sexta-feira, 31 de julho de 2020

Césio-137: Por que pensar em Goiânia se o roubo do densímetro foi no Equador?

Radioatividade - Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay



Na 4ª feira passada (29/07), uma notícia nos chamou a atenção acerca do roubo de um densímetro no Equador, país da América do Sul. O roubo aconteceu no início da semana, no dia 27 (2ª feira), na capital do país (Quito).

Para quem não conhece a sua utilidade, o densímetro serve para medir a compactação do solo, em outras palavras, é usado para medir a densidade de líquido presente na massa (solo compactado ou não).

O fato ganhou destaque devido aos riscos em que o seu manuseio indevido - por pessoas que desconhecem a sua estrutura interna – possam sofrer, tendo em vista que ele possui, internamente, duas fontes de material radiativo, o Amerício-241 e o Césio-137, ambos com grande poder de emissão de radiação e, consequentemente, de contaminação.

No entanto, além do fato de ambos serem altamente nocivos ao homem, aos animais e ao meio ambiente, a presença do Césio-137 nos fez lembrar de um incidente, ocorrido em Goiânia, em 1987, o qual é considerado o maior acidente radioativo do mundo em área urbana e fora de uma usina nuclear.
  
Para quem desconhece o fato em si, este acidente radioativo ocorreu em nosso país, na cidade de Goiânia, capital de Goiás, no dia 13 de setembro de 1987...

Em setembro de 1987, em busca de sucatas que pudessem ser vendidas e resultar em alguns “trocados”, dois catadores de papel invadiram o antigo Instituto Goiano de Radiologia (IGR), que se encontrava fechado e abandonado. No local havia um aparelho de radioterapia (tratamento de combate ao câncer), no qual tinha - em seu interior – uma cápsula blindada - que continha o Césio 137.

Sem a mínima noção de sua alta perigosidade, eles removeram a cápsula do local e a violaram parcialmente, na tentativa de abri-la, dando início ao processo de contaminação, na cidade, ao sofrerem exposição ao elemento radioativo.

No entanto, a contaminação se propagou de forma mais efetiva, posteriormente, após os mesmos a venderem a um proprietário do ferro-velho, cujos empregados acabaram rompendo – de vez - o lacre da cápsula e deixando exposto o material radioativo (Césio-137) em um local do terreno, junto a outros materiais.

À noite, a intensa luminescência azul provinda do Césio-137, atraiu e fascinou o proprietário do ferro-velho, que o levou para casa. A partir disso, familiares e diversas pessoas, entre vizinhos e conhecidos, tiveram contato com o referido material radioativo, sem saber os reais perigos dos quais estavam e foram expostos.

A catastrófica venda da “sucata” e a paixão do proprietário do ferro-velho por sua luz azul do Césio 137 resultou em quatro óbitos e mais de duzentas pessoas contaminadas por radioatividade, em Goiânia. 

A primeira vítima fatal do Césio – 137 foi uma menina de 6 anos, sobrinha do proprietário do ferro-velho. O nível de contaminação dela foi alto, pois ela colocou pequenos fragmentos deste em sua boca na hora de jantar. Um mês depois, ela veio a óbito.

Leide das Neves, primeira vítima (óbito)
pela contaminação radioativa
Imagem capturada na Internet
Fonte: Correio - Foto: Reprodução

O acidente radioativo de Goiânia envolveu a intervenção da Comissão Brasileira de Energia Nuclear (CNEN), que foi avisada quanto à contaminação sobre a população, atuando também no seu processo de descontaminação.

Retirada do lixo radioativo das áreas contaminadas
Imagem capturada na Internet
Fonte: Poder Goiás 

O estabelecimento do ferro-velho, assim como dezenas de casas dos arredores tiveram de ser demolidos, enquanto muitos componentes domésticos, veículos e outros objetos contaminados foram descartados como lixo radioativo.

A dimensão dos efeitos do desastre radioativo em Goiânia não atingiu apenas os seres humanos, acometendo também animais domésticos, áreas urbanas, o solo, subsolo, construções, ruas, árvores, além da atmosfera.  

A radiação, oficialmente, atingiu uma área de 2.000 m2 não contínuos, infiltrando-se no solo até a profundidade de 50 cm, em alguns pontos, provocando a necessidade da derrubada de árvores e plantas, num raio de 100 m das zonas afetadas. Segundo informações de técnicos  da  Comissão  Nacional  de  Energia  Nuclear  (CNEN)  que  participaram  do processo  de  descontaminação  de  Goiânia,  foram  demolidas  sete  casas  e  gerados 6.500 m3 de rejeitos radioativos, que foram transferidos para um depósito provisório na  cidade  de  Abadia  de  Goiás  onde,  posteriormente,  foi  construído  um  depósito definitivo. De acordo com informações oficiais, quando o fato se tornou público dezesseis dias mais tarde, 249 pessoas já estavam contaminadas ou irradiadas, entre as quais quatro faleceram em menos de um mês contado a partir da divulgação do acidente” (CHAVES,2007:02).

Esse triste acontecimento, ocorrido com a população goiana, acabou sendo relembrado, após a divulgação recente do roubo do densímetro no Equador. Afinal, tal aparelho contém, internamente, duas fontes de material radiativo e, entre eles, o Césio-137.

Se para o profissional que lida, constantemente, com equipamentos radioativos é perigoso, inclusive, até para os seus familiares, a manipulação de materiais deste tipo, por uma pessoa leiga, sem as devidas medidas protetivas, como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) é fadada à contaminação.


Daí o governo equatoriano ter dado o alerta quanto ao referido roubo devido à alta perigosidade em manusear tal equipamento e, também, na tentativa de passar à frente, vendendo a terceiros, leigos, também.

O Ministério de Energia do Equador comunicou ainda que:

O equipamento roubado é ilegal,
não possui valor comercial,
pois trabalhar com ele exige uma autorização
emitida pela SCAN(Notícias R7)

Nota: Subsecretaria de Controle e Aplicações Nucleares (SCAN).

Será que a história do acidente radioativo de Goiânia 
vai se repetir no referido país sul-americano?

Esperamos que a medida do governo equatoriano, em alertar a população acerca do roubo e que este representa quanto o seu alto poder radioativo, surte algum efeito positivo, capaz de barrar uma possível contaminação em pessoas e em um maior número de indivíduos, a fim de que sejam evitados depoimentos similares a este, abaixo, feito pela moradora de Goiânia, Rosa Bento Gonçalves, na época, com 28  anos e grávida de quatro meses, possam ser reproduzidos:
Tenho  medo que  no  final  da história  do césio
meus  filhos  possam  contrair  alguma doença   grave.  
Eu   sinto   que   cada   dia   que   passa 
aparecem coisas   que   nós desconhecemos  
e  sem  explicação  (...) 
Eu  tenho  medo  de  ficarmos  doentes  
e esquecidos  pelo mundo, 
só  queremos  ter  direito  de  viver.” 

Segundo o artigo de CHAVES (2007), a referida moradora foi submetida a uma dose de contaminação de 110 rads (em inglês, Radiation Absorbed Dose ou Dose Absorvida de Radiação) e o seu filho nasceu contaminado com 20 rads.

Em geral, quando o conteúdo do Planejamento Escolar, seja do Ensino Fundamental II e/ou do Ensino Médio consiste nos tópicos “Recursos Minerais Energéticos” e “Meio Ambiente”, eu gosto de exibir um vídeo pertinente ao referido acidente, exibido no antigo Programa Linha Direta (Rede Globo).

Quem tiver interesse em assistir o vídeo sobre o acidente radioativo em Goiânia, clique  AQUI!

Fontes de Consulta
. CHAVES, Elza Guedes. GOIÂNIA É AZUL: O Acidente com o Césio 137 – Revista UFG, 9 (1). 2017

. Material Didático particular;

. SOARES, Wanessa Danielle Barbosa et all. Acidente Radioativo de Goiânia Césio-137 – Núcleo do Conhecimento/ Revista Científica Multidisciplinar - Ano 02, Ed. 01, Vol. 13, pp. 434-440, 2017.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Covid – Quem Seguir Vivo terá Morrido um Tanto

Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay


Não tem como evitar, mas o assunto mais enfatizado nos últimos meses e, com certeza, será nos próximos é a Pandemia Global, ou melhor, o Novo Coronavírus e a doença Covid-19. Seja nos noticiários diários, nas redes sociais, nas conversas informais, enfim, este é o assunto mais discutido e o mais preocupante nos dias de hoje. E, por que não dizer, mais preocupante do Século?!

Neste espaço mesmo, ao meu regresso lento e gradual, já publiquei vários posts acerca do mesmo.

No início da suspensão das aulas nas redes públicas de ensino e do isolamento social, eu escrevi até uma crônica, mas ela ainda não foi postada (qualquer dia desses, eu compartilho aqui). Foi no período em que eu estava mais agoniada e nervosa diante da propagação do vírus e de tantas mortes causadas pela Covid-19. Afinal, sou do Grupo de Risco e tive mortes de pessoas conhecidas por causa dela.

Não vou negar que continuo agoniada, afinal, não há como ser insensível à gravidade de uma pandemia tão agressiva quanto esta, mas estou conseguindo manter-me calma, controlada, com muitas orações e cuidados (medidas preventivas), individual e coletiva.

E é, sob este mesmo contexto, que eu estou compartilhando um texto extraído do Blog Arte & Manhas da Língua, da Prof.ª Andreia Dequinha, que é professora de Português, de Literatura e Produção Textual da rede pública estadual do Rio de Janeiro (Cabo Frio).

Seu Blog é muito educativo e contém várias atividades pedagógicas pertinentes à leitura e interpretação de textos e letras de músicas. Muito bom, eu recomendo!

E foi do seu Blog - Arte & Manhas da Língua– que eu extraí o texto abaixo. Muito contextualizado à nossa atual realidade e reflexivo quanto a nossa atitude e ações mediante à pandemia global. Ressalto-o ainda com base, neste momento, em que enfrentamos o embate entre os postulados das Ciências e a política irresponsável de reabertura das escolas, tanto da rede privada quanto municipal do Rio e estadual de seus respectivos gestores governamentais.

NOTA: Os grifos são meus.


COVID – QUEM SEGUIR VIVO TERÁ MORRIDO UM TANTO
Autoria Desconhecido

Maria perdeu o emprego. O patrão é milionário, mas disse que não poderia mais pagar o salário mínimo dela.

Carla perdeu a mãe. Preferia ter perdido o emprego.

Cecília manteve o emprego, em home office. Só que a saúde mental não existe mais.

Francisca acha que o vírus não existe e que a semente que o pastor vendeu vai curar qualquer maldição. Francisca tosse muito há 5 dias.

Gabriela trabalha em hospital. É médica. Chora todos os dias. Ou quer chorar, mesmo quando não chora. Vivencia uma ingrata realidade que vai de encontro ao negacionismo das inúmeras pessoas que vê correndo sorridentes no calçadão no seu caminho de volta do hospital.

Pedro não volta mais pra casa. Prefere dormir na casa de um amigo que o acolheu. O medo de contaminar a família adoce Pedro aos poucos. Pedro entrega comida por aplicativo. Pedro ganha menos de 1000 reais por mês.

Thaís tem pesadelos todos os dias. Está desempregada desde antes da epidemia. Thaís é uma excelente contadora. Thaís não sabe como pagar o aluguel no próximo mês.

Marcelo ignorou a quarentena e continuou visitando os pais e avós aos finais de semana. Marcelo está isolado em casa, há 10 dias, com o pulmão totalmente comprometido, porém, sem nenhum sintoma. Marcelo perdeu seus avós há 4 dias para a COVID-19. O que restou de sua família está agora em quarentena total por ter tido contato com Marcelo nos finais de semana.

Josias furou o distanciamento e seguia com encontros sociais com amigos sempre que sentia entediado. Josias era portador do vírus e não sabia. Contaminou 3 amigos que, sem saberem, espalharam para mais 3 pessoas cada. Do total, 5 dos contaminados necessitaram de internação. O pai de um deles precisou de UTI.

Regiane, em plena adolescência, cobrava de todos que cumprissem a quarentena. Falava em responsabilidade e dizia que a regra valia para todos. Mas a exceção à regra só valia para seu namorado que ela recebia em casa todos finais de tarde. Sua avó diabética, que cumpria rigorosamente a quarentena, está com tosse e febre há 5 dias.

Marta apanhou do marido depois de pedir pra ele não ir para o bar. Marta é hipertensa e cardíaca. Marta trabalha com faxina. Marta pega 3 ônibus todos os dias. Marta perdeu o filho para a COVID-19 há 10 dias.

Todas essas pessoas são reais. Todas têm nome, história, família.

Tudo que existe e existiu antes dessa pandemia... não será como antes. Nenhum de nós será como antes.

Enfrentaremos juntos em luto que desconhecemos. Coletivo e individual ao mesmo tempo. Luto pelo emprego, pelo país, pelo pai, pela mãe, pelo irmão, pela amiga. Por tudo que perdemos. E todos perderemos algo ou alguém. Não será possível sermos os mesmos em um mundo que mudou.

Quem seguir vivo terá morrido um tanto. Quem seguir vivo terá assistido à partida de amigos, parentes e de pessoas a quem admirava mesmo sem ter conhecido. Quem seguir vivo, seguirá talvez sem emprego, talvez sem o carro, talvez sem uma parte de si, perdida... sem saber onde encontrar.

Luto é verbo e sentimento. Mais do que nunca. Pessoas mortas não giram a economia. É preciso estar vivo para seguir adiante e se recuperar de tudo isso.

Todos nós teremos que nascer de novo.

Por Maria. Por Carla. Por Cecília. Por Francisca. Por Gabriela. Por Pedro. Por Thaís. Por Marcelo. Por Josias. Por Regiane. Por Maria.

Por respeito aos profissionais que estão lutando com suas vidas, sem ter outra escolha. Pelos milhares que já morreram. Pelos muitos que certamente irão morrer.

Por mim. Por você.

Fiquem vivos. E renasçam! 

domingo, 26 de julho de 2020

Temor no Sul do Brasil: Os Riscos de Perdas nas Lavouras e Pastagens

Nuvem de Gafanhotos
Imagem capturada na Internet

Esta não é a primeira vez que as autoridades brasileiras enfrentam situação semelhante. Neste ano, desde maio, as atenções se voltaram para as reais ameaças, principalmente, em muitos países da América do Sul e, entre estes, o Brasil.

No entanto, a sua dimensão e gravidade aumentou na 5ª feira passada, dia 23/07, após uma mudança na direção dos ventos, o que colocou as lavouras da região Sul do nosso país, sobretudo, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina sob sérias ameaças e riscos de perda parcial ou total da produção agrícola.

Trata-se da nuvem de gafanhotos que se encontra em território argentino, devastando diversas lavouras (laranjas, limões, cana-de-açúcar, mandioca e etc.) e que vem se aproximando da fronteira do referido país com o Brasil.  

Se antes, as autoridades não estavam muito preocupadas, agora, o nível de apreensão se elevou ao ponto do governo, em diferentes instâncias, se organizar e preparar quanto a um possível combate à referida praga.  

Na verdade, atualmente, na América do Sultrês nuvens de gafanhotos e os estragos não são poucos, o que eleva a preocupação dos países envolvidos e também daqueles que correm risco da migração do enxame, como é o nosso caso. Há duas nuvens na Argentina, enquanto que no Paraguai há uma.

Inicialmente, os gafanhotos se agruparam e formaram uma nuvem, no Paraguai, no final do mês de maio. Posteriormente, a nuvem se deslocou e entrou em território argentino.

Imagem capturada na Internet
Fonte: G1 - AGRO


O grande enxame e sua agressividade mediante a grande população de gafanhotos causaram enormes prejuízos econômicos aos agricultores locais, tanto no Paraguai quanto na Argentina.

A preocupação das autoridades brasileiras é com uma das nuvens que se encontra na região Norte da Argentina e que está se deslocando em direção à região fronteiriça do nosso país.

Embora, as mídias afirmem que o governo argentino tenha eliminado 1/3 da nuvem de gafanhotos, na região, por meio da pulverização de agrotóxicos, as autoridades brasileiras mantêm o monitoramento do seu deslocamento.  

Segundo especialistas (G1- RS),
“A nuvem que ameaça chegar ao Brasil 
é 10 vezes maior, ou seja, 
tem potencial para devorar 
o que 20 mil vacas comeriam por dia.”

O combate terrestre na Argentina está sendo feito com aplicação (pulverização) de inseticidas, método que também deverá ser empregado, em nosso país. Além da pulverização dos agrotóxicos por via terrestre, o Brasil deverá fazer por via aérea (aviões).

Mas, é sabido que a aplicação dos agrotóxicos causa diversos danos ambientais, mas conforme os especialistas alegam, o emprego de agrotóxicos (pesticidas ou inseticidas) é a única forma eficaz e rápida de combater as pragas.  Emergencialmente, não haveria outro jeito.   

Sendo assim e mediante a esta possibilidade de migração do enxame de gafanhotos para o nosso país, o Ministério da Agricultura decretou situação de emergência fitossanitária, o que liberou a aplicação de agrotóxicos (pesticidas ou inseticidas), até então, proibidos no país.

“É um ato bastante extremo,
pois também mata as abelhas e todos
os demais inimigos naturais dos gafanhotos,
mas acaba sendo a única maneira de reduzir
a nuvem de maneira rápida”
(Karin Collier – Repórter Brasil)

Provenientes da região do Chaco (Paraguai), os gafanhotos – em questão - são da espécie Schistocerca cancellata, chamados, popularmente, de gafanhotos sudamericanos.

Gafanhoto Sudamericano (Schistocerca cancellata)
Imagem capturada na Internet

Embora, as imagens e os vídeos divulgados nas mídias - provoquem certo pavor, os gafanhotos não causam danos ao homem, sendo apenas os responsáveis pela grande destruição e perdas na agricultura. Em grupos, como em enormes enxames (nuvens), lavouras inteiras podem ser arrasadas, perdidas, causando grandes prejuízos econômicos ao agricultor.


Os gafanhotos se alimentam de folhas de diferentes tipos de plantas, mas preferem as folhas bem verdes, principalmente, as de cultura de trigo, de milho, de soja, de pastagens, entre outras.

De acordo com as fontes de pesquisa, essas nuvens chegam a possuir aproximadamente 400 milhões de gafanhotos, o que equivale a uma área de cerca de 10 km2. Daí a necessidade de monitorá-los e combatê-los tão logo cheguem ao território.

Por isso é de suma importância que ao avistar o enxame de gafanhotos, a pessoa deve comunicar o fato, imediatamente, às autoridades competentes.

Mas, quem pensa que basta monitorar o enxame (a nuvem de gafanhotos) e combater com a aplicação de inseticida, não se engane, pois não é tão simples assim...

De acordo com a matéria de Henrique Fabrício Plácido (Lavoura 10), para o trabalho de controle dos enxames de gafanhotos, os especialistas e as autoridades junto com o agricultor precisam seguir certos procedimentos importantes em face das duas frentes de combate que irão trabalhar.
  
Uma delas é a de controle da nuvem e a outra de controle das novas gerações. Isso mesmo, controle das novas gerações de gafanhotos!

Além dos prejuízos causados pela necessidade de se alimentar no local de pouso, as gafanhotos fêmeas podem depositar de 80 a 100 ovos no solo. E essa questão dos ovos depositados no solo representa outro problema, subsequente.

Para a Frente de controle da nuvem é preciso que se realize o monitoramento do enxame, acompanhando o seu deslocamento e, também, que se faça a demarcação dos locais do pouso. Ambos devem ser acompanhados pelos Órgãos governamentais competentes.

A identificação e demarcação dos locais de pouso possibilitará a determinação da forma de aplicação de inseticidas, já que a pulverização nestes – dependendo das condições físicas locais (área florestal, residencial, lavouras etc.) – podem ser por via terrestre (com equipamento manual ou motorizado) ou por via aérea (aviões).

Quanto aos agrotóxicos mais indicados no combate ao gafanhoto sudamericano (Schistocerca cancellata), os mais empregados são a Cipermetrina, o Tiametoxam e o Fipronil. No entanto, os efeitos nocivos desses três agrotóxicos no meio ambiente e na cadeia alimentar é algo assustador, sendo letais – por exemplo - para os polinizadores, como as abelhas, sobretudo, este último, o Fipronil. Este também foi o responsável pelos ovos contaminados na Europa (Holanda, Alemanha, Reino Unido e França), em 2017.

Aplicação de Agrotóxicos... Eis uma grande polêmica!

Quanto à frente de Controle de novas gerações, recomenda-se que, após a demarcação do local de oviposição (deposição das vagens de ovos), o acompanhamento deve ser contínuo até o seu rompimento e a saída dos indivíduos, tendo a atenção de determinar o trajeto que irão percorrer e as dimensões da área tratada.

Isso nos remete a outra característica peculiar destes insetos, que é a alta taxa de reprodução, pois levando-se em conta que cada fêmea pode realizar até 6 posturas durante sua vida, o aumento da população destes e sua infestação em outras localidades estão certos em acontecer.

Mas o país demonstra estar preparado para enfrentar e controlar o enxame e, por isso, as autoridades competentes dos Órgãos ligados à Agricultura e à Pecuária (atividades rurais), sobretudo, da região Sul, se mantêm em estado de alerta quanto aos riscos da entrada dos gafanhotos em nosso território.

Mas, qual seria a razão da formação de grandes enxames, como estas nuvens de gafanhotos?

Segundo muitos especialistas, a formação desses novos enxames migratórios – sob a forma de grandes nuvens de gafanhotos – tem a ver com o desequilíbrio do meio ambiente, sendo considerado o desmatamento a sua causa principal. Além, de acabar com as fontes de alimento dos gafanhotos, com o desmatamento há também uma redução dos seus predadores naturais, como por exemplos, os pássaros e os roedores.

Não esquecendo ainda uso de agrotóxicos no espaço rural, cujos efeitos nocivos também afetam direta e/ou indiretamente os predadores naturais e outras espécies da fauna.

As condições climáticas também são levadas em consideração, pois o clima mais quente também facilita o seu deslocamento e a sua reprodução.

Quando mencionam as monoculturas, estas – na verdade – são as mais atacadas pelas pragas agrícolas, com perdas significativas, pois envolvem grandes propriedades rurais, com o cultivo de um só tipo de produto (alimento), constituindo assim, uma vasta área de alimento para esses insetos (gafanhotos). O que acarreta grande prejuízo ao agricultor.

É, por isso, que a técnica da policultura – cultivo de dois ou mais produtos agrícolas – é o mais recomendável.

Quanto às condições climáticas, os especialistas e agricultores estão com esperanças que a nuvem de gafanhotos demore, alguns dias, a chegar em nosso território, pois há previsão de queda das temperaturas no Sul do Brasil, o que consequentemente poderá barrar o deslocamento da mesma, mantendo os insetos em território argentino.

Para quem desconhece, na região Sul já houve ocorrência de outros eventos de infestação de gafanhotos, nas lavouras, sobretudo, na década de 40 (1947/48), do século passado. Mas, há registros mais antigos, datado do início do mesmo século, em 1906, tal como foi registrado pelo Jornal do Commercio de Joinville, em 23 de junho de 1906

Imagem capturada na Internet
Jornal do Commercio de Joinville (23 de junho de 1906)
Fonte: Jornal Retro

Não resta dúvida que estamos correndo, mais uma vez, o risco de um ataque de praga agrícola.  Além da nuvem de gafanhotos, as novas gerações desenvolvidas durante o seu pouso no solo devem ser combatidas de forma eficaz. Daí ser importante manter o monitoramento do seu deslocamento e entrada em nosso território, a fim de não perder lavouras inteiras, áreas de pastagens e ter grandes prejuízos econômicos.

Segundo especialistas da área, independentemente de haver ou a invasão da nuvem de gafanhotos, o Brasil já está preparado para o enfrentamento a partir de medidas de contenção da praga.

Fontes de Consulta:

. Gafanhotos: tentativa de pulverização terrestre teve pouca efetividade – Canal Rural

. Mudança do vento deixa nuvem de gafanhotos a 90 km da fronteira do Brasil – G1/RioGrande do Sul

. Nuvem de gafanhotos: governo alerta ao risco de surto da praga – Portal Redenotícias

. Nuvem de gafanhotos: praga ainda pouco conhecida exige monitoramento e preocupa autoridades no Brasil – G1/AGRO

. Nuvem de gafanhotos na Argentina avança 10 km e se aproxima de Barra do Quaraí - G1/Rio Grande do Sul

. Nuvem de Gafanhotos no Brasil: Devemos nos preocupar e o que podemos aprender? Lavoura 10

. Para combater nuvem de gafanhotos, governo libera mais usos para agrotóxicos – Repórter Brasil

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Preocupante: O Retorno das Aulas Presenciais no Município do Rio de Janeiro

Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay

Como professora, regente da rede pública do Rio de Janeiro, considero descabido e insensato – estando em plena Pandemia Global - a volta às aulas presenciais nas Unidades Escolares, tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sob a gestão do Prefeito Marcelo Crivella, anunciou que as aulas presenciais das escolas particulares irão retornar a partir do dia 3 de agosto, sendo facultativo aos responsáveis dos alunos, aos professores e aos funcionários das escolas.

Como se essa “opção” de conceder o direito de decisão, individualmente, a estes últimos, professor e funcionário da rede privada, fosse algo que funcionasse, em total acordo entre as partes. 

Os riscos prévios de demissão já impõem - como única decisão – o regresso forçado. Mesmo sob garantias da Prefeitura.

De acordo com a Prefeitura do Rio, inicialmente, o retorno às aulas da rede privada ocorrerá com as turmas do 4º, 5º, 8º e 9º anos, podendo estender a outras séries ou não, após constatar os reais impactos nos transportes e os indicadores do contágio do Novo Coronavírus e da doença Covid-19 no município.

Quanto à rede pública de ensino, a orientação da Prefeitura do Rio é que as equipes gestoras, ou seja, Diretor Geral, Diretor Adjunto e Coordenador Pedagógico retornem na mesma data, dia 03 de agosto, a princípio, para uma avaliação do espaço físico da escola, bem como sua limpeza e preparação para uma possível volta às aulas na rede municipal.  

Não restam dúvidas que não é momento de pensarmos em retorno às aulas presenciais, mesmo sob a forma experimental.

Estamos em plena pandemia global e o número de casos confirmados do Novo Coronavírus, no Brasil, continua aumentando, assim como o dos óbitos pela Covid-19.

De acordo com os últimos dados do Ministério de Saúde (22/07), o número de casos confirmados com Covid-19, no país, é da ordem de 2.227.514, tendo 82.771 de óbitos por conta da doença. Enquanto, cerca de 3.800 mortes se encontram em fase de investigação.

Embora, as estatísticas mostrem que 1.532.138 pessoas se recuperaram da Covid-19, o balanço diário do Ministério de Saúde aponta que o número de mortes é ainda muito alto, o que significa que não podemos afrouxar o isolamento e o distanciamento social.

O próprio Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE/RJ) mantém sua posição contrária a esta decisão do governo municipal.

O retorno parcial das aulas presenciais, na rede privada de ensino, vai ser um grande erro. A alegação do prefeito Marcelo Crivella é que esse retorno nas escolas particulares servirá também de teste para a sua implantação na rede pública de ensino do município.
Além da situação caótica em que vivemos no âmbito da Pandemia do Novo Coronavírus, vale ressaltar que as realidades de ambas as redes (privada e pública) são totalmente distintas, seja quanto à logística do espaço físico, o número de alunos por turmas, do capital disponível a investir na segurança sanitária, a quantidade de recursos humanos, entre os professores e profissionais de apoio, entre outros aspectos.

Em termos comparativos, essa medida não servirá de base, pelo menos, na minha análise pessoal...

Independente desta falta de coerência ou da iniciativa de testagem quanto ao retorno das atividades presenciais nas escolas, a grande maioria das autoridades na área da Saúde e de Instituições de Pesquisas consideram prematura esta decisão.

Até mesmo a rede estadual de ensino é contrária a esta medida, por enquanto...

Quem nunca trabalhou em um ambiente escolar não tem a mínima noção dos riscos em que os alunos ficam expostos com a reabertura das escolas e com o retorno das práticas pedagógicas em meio à pandemia global.

As dificuldades operacionais são inúmeras, acrescidas por todas estas mencionadas acima e por outras, derivadas da conjuntura atual dos riscos de mortes devido à propagação do Novo Coronavírus no espaço escolar.

Em geral, na rede pública de ensino, as turmas possuem um elevado número de alunos. Fazer rodízio de aluno - vai comprometer do mesmo jeito – o planejamento anual e, ao meu ver, não é a solução.

Muitos professores compõem o quadro do Grupo de Risco, seja por causa da idade seja por ser portador de alguma doença crônica, como hipertensão, diabetes e asma, por exemplos.

De acordo com o artigo da RevistaVeja Saúde, outras doenças estão sendo consideradas, no âmbito das causas de morte pela Covid-19 ou por agravamento do quadro do paciente infectado, como a doença renal crônica, a imunodepressão (como o lúpus e câncer) e a obesidade.

E, sob este contexto, fica o meu outro questionamento...

Com tantos profissionais de Educação pertencente ao Grupo de Risco e, consequentemente, as licenças médicas em vigência, como as lacunas no quadro de horário dos professores e de outros profissionais vão ser preenchidas?

Sabemos que há um déficit muito grande de professores e de profissionais de apoio e do administrativo. Insisto na pergunta, como isso vai ser sanado?

No tempo vago, em face a ausência do professor que está licenciado por ser do Grupo de Risco, os alunos deverão permanecer em sala de aula? Ou deverão ficar no pátio, correndo e brincando com os colegas? Pois isso irá acontecer, com certeza!

Os alunos, sobretudo, os de anos iniciais, não conseguem se manter entretidos com alguma coisa por muito tempo, ainda mais se essa “coisa” não significa divertimento.

Além disso, muitos alunos e até profissionais da Educação podem assumir o papel de vetor do Novo Coronavírus, alastrando a doença para outras pessoas e para os seus familiares, entre os quais há muitos pertencentes do Grupo de Risco.

Não há o que questionar, este não é o momento de pensarmos em retorno às aulas!

Eu sei que a situação é muito complexa. Eu tenho uma filha universitária e, graças a Deus, ela é bem consciente e informada quanto a gravidade do momento em que estamos vivendo, com a Pandemia Global.

Mas, se ela fosse menor de idade, eu posso assegurar que não iria deixá-la retornar às aulas. Preservar a sua vida está e sempre esteve em minhas prioridades.

Os riscos para a Prefeitura do Rio são igualmente altos e preocupantes, pois o aumento do número de infectados pelo Novo Coronavírus e de óbitos devido a Covid-19, indubitavelmente, irá provocar novo impacto social e econômico. Muito embora, a crise - iniciada em março deste ano - permaneça até hoje...

Mas, se pensarmos que, aos poucos, houve a liberação e a reabertura do comércio e de alguns serviços pelas três instâncias de Governo (federal, estadual e municipal), o processo reverso pode acontecer, obrigando a uma nova interrupção e suspensão integral de todas as atividades econômicas.

Acredito que nem a Prefeitura e nem o Estado pensam em um retrocesso deste tipo no momento!
  
Recomendo a leitura do artigo, Documento da Fiocruz considera prematuro retorno às atividades escolares. Para acessá-lo, clique AQUI!