segunda-feira, 26 de novembro de 2018

C.E. Profª Sonia Regina Scudese: Projeto Étnico-Racial (4° Bimestre)

Imagem do meu acervo particular


Dando prosseguimento às atividades desenvolvidas no Projeto Étnico-Racial, os grupos definidos - pelos próprios alunos - ficaram responsáveis pelos seguintes temas sequenciais, os quais foram apresentados no dia 14 de novembro, data da Culminância do referido Projeto (Apresentação dos trabalhos aos professores visitantes):
 
. GRUPO 01: Dia Nacional da Consciência Negra
                          (20 de novembro)

- Origem da escolha da Data Comemorativa; 

- Onde a data consta como feriado no Brasil (feriado municipal e estadual).
 
Alunas: Amanda Fonseca (líder), Ana Júlia Vilaça e
                 Camila Viana.
 
. GRUPO 02: A História da Escravidão Africana no Brasil

- Linha do Tempo (desde o início do tráfico para o Brasil
   até após a assinatura da Lei Áurea);

- Regiões da África de onde vieram os escravos e as
   principais áreas para onde eles foram destinados
   em nosso território (mapa);

- Situação dos escravos após a Abolição da Escravatura
   (13 de maio de 1888);

- 2018: 130 anos de assinatura da Lei Áurea.
 
Alunos: Harrison de Souza (líder) Matheus Lima e
                 Vitor Miranda.

. GRUPO 03: Zumbi dos Palmares

- Biografia (vida e morte);

- Localização Geográfica do Quilombo dos Palmares.

            Alunas: Isabella Luiza, Isabelle do Rosário (líder) e
                             Roberta Samara


. GRUPO 04: A Cultura Afro-brasileira

- Principais estados que mais tiveram influência da cultura
   africana (Mapa);

- Principais Contribuições da cultura africana no Brasil
   (danças, culinária, vocabulário, religião etc.).
 
Alunos: Anderson Ramos, Lucas Benevides (líder) e
                  Paula Capella.

. GRUPO 05: O Movimento Negro no Brasil

- Histórico;

- Hoje.
 
Alunos: Júlia Gonçalves (líder); Júlia Regina e
                  Pedro Henrique
 
. GRUPO 06: Personalidades em destaque

- Dandara (esposa de Zumbi);

- Antonieta de Barros;

- Abdias Nascimento;

- Zózimo Bulbul;

- Benedita da Silva;

- O casal Taís Araújo e Lázaro Ramos;

- Joaquim Barbosa.
 
Alunos: Gabriel de Souza, Mateus Gonçalves (líder)
                  e Pedro Gabriel da Silva

 . GRUPO 07: O Preconceito e o Racismo velado
                            no Brasil

- Classificação da população quanto à cor (IBGE);

- Constituição da População Brasileira (Censo 2010/IBGE);

- Racismo explicito x Racismo velado: Análise dos Desenhos
   dos alunos da turma sob o contexto da música “Meu Guri”,
   de Chico Buarque.
 
Alunas: Júlia Aguiar, Sabrina Santos e
                 Shellda da Rocha (líder).
 
. GRUPO 08: Ações Afirmativas:
                           Medidas compensatórias em
                           prol da Comunidade Negra

- Definição de Ações Afirmativas;

- Histórico de sua implementação no mundo e no Brasil;

- A Lei das Cotas;

- O Ensino da História e Cultura Afro Brasileira (Lei N.º 10.639,
  de 9 de janeiro de 2003);

- Quilombo e Quilombola (conceitos);

- Os três quilombos na cidade do Rio de Janeiro.
 
Alunas: Thalita de Andrade, Vitória Duarte (líder) e
                 Vitória Lima

 No fechamento das Apresentações, a aluna Paula Capella tomou à frente e explicou que todos iriam cantar a música “O Canto das Três Raças”, bem como a razão da escolha da mesma (antes dos africanos, os indígenas foram os primeiros a serem escravizados pelos colonizadores portugueses e o branco, no papel dos inconfidentes mineiros, almejando a separação do Brasil/Minas Gerais de Portugal).
 
Todos os alunos cantaram e, após o término, cada professor ganhou um imã de geladeira contextualizado ao tema trabalhado.

 
O CANTO DAS TRÊS RAÇAS
Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro

 
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
 
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
 
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
 
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
 
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
 
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
 
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
 
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
 
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

domingo, 25 de novembro de 2018

Letra de Música Contextualizada: Racismo Velado

Alunos da Turma 2006
Trabalhando na Representação do "Meu Guri"


Ainda sob o contexto do Dia Nacional da Consciência Negra, mais uma vez, o Colégio Estadual Prof.ª Sonia Regina Scudese desenvolveu o Projeto Étnico-Racial, junto às turmas, neste 4° Bimestre.

Eu e a Prof.ª Alessandra Goulart (Inglês) pegamos a Turma 2006, tendo como foco o Brasil 

Antes mesmo de iniciarmos a etapa de pesquisa, eu trabalhei - com todos os alunos da referida turma – a música Meu Guri, composta por Chico Buarque (lançada em 1976), tal como já fiz em outros anos. E o resultado obtido já era o esperado...
 
Infelizmente, devido ao tempo curto, eu não tive a intenção de trabalhar a leitura e a interpretação da letra de forma tradicional. A atividade em si teve por base trabalhar a letra, visando apenas a sua interpretação sob a forma expressa de desenho, levando as discussões acerca da leitura dos respectivos desenhos no contexto da música e do preconceito racial, implícito, configurado de forma velada.

A riqueza de sua letra nos leva a traçar detalhes acerca das condições de vida da mãe, antes e após o nascimento do “Meu Guri” e, sobretudo, das atividades que ele praticava no papel de provedor da família.

Ouvimos a música várias vezes, acompanhando a letra impressa. Ao término da audição e do canto, os alunos foram orientados a representar – por meio de desenho – a imagem do Guri que cada um concebia, bem como a sua descrição detalhada (nome, idade, altura, vestuário e acessórios).

Eu só pude analisar cada desenho em casa, pois dois tempos de aula foram curtos para dar continuidade da atividade na sala de aula, ficando a discussão para a aula seguinte.  

A partir da representação em desenho do “Meu Guri” e da descrição do mesmo, por cada aluno, foi possível traçar a linha de debate para as questões raciais e para o preconceito, sobretudo, o velado.

Quanto aos resultados obtidos, como era de se esperar, 67% dos alunos conceberam o “Meu Guri” como pertencente ao grupo negro (7 de cor preta e 8 de cor parda) e 33% dos alunos o definiram como branco (sete alunos).



Detalhe a ser observado, em nenhum trecho da letra do “Meu Guri”, o compositor menciona que o menino é negro (preto ou pardo). E a discussão vai mais adiante, quando levantamos outro aspecto associado, direto e/ou indiretamente, à definição da sua cor, que foi a sua condição social, família em situação de vulnerabilidade social (pobreza ou de extrema pobreza).

A partir desta discussão promovida na semana seguinte, partimos para divisão dos Grupos, tendo um deles a tarefa de trabalhar com o preconceito explícito e implícito (velado).


























20 de novembro: Dia Nacional da Consciência Negra

Zumbi dos Palmares
Imagem capturada na Internet
Fonte: Wikipédia


Terça-feira passada, dia 20 de novembro, comemorou-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Eu queria ter publicado algo a respeito por ocasião ou antes mesmo da referida data comemorativa, mas estava terminando os conteúdos nas turmas do Ensino Médio (rede estadual de ensino) e aplicando avaliação para as duas turmas do Ensino Fundamental II (faltam ainda duas).
 
Nem mesmo as fotos do Projeto Étnico-Racial desenvolvido no Colégio Estadual, eu consegui publicar, cumprindo o prometido aos alunos (farei agora).
 
Pois bem, continuando sobre o tema... Dia da Consciência Negra (20 de novembro).
 
Como já publiquei neste espaço, a iniciativa de se criar uma nova data para homenagear a comunidade negra brasileira (os afrodescendentes) partiu de um grupo de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), engajado ao Movimento Negro, no início dos anos 70 (Século XX).
 
Na época, este grupo - composto por seis pessoas - não estava satisfeito e, muito menos, concordava em ter, como referência à luta da comunidade negra do nosso país, a data 13 de maio, que assinala a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, a qual aboliu a escravatura no Brasil (1888), quer seja pela pressão da Inglaterra quer seja para apaziguar os abolicionistas da época (como, por exemplo, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Rui Barbosa, Luís Gama, entre outros).
 
Como opção mais adequada e de maior sentido, sob este contexto, o referido grupo propôs o dia 20 de novembro, data da morte do Zumbi, líder do Quilombo de Palmares. Essa nova data, em tributo ao líder Zumbi dos Palmares, foi uma sugestão do militante do referido grupo, o poeta e professor Oliveira Silveira.
 
Segundo o mesmo, esta data teria maior sentido para a comunidade negra brasileira em detrimento a que se comemora com a Abolição dos Escravos (13 de maio de 1888), pois, como se sabe, a assinatura da Lei Áurea só assegurou a condição de escravos libertos, ou seja, o fim da escravidão no Brasil. Não havendo nenhum suporte social assegurado a estes (moradia, trabalho etc.) e, muito menos, condições de ascensão dos mesmos na própria sociedade, que se manteve sob seus velhos conceitos de superioridade, os condenando a permanecerem com agentes subalternos, discriminados e marginalizados.
 
Nas propriedades rurais, onde as relações entre os senhores e os escravos eram, ao menos, amistosas, muitos – após a abolição da escravatura – permaneceram executando atividades domésticas e outras nas fazendas em troca de um canto para dormir e da alimentação diária.
 
“O Estado deveria ter endereçado a esse grupo
uma série de ações sociais e educativas.
Só assim, poderíamos falar em liberdade
e igualdade de condições e oportunidades.
Mas os ex-escravos não sabiam nem
por onde (re)começar.
A República Velha também os esqueceu.
E, sem um marco zero,
sem uma fonte de conhecimento,
de orientações e de renda,
o caminho natural dos negros recém-libertos
foi a marginalização.”
 (IRAHETA, 2014)
 
Se formos analisar o contexto histórico referente às duas datas podemos perceber que o Grupo se apropriou de fatos condizentes à verdadeira história de luta e resistência do escravo africano e seus descendentes. Sob esta perspectiva, a escolha do Zumbi, principal líder e herói do Quilombo dos Palmares foi a mais acertada.
 
Zumbi resistiu e lutou contra a escravidão, além de ser temido pelos grandes fazendeiros da época, tinha as autoridades coloniais sempre em seu encalço. Foi capturado na 16ª tentativa das tropas portuguesas, sendo assassinado no dia 20 de novembro de 1695.
 
Outro fato pertinente a isso... De acordo com Oliveira Silveira, a escolha do dia de sua morte (20 de novembro) decorreu da falta de registros históricos sobre a data do seu nascimento, bem como do início do Quilombo dos Palmares. No entanto, há referência - quanto à criação do Quilombo - o ano de 1597 (GOMES, 2011).
 
O Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, antiga Capitania de Pernambuco, atualmente, faz parte do município União dos Palmares, no estado de Alagoas. Ele foi o maior quilombo do país, no período colonial. Hoje, em sua área funciona o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o qual é aberto para visitação.
 
A data que passou a ser adotada inicialmente no Rio Grande do Sul, acabou sendo difundida e conhecida em todo território nacional, segundo o próprio Oliveira Silveira, graças ao apoio e divulgação na imprensa.
 
As primeiras cidades a comemorar a referida data, em prol da luta da comunidade negra, foram São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro.
 
Em 1978 foi criado o Movimento Negro Unificado contra Discriminação Racial (MNUDR), o qual - em Assembleia realizada na Bahia - no final do mesmo ano, acatou a proposta do Paulo Roberto dos Santos, militante do Rio de Janeiro e, oficializou a data 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.
 
Em 1999, a cidade do Rio de Janeiro foi o primeiro município a instituir o Dia Nacional da Consciência Negra, como feriado municipal. E, em 2002, através da Lei nº. 4.007, sancionada pela então, governadora Benedita da Silva, este passou a incorporar o calendário estadual, se estendendo a todo o estado.
 
Em 2003, o então Presidente da República - Luiz Inácio Lula da Silva - incorporou a referida data comemorativa no calendário escolar e, ao mesmo tempo, tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro Brasileira (Lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003).
 
O Governo Federal sancionou a Lei N.º 11.645 (de 10 de março de 2008), onde incluiu - nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003) - a obrigatoriedade, também, da História e Cultura Indígena (além da Afro-Brasileira, estabelecida em 2003).
 
Embora, a população negra brasileira tenha conquistado muitas vitórias e espaços, ao longo do tempo, ainda há muito a ser reconhecido e valorizado, a fim de se promover efetivamente justiça, igualdade e, sobretudo, de eliminar todas as facetas do preconceito e da discriminação contra ela.
 
E, como sabemos, a escola – enquanto espaço de grande diversidade cultural – é o ambiente onde mais se manifestam estes tipos de comportamento e, ao mesmo tempo, torna-se o lugar comum para discuti-los.
 
“(...) já é passada a hora de corrigirmos as desigualdades históricas que incidem sobre o povo negro,

construindo políticas públicas específicas
para esse segmento étnico/racial.
A sociedade brasileira precisa discutir e implementar
ações afirmativas.
Mas, ao discuti-las, é preciso esclarecer que a implementação
de tais políticas está longe de uma prática paternalista,
como dizem alguns.
Implementar ações afirmativas é assumir a nossa diversidade cultural
e construir uma sociedade democrática
que realmente se paute no direito e na justiça social para todos”.
                                                                    Nilma Lima

Fontes de Pesquisa

. GOMES, Flávio dos Santos - De Olho em Zumbi dos Palmares: Histórias, Símbolos e Memória Social - Ed. Claro Enigma 2011: 120
 
. Material Didático particular