Radioatividade - Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay
Na 4ª feira passada (29/07), uma notícia
nos chamou a atenção acerca do roubo de um densímetro
no Equador, país da
América do Sul. O roubo aconteceu no início da semana, no dia 27 (2ª feira), na
capital do país (Quito).
Para quem não conhece a sua utilidade,
o densímetro serve para medir a compactação do solo, em outras
palavras, é usado para medir a densidade de
líquido presente na massa (solo compactado ou não).
O fato ganhou destaque devido aos
riscos em que o seu manuseio indevido - por pessoas que
desconhecem a sua estrutura interna – possam sofrer, tendo em vista que ele possui, internamente, duas fontes
de material radiativo, o Amerício-241
e o Césio-137, ambos com grande poder
de emissão de radiação e, consequentemente, de contaminação.
No entanto, além do fato de ambos
serem altamente nocivos ao homem, aos animais e ao meio ambiente, a presença do
Césio-137 nos fez lembrar de um
incidente, ocorrido em Goiânia,
em 1987, o qual é considerado o maior acidente radioativo do mundo em área urbana e fora
de uma usina nuclear.
Para quem desconhece o fato em
si, este acidente radioativo ocorreu
em nosso país, na cidade de Goiânia, capital de Goiás, no dia 13 de setembro de 1987...
Em setembro de 1987, em busca de sucatas
que pudessem ser vendidas e resultar em alguns “trocados”, dois catadores de papel invadiram o antigo Instituto Goiano de Radiologia (IGR),
que se encontrava fechado e abandonado. No local havia um aparelho de radioterapia (tratamento de
combate ao câncer), no qual tinha - em seu
interior – uma cápsula blindada
- que continha o Césio 137.
Sem a mínima noção de sua alta
perigosidade, eles removeram a cápsula
do local e a violaram parcialmente, na
tentativa de abri-la, dando início ao processo
de contaminação, na cidade, ao sofrerem exposição ao elemento
radioativo.
No entanto, a contaminação se
propagou de forma mais efetiva, posteriormente, após os mesmos a venderem a um proprietário
do ferro-velho, cujos empregados
acabaram rompendo – de vez - o lacre da cápsula e deixando exposto o material radioativo (Césio-137) em um
local do terreno, junto a outros materiais.
À noite, a intensa luminescência azul provinda do Césio-137,
atraiu e fascinou o proprietário do ferro-velho,
que o levou para casa. A partir disso,
familiares e diversas pessoas, entre vizinhos e conhecidos,
tiveram contato com o referido material
radioativo, sem saber os reais perigos dos quais estavam e foram expostos.
A catastrófica
venda da “sucata” e a paixão do proprietário
do ferro-velho por sua luz azul do
Césio 137 resultou em quatro óbitos e mais
de duzentas pessoas contaminadas
por radioatividade, em Goiânia.
A primeira vítima fatal do Césio – 137 foi uma menina de 6 anos, sobrinha
do proprietário do ferro-velho. O nível de contaminação dela foi alto,
pois ela colocou pequenos fragmentos deste em sua boca na hora de jantar. Um mês depois, ela veio a óbito.
Leide das Neves, primeira vítima (óbito)
pela contaminação radioativa
Imagem capturada na Internet
Fonte: Correio -
Foto: Reprodução
O acidente radioativo de Goiânia envolveu
a intervenção da Comissão Brasileira de Energia
Nuclear (CNEN), que foi avisada quanto à contaminação sobre a população,
atuando também no seu processo de descontaminação.
O estabelecimento
do ferro-velho, assim como dezenas de
casas dos arredores tiveram de ser demolidos,
enquanto muitos componentes domésticos, veículos
e outros objetos contaminados foram descartados
como lixo radioativo.
A dimensão dos efeitos do desastre radioativo em Goiânia não
atingiu apenas os seres humanos, acometendo
também animais domésticos, áreas urbanas, o solo,
subsolo, construções,
ruas, árvores,
além da atmosfera.
“A radiação, oficialmente,
atingiu uma área de 2.000 m2 não contínuos, infiltrando-se no solo
até a profundidade de 50 cm, em alguns pontos, provocando a necessidade da derrubada
de árvores e plantas, num raio de 100 m das zonas afetadas. Segundo informações
de técnicos da Comissão
Nacional de Energia
Nuclear (CNEN) que
participaram do processo de
descontaminação de Goiânia,
foram demolidas sete
casas e gerados 6.500 m3 de rejeitos
radioativos, que foram transferidos para um depósito provisório na cidade
de Abadia de
Goiás onde, posteriormente, foi
construído um depósito definitivo. De acordo com
informações oficiais, quando o fato se tornou público dezesseis dias mais tarde,
249 pessoas já estavam contaminadas ou irradiadas, entre as quais quatro
faleceram em menos de um mês contado a partir da divulgação do acidente” (CHAVES,2007:02).
Esse triste acontecimento, ocorrido
com a população goiana, acabou sendo relembrado, após a divulgação recente do roubo do densímetro no Equador. Afinal, tal
aparelho contém, internamente, duas fontes de material radiativo e, entre eles,
o Césio-137.
Se para o profissional que lida, constantemente,
com equipamentos radioativos é perigoso, inclusive, até para os seus familiares,
a manipulação de materiais deste tipo, por uma pessoa
leiga, sem as devidas medidas protetivas,
como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
e Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) é
fadada à contaminação.
Daí o governo equatoriano ter
dado o alerta quanto ao referido roubo devido à alta perigosidade em manusear
tal equipamento e, também, na tentativa de passar à frente, vendendo a
terceiros, leigos, também.
O Ministério de Energia do
Equador comunicou ainda que:
“O
equipamento roubado é ilegal,
não
possui valor comercial,
pois
trabalhar com ele exige uma autorização
emitida
pela SCAN“ (Notícias R7)
Nota: Subsecretaria
de Controle e Aplicações Nucleares (SCAN).
Será que a história
do acidente radioativo de Goiânia
vai se repetir no referido país sul-americano?
Esperamos que a medida do governo
equatoriano, em alertar a população acerca do roubo e que este representa quanto
o seu alto poder radioativo, surte algum efeito positivo, capaz de barrar uma
possível contaminação em pessoas e em um maior número de indivíduos, a fim de
que sejam evitados depoimentos similares a este, abaixo, feito pela moradora de
Goiânia, Rosa Bento Gonçalves, na época, com 28 anos e grávida de quatro meses, possam ser
reproduzidos:
Tenho medo que no
final da história do césio
meus filhos possam
contrair alguma doença grave.
Eu sinto que
cada dia que
passa
aparecem coisas que nós desconhecemos
e sem explicação (...)
e sem explicação (...)
Eu tenho medo
de ficarmos doentes
e esquecidos pelo mundo,
e esquecidos pelo mundo,
só queremos ter
direito de viver.”
Segundo o artigo de CHAVES (2007),
a referida moradora foi submetida a uma dose de contaminação de 110 rads
(em
inglês, Radiation Absorbed Dose ou Dose Absorvida de Radiação) e o seu filho
nasceu contaminado com 20 rads.
Em
geral, quando o conteúdo do Planejamento Escolar, seja do Ensino
Fundamental II e/ou do Ensino Médio consiste nos tópicos “Recursos
Minerais Energéticos” e “Meio Ambiente”, eu gosto de
exibir um vídeo pertinente ao referido acidente, exibido no antigo
Programa Linha Direta (Rede Globo).
Fontes de Consulta
. CHAVES, Elza Guedes. GOIÂNIA É
AZUL: O Acidente com o Césio 137 – Revista UFG, 9 (1). 2017
. Material Didático particular;
. SOARES, Wanessa Danielle
Barbosa et all. Acidente Radioativo de Goiânia Césio-137 – Núcleo do
Conhecimento/ Revista Científica Multidisciplinar - Ano 02, Ed. 01, Vol. 13,
pp. 434-440, 2017.
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