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domingo, 18 de maio de 2014

Artigo: Desabafo

 
 Imagem capturada na Internet (Fonte: Rosário em Foco)
 
 
Optei por retornar às atividades junto ao Blog, depois de um período grande afastamento, com um artigo muito pertinente a um problema sério no âmbito de nossas escolas, que é o caso de alunos copistas e/ou analfabetos.
 
E, quando eu menciono que temos casos em nossas Unidades Escolares não estou me referindo a um ou outro ali, são vários casos de alunos analfabetos, em séries ou anos de escolaridade, sem a mínima formação básica, ou seja, a situação deles permanece e se agrava diante da falta de um planejamento e tratamento específico.
 
Sua situação se agrava porque ele não consegue acompanhar a turma e, aos poucos, o sentido de exclusão social pode se materializar e sua vida estará fadada ao isolamento social, a timidez e auto estima baixa.
 
É preciso repensar nos caminhos que a Escola deve seguir para amenizar, mitigar ou solucionar de vez esta situação.
 
Eu tenho dois alunos, cada qual em um nível de escolaridade (Ensino Fundamental e Ensino Médio) que se enquadram neste perfil. As respostas que obtive, quando mencionei a respeito de cada um, não remete a soluções desejadas e/ou reversão do quadro.
 
Eles não escrevem, mas acertam quando as atividades ou avaliações apresentam questões objetivas. Se houver, alguma questão discursiva (dissertativa), a questão fica sem resposta. Mas, conforme um deles confirmou a mim, recentemente, os acertos são chutes. 
 
Já conversei com ambos os alunos, mas fica difícil - perante a pressão externa e o cumprimento do Plano de Curso no período bimestral - a gente trabalhar de forma diferenciada ao ponto de iniciar um trabalho de alfabetização. Caberia à escola buscar os caminhos mais viáveis a fim de atender estes alunos em suas dificuldades, de preferência com atendimento individual no contra-turno.
 
Leiam o artigo de Eduardo Chaves. Só assim poderemos refletir em nossos papéis como educadores, da Escola, enquanto Instituição de Ensino e Aprendizagem e, dos responsáveis que, em muitos casos, se mostram alheios ou indiferentes aos problemas dos próprios filhos.
 
Como o artigo é extenso, vou disponibilizar o link para a continuação de sua leitura, citando, antes, um trecho do mesmo.
  
" (...) escola ruim, além de representar
desperdício de tempo e de dinheiro,
causa um mal ainda pior:
convence as pessoas de que
a aprendizagem e a educação não valem nada,
de nada servem para o seu desenvolvimento,
não fazem diferença em sua vida."
 
Eduardo chaves
 
 
 DESABAFO

 
Eduardo Chaves, artigo publicado em 21/10/2011 
 
Este artigo é um desabafo. Um desabafo a propósito de um vídeo de um rapaz português de 15 anos, prestes a completar 16, chamado Marco, que vi no YouTube. O vídeo me foi recomendado por um amigo meu, de Odivelas, perto de Lisboa. Fiquei revoltado com o que vi – e com o que não vi, mas sei que existe. Por isso o desabafo.

O que me revoltou mais foi saber que coisas assim acontecem também aqui no Brasil, em números absolutos bem maiores e, talvez, em números percentuais ainda superiores aos de Portugal: jovens que chegam aos 15 ou 16 anos totalmente analfabetos (e não só analfabetos funcionais), apesar de haverem frequentado a escola desde os sete anos, ou seja, ao longo de pelo menos oito anos.
 
A imprensa brasileira de vez em quando relata fatos semelhantes. No entanto, uma reportagem de jornal ou o resumo comentado de uma pesquisa parece não traduzirem a realidade da tragédia. O relato escrito parece não chocar tanto quanto um vídeo em que esta realidade assume rosto e voz.
 
Quando a gente assiste ao vídeo que exibe, de forma clara e inequívoca, que oito anos de escolaridade não valeram absolutamente nada para esse rapaz, podemos concluir que alguma coisa está errada, muito errada. Porque durante esse tempo todo ele não aprendeu nada na escola – a ler, a escrever, a dizer a data em que nasceu, tampouco a indicar cidades próximas àquela onde vive.
 
Como a escolaridade básica é obrigatória em Portugal, mais ou menos como aqui, podemos dizer que os anos passados por Marco na escola simplesmente foram oito anos de vida que ele perdeu: roubaram-lhe esses anos ao obrigá-lo a frequentar uma escola em que ele nada aprendeu.
 
Na instituição onde estudou, ninguém o acompanhou, ninguém conferiu se ele estava aprendendo algo. Fosse ele deficiente mental, incapaz de aprender o que esperavam que aprendesse, deveria ter sido encaminhado para uma escola especial. Se fosse um caso extremo de deficiência, um menino que não iria aprender nada nem mesmo com a ajuda de profissionais especializados, o sistema educativo deveria ter decidido que ele era inescolarizável, requerido a um juiz qualquer que o dispensasse da escola, e enviado-o Leia mais...

terça-feira, 3 de março de 2009

O Brasil dos Excluídos


Assim como a Pedofilia foi tema de comentários, em sala de aula, após a minha intervenção sobre as últimas postagens neste espaço, a matéria do Fantástico (rede GLOBO), também, foi motivo de discussão, principalmente, com as turmas do oitovo ano, que estão revendo o tópico sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Os alunos comentaram o quanto ficaram abismados com a situação das populações das cidades enfatizadas na reportagem e os custos de vida.

Por esta razão e diante da possibilidade que o Portal G1.GLOBO.COM permite de transcrever a reportagem, copiei e estou disponibilizando para todos os alunos que não puderam assistir a reportagem, mas demonstraram interesse pelo seu conteúdo.

Vale a pena ler...




FANTÁSTICO VISITA AS CIDADES COM OS MENORES IDHs DO PAÍS
Falta água, alimentos e empregos nas cidades.
Imagine viver num lugar onde a gasolina é mais cara do que na Europa. Onde um quilo de cenoura ou de tomate pode chegar a R$ 8. Onde existem crianças que nunca tomaram um banho de chuveiro.

Esses lugares ficam bem aqui no nosso país. Jordão e Tarauacá, no Acre; Manari, em Pernambuco; e Traipu, em Alagoas (grifos meus). É o Brasil dos excluídos, onde se encontram os menores índices de desenvolvimento humano do nosso país.

O Fantástico convida você a fazer conosco uma viagem pelo Brasil profundo que a população das grandes cidades não conhece.

No alto do morro fica Traipu, agreste de Alagoas, 25 mil habitantes. Logo ali embaixo corre o rio São Francisco.

Mas a água do rio é suja e não serve para essa população que espera na sombra pela chegada do caminhão-pipa.

"Sai muita confusão, muita gente briga pela água", revela uma mulher.

De repente, o caminhão-pipa chega. Umas mulheres ainda têm força pra brigar pela sua vez.

"Ei, bota nesse aqui!", pede uma jovem.

Outras parecem cansadas de guerra.

O que o caminhão do governo traz uma vez por semana não dá para todos. Água encanada por aqui ainda é promessa. Qualquer pouquinho é bem-vindo.

A 130 quilômetros dali fica a cidade de Manari, no sertão de Pernambuco, onde vivem pouco mais de 17 mil pessoas. Ali, água encanada só existe nas cobranças.

Chega o papel da água, mas não chega água. Só chega a cobrança e nada da água”, reclama o desempregado José Aureliano da Silva Filho.

Em sete meses, José Aureliano já recebeu mais de R$ 100 em contas de uma água que nunca viu.

A gente fala para eles, eles falam que vão ajeitar para chegar a água pra cá. Como é que a gente vai pagar uma coisa que não consome? Aí não tem condições. Eu tenho que ir até na cisterna do hospital ali, e pego água. Venho e trago, boto no pote. Encho o pote ali. É como a gente sobrevive”, explica José.

Os filhos de Maria Rodrigues nunca tomaram um banho de chuveiro na vida.

"Nós tomamos banho de balde, e banheiro não tem. Quando a pessoa quer fazer as necessidades vai para o mato”, conta a dona-de-casa Maria Rodrigues.

Dona Maria jamais teve um emprego.

Fantástico: É difícil arrumar emprego aqui?

Maria: Vige. Aqui não existe isso para pobre, não.

José e Adelma também são desempregados, como quase todos em Manari. Vivem com o dinheiro de benefícios do governo e ajuda de parentes.

A mãe dele nos ajuda um pouco. Se não fosse isso, a gente passava necessidade”, diz a desempregada Adelma da Silva.

Na língua indígena tupi 'amanari' quer dizer água da chuva.

Não é à toa que a cidade fica tão alegre quando chove.

A população aproveita para encher os baldes. Tomar banho. E a criançada brinca nos barris e caixas d'água.

No outro extremo do país, mais de três mil quilômetros a oeste dali, encontramos Jordão, estado do Acre. Um dos lugares mais remotos do Brasil. Cerca de 6.300 pessoas vivem lá.

Isso aqui é o fim do mundo. Foi onde o vento fez a curva. O pessoal até fala um ditado 'onde o sabão não lava'", brinca o comerciante Dionísio de Farias.

Jordão fica a uma semana de barco de Tarauacá, também no Acre, município do qual depende para abastecimento.

O barqueiro Radamés Lopes acabou de voltar de lá, onde foi comprar material de construção.

'”Levei sete dias para vir de Tarauacá até aqui", conta o barqueiro.

Fantástico: Sete dias naquele barco? Como é que é essa viagem?

Radamés: A viagem é difícil. Você sai às 5h. Encosta de noite muitas vezes. Dorme dentro do barco, bebe a água do rio mesmo.

O isolamento é tamanho que muitas pessoas jamais viram um chuchu, por exemplo.

Se você perguntar aqui na cidade, de cem pessoas, duas ou três vão saber o que é chuchu", diz Dionísio.

Chuchu é luxo e não existe”, diz o vice-prefeito.

"Aqui, se falar em chuchu, a pessoa pensa que você está chamando alguém de bonitinho. Não sabem o que é chuchu aqui”, explica o comerciante Dionísio.

Traipu, Jordão e Manari são as três últimas colocadas na classificação do IDH dos municípios brasileiros. IDH é o Índice de Desenvolvimento Humano, medida criada pela Organização das Nações Unidas para avaliar a qualidade de vida no mundo.
O cálculo do IDH leva em consideração três fatores básicos: expectativa de vida, nível de educação e a renda da população.
Todos eles quesitos em que as três cidades tiram notas muito baixas.

A última colocada de todas é Manari, campeã brasileira da mortalidade infantil e segunda menor renda per capita do país. Lá, as poucas pessoas que têm emprego ganham menos de um décimo do salário-mínimo determinado pela Constituição.

Fantástico: Você trabalha?

Maria Charliana da Silva, doméstica: Trabalho.

Fantástico: Que tipo de trabalho?

Maria: Em casa de família.

Fantástico: Quanto você ganha por mês?

Maria: R$ 40.

Fantástico: A senhora trabalha todo dia?

Maria: Todo dia. É o único emprego que tem para a pessoa trabalhar aqui. Não tem outra coisa para a pessoa trabalhar por aqui. Tem que ser isso mesmo.

Fantástico: A senhora tem bolsa-família? Quanto a senhora recebe?

Maria: R$ 82.

Jane da Silva nasceu em São Paulo e foi morar em Manari em 2001. Ela trabalha na prefeitura.

Eu tenho uma empregada na minha casa e eu pago R$ 40 para ela por mês. Ela não lava, não faz a comida, mas limpa todos os dias a minha casa. E em junho do ano passado, eu fui para São Paulo, passei dois meses lá. Para não ficar sem fazer nada, eu tenho um primo meu lá que estava sem empregada, e eu fui ficar na casa dele, para não deixar ele na mão com a família. Ele me pagava R$ 50 o dia. Eram três vezes por semana. A diferença é essa: R$ 40 ao mês e 50 ao dia. As pessoas daqui ganham de R$ 30 a R$ 60. Mais do que isso não ganha”, explica Jane.

Salários maiores, só para quem presta concurso público e trabalha na prefeitura. Como 86% dos habitantes de Manari sabem escrever apenas o próprio nome, muitos acabam procurando uma alternativa.

Todas essas pessoas são agricultores. E sendo agricultor, a lei permite a ele um abono do governo federal de auxilio maternidade em torno de R$ 1500. Então, uma das razões de ter muita criança aqui - na minha concepção - é por receber R$ 1500. Por isso que tem muita criança em Manari", explica Osvaldo Pita, secretário de Saúde.
“Ela mesma, minha esposa, quando está com oito meses de gravidez, já está programando o que vai comprar. São R$ 1500, onde ninguém ganha um dinheiro desse nem no decorrer de um ano. Então, o que acontece? Ele vai programar comprar uma vaca, comprar um aparelho de garrote ou dar uma arrumada na casa, comprar antena parabólica e fogão ”, conta o agricultor Cícero Vieira dos Santos.

Eu tenho uma paciente aqui que ela teve 20 crianças, aliás, 21 crianças. E eu me bati muito com essa pessoa para que ela fizesse uma cirurgia, uma laqueadura para não ter mais crianças. E com muito trabalho eu consegui com que ela fizesse essa cirurgia. Ela me disse uma coisa interessante: 'Seu Osvaldo, eu me arrependi dessa cirurgia’. Eu disse: ‘Por que? Você não está se dando bem?’ Ela disse: 'não, porque eu deixei de receber meu dinheirinho todo mês, todo ano’”, conta o secretário.

Nesta época do ano é inverno em Jordão e Tarauacá. No inverno, a estrada que liga Tarauacá à capital, Rio Branco, fica impraticável. O motorista Edson Ferreira atravessou os 446 quilômetros da estrada recentemente. Levou 50 dias.

Repórter: Numa estrada boa em quanto tempo você faria essa viagem?

Edson: Eu faria em seis horas. E pela primeira vez que nós fomos, quando nós conseguimos voltar, pegamos a estrada meio ruim e gastamos um mês e 20 dias de viagem.

Sem a estrada, durante os meses do inverno, o abastecimento fica ainda mais comprometido. Produtos frescos só chegam de avião. E chegam muito caros.

"Você que quer encontrar verduras, frutas e legumes novinhos, frescos, que acabaram de chegar no voo das 11 horas, direto de Rio Branco?”, anuncia um vendedor.

Quando se chega no Jordão - às vezes que chega quando um comerciante resolve trazer - é R$ 6 um quilo. Tanto faz ser da cenoura, da beterraba, do tomate. É R$ 6 a R$ 8. Normalmente é R$ 8. E às vezes, como hoje, não tem isso município", conta Elson Farias, vice-prefeito.

Até os comerciantes reclamam dos preços que cobram.

"Eu cobro R$ 2 por duas tangerinas. E daria muito mais que dois reais se eu pesar porque o quilo custa R$ 7. Vou por na balança: 400g dá R$ 2,87. Eu acho caro; caríssimo. Eu me sinto ofendido. Mesmo sendo comerciante. Estou ganhando meu dinheiro com isso, mas não gosto de fazer isso. Mas é o jeito. ”, avisa o Carlos Wagner da Silva,

Dona Maria Luciléia Oliveira é professora. Vive às voltas com o preço dos alimentos.

“A dúzia de ovos custa R$ 5. Só comprava ovos quem tinha condições mesmo e para comer. Para fazer bolo ninguém fazia não. E tudo é sacrificoso. Filé de peito de frango então nem se fala. De primeira era R$ 18 o quilo. E quem que ia comprar um quilo para dar de comer a 10 pessoas? Ia pegar cada um uma isca. Não tinha condições”, conta Maria Luciléia.

O preço médio do litro de gasolina na Inglaterra equivale a R$ 3,10. Em Jordão custa bem mais que isso: R$ 4,30.

Fantástico: Quanto você vai pagar por isso?

Cliente: R$ 8,60. É muito caro.

Fantástico: E pra que é essa gasolina?

Cliente: É pra subir na aldeia. Para usar no motor de barco.

Como é que faz para o taxista trabalhar com esse preço da gasolina?

Rapaz, é o jeito que tem. A gente se adapta ao sistema”, diz o taxista Manuel Gomes.

O transporte aéreo é ilegal. A pista de pouso de Jordão não é homologada pela Anac, Agência Nacional de Aviação Civil.

Acontece que nós moramos numa região dificultosa. Primeiramente, essa pista nem existe nos registros da Anac. Você vem para cá fazendo notificação de voo e plano de voo para outras cidades. Você faz Freijó e vem parar em Jordão. Essa pista não existe. Para a Anac, ela não existe, mas todo mundo sabe que opera aqui.", diz o piloto Leandro Santos.

Jordão, segundo pior IDH do país, é campeã nacional de crianças fora da escola. E com um custo de vida tão alto, tem a quarta pior renda per capita de todo o Brasil.

Na zona rural de Traipu, dona Noêmia Cordeiro de Melo bem que gostaria de ter água limpa para cozinhar.

O arroz, que é branquinho, fica com aquela nata amarela em cima porque a água não é limpa", explica.

A terra é tão seca que nada cresce.

É seco, não planta nada, Não dá para tirar nada da terra. Nada, nada, nada. A vida de todo mundo aqui ao redor é essa, de todo mundo. Hoje o que eu tenho para os meus filhos só é isso aqui. Mais nada. Feijão com farinha. Eles vão comer esse feijão ao meio-dia com farinha. Agora, de noite, eu faço um pouquinho de arroz e a gente come com feijão. Arroz só uma vez por dia e o feijão é duas vezes”, lamenta Dona Noêmia.

Dona Noêmia recebe o benefício bolsa-família, e, com ele, consegue fazer uma vontade da filha.

Caldo de galinha, minha filha gosta. Ela pede para comprar. Ela mesma quem faz. Bota água para ferver, aí bota isso aqui dentro, quando desmancha, ela bota o arrozinho dela e come ela e os irmãos. O maior sonho dela é ter uma boneca que chora. Mas eu não posso dar. Eles brincam ali no juazeiro com pau, tampa de garrafa. É a brincadeira deles, eles não têm brinquedo para brincar porque eu não posso dar. O meu marido estava aqui, mas porque não suportou a vida da gente e foi-se embora. Está em São Paulo. Deve estar trabalhando, eu não sei. Não, mandou R$ 1 ainda. Ele foi no final do ano. E eu fiquei aqui mais meus filhos, e seja o que Deus quiser”, revela.

No Brasil dos excluídos, onde meninos ainda brincam de pião e crianças cuidam de crianças, há quem confie nos rezadores para tratar da saúde.

"Em nome de Jesus eu te curo, em nome do Espírito Santo. Dor de cabeça, dor ciático, sol, constipação e dor ciática. Em nome de Jesus te curo”, diz o rezador.

Fantástico: Como a senhora se sente?

Mulher: Me sinto bem. Melhor da dor de cabeça.

Fantástico: É normal aqui na região?

Mulher: É, tem muito rezador.

Fantástico: É melhor que remédio?

Mulher: Às vezes é.

Quem mora no Brasil dos excluídos e enfrenta uma fila do leite que muitas vezes não dá para todos só quer uma coisa da vida.

Eu não quero que os meus filhos sejam analfabetos que nem que eu sou analfabeto. Eu digo por mim, porque se eu fosse, tivesse leitura hoje, não via um sofrimento desse. Vivia não. Que a mãozinha está cheia de calo, toda doída”, diz o agricultor João Vicente da Silva.

E a vida apenas segue.

Fantástico: Como sustenta a família de oito filhos e a esposa?

João Vicente: Vai tapeando. É o que o cara usa, o que o cara guarda. Feijão, farinha, milho e vai vivendo. Não é uma vidona de beleza, mas dá para tapear.

"Feliz do pobre quando tem a farinha, o arroz e o feijão. Essas três coisas são essenciais para o pobre. Quando não tem, come angu d'água, farinha d'água. Que é a água, o sal e o óleo. Jacuba, que chama. É ruim, é ruim comer jacuba, mas é o jeito”, conta a professora Maria Luciléia.

Aqui é sofrimento triste. Vocês que vivem num lugar que tem água, que tem recurso, que tem tudo, tudo bem. Mas quantas vezes eu tive vontade de vender minha casa para ir para um lugar que tivesse água, um lugarzinho mais ajeitadinho, que tivesse um serviço para a gente. Porque a gente tem 70 anos, mas ninguém é morto, não. A gente ainda faz alguma coisa”, desabafa Aurelina da Conceição, de 70 anos.