Desde que o atual presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a tarifa de 50% sobre todos os produtos
brasileiros, a entrar em vigor a partir de 1º de agosto, este assunto vem repercutindo na imprensa nacional e
internacional, tendo em vista que – em meio às outras nações que
também foram notificadas a respeito desta nova taxação – a tarifa atribuída ao nosso país (50%) é a mais alta de
todas.
Estava deflagrada a guerra entre
ambas as nações...
No dia 09 de julho (4ª feira) foi anunciada a tarifa
imposta às Filipinas (20%), a menor de todas, até agora.
Neste mesmo dia (09/07),
o presidente Trump enviou uma carta pública ao
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmando a sua
imposição quanto à tarifa de 50% sobre os produtos de exportação brasileiros
e justificando a respectiva medida.
Leia a íntegra da carta de Trump – em português - notificando o presidente Lula
acerca da aplicação de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, AQUI!
Em uma publicação no X, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
respondeu:
“Diante
da declaração pública feita
pelo presidente dos EUA, Donald
Trump,
nas redes sociais na tarde desta quarta-feira (9),
é
importante destacar o seguinte:
o Brasil
é uma nação soberana,
com instituições independentes,
e não
aceitará qualquer forma de tutela.
Os
processos judiciais contra os responsáveis
pelo
planejamento do golpe
são de
competência exclusiva do
Poder Judiciário brasileiro e, como
tal,
não estão sujeitos a qualquer interferência
ou ameaça
que possa comprometer a independência
das
instituições nacionais”.
(The Indian Express, 17/07/2025)
Recentemente, no dia 12/07,
o presidente Donald Trump anunciou a tarifa de 30% para as importações da União
Europeia e do México, com vigência também a partir de 1º de agosto.
Lista dos 25 países já notificados
pelo presidente Trump e suas respectivas taxas, até o presente momento (G1 – 12/07):
1. África do Sul: 30%
2. Argélia: 30%
3. Bangladesh: 35%
4. Bósnia e Herzegovina: 30%
5. BRASIL: 50%
6. Brunei: 25%
7. Camboja: 36%
8. Canadá: 35%
9. Cazaquistão: 25%
10. Coreia do Sul: 25%
11. Filipinas: 20%
12. Indonésia: 32%
13. Iraque: 30%
14. Japão: 25%
15. Laos: 40%
16. Líbia: 30%
17. Malásia: 25%
18. México: 30%
19. Myanmar: 40%
20. Moldávia: 25%
21. Sérvia: 35%
22. Sri Lanka: 30%
23. Tailândia: 36%
24. Tunísia: 25%
25. União Europeia: 30%
Sob o contexto desta nova
taxação ao nosso país (50%), sabe-se que ela
excede o campo econômico, sendo mais compreendido por seu viés político – o qual ficou bem claro no texto
da carta - ligado à defesa de Trump ao
ex-presidente Jair Bolsonaro em face à atuação do Supremo Tribunal Federal
(STF) em relação ao atentado à
democracia brasileira, ocorrido no
dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes
e apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, inconformados
com o resultado das eleições (com a vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva/PT), invadiram o Congresso Nacional, o
Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), numa tentativa de golpe.
Sob este mesmo contexto, o governo
brasileiro está sendo acusado de praticar perseguição política ao referido
ex-presidente e seus aliados, tal como ao chamado “caça às bruxas”.
A alegação de seu caráter,
sobretudo, político é corroborada ao atual
tipo de balança comercial estabelecida entre os Estados Unidos e o Brasil,
a qual – pelo lado estadunidense – se mostra positiva, tendo em vista que o valor de suas exportações é maior do que o valor
das importações (produtos brasileiros).
Melhor explicando, eles ganham mais com as vendas de seus
produtos do que o nosso país comprando os produtos importados dos EUA, pois
além de serem de naturezas diferentes, os seus valores divergem. A maior parte dos produtos de exportação do Brasil pertence
à categoria de commodities, tanto agrícolas quanto minerais. À
exceção de aeronaves, ferramentas industriais, calçados, entre outros. Daí o saldo comercial dos EUA ser positivo, registrando
um superavit.
Enquanto para o Brasil,
o cenário apresenta outro resultado, uma vez que o
seu saldo comercial com os EUA se mostra negativo, pois o valor de compra dos
produtos estadunidenses (importação) é bem maior do que aqueles que o Brasil exporta
(vende) para eles. Em geral, os preços dos produtos brasileiros são inferiores,
porque - tal como foi mencionado acima - o Brasil
exporta diversos produtos primários, com predomínio de matérias-primas e produtos de baixo valor agregado, classificados
como commodities.
Os dados do Ministério do Desenvolvimento comprovam esta
relação, ao mostrar que – desde 2009 - o Brasil
tem registrado déficits comerciais consecutivos com os EUA, ou seja,
há 16 anos, o Brasil gasta mais com as importações
do que arrecada com as exportações brasileiras.
Daí ser totalmente falsa a alegação
do presidente Trump que a relação
comercial entre os EUA e o Brasil ser muito injusta. Na verdade, ela se mostra injusta só para o nosso lado e, não, para
eles.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacou:
“Os EUA mantêm
superávit com o Brasil
há mais de 15 anos.
Somente
na última década,
o superávit norte-americano foi de
US$ 91,6 bilhões
no comércio de bens.
Incluindo
o comércio de serviços,
o
superávit americano atinge US$ 256,9 bilhões.
Entre as
principais economias do mundo,
o Brasil
é um dos poucos países com superávit
a favor dos EUA”.
Como o nosso país
está em concordância com as normas da
Organização Mundial do Comércio (OMC), com a nova legislação, ele passa a ter instrumentos legais para contestar a
ações consideradas injustas, como o caso do tarifaço de Trump.
E foi embasado nesta legalidade,
que o presidente Lula assinou - na última
2ª feira (14/07) - o decreto que
regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica, a qual permite que o governo brasileiro adote medidas de retaliação contra os
EUA em razão de barreiras comerciais
e/ou políticas estabelecidas ou a serem constituídas contra o nosso país.
Esse decreto era a opção para o
Brasil reagir ao tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump.
O decreto foi publicado na edição
de 15/07/2025 do Diário Oficial da União. E, apesar
de não citar os EUA em seu texto, foram
estabelecidos procedimentos para que o Brasil
possa garantir a suspensão de "concessões comerciais, de investimentos e
obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a ações
unilaterais de países ou blocos econômicos que afetem negativamente a sua
competitividade internacional".
A medida também prevê a criação do
Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais -
formado
por representantes do governo - para discutir a
aplicação de reações a eventuais tarifas.
Muito já se especulou sobre a
possibilidade do presidente Trump não aplicar a tarifa de 50% em cima dos
produtos exportados do Brasil, pois ele
já recuou em outras decisões tomadas, anteriormente. No
entanto, embora ele tenha dito que o aumento das taxas de importação visa
“proteger e fortalecer indústria dos EUA”, o seu intuito é atingir o Brasil em
razão da situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta um processo
criminal no Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso, nada é garantido.
Uma coisa é certa, se essa imposição de tarifa alta (50%) aos
produtos brasileiros vier a ser cumprida
no próximo 1° de agosto, o Brasil sofrerá uma redução severa e altamente impactante
com a queda de bilhões de dólares nas exportações do país com os Estados
Unidos.
Mas, há de ressaltar – aqui – que 15%
das exportações brasileiras vão para os EUA e, por conta disso, não será só o Brasil a ter prejuízo com este tarifaço
imposto pelo Trump. Os consumidores
estadunidenses também sofrerão com a baixa oferta e os preços elevados dos produtos.
Os EUA também se destacam na
importação de bens fabricados no Brasil, de maior valor agregado, como
aeronaves, autopeças e máquinas. Para além dos produtos commodities produzidos em nosso país,
que representam a maior parte dos produtos exportados, entre os quais se destacam o café (grãos), a carne bovina e o petróleo
bruto. Os commodities possuem baixo valor agregado. O Brasil, ainda, exporta
para os EUA, suco de laranja, madeira
e produtos semiacabados de ferro e aço.
Principais produtos brasileiros exportados para os EUA em 2024 (CNN Brasil, 10/07/2025):
- Café: O Brasil é o maior
exportador de café (grãos) do mundo e o seu principal destino são os EUA. As exportações,
no ano passado, representaram 16,7% de toda
exportação do café brasileiro no mundo, somando quase US$2 bilhões de
dólares.
- Carne: Os EUA correspondem o segundo
maior mercado da carne bovina do Brasil, só perdendo para a China.
No ano passado, os EUA apresentaram um crescimento expressivo de 58% no volume de importações,
totalizando 147 mil toneladas e US$ 867,4
milhões em faturamento.
- Suco de laranja: Na safra 2024/25, concluída em 30 de junho, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de
suco de laranja, totalizando US$1,31 bilhão em faturamento.
Os EUA são o segundo principal comprador de suco de laranja do Brasil,
ficando atrás da União Europeia, que
lidera como maior mercado das
exportações brasileiras do produto.
Com o tarifaço, os analistas anteveem uma queda "drástica" na
competitividade brasileira e um "risco à cadeia citrícola".
- Petróleo Bruto: No 1° trimestre de 2024 foram destinados 4% do
petróleo, exportado pela Petrobras, para os EUA (segundo principal destino).
No âmbito global,
este representou 37% das exportações brasileiras
de petróleo, a qual rendeu
ao país US$ 5,8 bilhões, cerca de 13% de tudo que o Brasil exportou de petróleo no mundo, em
2024.
- Aeronaves: As exportações de aeronaves para os EUA, notadamente aviões, renderam US$ 2,4 bilhões ao Brasil, ou seja, cerca de 63% do total exportado pelo nosso
país. A Embraer é a empresa com maior participação nas exportações.
- Semifaturados de ferro e aço: O mercado estadunidense respondeu por mais de 70% das exportações brasileiras e o faturamento de suas exportações para os EUA
foi na ordem de US$ 2,8 bilhões.
- Materiais de
construção: O Brasil exportou o
equivalente a US$ 2,2 bilhões desses produtos para os EUA, o qual apresentou uma fatia
elevada do total, cerca de 58%.
- Madeira: As exportações
de produtos de madeira responderam por
mais de 40% do total exportado pelo Brasil e o seu faturamento foi na ordem de US$ 1,6 bilhão.
Segundo a empresa brasileira Cogo
Inteligência em Agronegócio, que oferece serviços de agronomia e de
consultoria às atividades agrícolas e pecuárias, os produtos
florestais brasileiros são exemplos daqueles que perderiam competitividade
para outros países, como Canadá, Chile e a União Europeia.
A Suzano, outra empresa gigante do setor
de celulose, com cerca de 15% de suas
exportações para os EUA, poderia enfrentar - a curto prazo - algumas
dificuldades. No entanto, ela se beneficia
por ter custos baixos, flexibilidade para
realocar volumes e escala global, segundo relatório do Citi.
- Máquinas e motores: Em 2024,
as indústrias brasileiras de motores, máquinas e
geradores tiveram um faturamento de US$
1,3 bilhão com as exportações para os EUA. E esse segmento de produção respondeu por mais de 60% de tudo o que o Brasil exportou.
-
Eletroeletrônicos: O mercado estadunidense é o principal destino das
exportações do setor de eletroeletrônicos. As exportações brasileiras para os
EUA, no primeiro semestre do ano passado, renderam US$1,1 bilhão.
Com a imposição de tarifa de
50% sobre todos os produtos brasileiros, esta medida irá acarretar a queda de bilhões de dólares nas exportações
brasileiras.
Fontes de Pesquisa
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BARROS, Paulo: Por que Trump quer taxar o Brasil? Veja tudo o que se sabe sobre
a tarifa de 50% - InfoMoney25
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CATTO, André: Trump manda carta a Lula e anuncia tarifa de 50% sobre produtos
brasileiros - G1/Globo
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Commodities lideram exportação em 25 das 27 unidades da Federação – Poder 360
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CUNHA, Marcela e ORTIZ, Delis: Lula assina decreto que regulamenta Lei de
Reciprocidade após tarifas de Trump – G1/Globo
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Decreto que regulamenta Lei da Reciprocidade assinado por Lula é publicado – G1/Globo
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Entenda o tarifaço de Trump sobre Brasil e como impacta a economia – CNN Brasil
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Íntegra da carta de Trump, em português, notificando a taxa em 50% ao Brasil - Poder 360
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'O Brasil não aceitará nenhuma tutela': Lula x Trump enquanto EUA impõem
tarifas de 50% - The Indian Express
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Quais são os 10 produtos brasileiros mais exportados para os EUA e os impactos
da tarifa de 50%? – G1/Globo
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SCHREIBER, Mariana e PRAZERES, Leandro: O que esperar após Trump anunciar nova
tarifa de 50% sobre Brasil em resposta à 'perseguição' a Bolsonaro – BBC NewsBrasil
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Tarifa de 50%: Brasil ainda segue com a maior taxa entre os países notificados
por Trump; veja lista - G1/Globo
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Taxa de Trump para Brasil 'não tem motivo econômico, fica claro que é decisão
política', diz economista - G1/Globo
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VIANA, Luana: Brasil usará Lei da Reciprocidade contra tarifaço de Trump.
Entenda - Metrópoles
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15% das exportações brasileiras vão para os EUA; veja principais produtos – Isto É Dinheiro