ANALFABETISMO FUNCIONAL
Caio acabou de completar dez anos. “Já está completamente alfabetizado!” Garante orgulhoso, seu pai. Um dia, resolvo aferir. Chamo-o a minha sala onde sobre a mesa quatro revistas de atualidades se esparramam. Passo então a tarefa: - Caio, por favor, leia em voz alta para mim o nome das revistas!
- Ah, isso é fácil.
Olha atentamente para cada capa e depois de algum tempo, soletra: VE-JÁ, É-PO-CA, CA-R-TA, ISTO E. Esquece o acento na última, mas olha orgulhoso para mim.
- Parabéns, Cássio. Vejo que você já sabe ler o nome dessas revistas. Diga, agora, o que significam esses nomes?
Não entendeu a pergunta. Insisti:
- Por quê são nomes de revistas? Não poderiam, por exemplo, serem nomes de uma borracharia, uma lanchonete, um salão de barbeiros? Achou que sim, sua alfabetização não permitia atribuir significação ao nome. Sempre brincando, provoquei:
- Caio, faça de contas que esses nomes ficam proibidos de serem usados, mas os redatores querem um nome semelhante! Que nomes dariam? Não entendeu a pergunta, não sabia o que era “redator”, não imaginava que “semelhante” seria o mesmo que “igual”.
Reformulei a questão, já sem esperança. Meu pessimismo se confirmou ainda que eu não o demonstrasse. Para Caio, aglutinar sílabas era possível, mas representava tarefa irreal associar a palavra ao seu significado, quanto mais a possíveis sinônimos. Insisti:
- Vamos fazer uma brincadeira, Caio. Vou apresentar vários nomes e gostaria que você escolhesse o que melhor poderia ser utilizado, caso a palavra “Época” fosse um palavrão. Vamos lá: “Olhe”, “Fase”, “Perceba”, “Portanto”, “Período”, “Tempo”...
- Já escolhi. Achei legal “Perceba”...
- Bem, Caio. Gosto não se discute, mas porque “Perceba”? Essa palavra não ficaria melhor como nome de uma das outras duas revistas?
- Claro. É um nome legal...
- Caio, se por acaso você tivesse um são de beleza, acha que o nome “Perceba”, ficaria bem?
Caio não entendeu minha pergunta e, ao sentir que já começava a se chatear mudei de assunto. Perguntei sobre as coisas que gosta e indaguei sobre sua escola. Respondeu sorrindo:
- Já estou no quarto ano. Sabia que sou o melhor aluno da classe. A menor nota que eu já tirei foi um oito, em História!
Prof muito interessannte esse textoo
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