Mostrando postagens com marcador Enchentes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Enchentes. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Temporal na cidade do Rio de Janeiro: Situação Caótica

Praça da Bandeira alagada
Imagem capturada na Internet (Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia)


Mediante a chuva que cai torrencialmente desde ontem, à noite, na cidade, as aulas na rede municipal foram suspensas pelo prefeito Eduardo Paes. A orientação deste e dos Órgãos competentes e responsáveis pela segurança pública é que as pessoas evitem sair de casa.

Mesmo sabendo desta medida e pelo fato de não ter conseguido entrar em contato com a escola (E.M. Dilermando Cruz), pois o telefone só dava ocupado e o da Coordenadora (celular) não atendia, resolvi arriscar e fui trabalhar.

Meu marido chegou a me alertar, pois o movimento nas ruas estava bem fraco (baixa circulação de ônibus e/ou táxis). Fui e não deu outra... Tive que retornar, pois havia retenção no trânsito devido os alagamentos em determinadas ruas do bairro de Olaria.

Choveu muito e ininterruptamente a noite toda. Ontem, então, eu enfrentei a chuva na rua, indo para a escola noturna, que acabou tendo que suspender as aulas também. Embora estivesse com guarda chuva, a sua intensidade era tanta que acabei ficando toda molhada embaixo deste.

Agora, estarrecedor mesmo foram as imagens divulgadas na TV acerca dos pontos alagados, das enchentes e dos deslizamentos nas encostas causados pelas chuvas.

A cidade do Rio de Janeiro, literalmente, parou... Praça da bandeira; Av. Francisco Bicalho; Av. Presidente Vargas; Rua Jardim Botânico; Ponte Rio-Niterói e tantas outras. Não havia alternativa para sair ou fugir do caos por efeito atmosférico.

Para piorar, o medo de muitas pessoas ora alternava em decorrência das chuvas fortes ora pelos riscos de assalto (trânsito parado facilita a ação indesejada).

De acordo com o último boletim divulgado, o número de mortos chega a 102 (Jornal da Globo), devendo aumentar em razão do registro de pessoas desaparecidas e da probabilidade de outras vítimas em caso de deslizamento ou outro tipo de acidente provocado pelas chuvas.

A média do volume de chuva que caiu sobre a cidade, em 24 horas, foi de 175 mm. O maior, registrado em um único dia, há 10 anos.

A estação meteorológica, localizada na Rocinha, registrou o maior índice pluviométrico no período compreendido entre às 9h de ontem (05/04) e às 9h de hoje (06/04), isto é, foram 283,2mm.

Segundo o Site Tempo Agora, índices pluviométricos elevados, superiores a 200 mm, foram registrados em outras dez estações meteorológicas da cidade, a saber: Jardim Botânico (273,4 mm), Tijuca (264mm), Cachambi (255,8 mm), Vidigal (245,2 mm), Penha (226,2 mm), Grajaú (223 mm), Santa Teresa (222,8 mm), Grota Funda (216,4 mm), Laranjeiras (205,6 mm), Copacabana (201,4 mm).

Não resta dúvida que as chuvas diminuíram, mas a sua continuidade – mesmo com baixa intensidade - é responsável por saturar mais ainda o solo, tornando-o seguramente instável e susceptível a deslizamento.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, tomou a decisão de manter as escolas fechadas (aulas suspensas) a fim de evitar o agravamento da situação caótica que instalou na cidade.

A previsão é que a frente fria seja mantida até o final de semana...

Eu já enfrentei temporal e enchentes em várias ocasiões, mas a pior de todas – a meu ver – foi a de 1988. Eu estava saindo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), quando caiu o temporal e por lá fiquei, presa, sem poder sair do prédio, pois logo depois as ruas estavam alagadas, além do transbordamento do rio Maracanã.

Voltei para o 4° andar, onde eu estava anteriormente (Faculdade de Geologia), e pude ver – do alto - os carros “abandonados” sendo arrastados pela correnteza ou colidindo com outro veículo devido a força da água.

Passavam das 23h, quando eu fui para a Praça Saens Peña pegar o ônibus no ponto final. A rua Conde de Bonfim, na altura da referida praça, era total sujeira mediante a quantidade de terra e lixo que desceu dos morros.

Lembro-me, como se fosse hoje, eu estava “morta” de fome e não podia gastar o pouco de dinheiro que tinha, pois não sabia como seria o trajeto completo até a Penha.

Desci em Bonsucesso às 2h da madrugada para atravessar o túnel subterrâneo (de pedestre), mas este estava alagado e com pivetes praticando assalto aos aventureiros que arriscavam a atravessá-lo.

Liguei a cobrar para o meu pai (na época, não havia celular) e ele foi me buscar de carro.

No dia seguinte, eu e a minha orientadora, na época, Profª e Geógrafa Antonia Maria Martins Ferreira (Tuninha) fomos até o Morro do Borel, na Tijuca, com uma equipe da GeoRio ver as consequências dos deslizamentos. Muitos estragos! Foi nesta vsitoria, que pude constatar a eficácia de um bambuzal na contenção de terra.

Vamos torcer para que as chuvas diminuam e o número de mortos não se eleve mais.



Algumas Imagens capturadas na Internet


Deslizamento e Resgate de vítimas no Morro dos Prazeres, Zona Norte do Rio

(Foto: Marcos de Paula/AE - O Estadão)







Deslizamento na Mangueira - Imagem capturada na Internet (Google)






Morro do Borel - Imagem capturada na Internet
(Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia)






Museu "Casa do Pontal" inundado
Imagem capturada na Internet (Agência Estadão)







Alcântara (São Gonçalo) inundado
Imagem capturada na Internet (Foto: Leitor Paulo Cesar)







quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Terremotos no Brasil


Para quem se assustou, no final de 2009 e início deste ano, com as notícias de tremores de terra (terremotos) no Brasil, saiba que diferentemente do que se pensa, eles são comuns em nosso território. Todavia, estes abalos sísmicos apresentam características diferentes dos terremotos que ocorreram, mais recentemente, no Haiti, por exemplo.

No dia 30 de dezembro de 2009, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) registrou dois abalos sísmicos em Presidente Figueiredo, na Amazônia, tendo cada um, respectivamente, as magnitudes 2,4 e 3 graus na escala Richter.

O tremor foi sentido em uma reserva indígena, perto da Hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, na Bacia Amazônica.

No dia 02 de janeiro deste ano, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) registrou um tremor de terra em Sobral, no Ceará, com magnitude de 2,7 graus na escala Richter.

No dia 09 do janeiro foi a vez do município de João Câmara, no Rio Grande do Norte. A população sentiu os tremores, cuja magnitude registrada, pelo Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), foi de 2,5 graus na escala Richter.

De acordo com o Boletim Sísmico Brasileiro, o epicentro do terremoto ocorreu a cerca de 73 km da capital, Natal.

No dia 11 de janeiro, o estado do Rio Grande do Norte sofreu mais um tremor de terra. Desta vez foi em Taipu, no litoral do estado. O tremor de terra foi mais forte e atingiu, também, toda a Região Metropolitana de Natal, conhecida como Grande Natal, que compreende os municípios de Natal (capital do estado), Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e São José de Mipibu, bem como outras cidades nordestinas, como Recife (capital de Pernambuco) e a região de João Pessoa até Campina Grande, na Paraíba.

De acordo com o Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a magnitude do terremoto foi de 4,3 graus na Escala Richter, considerada entre moderada e forte.

Conforme notificou o professor de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joaquim Ferreira, é bem provável que ocorram outros terremostos na região, desencadeando o que é chamado de “enxame sísmico".

Segundo o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), o Rio Grande do Norte tem histórico de atividades sísmicas e os recentes terremotos foram causados pela reativação da falha sismológica de Poço Branco.

Em abril de 2008, um tremor de terra de magnitude 5,2 graus na Escala Richter foi registrado a cerca de 218 Km de São Vicente, no litoral sul do estado de São Paulo. O seu epicentro foi no oceano Atlântico, a cerca de 10 Km de profundidade.

Além de São Paulo, outros quatro estados sentiram os efeitos do fenômeno (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina).

Imagem capturada na Internet (Google)


Como é sabido, os terremotos podem estar associados à tectônica de placas, ao vulcanismo e a atividades antrópicas (do homem).

No entanto, a maioria dos terremotos é de origem tectônica, ou seja, se encontra associada à movimentação das placas tectônicas ou em consequência de falhas geológicas.

Os de origem tectônica, principalmente, aqueles atrelados aos movimentos das placas tectônicas se configuram como os mais devastadores. A maioria ocorre nos limites entre duas placas tectônicas. A previsão de sua ocorrência é algo bastante difícil, embora a natureza dê alguns sinais.

Os abalos sísmicos de origem vulcânica variam de intensidade, podendo ser fortes e destrutivos. Eles, em geral, antecedem as erupções vulcânicas.

Os terremotos de origem artificial (humana) ocorrem de forma indireta, quando o homem realiza determinadas atividades, capazes de abalar as estruturas internas da Terra, tais como a criação de lagos artificiais em razão da construção de Usinas Hidrelétricas, bombeamento de água e gás sob pressão no subsolo e detonação de bombas atômicas no fundo dos oceanos. Estes, em geral, são denominados de “sismos induzidos”.

No Brasil não ocorrem terremotos de grandes proporções, porque o país está localizado – mais ou menos – no meio da placa Sul-americana, isto é, numa região “intraplaca”, distante das bordas da placa tectônica.

Os terremotos que ocorrem no Brasil têm origem tectônica, porém associada à existência de falhas geológicas.

Toda placa se apresenta recortada por falhas, que funcionam "como uma uma ferida que não cicatriza: apesar de serem antigos, podem se abrir a qualquer momento para liberar energia", conforme explica o professor Saadi (citado em Tremores de Terra no Brasil).

Qualquer movimento da placa seja no sentido convergente (encontro) seja divergente (afastamento), a compressão de um lado e de outro, faz com que ele rompa onde já existe a fratura.

Muitos tremores de terra ocorrem, também, como reflexos de terremotos de outros países, principalmente, da América do Sul, na porção oeste, voltada para o oceano pacífico, onde há o encontro das placas Sul-americana com a Nazca.

Daí, os abalos sísmicos intraplaca não serem de grande magnitude (baixa a moderada). Eles podem até ser, mas não é muito sentido, pois o seu epicentro se encontra distante, em outro país vizinho.



Disposição Mundial das Placas Tectônicas - Imagem capturada na Internet



Detalhe da localização do Brasil na Placa Sul-Americana - Imagem capturada na Internet



De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o primeiro sismo induzido ocorrido no país aconteceu na Usina Hidrelétrica Governador Pedro Viriato Parigot de Souza (antiga Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira), localizada no município de Antonina, no Paraná, entre 1971 e 1972. Embora, cada vez menos intensa, sua atividade sísmica prosseguiu até 1979.

Neste caso de construção de um lago artificial, os riscos maiores incidem sobre a própria barragem, pois esta se encontra, justamente, no epicentro do abalo.


Hidrelétrica Capivari-Cachoeira - Imagem capturada na Internet (Paranáonline)



Embora, os terremotos em nosso país apresentem origem e natureza distintas daqueles ocasionados por movimentos das placas tectônicas ou por atividade vulcânica, ao longo de sua história, um óbito foi registrado em consequência de um abalo sísmico no Brasil.

Um terremoto, de magnitude 4,9 graus na escala Richter, ocorreu no vilarejo de Caraíbas, em Itacarambi (Minas Gerais), no dia 9 de setembro de 2007. A vítima foi uma criança de 5 anos, Jesiane Oliveira da Silva, que morreu em consequência do desabamento de sua casa.

Daí, mesmo sabendo desta dinâmica que rege as atividades sísmicas em nosso território e de sua localização na placa Sul-americana, que para a maioria dos especialistas não é razão de preocupação, não podemos também ignorar que elas ocorrem seja ao longo das falhas geológicas seja por acomodação das camadas internas ou, ainda, como reflexos a sismos de países vizinhos.



Fontes Complementares de Consulta

. Ambientebrasil

. CPRM


. Globo.com

. Último Segundo

. WebArtigos.com


A instabilidade da maior parte de nossas encostas


Retomando o assunto sobre os movimentos de terra (deslizamentos) que ocorreram em nosso estado em razão das chuvas, desde dezembro de 2009, gostaria de falar duas coisas.

Uma delas é lembrar – antes de tudo – a campanha de arrecadação de donativos para os desabrigados de Angra dos Reis, da Baixada Fluminense ou de Magé continua. Existem vários postos de arrecadação, espalhados pela cidade (Rio de Janeiro) e em outros municípios do estado.

Eu mesma já encaminhei algumas roupas, lençóis, fronhas e colcha para o Posto de Arrecadação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Maracanã.

Seria bom que cada um fizesse a sua parte, pois é muito triste e desolador ver que as pessoas perderam tudo, depois de tantos anos de sacrifícios e de trabalho.

É evidente que as perdas materiais não chegam ao mesmo nível das perdas humanas, mas é duro ter que recomeçar, quando este recomeço demanda muitos recursos financeiros.

Outra coisa que gostaria de comentar é sobre todas estas discussões acerca de remanejamento das comunidades situadas em áreas de riscos (morros e nas várzeas de rios).

Estas ocupações representam problemas antigos, as quais nunca foram tratados a contendo por nenhum governante. Qualquer um, leigo ou não, tem alguma noção sobre os perigos e riscos que representam as construções e/ou atividades econômicas desenvolvidas nestas áreas.

Quando falo em atividades econômicas, vale lembrar as imagens de Saquarema – postadas neste espaço – em agosto de 2008, onde é bastante visível os diferentes níveis dos processos erosivos nas encostas – desde uma simples ravina até uma grande voçoroca – por conta do pisoteio do gado agregado às precipitações pluviais.

Formação e desenvolvimento de Ravinas e outros processos erosivos - Serra do Mato Grosso - Saquarema (RJ) - Imagem do meu acervo particular


Voçoroca - Serra do Mato Grosso - Saquarema (RJ)


Imagem do meu acervo particular



Por outro lado, a expansão imobiliária e, ao mesmo tempo, a falta de moradia para as comunidades mais carentes impõe e expõe uma situação crítica em termos de uso e apropriação do solo se estendendo para áreas desocupadas, sejam estas próximas de rios ou nas encostas.

Depois de uma tragédia, com número de vítimas fatais elevado e toda uma exposição nas mídias, nacional e internacional, falar de uma política de solo, de um programa de remanejamento das comunidades parece uma iniciativa louvável por parte do governo.

Na verdade, o louvável seria a prevenção; seria não deixar a situação chegar ao nível que chegou.

Depois de muitos anos sem ir à Paquetá, quando eu fui com o meu marido e a minha filha, em 2005, eu percebi – ainda – estando na barca, que haviam sido construídas diversas casas em um dos morros da ilha.

Fiquei pasma, pois o cartão postal configurado nas belezas naturais da ilha de Paquetá já estava definitivamente marcado pela má administração pública de seu espaço urbano.

Depois, soube que outras comunidades também foram sendo instaladas na ilha.

A todo momento, surgem e crescem construções em áreas de riscos. Só não vê quem não quer enxergar o problema em si e o quê este representa em termos de segurança à vida humana, à manutenção da moradia e dos problemas ambientais gerados à partir da iniciativa e da ocupação.

As construções próximas ou nas várzeas dos rios sofrem diretamente com as enchentes provocadas pela conjunção dos seguintes fatores: grande quantidade de lixo lançados e acumulados no leito dos rios, assoreamento dos mesmos e os altos índices pluviométricos (chuvas).

Nas encostas, os efeitos das águas pluviais são agravados em razão da declividade do terreno e da instabilidade do solo. A existência de uma cobertura vegetal é capaz de reduzir o efeito do escoamento superficial, mas não impossibilita o movimento de massa, visto como se deu na enseada do Bananal, na Ilha Grande, após mais de dois dias de chuvas contínuas.

Não podemos esquecer que devido às condições climáticas da zona tropical ou intertropical (a mais quente e úmida do planeta), na qual a maior parte do nosso território se encontra localizado, favorecem a ação do intemperismo químico, provocando a decomposição da rocha através da presença de minerais mais susceptíveis ao ação da água.

Processo bastante comum em países, cujas condições climáticas se caracterizam por grande quantidade de chuvas, o que se observa nos cortes de estradas ou nas encostas, na maior parte de nosso território, não é a rocha fresca ou nua, como os geólogos ou geomorfólogos a denominam. O que vemos é considerado por alguns dos ramos citados como “lixo”, ou seja, o material decomposto, em geral, argiloso e/ou siltoso, de coloração amarelo a marrom-avermelhado.

E em razão de ser um material decomposto, inconsolidado, este se configura de fácil remoção, principalmente, por agentes de erosão, como a água correntes dos rios ou das chuvas.

Além disso, a grande exposição ao Sol e as altas temperaturas fazem com que haja ressecamento do solo, bem como das fendas existentes neste. Estas condições também favorecem o desmoronamento.



Av. Presidente Kennedy - Bairro Pilar - Duque de Caxias (RJ)

Imagem do meu acervo particular





Av. Presidente Kennedy - Bairro Pilar - Duque de Caxias (RJ)

Imagem do meu acervo particular


Vale lembrar que, o material inconsolidado pode ser o elúvio, ou seja, o manto de intemperismo propriamente dito (a rocha alterada in situ ou manto de alteração da rocha) ou um colúvio, material também inconsolidado, que sofreu transporte por algum agente erosivo e foi depositado posteriormente, já bastante alterado em sua composição interna devido a introdução de novos materiais durante o percurso.

De tudo isso fica uma lição: não podemos ignorar as características físico-químicas dos solos, até mesmo aqueles com cobertura vegetal, a declividade, as condições climáticas regionais e, muito menos, as várzeas dos rios.

Principalmente, em termos de ocupação humana (moradia), cortes de estradas ou desenvolvimento de atividades econômicas, onde se verificam condições favoráveis ao desenvolvimento de erosão ou movimentos de massa, bem como de enchentes nas áreas próximas dos rios.

A conjunção de todos estes fatores impõe uma dinâmica ambiental susceptível a novos impactos e, indubitavelmente, a tragédias, tais como vimos na Baixada Fluminense e em Angra dos Reis, só para citar estes dois exemplos.

Mas é sabido que o mesmo justifica as enchentes em São Paulo, em Santa Catarina e outras localidades, espalhadas, em nosso país. Os governantes sabem disso, mas pouco é feito em termos de prevenção.

O governador do Rio de Janeiro falou de uma política de solo, mas em pequeno período de tempo não é possível remover comunidades e mais comunidades, que – durante anos – vêm ocupando e se apropriando de terrenos em áreas de riscos. E, muito menos, resolver de vez a questão do déficit de moradia. E isso não se restringe apenas à esfera municipal ou estadual.

De acordo com a ONG Contas Abertas, o governo federal gastou dez vezes mais com reparos - em consequência de desastres naturais - do que com a prevenção (ambientebrasil).

O professor da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em Ciência Política, Evilásio Salvador foi incisivo nesta questão e ressaltou a responsabilidade dos gestores públicos pela sucessão de desastres naturais, tal como ocorreu em Angra do Reis, pela falta de um plano habitacional sério de médio e longo prazo, que seja capaz de resolver o problema de ocupação nas áreas de riscos, como as encostas (ambientebrasil).

Outro dia, eu assisti um debate na TV sobre estas questões, ligadas à prevenção, e um dos debatedores (infelizmente não lembro todos os nomes e nem o dia) disse que a verba sai mais rápido após ocorrer uma tragédia do que – no caso – de ser um projeto ou programa de prevenção.

Todo ano, as “coisas” acontecem, se repetem... na mesma época (verão). Há perdas materiais e humanas. O que falta mais acontecer para que os nossos governantes se conscientizem que “prevenir é melhor que remediar”?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Angra dos Reis e outros municípios: Tragédias já Anunciadas




Vista aérea do local da Pousada Sankay, 
atingida por um deslizamento de terra 
(REUTERS/Bruno Domingos - UAI )

Infelizmente, quando as chuvas chegam e persistem - continuamente - a se precipitar, o medo se instala e a Defesa Civil fica em alerta, pois os chamados são muitos, tal como foi neste início de ano...

Enquanto muitos continuavam festejando, madrugada adentro, a virada do ano, a população de muitos municípios do estado do Rio de Janeiro sofria com as chuvas contínuas e as enchentes decorrentes destas. Inclusive, o bairro e adajcências da minha antiga escola em Duque de Caxias (E.E. Assis Chateaubriand).

No final do mês de novembro, eu passei um sufoco na Av. Presidente Kennedy, na altura da passarela do Posto Bravo, pois quando fui atravessar a referida avenida, a água já estava bem acima do meu tornozelo.

Na imagem abaixo fica bastante evidenciado o processo de erosão, com o transporte do material incosolidado (no caso argila e/ou silte) pelas águas das chuvas (agente erosivo). A deposição deste material, que veio de uma área mais alta, ocorre nas áreas mais baixas.


Av. Presidente Kennedy, Pilar - Duque de Caxias 
Imagem do meu acervo particular



Na mesma localidade, erosão em evidência e um sulco no material deslizado
em outra época de chuva
 Imagem do meu acervo particular


Neste mesmo dia, o meu aluno presenciou um deslizamento de terra atrás da escola. Eu estava de costa e quando me virei para ver, a terra já tinha descido. Nesta já havia sinais de antigos movimentos de massa, ou seja, as encostas existentes em toda a área apresentam situação de vulnerabilidade face ao solo instável, a declividade e a ação das chuvas constantes.


Em dezembro último, eu fotografei um ponto de deslizamento próximo à Igreja de Nossa Senhora do Pilar, na mesma avenida, no bairro Pilar (vide fotos abaixo).

Pelo que eu soube, a área do referido deslizamento e outros pontos próximos, em situação instável similar, sofreram outros movimentos de terras na virada do ano.


Av. Presidente Kennedy, bairro Pilar - Duque de Caxias (RJ)
Imagem do meu acervo particular






Av. Presidente Kennedy, bairro Pilar - Duque de Caxias (RJ)
Imagem do meu acervo particular






Av. Presidente Kennedy, bairro Pilar - Duque de Caxias (RJ)
Imagem do meu acervo particular

Mas, sem dúvida nenhuma, tragédias piores que marcaram a chegada do ano de 2010 foram registradas no município de Angra dos Reis. Uma aconteceu no Centro do município, no Morro da Carioca, onde o deslizamento de terra afetou várias casas e, a outra, de maior projeção na imprensa nacional e internacional, aconteceu na na enseada do Bananal, na Ilha Grande, envolvendo uma pousada de luxo (Sankay) e mais sete casas.

Muitos turistas e familiares estavam reunidos no local, tanto na pousada quanto nas casas, por conta dos festejos do Réveillon. Nos dois casos, os deslizamentos ocorreram de madrugada, quando a maioria das pessoas estava dormindo.


Imagem capturada do O Dia OnLine


Infelizmente, estas últimas chuvas trouxeram à tona uma tragédia já anunciada - há anos - acerca da relação do homem com a natureza.

Não foi um ou outro fator responsável, mas um somatório de fatores, que diante da falta de um controle maior por parte do governo, seja da instância municipal ou estadual, resultou nestas duas grandes tragédias, com um número de mortos ainda incerto, porém já elevado e de feridos também.

Não precisa ser nenhum especialista em geotecnia (ramo da Geologia) ou em Geomorfologia para perceber que encosta íngrime (declivosa), solo instável (em geral argilo-siltoso), índices pluviométricos elevados (clima tropical úmido) mais a expansão imobiliária irregular e desordenada na base da encosta representam fatores de altos riscos, capazes de expressar, desde a primeira ocupação humana, em uma tragédia programada a médio prazo.

No caso da Ilha Grande, mesmo tendo uma cobertura vegetal presente, capaz de controlar o processo erosivo do solo, a topografia do relevo (encosta íngreme) e o solo instável foram suficientes para desencadear um quadro de vulnerabilidade e de baixa sustentabilidade face às chuvas contínuas, que saturaram o solo e acabaram por provocar o deslizamento de terra, deixando à mostra a rocha “nua”.

É bastante notório que o perigo existe não apenas para quem mora no alto do morro, mas também para quem constroi e reside na base deste, pois tudo que está em cima desce. O fator de risco é para todos. O certo é não ocupar a encosta e nem muito próxima de sua base, assim como outras áreas susceptíveis a enchentes, como as margens de rios.

Agregado a esta tragédia está a falta de inspeção por parte do governo, que não fiscaliza estas áreas e as ocupações irregulares. Ocupações irregulares justamente por estarem em áreas de risco eminente e, não, simplesmente por questões de documentos.

O nosso governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defendeu, em entrevista coletiva, uma política séria de uso do solo, como se as tragédias no morro da Carioca e na Ilha Grande (município de Angra de Reis) fossem fatos novos e isolados em nosso estado (sem mencionar a nível de território nacional).

Ele ressaltou, no caso da Ilha Grande, que a tragédia foi de causas naturais e não em consequência de construções irregulares. Contudo, ele esqueceu de observar que as construções estavam em áreas de riscos, na base da encosta. O perigo é o mesmo.

A política do governo, seja de planejamento urbano ou no caso da Defesa Civil, deveria promover ações preventivas quanto ao uso e apropriação do solo e, não, apenas, no sentido de disponibilizar socorro e resgate após um desastre combinado entre os fatores da natureza e de ordem antrópica, o qual poderia ser evitado previamente.

Fechar os olhos para a expansão imobiliária, desordenada, seja nas áreas nobres ou não nobres, como em áreas às margens dos rios ou nos morros (comunidades mais carentes) é algo que vemos ao longo dos anos, sem que haja uma fiscalização mais séria capaz de assegurar um mínimo de segurança em termos de integridade da área construída aos efeitos das intempéries, bem como de conservação da natureza.

É triste imaginar a dor que cada um, envolvido direto e/ou indiretamente em ambas as tragédias, traz consigo neste início de ano. A dor é imensa e só o tempo a tornará mais leve.
Apagar, jamais! Mas, abrandá-la, com a fé em Deus e com os Seus desígnios é possível, com o tempo.