sábado, 31 de outubro de 2020

Brasil: Fogo que arde por queimar - Parte V (Considerações Finais)


Imagem capturada na Internet
Fonte: OgazeteirO


Texto: Marli Vieira de Oliveira da Silva

Todo ano é a mesma coisa...

 Se a vontade social é formadora da quase inexistente 

vontade política ambiental,

há que se investir com criatividade 

no processo de tomada de consciência,

mediante forte dramatização, atraindo a atenção da mídia,

menos para reafirmar o que já foi exaustivamente denunciado,

e mais para destacar o insubstituível papel da mídia 

na formação da vontade social.

Quanto mais for possível acelerar o processo 

de transformação comportamental com relação ao meio ambiente, 

menor será o lamento,

quando vierem a ocorrer as catástrofes engatilhadas,

por não terem sido evitadas a tempo.”

ZULAUF (2000)


 Realmente, entra ano, sai ano e nada muda... Nem mesmo as legislações ambientais vigentes são capazes de atenuar as práticas humanas, criminosas, em relação aos desmatamentos, queimadas e incêndios florestais em nossas matas nativas... É cíclico...  

E, pode-se dizer que, transcorridos 20 anos, desde que as palavras em epígrafe foram proferidas pelo engenheiro e sanitarista, Werner Eugênio Zulauf (falecido em 2003), nem mesmo os mais  conscientes e nem o poder de persuasão das mídias conseguiu mudar ou “acelerar o processo de transformação comportamental com relação ao meio ambiente”. Sem dúvida alguma, um embate muito difícil, marcado por interesses e poderes desiguais, incapaz de chegar a um consenso a fim de equacionar ou, ao menos mitigar, as questões ambientais conflitantes em nosso país.  

Desde o início da chamada “temporada” das queimadas e dos incêndios florestais, maio e junho, as mídias exibem imagens preocupantes de queima e de cenários desoladores, onde “o fogo arde por queimar” em decorrência de ações antrópicas ilegais, totalmente descabíveis não apenas pelos danos irreversíveis à cobertura vegetal ou pela emissão de gases poluentes à atmosfera, mas – entre outros aspectos - com as vidas que ali existem e sobrevivem. Vidas que existem e são afetadas ali, localmente, regionalmente ou até para além de suas fronteiras políticas...  

No entanto, a ordem de ideias e de práticas em nossa cultura sempre foram baseadas em um conjunto de valores dissociativos: o homem como o sujeito, o grande dominador e senhor da natureza e esta, por sua vez, como recurso a ser explorado e espoliado pelo mesmo, à revelia de suas características funcionais inerentes. E, ao longo dos séculos, com o progresso da ciência e das tecnologias, o domínio humano sobre esta e em seus recursos naturais passou a adquirir maior expressividade, desencadeando e acelerando diversos processos antropogênicos de degradação ambiental em detrimento à concepção de unicidade e de interdependência existente entre os seus elementos em sua dinâmica (SILVA, no prelo).  

Considerando tanto o bioma quanto o ecossistema em si (conceitos distintos), devemos ter em mente que cada um responde por uma dinâmica única de acordo com as suas singularidades e que as intervenções antrópicas nunca levaram em consideração suas respectivas características, executando-as à revelia das mesmas, causando graves impactos ambientais, muitos dos quais de caráter irreversível.   



CERRADO

O cerrado, por exemplo, como foi mencionado em postagem anterior, é um dos dois hotspots brasileiros (o outro é a Mata Atlântica), que apesar de possuir plantas e animais adaptados para o enfrentamento das queimadas, se encontra em processo acelerado de degradação ambiental, estando a sua biodiversidade ameaçada de extinção.  

No cerrado, o uso do fogo é uma estratégia técnica que, a médio prazo, pode gerar resultados ecológicos. Muitas plantas típicas (endêmicas) do cerrado têm como característica natural suportar fogo de intensidade baixa ou moderada, inclusive, como afirma PIVELLO (2009), “o fogo é benéfico e estimula ou facilita diversas etapas de seu ciclo de vida”. E completa: 

A distribuição esparsa das árvores e dos elementos lenhosos, que caracteriza as savanas, permite a chegada de insolação no nível do solo e promove o desenvolvimento de farto estrato herbáceo, formando um "tapete" graminoso. Devido ao seu ciclo de vida, essas gramíneas têm suas folhas e partes florais dessecadas na época seca – que, na região dos cerrados, geralmente vai de maio a setembro. Esse material fino e seco passa a constituir um combustível altamente inflamável. Raios e também chamas e faíscas provenientes de ações do homem (queima de restos agrícolas, fogueiras, etc.) podem iniciar a combustão da vegetação e, a partir de então, o fogo se propaga rapidamente.”

Cerrado
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Fonte: Embrapa

PIVELLO (op.cit.) ainda destaca sobre a diferença do manejo correto do fogo pelos povos indígenas e daquele totalmente inadequado realizado pelos agricultores e pecuaristas na região. A sabedoria e as experiências dos primeiros permitem que o fogo seja controlado e benéfico sob diversas maneiras para a comunidade e para o meio ambiente (para os animais e recuperação da mata, por exemplo). Por sua vez, com o uso do fogo por parte dos agricultores e pecuaristas, em geral, verificou-se um aumento em sua frequência e na escala das áreas queimadas, gerando, consequentemente, a degradação ambiental.  

E, infelizmente, foi isso que foi visto nas reportagens e nos registros de queimadas do INPE. O que foi marcante na região foi o mau uso do fogo, o ilegal, sem controle e acompanhamento de um órgão ambiental. É o que sempre acontece! Como eu mesma quis ressaltar em todas as epígrafes das postagens, “Todo ano é a mesma coisa...”  

PANTANAL

Da mesma forma foi o “mau uso do fogo” verificado e dominante, sobretudo, no Pantanal e na Amazônia, completando o ranking dos biomas mais afetados e em situação crítica por causa das queimadas ilegais, de proporções e intensidades gigantescas.  

O Pantanal, em razão de seu relevo mais ou menos plano (planície), com altitudes médias de 100 metros e caracterizado, também, por cheias sazonais (áreas de inundação), tem como principal atividade econômica a pecuária bovina (gado de corte) que, por ocasião do período das chuvas e, consequentemente, das cheias, o gado é deslocado para áreas mais elevadas, onde possa estar seguro quanto ao risco de inundações.  

Vale lembrar que a economia pantaneira também é baseada na pesca e no turismo (ecoturismo) e, em áreas bem menores, com a agricultura.  

A pecuária cobre 75% das áreas desmatadas, no Pantanal, daí esta ser uma das principais causas das queimadas na região. Outro aspecto a se destacar é que a pecuária acaba impulsionando a monocultura de grãos, como a soja e o milho, para a produção de ração animal (ISLER, 2020).

E, os especialistas advertem que, nos últimos anos, o número de gado bovino aumentou muito no Pantanal. Não devemos esquecer que este foi o bioma campeão em aumento de número de queimadas e incêndios florestais, em 2020, sendo este considerado o pior ano de sua história em relação à queima.  

No início deste mês (09/10), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias (engenheira agrônoma e empresária), natural de Campo Grande (capital de Mato Grosso do Sul), defendeu a tese de que, como medida preventiva aos incêndios que assolam o referido bioma, o correto seria aumentar o número de gado na região. Na sua concepção, as queimadas seriam menos intensas e menos frequentes pelo simples fato de que quanto mais gado houver maior será o consumo de capim, sabendo que este, quando seco, se transforma em combustível vital para o início dos incêndios, seja no pantanal ou em qualquer outro bioma.  

De acordo com a reportagem da BBC News Brasil, publicada em Estado de Minas Nacional, mesmo sob críticas em cima de sua tese acerca do chamado “boi bombeiro”, a ministra não ficou isolada em suas ideias, tendo o apoio do presidente da República e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles.  

No entanto, especialistas discordam e afirmam que, mesmo que o consumo do capim pelo gado assegure a redução da intensidade dos incêndios, o fator principal é justamente o uso do fogo, tendo em vista que o manejo do pasto é feito de acordo com a técnica da queima. Sendo assim, a dedução é clara, “quanto mais gado, mais fogo”. 

Na verdade, vários fatores explicam essa situação crítica pela qual o Pantanal está passando, estiagem severa e prolongada, aumento no número de gado bovino e, consequentemente, aumento das queimadas e do descontrole destas, provocando e propagando incêndios.  

Segundo Tasso Azevedo, engenheiro florestal e coordenador do projeto Mapbiomas, outro aspecto a considerar é a substituição da pastagem natural pela plantada, com espécies de fora, que não apresentam o mesmo comportamento mediante à queima, como acontece com as pastagens naturais. Ambas não apresentam a mesma dinâmica  em relação ao fogo.  

De acordo com Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV),

"... a área de pastagem exótica cresceu 64% sobre áreas naturais,

passando de 1,4 milhões de hectares, para 2,3 milhões de hectares.

Nesse mesmo período, o rebanho de bovinos no Pantanal aumentou 38%,

de 6,9 milhões para 9,58 milhões de cabeças". 

E, mais uma vez, o manejo inadequado da atividade (pecuária) também foi citado como um dos motivos deste quadro de destruição no bioma.  

O biólogo André Luiz Siqueira considera o clima como principal fator determinante para as queimadas, o qual exerce influência direta sobre o ciclo hidrológico da região, destacando que esta foi a pior estiagem em 60 anos na região.  

"O principal regulador de desmatamento e queimadas no Pantanal (...) 

sempre foi a água. Sempre foi o ciclo hidrológico. 

É a maior zona inundável permanente do mundo"

Concordo com o biólogo André Luiz, tendo em vista que os elementos atmosféricos, como temperatura, a baixa umidade do ar e os ventos, interferem diretamente sobre a dinâmica ambiental, só havendo a ação do fogo sobre a queima se a vegetação estiver seca e, em situação de estiagem severa e prolongada, a propagação do fogo será bem intensa e estendida, Daí a estação seca do inverno ser a mais recorrente aos altos registros de queimadas e incêndios florestais no país. 

Mas, a um nível de abrangência mais ampla, eu também considero significativos outros aspectos que se encontram interligados e completam o quadro apresentado, como a grande quantidade de biomassa seca (combustível),  a técnica da queimada nas práticas agrícolas (agricultura e pastagens), as queimas ilegais, a expansão do agronegócio com as novas fronteiras agrícolas e, também, as ações criminosas e negligentes.  

Sem a prática da queima, o cenário seria outro. Desolador, não restam dúvidas, por causa da seca provocada pela estiagem, da falta de pastagens naturais para alimentar o gado, pela visível redução dos níveis de águas superficiais, pelos prejuízos nos cultivos, entre outros... Mas, sob o efeito do fogo, a desolação é bem maior e o fogo ilegal é devastador!

AMAZÔNIA

Com relação à Amazônia, a maior floresta equatorial do mundo, a situação só é diferente porque esta é mais agravante...  

Ela desempenha várias funções fundamentais para a dinâmica ambiental, ao ponto de a sua degradação ou extinção, ser capaz de impactar seriamente o equilíbrio ecológico não só a nível regional, como nacional e global. Por mais impossível que possa parecer!  

Não estou me referindo à antiga tese da floresta Amazônica ser o “pulmão do mundo”, porque isso já foi exaustivamente explicado que ela não é, pois o estágio em que a floresta se encontra (em equilíbrio/clímax), grande parte do oxigênio produzido é consumido por ela mesma.  

Os verdadeiros “pulmões do mundo” são as algas marinhas, nos oceanos, pois estas têm “saldo positivo” de oxigênio, o que permite a sua liberação para o meio ambiente. Em razão da fotossíntese, as algas marinhas produzem mais oxigênio do que necessitam e, por isso, liberam o excesso.     

No entanto, a floresta Amazônica adquire a importância no que se refere ao processo de “sequestro ou captura de carbono”, isto é, a sua capacidade de absorção de gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. E, como é de conhecimento geral, o CO2 consiste em um dos principais gases de efeito estufa, responsável pelo agravamento do fenômeno de aquecimento global.  

Assim sendo, a Amazônia desempenha, tal como os oceanos, o papel de “sumidouro de carbono”, isto é, sua capacidade de absorção de CO2 é maior que a de emissão do mesmo para a atmosfera. Se esta relação fosse ao contrário, ou seja, a emissão de CO2 fosse maior que a absorção, a floresta passaria a ser fonte de carbono.  

Entretanto, é isso que está acontecendo com a floresta Amazônica... Ela está perdendo, aos poucos, essa função de “sumidouro” e assumindo o papel de “fonte” emissora de carbono para a atmosfera.  

Isso já vinha sendo alertado, há tempo, por muitos pesquisadores e especialistas em face da vulnerabilidade do ciclo às ameaças antrópicas quanto aos processos de degradação ou extinção da cobertura florestal na região. O que é muito preocupante!  

Aumento  de CO2 na atmosfera = agravamento do Aquecimento Global.

De acordo com um artigo publicado na Revista Pesquisa FAPESP (Edição n° 287, janeiro 2020), os resultados preliminares de um amplo estudo internacional, coordenado por brasileiros, baseados no balanço de carbono da floresta Amazônica, realizado em um período de 8 anos (2010 a 2017), revelaram que a mesma liberou mais carbono para a atmosfera do que o capturou do ar. O que implica dizer que a floresta Amazônica, no período analisado, funcionou como fonte de carbono para o meio ambiente 

Esse estudo foi apresentado em um Encontro da Sociedade Geofísica Americana (AGU), em dezembro de 2019, em São Francisco (Califórnia/EUA), mas segundo o mesmo (op.cit.), os resultados da pesquisa ainda serão detalhados em artigo e, posteriormente, submetido a uma revista científica.  

O balanço de carbono foi calculado a partir de medições realizadas em 513 perfis verticais da atmosfera (para saber mais a respeito acesse o link de acesso/Fonte).  

 Segundo a química Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e principal responsável pelas respectivas medições atmosféricas realizadas neste estudo,   

Os anos de fortes estiagens sabidamente diminuem a capacidade

de a floresta retirar dióxido de carbono da atmosfera e

favorecem um aumento significativo nas emissões desse gás.” 

Chegou-se à conclusão que os principais fatores que levaram a floresta Amazônica a se transformar em uma fonte emissora de carbono, no período da pesquisa, foram o elevado número de árvores mortas em decorrência de estiagem muito rigorosa e prolongada e, sobretudo, do avanço das queimadas, pois em ambas as situações ocorre a liberação para a atmosfera do carbono armazenado na vegetação.  

Sob essa perspectiva, pode-se imaginar os efeitos negativos diretos das queimas e da estiagem severa, deste ano, sobre o balanço de carbono da floresta.  

O pior é a certeza que, dificilmente, os desmatamentos e as queimas ilegais, criminosas vão cessar em nosso país. Se estas atividades continuarem, sob o mesmo ritmo crescente, em um curto espaço de tempo, a vegetação arbórea da floresta se tornará rarefeita na região, sendo substituída por uma paisagem similar ao nosso cerrado (savana).  

A respeito destes dois problemas, o cientista brasileiro Carlos Nobre, climatologista e diretor de pesquisa da Academia Brasileira de Ciências, durante o seu pronunciamento no Fórum Econômico de Davos (Suíça), em janeiro deste ano, chamou a atenção justamente sobre essa questão da floresta passar da categoria de sumidouro para fonte de carbono, bem como as consequências negativas para o próprio bioma quanto ao ritmo acelerado dos desmatamentos e dos incêndios florestais.  

Sem uma ação imediata para interromper o desmatamento e

começar a substituir as árvores perdidas,

metade de toda a floresta amazônica

pode se transformar em savana dentro de 15 anos.” .

Como o próprio já havia alertado em outras ocasiões, a parte sul da Amazônia se encontra muito degradada, por conta dos incessantes desmatamentos e dos incêndios florestais, sujeita ao processo de savanização. E essa relação com o ciclo do carbono é bastante diferenciada se comparada as duas paisagens (florestas x savanas). Enquanto uma floresta intacta, preservada, mantém a sua capacidade de absorver o gás carbônico da atmosfera (sequestro ou captura de carbono), a savana retira bem menos.  

O mesmo pode-se dizer da floresta degradada, pois esta vai, gradativamente, perdendo essa capacidade de absorção, passando a ser fonte emissora de CO2.

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Outra função ambiental também muito importante desempenhada pela floresta Amazônica relaciona-se ao ciclo hidrológico e às condições climáticas, de efeito direto no regime pluvial (precipitação e distribuição) a nível local (região Norte), nacional (outras regiões brasileiras) e transnacional (alguns países da América do Sul). 

Função esta, igualmente, sob fortes ameaças mediante aos constantes desmatamentos, queimadas e incêndios florestais registrados na região, todo ano, capazes de provocar mudanças drásticas em seu padrão de comportamento.  

Só para se ter uma ideia de um dos “serviços ambientais” da Amazônia, como alguns pesquisadores fazem questão de realçar o seu relevante papel na dinâmica do meio ambiente, a umidade da floresta Amazônica exerce forte influência na agricultura de outras áreas do Brasil, contribuindo a transformar as regiões Centro Oeste, Sul e Sudeste no celeiro agrícola do país (Projeto Expedição RiosVoadores, s.d).

Refiro-me aos chamados “rios voadores” (ou “rios aéreos” ou, ainda, “rios atmosféricos”), que são massas de ar carregadas de vapor de água (massas úmidas), formadas no oceano Atlântico e que são trazidas pelos ventos alísios para o interior da região Amazônica, onde são responsáveis pelas chuvas na floresta e, também, por absorver a umidade desta a partir da evapotranspiração das árvores e a transpiração das plantas, continuando o seu percurso até atingir a região centro-sul do país, influenciando no regime pluvial e nas condições climáticas dessas áreas e até de outros países sul-americanos.  

Foi devido a esse seu deslocamento no território nacional que o fenômeno recebeu a respectiva denominação, “Rios Voadores”. De acordo com Projeto Expedição Rios Voadores, essa expressão passou a ser difundida no país, na década de 90 (Século XX), graças ao climatologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini (José Marengo), na época, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC/INPE. A partir de 2007, o termo foi amplamente divulgado através do “Projeto Rios Voadores”.  

A dinâmica de funcionamento dos chamados “rios voadores” (massas de ar úmidas, carregadas de vapor de água) começa a partir da evaporação das águas do oceano Atlântico (ponto de origem da massa), próximo à linha do Equador. Impulsionadas pelos ventos alísios, no sentido leste-oeste, essas massas de ar adentram para o interior da região Amazônica. Com as temperaturas elevadas, típicas da região (baixas latitudes), o vapor de água se eleva, condensa-se, formando nuvens e, em sequência, precipita-se sob a forma de chuva, caindo sobre as árvores.  

A floresta, por sua vez, por meio da evapotranspiração, ou seja, através da evaporação das águas das chuvas acumuladas nas copas das árvores e, também, da transpiração dos vegetais, as devolve para atmosfera, sob a forma de vapor de água, realimentando as massas de ar (rios voadores) que prosseguem o seu caminho na direção oeste.  

Mais adiante, o processo da precipitação pluvial se repete quando estas encontram com a Cordilheira dos Andes, que surge como um grande obstáculo (barreira natural) em seus caminhos. Parte do ar se eleva, condensa e precipita-se sob a forma de chuva, formando as cabeceiras do rio Amazonas e de outros, enquanto a outra parte – por conta da cordilheira andina – se redireciona para direção Centro-Sul, atingindo as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do nosso país, além de alguns países sul-americanos vizinhos.

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Diante do exposto fica evidenciado que sua dinâmica é ampla, sendo o papel da floresta primordial neste processo, pois as árvores contribuem com a evapotranspiração que realimenta a umidade dos “rios voadores” que são fundamentais para o controle das temperaturas e distribuição das águas no país. 

 “(...) Ou seja, a Amazônia é um sistema de refrigeração para país nenhum

botar defeito, funcionando como uma bomba d’água de proporções gigantescas.

Tudo isso graças à poderosa evapotranspiração das plantas e

à condensação da água nas nuvens, produzindo chuvas copiosas e

 propelindo os rios voadores, fazendo rodar o ciclo hidrológico (...).” 

De acordo com o Projeto Expedição Rio Voadores, em um único dia, uma árvore de grande porte da floresta Amazônica chega a bombear, do solo para a atmosfera, a quantidade que varia de 300 a mais de 1.000 litros de água. Exemplificando, segundo o mesmo, uma árvore com 10 metros de diâmetro de copa é capaz de lançar, em um só dia, 300 litros de água para a atmosfera, enquanto, na mesma situação, uma árvore mais frondosa, com o dobro de metragem de copa (20 m) tem a capacidade de projetar para a atmosfera mais de 1.100 litros.

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Outro aspecto a se destacar sobre a importância da floresta “em pé” (não tombada) e do seu papel na dinâmica ambiental diz respeito à conservação dos solos ao ponto de ser evitado a sua degradação e, consequentemente, o seu empobrecimento.   

Em função da predominância de climas quentes e úmidos (equatorial e tropical) em nosso país, em geral, os solos são mais frágeis em razão dos altos índices de pluviométricos (chuvas), mas em razão do “equilíbrio ambiental” existente, a floresta Amazônica, densa, fechada e estratificada (comporta diferentes estratos ricos em biodiversidade), assegura a conservação do solo, o que é essencial a fim de mantê-lo, tendo em vista que a maior parte dos solos da região da floresta é de baixa fertilidade (86%) e, somente 14% de sua área é constituída de solos férteis (LIMA, s/d; MORAES, 2008).

 

Floresta Amazônica
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Romper este equilíbrio, com a retirada da vegetação, seja com desmatamentos e/ou queimadas ou incêndios florestais é colocar em risco todo o ecossistema. O solo sem a proteção natural da vegetação ficará em exposição direta às intempéries (sol, chuvas e ventos), sofrendo principalmente lixiviação (lavagem da camada rica em nutrientes do solo) e erosão (desgaste e transporte do material inconsolidado), processos que contribuem para a sua degradação.   

Há quem pense que por causa da ocorrência de uma floresta tão exuberante como a Amazônica, o seu solo é bastante fértil. Mero engano! Como foi mencionado acima, a maior parte dos solos amazônicos se caracteriza por baixa fertilidade.   

Na verdade, a floresta Amazônica é sustentada por efeito de uma constante e eficiente ciclagem de nutrientes presentes na matéria orgânica vegetal e animal (serrapilheira ou serapilheira) disposta no solo, os quais são absorvidos pelas raízes das árvores que, posteriormente, liberam os nutrientes de volta para o solo, enriquecendo-o.

 

Serrapilheira
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Fonte: Wikipedia
Foto: Danny Steaven (Forest floor)

A serrapilheira (serapilheira ou liteira) é a camada disposta sobre o solo formada por acúmulo de matéria orgânica morta, como folhas, galhos, frutos, flores, restos de animais etc., sob diferentes estágios de decomposição em função do trabalho das formigas, das minhocas e dos cupins, por exemplo e, também, dos microrganismos  (fungos e bactérias).   

Além de serem a principal via de retorno de nutrientes ao solo, a serrapilheira tem a função de proteção ao solo, de retenção de água, de isolante térmico e, também, de acolher sementes e mudinhas a garantir a estabilidade do ecossistema (BALDASSIN, 2017).

Além da ruptura do equilíbrio do ecossistema consistir em um grave problema ambiental, articular atividade econômica a base de cultivo agrícola em uma grande área, por exemplo, após o sistema desmate seguido por queimada ou só queimadas, estará fadada ao fracasso. No início, as lavouras podem até produzir em razão dos nutrientes presentes nas cinzas, mas depois de alguns anos - três anos, no máximo, segundo especialistas, não se produzirá mais nada. 

A temporada das queimadas no Brasil que, em geral vai de maio/junho a setembro/outubro, já está findando. Entramos na primavera desde o final do mês passado (22 de setembro), estação esta marcada por chuvas mais frequentes. Por isso, a tendência será de haver uma redução nestas atividades daqui pra frente, mas não a sua extinção, infelizmente!   

Para que todos esses cenários desoladores dos biomas em foco, neste ano, fossem, ao menos, minimizados em termos de impactos e de efeitos negativos do fogo ilegal, o ideal seria aliar todos os segmentos políticos, científicos, institucionais e civis em prol de um único propósito, capaz de não prejudicar nenhuma das partes de forma isolada e, sobretudo, comprometer o meio ambiente como um todo, partindo do princípio que o seu funcionamento, enquanto sistema vivo e integrado, apresenta interdependência entre as suas respectivas partes (elementos), as quais são responsáveis por sua própria dinâmica.  

Bastaria apenas o saber ouvir e tomar maior ciência dos fatos, respectivamente, com aqueles detentores de experiências e noções seculares no trato com a natureza ou por aqueles que detêm conhecimentos científicos fundamentados em estudos e levantamentos, na maioria das vezes, in locus. Isto é, considerar tanto os povos indígenas e outras populações tradicionais quanto com os pesquisadores de instituições e de Universidades públicas e/ou privadas 

Sob esta perspectiva, o segmento político, fundamentado e engajado nos diferentes sistemas de conhecimentos (saberes tradicionais e estudos científicos) deveria ser o principal responsável em assegurar e defender um modelo de desenvolvimento sustentável, sem prejuízos à conservação do meio ambiente. Mas, para isso, o atual de modelo de desenvolvimento econômico vigente em nosso país precisa ser abandonado ou, pelo menos, remodelado para este fim.  

À primeira vista, esta relação entre desenvolvimento versus conservação do meio ambiente parece ser bastante contraditória, irrealizável, mas, não é! O mais difícil é a tomada de consciência e a mudança de postura em face às novas bases conceituais (novo paradigma), as quais, indubitavelmente, reforçará a sua capacidade de compreender o meio ambiente como um sistema integrado, cujos elementos são interdependentes, não podendo ser extraído do todo, do qual fazem parte e para o qual têm assumem papéis singulares em sua dinâmica.  

Não sou contra o desenvolvimento, porque em todos os biomas há ocupação humanas e atividades econômicas sendo desenvolvidas, mas há de se respeitar as características funcionais e a dinâmica de cada um deles, renunciando de vez as intervenções antrópicas de caráter economicista e espoliativo sobre a natureza.  

Essa forma tradicional de apropriação da natureza acentua a relação dicotômica entre o binômio, homem e natureza, imprimindo uma concepção de riqueza material infindável aos recursos naturais, instituindo e efetivando um modelo de desenvolvimento fundamentado em princípios essencialmente econômicos e na crença de que medidas de conservação e/ou preservação ambiental constituem um entrave à própria política desenvolvimentista (SILVA, no prelo).  

E é justamente essa concepção equivocada que responde por muitos problemas ambientais no Brasil e tantas outros “engatilhados” em cada canto do nosso imenso território.  

As políticas públicas conscientes e comprometidas com às questões ambientais deveriam levar em consideração e tratar a todos os ecossistemas existentes, sob a mesma ou próxima à linha de pensamento de MELLO (2015, p. 101) acerca da Amazônia:  

O futuro da Amazônia depende de um modelo de desenvolvimento em que a base de todo o progresso humano esteja fincada na exploração inteligente, seletiva e ambientalmente segura de seus inigualáveis recursos naturais (solo, subsolo, floresta, rios e lagos), assentada numa excepcional condição de geração de energia em bases limpas (fontes renováveis e não poluentes) – fator diferencial de forte atração a novos investimentos num contexto de crise ambientalenergética mundial , com planejamento e apoio do Estado brasileiro, dos governos locais e de seletivas parcerias internacionais. O novo paradigma que deve organizar e dirigir os novos investimentos terá de estar orientado, prioritariamente, ao aproveitamento racional e verticalizado desses ativos ambientais, compostos, basicamente, por recursos naturais renováveis, com políticas públicas comprometidas com a emergência de uma “economia verde” de base científica, tecnologias ajustadas e visão dilatada sobre as populações locais e as gerações futuras.”



ANTERIOR (Parte IV)...               


. Fontes:  

. BALDASSIN, Paula. O que é serrapilheira? 2017, iGUi Ecologia 

. Bioma Cerrado. Embrapa, s/d. 

. FERRAZ, João B.S., BASTOS, Rodrigo P., GUIMARÃES, Giuliano P., REIS, Tatiane S. e HIGUCHI, Niro. A Floresta e o Solo. 101-121. In: A Floresta Amazônica e Suas Múltiplas Dimensões: Uma proposta de educação ambiental, Editores: Maria Inês Gasparetto e Higuchi, Niro – 2ª edição revisada e ampliada - Manaus, 2012. 424 p. 

. ISLER, Juliane. A tragédia no Pantanal tem nome e sobrenome: Consumo de Carne. 2020, Green me  

. MELLO, Alex Fiúza de. Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável da Amazônia: O caso brasileiro. Revista Crítica de CiênciasSociais, 107, 2015: 91-108  

. MORAES, Denise. Bioma Amazônia. 2008. INVIVO/FIOCRUZ   

. NEHER, Clarissa. O papel de gado e soja no ciclo de desmatamento. DW – Made for minds - Especial Amazônia, 2020.  

. O que são os 'rios voadores' que distribuem a água da Amazônia. BBC News Brasil, 2017  

. Os Rios Voadores, a Amazônia e o Clima Brasileiro (Caderno do Professor) – Projeto Expedição Rios Voadores, 2014 - Pdf  

. PIVELLO, Vânia Regina. Os cerrados e o fogo.  ComCiência  n°105, Campinas, 2009  

. PIVETTA, Marcos. Amazônia, agora, é fonte de CO2, Revista Pesquisa FAPESP -  Edição n° 287, janeiro 2020  

. Por que a teoria do 'boi bombeiro' no Pantanal, citada por Salles e Tereza Cristina, é mito, 2020, BBC NewsBrasil/Estado de Minas Nacional 

. Portal Projeto Expedição Rios Voadores. s/d.  

. SORIANO, Balbina Maria Araújo et al. Uso do fogo para o manejo da vegetação no Pantanal, Corumbá: Embrapa Pantanal, 2020 (18 p.), Pdf 

Brasil: Fogo que arde por queimar - Parte IV (Estatísticas)

 

Amazônia 
Imagem capturada na Internet 
Fonte: ORC – Foto: Gabriela Bilo/Estadão


Texto: Marli Vieira de Oliveira da Silva

Todo ano é a mesma coisa...  

E o Brasil continua a se destacar, mais uma vez, porém de forma negativa, no ranking dos países com maior número de queimadas na América do Sul, estando, consecutivamente, na primeira posição, desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar, via satélite, e registrar as queimadas no país.  

De acordo com os dados do INPE, neste ano até hoje, 31 de outubro, os registros de focos das queimadas nos 12 países sul-americanos (e mais a Guiana Francesa) foram os seguintes (clique na imagem para aumentar): 

No entanto, não devemos esquecer que em termos territoriais, ele é o maior país da América do Sul, o terceiro do continente e o quinto do mundo. Se observarmos a tabela acima e compararmos os números de focos detectados pelo satélite, neste ano, vamos verificar que ele ocupa a primeira posição, registrando 201.928 focos. Mas, em comparação com os registros do ano passado, o aumento foi na ordem de 19%. 

No entanto, Argentina (segundo país maior da América do Sul) teve um aumento bastante expressivo em relação aos registros de queimadas do ano passado, tendo um acréscimo de 156% até a presente data. A Guiana Francesa obteve um aumento de 89% em relação a 2019, seguido pelo Uruguai (65%) e Paraguai (64%).

Só a nível de comparação entre os dados do Brasil e da Argentina, os dois maiores países sul-americanos, sendo os registros do 19 de setembro e 30 de outubro, o Brasil teve um aumento de 55.946 focos de queimadas, enquanto a Argentina, neste mesmo período, obteve um acréscimo de 16.746 casos. Isso sem levar em consideração, evidentemente, a diferença entre ambas as áreas territoriais.

Os cinco primeiros lugares permaneceram os mesmos. Neste ranking, entre os países sul-americanos com maior número de queimadas em 2020, o Brasil lidera seguido pela Argentina, Venezuela, Paraguai e Bolívia.


Tal como em nosso país, as queimadas nos países da América do Sul também ocorreram no inverno, pois é a estação mais seca, sendo todas de origem antrópica, ou seja, causadas pela ação do homem.  

A grande maioria destas compreenderam extensões dos biomas que ocorrem em nosso país, tais como o pantanal, o cerrado e a floresta Amazônica, principais cenários de destruição em consequência dos desmatamentos, das queimadas e dos incêndios florestais 

Obviamente, em termos regionais, a grande incidência de suas ocorrências se deu nas regiões Norte e Centro-Oeste, muito embora, em menor intensidade, fossem verificadas também nas demais áreas do país. Essas áreas em tonalidades mais escuras, compreendendo as regiões acima citadas, abrangem as áreas dos três biomas mais afetados e impactados pelas queimadas e incêndios florestais, isto é, a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal



O que representam, em termos percentuais sobre o quantitativo em nosso país, Amazônia (46,1%), Cerrado (29,5%) e Pantanal (10,5%). Que juntos corresponderam a 86,1% de todas as queimadas monitoradas pelo referido Instituto. 


Em comparação com os registros de queimadas do ano passado, sem dúvida nenhuma, o Pantanal foi o bioma campeão em termos de aumento de queimadas. Só para se ter uma ideia, em comparação a 2019, o aumento de focos de queimadas foi na ordem de 148%, o que denota a sua grande vulnerabilidade, representando uma situação bastante crítica para o bioma.  

O mês de setembro foi classificado como o pior da história do Pantanal, com grande aumento das queimadas (6.048 registros), as quais se intensificaram – segundo a ONG SOS Pantanal – em consequência da baixa umidade do ar, característico da estação seca (inverno), sendo considerado o maior período de estiagem em 47 anos, na região.

 

Esta estiagem severa sobre o respectivo bioma foi, inclusive, informada pelo Serviço Geológico do Brasil, em julho passado, com a ressalva de o seu pico ocorrer entre a segunda quinzena e o fim de outubro em Mato Grosso do Sul 

O problema, como mencionei em outra postagem perpassa pela falta de valorização e reconhecimento da importância dos trabalhos e estudos dos órgãos especializados, junto às políticas do governo federal. Isso fica bem claro em termos de sua não aplicabilidade às circunstâncias vigentes. Situação sintetizada nas palavras de Rômulo Batista, porta-voz da Campanha da Amazônia do Greenpeace:

  "É fato que a gente vive uma seca histórica no Pantanal,

mas isso já era sabido.

Era possível trabalhar na prevenção dessas queimadas

que ocorreram, mas nem isso o governo fez.

A ciência já vinha advertindo que isso poderia acontecer." 

E mais, o mesmo confere à responsabilidade dos recordes de queimadas "(...) fruto direto da política antiambiental desse governo" (Portal G1).

Segundo esta mesma fonte, um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicado no mesmo dia (24/09), aponta que a perda da vegetação nativa do Brasil, em 18 anos, foi na ordem de 8,3%, dos quais 42% foram para pastagens e 19% para agricultura. E que os biomas que mais sofreram perdas foram a Amazônia e o Cerrado.

A situação do Cerrado é bastante crítica, tendo em vista que as taxas de desmatamento em sua área de abrangência são mais elevadas do que na Amazônia e, além disso, sua ele já é considerado um Hotspot no âmbito dos 36 que existem no mundo. O outro Hotspot brasileiro é a Mata Atlântica.   

Hotspot, em inglês, significa "ponto quente". Ele é um termo de cunho ambiental, criado pelo ecólogo e cientista inglês, Norman Myers, da Oxford University, no ano de 1988, o qual define todas as áreas que apresentam uma grande biodiversidade, mas que se encontram em alto risco de degradação ambiental (já devastada e tendendo ao seu agravamento). Em outras palavras, são áreas críticas de conservação, pois a sua biodiversidade se encontra ameaçada de extinção.  

Os critérios para a classificação de uma área em um Hotspots, de acordo com Myers, é que ela possua – no mínimo - 1.500 espécies endêmicas de flora e que tenha perdido mais de ¾ de sua vegetação natural. Daí, a inclusão dos biomas brasileiros, Mata Atlântica e Cerrado, na lista dos Hotspots da Terra.

Daí toda uma preocupação acerca das atividades antrópicas que impõem certa temeridade acerca do futuro destes biomas, não apenas em termos de degradação da da cobertura vegetal, mas de seu alcance destrutivo sobre todas as formas de vida, inclusive, a fauna e à saúde da população, em geral, entre outros aspectos. 

Jaguatirica morta na estrada ao fugir do fogo

Fonte: Rede Brasil Atual - Foto: João Paulo Guimarães


Tamanduá-mirim, cego, fugindo das chamas

Fonte: Catraca Livre - Foto: Aranquém Alcântara


Onça pintada ferida nas patas (Pantanal)
Fonte: Momento MT

Jacaré morto por causa do fogo

Fonte: Sputinik Brasil 

Com certeza, nem todos estão preocupados, pois nos rastros de destruição, seja pelo desmatamento seja pelo fogo ou por ambos, de forma sequencial, há um jogo de interesses econômicos e políticos envolvidos, de grande extensão e poder, visando o crescimento econômico sob o respaldo do governo.  

Sob este contexto é extremamente importante não deixar de mencionar, a postura e a política do nosso presidente da República, bem como de sua equipe ministerial, cuja prioridade explícita é de apoio e incentivo ao desenvolvimento econômico por meio do agronegócio, com a abertura de novas fronteiras agropecuárias às custas da destruição do meio ambiente, principalmente, no que se refere aos biomas floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal, os quais abrangem as regiões Norte e Centro-Oeste.

Com certeza, nem todos estão preocupados, pois nos rastros de destruição, seja pelo desmatamento seja pelo fogo ou por ambos, de forma sequencial, há um jogo de interesses econômicos e políticos envolvidos, de grande extensão e poder, visando o crescimento econômico sob o respaldo do governo.  

Sob este contexto é extremamente importante não deixar de mencionar, a postura e a política do nosso presidente da República, bem como de sua equipe ministerial, cuja prioridade explícita é de apoio e incentivo ao desenvolvimento econômico por meio do agronegócio, com a abertura de novas fronteiras agropecuárias às custas da destruição do meio ambiente, principalmente, no que se refere aos biomas floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal, os quais abrangem as regiões Norte e Centro-Oeste  

E, por que não incluir o Nordeste? Já que “Mapitoba” e “Sealba”, esta última, a mais nova fronteira agrícola do país, são provas cabais desta política favorável à expansão da monocultura da soja do cerrado para outras áreas mais ao Norte e, neste caso, rumo ao Nordeste.   

“Principal mercadoria do agronegócio brasileiro na atualidade,

a soja continua a ter seu cultivo expandido no território nacional.

Com forte concentração nas regiões Sul e Centro-Oeste,

a sojicultura começa a adentrar em frações 

do espaço agrário brasileiro que, historicamente, 

não se destacam como produtores do grão,

mas que tem despontado como áreas de grande potencial agrícola

 para a inserção dessa commodity.”

SANTOS e CAMPOS (p. 204, 2020)

A história do Mapitoba (acrônimo das siglas dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) teve início, segundo fontes de pesquisa, na década de 80 do século passado, com o agronegócio, à partir da migração de agricultores sulistas para as referidas áreas, atraídos pelos preços baixos das terras. Além disso, a ocorrência predominante de relevo, mais ou menos, plano, que facilita a mecanização, as características do solo, o regime pluvial favorável e o uso de técnicas mais modernas de produtividade proporcionaram que os solos se tornassem, potencialmente, produtivos. 

Área do Mapitoba
Fonte: Wikipedia - Crédito: Evaristo Miranda 

Progressivamente, as áreas de pastagens do cerrado (pecuária extensiva) passaram a ser substituídas pela monocultura mecanizada, com destaque na produção da soja, como algodão e milho, entre outros.  

Até há pouco tempo, este era considerado a última fronteira agrícola do Brasil, contudo uma nova surgiu...  

Batizada como SEALBA (acrônimos das siglas dos estados de SErgipe, ALagoas e BAhia), esta é a mais recentemente fronteira agrícola do Brasil, surgida na última década, visando a expansão da produção de milho, feijão e, principalmente, da soja no Nordeste. Com o aval da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que realizou estudos que confirmaram o seu grande potencial agrícola à monocultura da soja, a tendência é da sojicultura não parar de se expandir, sobretudo, rumo ao Norte. 

 

Área da Sealba

Mas, há quem afirme que a última fronteira agrícola do país é Roraima, também com a monocultura da soja. Sua área de cultivo é em torno de 80 mil a 100 mil hectare (dados do final de 2019), devendo dobrar sua extensão até 2025.  

Igualmente às outras áreas no Norte e Nordeste, o que atrai os produtores ao estado são os valores das terras, considerados muito baixos em comparação a outras regiões.  

Pelo exposto fica fácil perceber que quanto mais o agronegócio avança mais impactos negativos são conferidos ao meio ambiente. Esta última fronteira, então, tem no incentivo à monocultura da soja a própria destruição da floresta Amazônica. O estado já é marcado por desmatamentos e queimadas, com base na pecuária e por grilagem de terras.

 

Desmatamento na região do rio Mucajaí, Roraima
Imagem: CGIIRC/Funai

De acordo com os dados do INPE, a sua alta histórica de total de focos foi no ano passado (2019)  e, segundo o referido Instituto, no período compreendido entre agosto de 2018 e julho de 2019, os desmatamentos tiveram um aumento de 279%, o que tende a se agravar com a expansão da soja.


“O ato de queimar é negativo do ponto de vista agrícola,

uma vez que o solo perde nutriente

e os microrganismos que garantem a fertilidade.

Dessa forma, a fina camada da superfície do solo

fica empobrecida e, no decorrer de consecutivos plantios,

a situação se agrava gradativamente

resultando na infertilidade da área.

Do ponto de vista ambiental, as queimadas são responsáveis

pelo desmatamento de grandes áreas nativas,

pela extinção de espécies da fauna e da flora e

pela emissão de gases poluentes.”

(CARCARÁ E NETO, s/d)


Neste sentido, os latifundiários têm, em geral, o apoio e, por isso, suas respectivas atividades econômicas, predadoras, dão prosseguimentos não respeitando os biomas brasileiros, seja a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal ou qualquer outro!


 


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Fontes

. Madeiro, Carlos. RR: desmatamento revela avanço à última fronteira agropecuária da Amazônia. 2019, Meio Ambiente UOL  

. MAPITOBA, Wikipedia  

. Material Particular (Impresso)  

. Pantanal registra 2,5 mil focos de incêndio em 14 dias e já tem o segundo pior outubro da história, 2020, Metro 1  

. Programa Queimadas, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)  

. Roraima, a nova fronteira agrícola. 2019, Campos e Negócios  

. SANTOS, Flávio dos e CAMPOS, Christiane Senhorinha Soares. O avanço da sojicultura no nordeste brasileiro: reflexões iniciais sobre a região da SEALBA, Diversitas Journal, v. 5 n° 1, 2020  

. SEALBA, uma nova fronteira para a soja? Embrapa Soja, 2017