terça-feira, 17 de março de 2009

Diagnóstico do Ensino da Rede Municipal do Rio de Janeiro

Neste mês de março, conforme anunciou a Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin, deu-se início à aplicação dos instrumentos de avaliação do processo de qualificação do ensino da rede pública municipal de ensino, previsto no início de seu mandato e sob aprovação do atual prefeito Eduardo Paes.

De acordo com a referida Secretária, esta fase de diagnóstico antecede e serve de embasamento para a devida “enturmação” de alunos nos Programas de Correção de Fluxo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna.

A primeira prova, aplicada no último dia 10, constituiu-se em um teste diagnóstico de Alfabetização, que foi aplicado nas turmas do 4º, 5º e 6º anos do Ensino Fundamental.

O objetivo, neste primeiro momento, foi diagnosticar os níveis de alfabetização do alunado nestes três anos subseqüentes de acordo com as seguintes categorias: alunos alfabetizados (com uma distorção idade-série, mínima, de dois anos) e os não-alfabetizados.

Os primeiros serão encaminhados ás turmas do Programa Acelera Brasil, enquanto os segundo serão dirigidos às turmas do Programa Se Liga.

Ao corrigir e analisar as provas (Testes Diagnósticos de Alfabetização) dos alunos de uma determinada turma do 6° ano, da minha escola, deparei-me com o duro resultado da política educacional, implantada no governo passado, baseada na promoção auto-mática sob o discurso de ser a solução para o problema do fracasso escolar (repetên-cia e evasão escolar) na rede pública municipal de ensino.

Ressalto aqui que não sou contrária ao Sistema de Ciclos de Formação, mas sou contrária, sim, às condições pelas quais estes foram implantados e mantidos.

Não se verificou nenhuma iniciativa ou programa de melhorias em termos de recursos humanos e de suporte estrutural e técnico. As salas continuaram com um número elevado de alunos e as aulas de reforço, que deveriam ser dadas no contra-turno, não foram consideradas no planejamento.

Os alunos que habitualmente não levavam a sério a Educação apoiaram a Resolução, na certeza que mesmo sem empenho nenhum por parte deles, a sua promoção para o ano subsequente estaria assegurada.

Em contrapartida, uma outra parte dos alunos - compromissados e responsáveis - manteve a sua atitude perante a importância do seu papel na construção do conheci-mento, enquanto outra da mesma parte se sentiu desestimulada.

Por mais que a categoria docente tenha demonstrado sua insatisfação acerca da mesma através de manifestações públicas e de paralisações por 24 horas, nada foi feito. Tivemos apoio de muitos responsáveis, os quais também não aprovaram tais medidas.

A mesma opinião sigo com relação aos instrumentos avaliativos. Eu não sou contra provas e testes, apenas não os considero como únicos mecanismos avaliativos.

E esta é outra questão bastante controvérsia no âmbito escolar, gerando – inclusive – muitas contestações entre os docentes de um mesmo estabelecimento de ensino.

A avaliação pode ser abarcada sob diferentes enfoque quer seja a nível de sua função (classificatória ou processual; pontual ou contínua) quer seja quanto ao emprego de diferentes instrumentos (prova, teste, observação, trabalhos, seminários, entre outros), assim como, ainda, em termos de forma de registro do desempenho escolar (nota ou conceito) e sobre os seus efeitos (aprovação ou reprovação; inclusão ou exclusão).

Hoje, a política educacional enfatiza a importância da avaliação sob um conceito global, inclusive, a permear o trabalho do docente, visando a necessidade ou não de seu replanejamento no sentido de promover os devidos avanços no processo ensino-aprendizagem.

Sendo assim, o conceito avaliativo não só aplica-se no segmento aluno, mas também no corpo docente, afinal este enquanto agente mediador do processo de construção do conhecimento do discente tem uma importância ímpar, capaz de dar bases para o desenvolvimento da autonomia deste último.

Uma vez eu li a afirmação de um autor, não me lembro o seu nome e a fonte, que “O Brasil é o país das provas”. Mas, utilizando de suas palavras justifico a minha concepção, pois enquanto o país continuar a ser um país de provas, não há o porquê da extinção da mesma como mecanismo de avaliação, principalmente, na rede pública de Ensino, a qual abriga a maior parte da população.

A maioria das escolas da rede privada, mesmo inovando, mantém como instrumento as provas, inclusive, em concordância com os responsáveis, dos quais muitos são os mesmos que lutam por incorporar a abolição da prova na rede pública. E por que as mudanças não são gerais?

Bom, o resultado desta política embasada na promoção automática estará expressa nos resultados desta primeira e das demais avaliações, que serão realizadas no dia 19 de março (quinta feira) para todos os alunos.
E, logo de antemão, posso dizer que lamentei ter que constatar – através da correção das provas de uma determinada turma do 6° ano - que alguns alunos em situação de defasagem idade-série são, ainda, analfabetos ou analfabetos funcionais.

Lamento como profissional da rede, como mãe de uma aluna da mesma rede de ensi-no e por ter a certeza que a Educação não precisa tomar este rumo. Na verdade, o rumo para as mudanças passa pela Educação.

O texto de Celso Antunes, “Analfabetismo Funcional”, menciona três segmentos da Comunidade Escolar, isto é, o pai, o aluno e o professor, mas coloca em evidência a importância maior do último, como agente responsável pela formação ampla do edu-cando.

Não resta dúvida que ao professor cabe uma importância singular no processo educa-tivo, mas não devemos ignorar que este é muito mais abrangente não só em termos de agentes, como também no que tange à infra-estrutura, a proposta pedagógica, a metodologia de ensino e à política educacional.

Há vários aspectos interligados e inter-relacionados tanto no contexto escolar quanto social do aluno, os quais indubitavelmente contribuem para o sucesso e/ou fracasso do seu processo educativo.

Em razão da situação sócio-econômica do país ou da ocorrência de estruturas familia-res desfeitas ou, ainda, por uma questão de emancipação e conquista feminina no mercado de trabalho, a mulher também passou a trabalhar fora. E, ainda, diante do índice elevado de desemprego, percebe-se que, muitas vezes, fica atribuído a esta, o papel de chefe da casa.

Com isso, a assistência familiar bastante expressa, antigamente, acabou ficando com-prometida, pois muitos devido ao trabalho empregatício e a alegação de falta de tempo acabaram relegando importância secundária, em suas preocupações, ao acompa-nhamento do desenvolvimento escolar de seus filhos. Diminuindo consideravelmente a participação dos responsáveis com o decorrer dos anos e, principalmente, com o in-gresso do filho nas antigas séries do 2º segmento do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série).

No entanto, tais circunstâncias não significam que a eles fora destituído o dever de educar e, principalmente, de cumprir as suas responsabilidades.

Toda a Comunidade Escolar tem um papel importantíssimo e o princípio ético da res-ponsabilidade de cada um é uma questão que deve ser bem discutida e avaliada por todos, pois não cabe só à escola o dever de educar.

Presenciamos, muitas das vezes, pais e/ou responsáveis em situação de total falta de compromisso com a Educação de seus filhos.

Associados ou não a esta situação têm-se, ainda, os diversos problemas familiares que, indiscutivelmente, agravaram com o passar dos anos e influenciam direta e/ou indiretamente no processo educativo do discente e no bom desenvolvimento da esco-la. Problemas estes que variam desde a violência doméstica, o aumento de adoles-centes usuários de drogas, dificuldades financeiras, alcoolismo, gravidez precoce, ca-rência de valores humanos elevados, a baixa auto-estima do aluno, entre outros.

Neste aspecto, não podemos esquecer que é na escola que se manifesta, em menor escala, uma parcela dos problemas sócio-econômicos e culturais da comunidade. Em termos de padrões de comportamentos, o aluno ao atingir a idade escolar traz uma bagagem familiar ou social, muitas vezes, com seqüelas difíceis de serem revertidas. Ele sofre uma forte influência do meio do qual vem.

Para piorar, em conseqüência da procura por número de vagas nas escolas públicas, bem como os baixos investimentos em obras para construção e/ou reformas das esco-las já pré-existentes, a maior parte das salas de aula se encontra superlotada, apre-sentando um número excessivo de alunos que acaba inviabilizando uma prática do-cente adequada, comprometendo um processo ensino-aprendizagem satisfatório.

Outro aspecto relevante e pertinente a isso é resgatar a importância do papel da famí-lia no processo educacional. O envolvimento dos responsáveis acaba contribuindo para a segurança do aluno e para a elevação de sua auto-estima, os quais acabam refletindo no desempenho e no rendimento do mesmo, assim como também contribui no fortalecimento dos laços afetivos e da unidade familiar, que irão refletir para a vida toda.

Igualmente, cabe aos demais segmentos da Comunidade Escolar a responsabilidade de contribuir e se fazer cumprir os liames da prática pedagógica com os princípios éticos.

Tanto o corpo docente, o discente, a direção, o pessoal administrativo e de apoio de-vem participar como co-responsáveis, como co-autores e como co-participantes de todo o processo educativo. A participação conjunta irá, indubitavelmente, contribuir para a sua plena realização da proposta pedagógica e de seus resultados positivos.

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