sexta-feira, 24 de julho de 2020

Preocupante: O Retorno das Aulas Presenciais no Município do Rio de Janeiro

Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay

Como professora, regente da rede pública do Rio de Janeiro, considero descabido e insensato – estando em plena Pandemia Global - a volta às aulas presenciais nas Unidades Escolares, tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sob a gestão do Prefeito Marcelo Crivella, anunciou que as aulas presenciais das escolas particulares irão retornar a partir do dia 3 de agosto, sendo facultativo aos responsáveis dos alunos, aos professores e aos funcionários das escolas.

Como se essa “opção” de conceder o direito de decisão, individualmente, a estes últimos, professor e funcionário da rede privada, fosse algo que funcionasse, em total acordo entre as partes. 

Os riscos prévios de demissão já impõem - como única decisão – o regresso forçado. Mesmo sob garantias da Prefeitura.

De acordo com a Prefeitura do Rio, inicialmente, o retorno às aulas da rede privada ocorrerá com as turmas do 4º, 5º, 8º e 9º anos, podendo estender a outras séries ou não, após constatar os reais impactos nos transportes e os indicadores do contágio do Novo Coronavírus e da doença Covid-19 no município.

Quanto à rede pública de ensino, a orientação da Prefeitura do Rio é que as equipes gestoras, ou seja, Diretor Geral, Diretor Adjunto e Coordenador Pedagógico retornem na mesma data, dia 03 de agosto, a princípio, para uma avaliação do espaço físico da escola, bem como sua limpeza e preparação para uma possível volta às aulas na rede municipal.  

Não restam dúvidas que não é momento de pensarmos em retorno às aulas presenciais, mesmo sob a forma experimental.

Estamos em plena pandemia global e o número de casos confirmados do Novo Coronavírus, no Brasil, continua aumentando, assim como o dos óbitos pela Covid-19.

De acordo com os últimos dados do Ministério de Saúde (22/07), o número de casos confirmados com Covid-19, no país, é da ordem de 2.227.514, tendo 82.771 de óbitos por conta da doença. Enquanto, cerca de 3.800 mortes se encontram em fase de investigação.

Embora, as estatísticas mostrem que 1.532.138 pessoas se recuperaram da Covid-19, o balanço diário do Ministério de Saúde aponta que o número de mortes é ainda muito alto, o que significa que não podemos afrouxar o isolamento e o distanciamento social.

O próprio Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE/RJ) mantém sua posição contrária a esta decisão do governo municipal.

O retorno parcial das aulas presenciais, na rede privada de ensino, vai ser um grande erro. A alegação do prefeito Marcelo Crivella é que esse retorno nas escolas particulares servirá também de teste para a sua implantação na rede pública de ensino do município.
Além da situação caótica em que vivemos no âmbito da Pandemia do Novo Coronavírus, vale ressaltar que as realidades de ambas as redes (privada e pública) são totalmente distintas, seja quanto à logística do espaço físico, o número de alunos por turmas, do capital disponível a investir na segurança sanitária, a quantidade de recursos humanos, entre os professores e profissionais de apoio, entre outros aspectos.

Em termos comparativos, essa medida não servirá de base, pelo menos, na minha análise pessoal...

Independente desta falta de coerência ou da iniciativa de testagem quanto ao retorno das atividades presenciais nas escolas, a grande maioria das autoridades na área da Saúde e de Instituições de Pesquisas consideram prematura esta decisão.

Até mesmo a rede estadual de ensino é contrária a esta medida, por enquanto...

Quem nunca trabalhou em um ambiente escolar não tem a mínima noção dos riscos em que os alunos ficam expostos com a reabertura das escolas e com o retorno das práticas pedagógicas em meio à pandemia global.

As dificuldades operacionais são inúmeras, acrescidas por todas estas mencionadas acima e por outras, derivadas da conjuntura atual dos riscos de mortes devido à propagação do Novo Coronavírus no espaço escolar.

Em geral, na rede pública de ensino, as turmas possuem um elevado número de alunos. Fazer rodízio de aluno - vai comprometer do mesmo jeito – o planejamento anual e, ao meu ver, não é a solução.

Muitos professores compõem o quadro do Grupo de Risco, seja por causa da idade seja por ser portador de alguma doença crônica, como hipertensão, diabetes e asma, por exemplos.

De acordo com o artigo da RevistaVeja Saúde, outras doenças estão sendo consideradas, no âmbito das causas de morte pela Covid-19 ou por agravamento do quadro do paciente infectado, como a doença renal crônica, a imunodepressão (como o lúpus e câncer) e a obesidade.

E, sob este contexto, fica o meu outro questionamento...

Com tantos profissionais de Educação pertencente ao Grupo de Risco e, consequentemente, as licenças médicas em vigência, como as lacunas no quadro de horário dos professores e de outros profissionais vão ser preenchidas?

Sabemos que há um déficit muito grande de professores e de profissionais de apoio e do administrativo. Insisto na pergunta, como isso vai ser sanado?

No tempo vago, em face a ausência do professor que está licenciado por ser do Grupo de Risco, os alunos deverão permanecer em sala de aula? Ou deverão ficar no pátio, correndo e brincando com os colegas? Pois isso irá acontecer, com certeza!

Os alunos, sobretudo, os de anos iniciais, não conseguem se manter entretidos com alguma coisa por muito tempo, ainda mais se essa “coisa” não significa divertimento.

Além disso, muitos alunos e até profissionais da Educação podem assumir o papel de vetor do Novo Coronavírus, alastrando a doença para outras pessoas e para os seus familiares, entre os quais há muitos pertencentes do Grupo de Risco.

Não há o que questionar, este não é o momento de pensarmos em retorno às aulas!

Eu sei que a situação é muito complexa. Eu tenho uma filha universitária e, graças a Deus, ela é bem consciente e informada quanto a gravidade do momento em que estamos vivendo, com a Pandemia Global.

Mas, se ela fosse menor de idade, eu posso assegurar que não iria deixá-la retornar às aulas. Preservar a sua vida está e sempre esteve em minhas prioridades.

Os riscos para a Prefeitura do Rio são igualmente altos e preocupantes, pois o aumento do número de infectados pelo Novo Coronavírus e de óbitos devido a Covid-19, indubitavelmente, irá provocar novo impacto social e econômico. Muito embora, a crise - iniciada em março deste ano - permaneça até hoje...

Mas, se pensarmos que, aos poucos, houve a liberação e a reabertura do comércio e de alguns serviços pelas três instâncias de Governo (federal, estadual e municipal), o processo reverso pode acontecer, obrigando a uma nova interrupção e suspensão integral de todas as atividades econômicas.

Acredito que nem a Prefeitura e nem o Estado pensam em um retrocesso deste tipo no momento!
  
Recomendo a leitura do artigo, Documento da Fiocruz considera prematuro retorno às atividades escolares. Para acessá-lo, clique AQUI!

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