é bastante complexo, refletindo e apontando aspectos ligados a nossa realidade diária, seja esta social, econômica, política, cultural e ambiental.

Então...Vamos lá, galera! A aula vai começar!

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