Na 3ª feira passada (27 de julho), o Sítio Roberto Burle Marx (antigo Sítio Santo
Antônio da Bica), localizado na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, mais
especificamente, em Barra de Guaratiba,
foi escolhido como Patrimônio Mundial,
na categoria Paisagem Cultural, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO).
Com isso, este se tornou o 23º bem brasileiro registrado na
lista de patrimônios mundiais da referida Entidade.
Eu tive a oportunidade de conhecê-lo, em janeiro de 2019, com a minha família e, posso assegurar
que é muito bonito e que vale a pena visitá-lo!
Segundo fontes de pesquisa, o antigo
Sítio Santo Antônio da Bica foi adquirido pelos irmãos Roberto Burle Marx e Guilherme Siegfried Marx,
em 1949, após uma longa pesquisa por espaços que apresentassem
ótimas condições ambientais, conciliando solos apropriados, rochas expostas,
água abundante e, sobretudo, que o seu entorno estivesse sem riscos da
especulação imobiliária.
Arquiteto e Paisagista Roberto Burle Marx
Imagem capturada na Internet
Imagens do meu acervo particular (2019)
A vegetação em sua
localidade é nativa, constituída, sobretudo, por espécies
da
Mata Atlântica, as quais se mantinham e ainda se mantêm preservadas em razão do Parque Estadual da Pedra Branca (criado em 28
de junho de 1974).
Entre 1952 e 1960, eles
compraram terrenos
vizinhos, os quais foram anexados, expandindo, por conseguinte, a
área do sítio. Durante esse período, eles também realizaram várias intervenções em seu interior, como novas infraestruturas, edificações, viveiros
de plantas e áreas ajardinadas,
a fim de alcançar o objetivo principal de Burle Marx, que era transformar a sua
propriedade em um verdadeiro laboratório,
um espaço para aclimatação de plantas.
E eles conseguiram!
O sítio foi doado por Burle Marx à antiga Fundação Nacional Pró Memória, hoje, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1985, na intenção de garantir a continuidade das pesquisas, a disseminação dos conhecimentos adquiridos, o acesso da sociedade ao espaço, bem como a criação de uma escola de paisagismo, botânica e artes, em geral. Além de transmitir o que ele amava fazer: jardins.
Em 1983, Burle Marx havia solicitado o tombamento estadual do sítio, na intenção de garantir a sua preservação (sua grande preocupação), obtendo Tombamento Provisório (19/10/1983) pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). O Tombamento Definitivo foi efetivado em 27/01/1988.
Em 1994, aos 84 anos, Roberto Burle Marx morre, sem poder testemunhar – anos depois - o tombamento do seu sítio pela União, que veio a ocorrer só em 2000.
Todas as imagens, abaixo, são do meu acervo particular (2019)
Sombral Graziela Barroso (tipo estufa fria/viveiro)
Sombral Margaret Mee
(na ocasião, este estava fechado)
O Sítio Burle Marx possui uma área
de 405 mil m², onde há mais de 3.500 espécies
de plantas (tropicais e subtropicais), dispostas em viveiros e em jardins. Em sua área ainda
há várias edificações, tais como: a Capela de Santo Antônio da Bica (datada do
Século XVIII e restaurada por Burle Marx); a sua casa; a Loggia; a Casa de Pedra, a Cozinha de Pedra, o Ateliê e o prédio da Administração.
Todas as imagens, abaixo, são do meu acervo particular (2019)
Capela de Santo Antônio da Bica
Imagem de Santo Antônio da Bica
A antiga casa que existia no sítio, na ocasião em que Burle Marx o adquiriu, era de estilo
colonial, porém modesta. Ela foi reformada e ampliada ao longo tempo, porém conservando o
seu estilo de época.
Em seu interior é possível deslumbrar-se com as diversas peças do seu acervo, como objetos de suas coleções, suas obras de arte, louças,
itens pessoais, mobiliários etc.
Todas as imagens, abaixo, são do meu acervo particular (2019)
A casa do Roberto Burle Marx
Varanda de sua casa
Detalhes do seu quarto
Ao lado, em anexo à casa, em um nível mais abaixo desta, foi
construído um novo cômodo, justamente,
para que fosse colocada uma porta de uma igreja
em demolição, que ele havia adquirido na década
de 80 (Século XX). Este novo cômodo é conhecido como a Sala das Cerâmicas, onde pode-se ver diversas
peças artesanais e outros itens de suas coleções.
Imagens do meu acervo particular (2019)
A Loggia se encontra
localizada entre a casa do arquiteto
e a Capela. Ela é bem aberta e apresenta uma
arquitetura sob a forma de arcos, oferecendo uma perfeita visão da parte
externa. Embora pequena, esta servia como atelier
de pintura e serigrafia. Os azulejos que revestem as paredes foram pintados
com desenhos do próprio Burle Marx.
Loggia (pequeno atelier de pintura e serigrafia)
Foto do meu acervo particular
Detalhe de sua parte interna
Foto do meu acervo particular
Busto de Burle Marx (em bronze)
Visão de um dos seus jardins
Foto do meu acervo particular
Burle Marx em seu Ateliê
Imagem capturada na Internet
Foto: Reprodução/Claus Meyer Tyba
A Casa de Pedra foi projetada
por seu irmão, Guilherme Siegfried Marx, que também foi
proprietário do sítio (este foi indenizado por Burle Marx por ocasião da doação
do sítio). Sua construção ocorreu entre os anos de 1957
e 1958.
Em sua entrada há diversos itens de suas coleções e, entre os cômodos
existentes na casa há uma Sala de Música,
na qual consta um piano e outras peças de seu acervo pessoal.
Acredito que, neste interim de tempo (2 anos), algumas coisas
mudaram no sítio. Daí o contexto dos ambientes, por mim registrados em
fotografias, podem – talvez – não ser mais condizente com o que se tem, hoje.
Na época em que visitei havia fita de isolamento de áreas (jardins) e previsões
de mudanças de funcionalidade da (Casa da Pedra).
A chamada “Cozinha de Pedra”
é um espaço totalmente aberto, com piso de pedra e concretos integrados a toda a
vegetação ao entorno. Um grande painel
pintado pelo
próprio arquiteto e paisagista se destaca e chama a atenção, além da queda de água de sua cobertura,
onde há um espelho d’água.
Este espaço foi projetado
por Rubem Breitman e Haroldo Barroso Beltrão, tendo sido premiado, em 1963,
pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil,
com o título de “Pavilhão Roberto Burle Marx”.
Este servia de salão de festas
e era onde o Burle Marx oferecia almoços
para diversos convidados, entre amigos,
museólogos, pintores, arquitetos e outros.
Por duas décadas, Burle Marx contou com o apoio do rio-grandense-do-norte, Cleofas César da Silva,
que preparava os banquetes de acordo com os cardápios organizados por ambos.
Imagens do meu acervo particular (2019)
Considerado um espaço multiuso,
a edificação onde funciona o Ateliê principal, com
sua fachada de pedras, pode-se dizer
que é o “cartão postal” do Sítio de Burle
Marx. Ele agrega também a sua mais nova residência.
Este foi erguido em várias
etapas na década de 70
(Século XX). Voltado para diferentes eventos,
tais como concertos, saraus, cursos, exposições, entre outros, sua capacidade
é de 160 pessoas sentadas.
Sua
fachada foi adquirida de um sobrado neoclássico
do centro do Rio de Janeiro, que foi posto ao
chão (demolido). Mas, somente nos anos 80,
a fachada de pedras foi remontada sobre uma base de concreto.
Infelizmente, eu não consegui visitar sua área interna na
ocasião, mas de acordo com as fontes de pesquisa, neste se encontram seis telas e uma
tapeçaria, todas de grandes dimensões, as quais foram feitas pelo próprio
Burle Marx, especialmente, para compor a decoração do espaço.
Imagens do meu acervo particular
“Deus, para mim, é a natureza”
RobertoBurle Marx
Baseado nesta crença
e em sua habilidade de paisagista e de
arquiteto, que Burle Marx realizou o seu sonho
de criar um laboratório de plantas vivas
em seu Sítio na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Seu caráter altruísta
o fez proporcionar à sociedade e às gerações futuras, a oportunidade ímpar de conhecer
e assimilar - de alguma forma - o seu legado, sem que este corresse o risco de
se perder.
Burle Marx fez de tudo para garantir a sua continuidade tanto no
campo científico (experimentações e disseminação de conhecimentos) quanto no campo
de divulgar a sua história, suas realizações, obras e, sobretudo, o seu amor
pelas plantas e pelos jardins.
A atual presidente do IPHAN,
Larissa Peixoto, enalteceu o reconhecimento da importância do Sítio Roberto
Burle Marx reportado ao título de Patrimônio Mundial, que este recebeu, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura - UNESCO (Ciclo Vivo).
“A chancela estabelece
um compromisso para manter
os
valores excepcionais que tornam esse lugar de importância
para toda
a humanidade.
Temos a
missão de preservar para as futuras gerações
este
espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento
sobre
natureza, paisagismo, arte e botânica”.
Fontes:
. NASSIF, Tamara. Unesco tomba Sítio Burle Marx, no Rio, como
patrimônio mundial – Veja
. Rio de Janeiro – Sítio Santo Antonio da Bica – ipatrimônio/patrimônio cultural brasileiro (beta)
. SANTANA, Paula. Sítio Roberto Burle Marx concorre a
Patrimônio Mundial da Unesco - GPS
. Sítio Roberto Burle Marx - Site Oficial
. Sítio Roberto Burle Marx recebe título de Patrimônio Mundial
da Unesco – Ciclo Vivo