Todo ano é a mesma coisa...
E o Brasil continua a se destacar, mais uma vez, porém de forma negativa, no ranking dos países com maior número de queimadas na América do Sul, estando, consecutivamente, na primeira posição, desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar, via satélite, e registrar as queimadas no país.
De acordo com os dados do INPE,
neste ano até hoje, 31 de outubro, os
registros de focos das queimadas nos 12 países sul-americanos (e mais a Guiana
Francesa) foram os seguintes (clique na imagem para aumentar):
No entanto, não devemos esquecer que em termos territoriais, ele é o maior país da América do Sul, o terceiro do continente e o quinto do mundo. Se observarmos a tabela acima e compararmos os números de focos detectados pelo satélite, neste ano, vamos verificar que ele ocupa a primeira posição, registrando 201.928 focos. Mas, em comparação com os registros do ano passado, o aumento foi na ordem de 19%.
No entanto, Argentina (segundo país maior da América do Sul)
teve um aumento bastante expressivo em relação aos registros de queimadas do
ano passado, tendo um acréscimo de 156% até a presente data. A Guiana Francesa obteve
um aumento de 89% em relação a 2019, seguido pelo Uruguai (65%) e Paraguai (64%).
Só a nível de comparação entre os dados do Brasil e da
Argentina, os dois maiores países sul-americanos, sendo os registros do 19 de setembro e 30
de outubro, o Brasil teve um aumento de 55.946 focos de queimadas, enquanto a Argentina,
neste mesmo período, obteve um acréscimo de 16.746 casos. Isso sem levar em
consideração, evidentemente, a diferença entre ambas as áreas territoriais.
Os cinco primeiros lugares permaneceram os mesmos. Neste ranking, entre os países sul-americanos com maior número de queimadas em 2020, o Brasil lidera seguido pela Argentina, Venezuela, Paraguai e Bolívia.
Tal como em nosso país, as queimadas nos países da América do Sul também ocorreram no inverno, pois é a estação mais seca, sendo todas de origem antrópica, ou seja, causadas pela ação do homem.
A grande maioria destas compreenderam extensões dos biomas que ocorrem em nosso país, tais como o pantanal, o cerrado e a floresta Amazônica, principais cenários de destruição em consequência dos desmatamentos, das queimadas e dos incêndios florestais.
Obviamente, em termos regionais, a grande incidência de suas ocorrências se deu nas regiões Norte e Centro-Oeste, muito embora, em menor intensidade, fossem verificadas também nas demais áreas do país. Essas áreas em tonalidades mais escuras, compreendendo as regiões acima citadas, abrangem as áreas dos três biomas mais afetados e impactados pelas queimadas e incêndios florestais, isto é, a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.O que representam, em termos percentuais sobre o quantitativo
em nosso país, Amazônia (46,1%), Cerrado
(29,5%) e Pantanal (10,5%).
Que juntos corresponderam a 86,1% de todas as queimadas monitoradas pelo
referido Instituto.
Em comparação com os registros de queimadas do ano passado, sem dúvida nenhuma, o Pantanal foi o bioma campeão em termos de aumento de queimadas. Só para se ter uma ideia, em comparação a 2019, o aumento de focos de queimadas foi na ordem de 148%, o que denota a sua grande vulnerabilidade, representando uma situação bastante crítica para o bioma.
O mês de setembro
foi classificado como o pior da história do Pantanal,
com grande aumento das queimadas (6.048
registros), as quais se intensificaram – segundo a ONG
SOS Pantanal – em consequência da baixa
umidade do ar, característico da estação seca (inverno), sendo
considerado o maior período de estiagem
em 47 anos, na região.
Esta estiagem severa sobre o respectivo bioma foi, inclusive, informada pelo Serviço Geológico do Brasil, em julho passado, com a ressalva de o seu pico ocorrer entre a segunda quinzena e o fim de outubro em Mato Grosso do Sul.
O problema, como mencionei em outra postagem perpassa pela
falta de valorização e reconhecimento da importância dos trabalhos e estudos dos
órgãos especializados, junto às políticas do governo federal. Isso fica bem claro
em termos de sua não aplicabilidade às circunstâncias vigentes. Situação sintetizada
nas palavras de Rômulo Batista, porta-voz da Campanha da Amazônia do Greenpeace:
"É fato que a gente vive uma seca histórica no Pantanal,
mas isso já era sabido.
Era possível trabalhar na prevenção dessas queimadas
que ocorreram, mas nem isso o governo fez.
A ciência já vinha advertindo que isso poderia acontecer."
E mais, o mesmo confere à responsabilidade dos recordes de
queimadas "(...) fruto direto da política antiambiental desse
governo" (Portal G1).
Segundo esta mesma fonte, um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
e publicado no mesmo dia (24/09), aponta que a perda
da vegetação nativa do Brasil, em 18
anos, foi na ordem de 8,3%,
dos quais 42% foram para pastagens e 19%
para agricultura. E que os biomas que
mais sofreram perdas foram a Amazônia e o Cerrado.
A situação do Cerrado é bastante crítica, tendo em vista que as taxas de desmatamento em sua área de abrangência são mais elevadas do que na Amazônia e, além disso, sua ele já é considerado um Hotspot no âmbito dos 36 que existem no mundo. O outro Hotspot brasileiro é a Mata Atlântica.
Hotspot, em inglês, significa "ponto quente". Ele é um termo de cunho ambiental, criado pelo ecólogo e cientista inglês, Norman Myers, da Oxford University, no ano de 1988, o qual define todas as áreas que apresentam uma grande biodiversidade, mas que se encontram em alto risco de degradação ambiental (já devastada e tendendo ao seu agravamento). Em outras palavras, são áreas críticas de conservação, pois a sua biodiversidade se encontra ameaçada de extinção.
Os critérios para a classificação
de uma área em um Hotspots, de acordo com Myers, é que ela possua – no mínimo - 1.500
espécies endêmicas de flora e que tenha perdido
mais de ¾ de sua vegetação natural. Daí, a inclusão dos biomas
brasileiros, Mata Atlântica e Cerrado,
na lista dos Hotspots da
Terra.
Daí toda uma preocupação acerca das atividades antrópicas que
impõem certa temeridade acerca do futuro destes biomas, não apenas em termos de degradação da da cobertura vegetal, mas de seu alcance destrutivo sobre todas as
formas de vida, inclusive, a fauna e à saúde da população, em geral, entre
outros aspectos.
Jaguatirica morta na estrada ao fugir do fogo
Fonte: Rede Brasil Atual - Foto: João Paulo Guimarães
Tamanduá-mirim, cego, fugindo das chamas
Fonte:
Catraca Livre - Foto: Aranquém Alcântara
Jacaré morto por causa do fogo
Fonte: Sputinik Brasil
Com certeza, nem todos estão preocupados, pois nos rastros de destruição, seja pelo desmatamento seja pelo fogo ou por ambos, de forma sequencial, há um jogo de interesses econômicos e políticos envolvidos, de grande extensão e poder, visando o crescimento econômico sob o respaldo do governo.
Sob este contexto é extremamente importante não deixar de mencionar,
a postura e a política do nosso presidente
da República, bem como de sua equipe ministerial,
cuja prioridade explícita é de apoio e incentivo ao desenvolvimento
econômico por meio do agronegócio,
com a abertura de novas fronteiras agropecuárias às custas da destruição do
meio ambiente, principalmente, no que se refere aos biomas floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal, os
quais abrangem as regiões Norte e Centro-Oeste.
Com certeza, nem todos estão preocupados, pois nos rastros de destruição, seja pelo desmatamento seja pelo fogo ou por ambos, de forma sequencial, há um jogo de interesses econômicos e políticos envolvidos, de grande extensão e poder, visando o crescimento econômico sob o respaldo do governo.
Sob este contexto é extremamente importante não deixar de mencionar, a postura e a política do nosso presidente da República, bem como de sua equipe ministerial, cuja prioridade explícita é de apoio e incentivo ao desenvolvimento econômico por meio do agronegócio, com a abertura de novas fronteiras agropecuárias às custas da destruição do meio ambiente, principalmente, no que se refere aos biomas floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal, os quais abrangem as regiões Norte e Centro-Oeste.
E, por que não incluir o Nordeste? Já que “Mapitoba” e “Sealba”, esta última, a mais nova fronteira agrícola do país, são provas cabais desta política favorável à expansão da monocultura da soja do cerrado para outras áreas mais ao Norte e, neste caso, rumo ao Nordeste.
“Principal
mercadoria do agronegócio brasileiro na atualidade,
a soja
continua a ter seu cultivo expandido no território nacional.
Com forte
concentração nas regiões Sul e Centro-Oeste,
a sojicultura começa a adentrar em frações
do espaço agrário brasileiro que, historicamente,
não se destacam como produtores do grão,
mas que
tem despontado como áreas de grande potencial agrícola
para a inserção dessa commodity.”
SANTOS e CAMPOS (p. 204,
2020)
A história do Mapitoba (acrônimo das siglas dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) teve início, segundo fontes de pesquisa, na década de 80 do século passado, com o agronegócio, à partir da migração de agricultores sulistas para as referidas áreas, atraídos pelos preços baixos das terras. Além disso, a ocorrência predominante de relevo, mais ou menos, plano, que facilita a mecanização, as características do solo, o regime pluvial favorável e o uso de técnicas mais modernas de produtividade proporcionaram que os solos se tornassem, potencialmente, produtivos.
Progressivamente, as áreas de pastagens do cerrado (pecuária extensiva) passaram a ser substituídas pela monocultura mecanizada, com destaque na produção da soja, como algodão e milho, entre outros.
Até há pouco tempo, este era considerado a última fronteira agrícola do Brasil, contudo uma nova surgiu...
Batizada como SEALBA (acrônimos das siglas dos estados de SErgipe, ALagoas
e BAhia), esta é a mais recentemente
fronteira agrícola do Brasil, surgida na última década, visando a expansão da produção
de milho, feijão e, principalmente, da soja no Nordeste. Com o aval da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que realizou estudos
que confirmaram o seu grande potencial agrícola à monocultura da soja, a
tendência é da sojicultura não parar de se expandir, sobretudo, rumo ao Norte.
Mas, há quem afirme que a última fronteira agrícola do país é Roraima, também com a monocultura da soja. Sua área de cultivo é em torno de 80 mil a 100 mil hectare (dados do final de 2019), devendo dobrar sua extensão até 2025.
Igualmente às outras áreas no Norte e Nordeste, o que atrai os produtores ao estado são os valores das terras, considerados muito baixos em comparação a outras regiões.
Pelo exposto fica fácil perceber que quanto mais o agronegócio
avança mais impactos negativos são conferidos ao meio ambiente. Esta última
fronteira, então, tem no incentivo à monocultura da soja a própria destruição
da floresta Amazônica. O estado já é
marcado por desmatamentos e queimadas, com base na pecuária e por grilagem de
terras.
De acordo com os dados do INPE, a sua alta histórica de total
de focos foi no ano passado (2019) e,
segundo o referido Instituto, no período compreendido entre agosto de 2018 e
julho de 2019, os desmatamentos tiveram um aumento de 279%, o que tende a se
agravar com a expansão da soja.
“O ato de
queimar é negativo do ponto de vista agrícola,
uma vez
que o solo perde nutriente
e os
microrganismos que garantem a fertilidade.
Dessa
forma, a fina camada da superfície do solo
fica
empobrecida e, no decorrer de consecutivos plantios,
a
situação se agrava gradativamente
resultando
na infertilidade da área.
Do ponto
de vista ambiental, as queimadas são responsáveis
pelo
desmatamento de grandes áreas nativas,
pela
extinção de espécies da fauna e da flora e
pela
emissão de gases poluentes.”
(CARCARÁ E NETO, s/d)
Neste sentido, os latifundiários têm, em geral, o apoio e, por isso, suas respectivas atividades
econômicas, predadoras, dão prosseguimentos não respeitando os biomas
brasileiros, seja a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal ou qualquer outro!
Fontes
. Madeiro, Carlos. RR: desmatamento revela avanço à última fronteira agropecuária da Amazônia. 2019, Meio Ambiente UOL
. MAPITOBA, Wikipedia
. Material Particular (Impresso)
. Pantanal registra 2,5 mil focos de
incêndio em 14 dias e já tem o segundo pior outubro da história, 2020,
. Programa Queimadas, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
. Roraima, a nova fronteira agrícola. 2019, Campos e Negócios
. SANTOS, Flávio dos e CAMPOS, Christiane Senhorinha Soares. O avanço da sojicultura no nordeste brasileiro: reflexões iniciais sobre a região da SEALBA, Diversitas Journal, v. 5 n° 1, 2020
. SEALBA, uma nova fronteira para a soja? Embrapa Soja, 2017
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