Ontem, dia 02 de abril, foi comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Data bastante importante, sobretudo, para nós – educadores – que lidamos com vários alunos portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e,
também, com os seus respectivos responsáveis.
Por experiência própria,
a cada dia aprendo algo novo com eles e o contato permanentemente com os
responsáveis é de suma importância, não restam dúvidas!
Ainda é possível observar
atitudes insensatas de muitos responsáveis e até de professores, consideradas impróprias em relação a tratamento de autistas, tais como gritar, ameaçá-los,
constrangê-los na frente de outros, excesso de cobranças, criticá-los, proferir
comentários negativos, entre outros. Tudo isso afeta - negativamente - a
autoestima do mesmo.
Daí a importância de
nossa conscientização acerca deste transtorno, do seu enfrentamento, de suas necessidades
e possibilidades, capazes de subsidiar uma relação mais harmoniosa e positiva entre
as partes. E é, justamente, com este intuito que a Campanha “Abril Azul” merece a nossa atenção e
divulgação.
Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a
Campanha “Abril Azul”, ocorre todo
ano, desde 2008, com o objetivo principal
de dar maior visibilidade e conhecimento sobre o Autismo,
sobretudo, promover a conscientização e a inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o Ministério
da Saúde, o Transtorno do Espectro
Autista (TEA) é um distúrbio
caracterizado por algum grau de comprometimento
na capacidade de comunicação, na linguagem, na interação
social e no comportamento (repetitivos
ou metódicos). Podendo haver, também, uma hipersensibilidade sensorial e desenvolvimento
motor atrasado.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças no mundo tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Este termo, Transtorno do Espectro Autista (TEA) passou a ser empregado, em 2013, por ocasião do lançamento
do 5° Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-5,
na sigla em inglês), produzido pela Associação
Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), que englobou todos as variações de autismo. Assim sendo, o
termo “espectro” abrange desde as manifestações de autismo mais leve até a mais
severa, isto é, desde o nível 1 ao nível 3.
O TEA se manifesta na infância,
ou seja, nos primeiros anos de vida. Contudo, o trabalho de diagnóstico por um profissional só é feito entre os 4 e 5 anos de idade, pois, na
maioria dos casos, durante os primeiros cinco anos de vida, suas condições são
aparentes. O transtorno tende a persistir
nas fases da adolescência e adulta.
Em geral, os indivíduos portadores de TEA apresentam, frequentemente e ao mesmo tempo, outros transtornos associados, como depressão, ansiedade, epilepsia, déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).
A causa do autismo ainda é desconhecida. No entanto, acredita-se que a fatores genéticos estão ligados ao seu desenvolvimento. Estudos
indicam outras possíveis causas, a
saber: desordens metabólicas; infecções virais;
lesões na formação do cérebro; complicações no parto ou na gravidez.
De acordo com
especialistas, o Transtorno do Espectro Autista
(TEA) não tenha cura. Contudo, existem medicamentos que podem ser
administrados e que minimizam consideravelmente os seus sintomas.
“Em relação ao TEA,
não se fala em tratamento,
mas em formas de
reduzir as comorbidades
e melhorar a
qualidade de vida do paciente.
Isso pode se dar
através de auxílio psicológico,
atividades lúdicas
ou, eventualmente,
acompanhamento
neurológico e psiquiátrico”.
(ESTADÃO, 2024)
Estima-se que no Brasil existam
cerca de 2 milhões de brasileiros com algum nível de autismo. No
entanto, muitos ainda não têm diagnóstico.
Entender a patologia ainda é um grande desafio para
muitas pessoas, principalmente aquelas que convivem e/ou lidam com quem a tem.
O autismo apresenta diferentes níveis, isto é, ele pode se
manifestar de forma leve até a mais severa.
Sintomas do Autismo
O indivíduo portador de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode
apresentar uma série de sinais, sendo
alguns mais evidentes que outros, os quais podem ser:
- Dificuldades em
interagir socialmente (socialização);
- Introspecção (os
autistas costumam se isolar);
- Alterações no
comportamento:
Na fase infantil: repetição de movimentos ou
falas continuamente; evita gestos de afeto, como beijos e abraços; tem atitudes
agressivas.
Na fase adulta: observa-se as seguintes
alterações: fica mais tempo em casa; desenvolve sintomas de ansiedade; demonstra
interesse apenas por determinadas atividades; dificuldades na comunicação (é
comum que eles não se expressem verbalmente e sejam resistentes à comunicação).
Se o portador do TEA não for tratado de maneira apropriada, o indivíduo
autista pode ter o seu desenvolvimento
intelectual amplamente comprometido, podendo ainda isolar-se socialmente e não conseguir ser inserido no mercado de trabalho.
O diagnóstico precoce permite minimizar bastante os efeitos do transtorno e,
em algumas situações, o indivíduo consegue até
ter uma vida normal.
Como foi dito
anteriormente, em geral, os primeiros sinais do
Autismo se manifestam entre os 3 e 5
anos de idade e, nesta faixa etária, há o início do processo de ensino-aprendizagem da criança (creche
e escola), ou seja, período essencial para o seu desenvolvimento. Em razão
disso é preciso colocar em prática, desde cedo, atividades que estimulem a sua fala,
sua interatividade, a socialização, a coordenação motora, entre outros aspectos.
Já é sabido e regulamentado
que o estudo em escola de ensino regular
aumenta as chances do aprendizado, tendo
em vista que o contato diário com outras crianças também serve como estímulo ao
autista.
A matrícula de indivíduos
autistas nas escolas está prevista na legislação brasileira, especificando
melhor, Lei Berenice Piana, tal como explica
a advogada e ativista do grupo Mundo Azul (PA), Flávia Marçal,
“A Lei Brasileira de Inclusão é muito clara sobre a
discriminação de estudantes em razão da sua
deficiência.
O artigo 98 proíbe as escolas de recusar,
cessar ou
atrasar essas matrículas.
Portanto, as escolas não podem proceder dessa
maneira,
sob pena de estarem cometendo um crime”.
(LIMA, 2024)
Ademais, de acordo com
especialistas, para potencializar os resultados obtidos no ambiente escolar,
pode-se recorrer ao atendimento educacional
especializado como estratégia, paralela, ao ensino regular, o qual poderá
oferecer subsídios fundamentais aos aspectos mais comprometidos pelo
transtorno.
Com o suporte
necessário, as crianças autistas podem desenvolver talentos específicos em
certas áreas do conhecimento.
Graus do Autismo
Atualmente, de acordo
com sua gravidade, considera-se o Autismo sob três
níveis, os quais – antigamente
– eram classificados – em ordem crescente – de Leve,
Moderado e Severo:
. Nível 1
Denominado, também, de Asperger, verifica-se a introspecção e dificuldade
na comunicação, porém, o comprometimento é menor. Movimentos
descoordenados e o foco em apenas um assunto ou atividade de maior interesse
são bastante comuns.
Tais comprometimentos
podem demorar, mais tempo, para serem
diagnosticados.
. Nível 2
A interatividade social é baixa, há dificuldade
ou ausência de comunicação verbal, assim como determinadas atitudes e movimentos repetitivos ficam mais
em evidência. Os comprometimentos oscilam com as características tanto do nível
1 quanto no nível 3.
. Nível 3
Caracteriza-se por desencadear maior interferência nos diversos aspectos,
tanto do nível 1 quanto do nível 2. Consta
como grave o déficit cognitivo e as habilidades para convívio social,
tornando imprescindível um suporte grande para atender as necessidades
individuais do indivíduo portador do TEA.
Não é fácil... Muitas
das vezes, o Transtorno do Espectro Autista
impõe uma carga emocional e econômica considerável
sobre os portadores do TEA e suas respectivas famílias, sobretudo, para
aqueles que se enquadram nos níveis 2 e 3 (grau moderado e severo,
respectivamente).
A falta ou precariedade de serviços e apoio especializados são os grandes entraves. Por isso, toda e qualquer forma de intervenção visando os cuidados e acompanhamento
adequado de crianças e/ou jovens autistas é de suma importância para
minimizar os efeitos de seu grau de comprometimento,
assegurando – tanto para os portadores de TEA quanto para os seus cuidadores e
família - um impacto positivo para o bem-estar e qualidade de vida.
Mercado de trabalho
Como foi dito, anteriormente,
o Transtorno do Espectro Autista se
não for tratado de forma adequada pode limitar enormemente a capacidade do
indivíduo na realização de suas atividades diárias, como também em sua
interação social. Podendo intervir, negativamente, tanto em suas conquistas
educacionais e sociais, quanto nas oportunidades de emprego.
A entrada de autistas no
mercado de trabalho consiste, ainda, em um grande
desafio em razão dos obstáculos existentes
mediante ao próprio desconhecimento dos
empregadores acerca das capacidades do autista.
Por isso, a desinformação e o preconceito, ainda, consistem
nos maiores problemas existentes na
relação entre o empregador e o candidato à vaga de trabalho.
Daí ser imprescindível o
apoio da família em todo o seu processo educacional, sendo fundamental a sua
co-partipação tanto em termos de contribuição no
seu desenvolvimento pleno quanto na minimização
das interferências da patologia em sua vida.
Do mesmo modo, deve-se
contar com o apoio de profissionais qualificados
e uma instituição médica de referência,
isto é, que tenha um setor voltado ao atendimento de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Enquanto, alguns
indivíduos com TEA se tornam capazes de viver de forma mais independente,
outros – no entanto - tendo suas limitações, irão necessitar de cuidados e
apoio ao longo da vida.
Em razão disso tudo,
torna-se fundamental ressaltar a importância da Campanha “Abril Azul”. Vamos
divulgar!
Fontes de Consulta
. Abril Azul mês do
Autismo: entenda mais sobre esse transtorno – 2019 – Hospital Santa Mônica
. ABRIL AZUL - Mês de
Conscientização sobre o Autismo – Hospital das Forças Armadas (HFA)
. CASTELO, Lara: Entenda
por que o autismo é considerado um espectro – 2024 - Estadão
. LIMA, Célia Fernanda: Autismo:
escolas não podem negar o direito à educação - 2024 – LUNETAS
. Transtorno do espectro autista – Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)