Fórum preparatório para o Rio+20 (Imagem do meu acervo particular)
Atualizado em 01/11/2011 às 15h40
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Dando continuidade à postagem anterior acerca do Fórum “Sustentabilidades e a sala de aula: valores éticos e formação cidadã”, que começou no último dia 14 e terminou no dia 15 (5ª feira), à tarde, devo dizer que foi – a meu ver – uma oportunidade ímpar em termos de discussões sobre a questão ambiental e desenvolvimento sustentável. É evidente que as palestras e as discussões não esgotaram efetivamente o tema e, muito menos, as propostas de ações escolares a contemplaram.
Mas, este representou um grande marco na participação e envolvimento da Secretaria Municipal de Educação (SME/RJ) no tratamento das questões ambientais e do Desenvolvimento Sustentável visando um evento maior, a Rio+20, que será realizado no ano que vem.
Além da SME ter montado uma estrutura logística completa, os palestrantes convidados contribuíram - de uma forma geral e significativa - para os objetivos do evento.
Não resta dúvida que nós, professores, precisamos ter um maior aprofundamento sobre a temática – Desenvolvimento Sustentável – pois esta não só envolve práticas direcionadas para atingir este fim, mas – sobretudo – que a crise ambiental por qual é discutida, há décadas (ela não é tão recente assim), é, antes de tudo, uma questão paradigmática.
E sob esta necessidade premente de substituição do paradigma tradicional pelo Holismo, destaco a palestra do Prof. Dr. Luiz Felipe Guanaes Rego (PUC-Rio), que participou da mesa redonda do primeiro dia do Fórum (14/09), no horário da tarde.
Discussão esta, não desenvolvida no âmbito dos estabelecimentos escolares de nível básico, mas que insurge como uma necessidade no entendimento da atual crise do Meio Ambiente.
No primeiro dia do evento, muitos devem ter chegado atrasados no evento por conta das chuvas fortes que abateram a cidade, desde a madrugada. Os intensos congestionamentos - por todos os cantos da cidade – indubitavelmente devem ter, no mínimo, acabado com a paciência da grande maioria que precisou se locomover, inclusive, a minha.
O Fórum foi aberto pelo Sr. Luís Augusto Azevedo, gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), que explicitou a importância do evento Rio+20 e o escopo do projeto Heróis do Futuro. Logo, em seguida, a palavra foi dada à Subsecretária de Educação da Rede, Helena Bomeny, pois a Secretária da Educação, Claudia Costin, se encontrava envolvida em outro evento.
Na parte da manhã, as apresentações foram focadas em questões acerca da importância da participação e envolvimento dos jovens (alunos), professores e responsáveis em ações práticas voltadas para estas questões e, sobretudo, a nível conceitual de Desenvolvimento Sustentável e as múltiplas facetas da atual crise ambiental.
Projeto Heróis do Futuro
Sr. Luís Augusto Azevedo
Subsecretária de Educação da Rede, Helena Bomeny
A Mesa de Abertura, “Sustentabilidades: mais do que um conceito, uma filosofia de vida” teve como palestrantes, o Prof. Dr. Jacques Marcovitch (USP), o Prof. Sérgio Besserman Vianna (economista e ecologista) e o Prof. Dr. Haroldo Mattos (Professor da Escola Politécnica da UFRJ e Presidente do Instituto Brasil PNUMA). As mesas redondas, tanto da parte da manhã quanto da tarde, foram mediadas pelo Prof. Carlos Fernando Galvão (E/SUBE/CED/GEOGRAFIA).
Da esquerda para a direita, Prof. Dr. Jacques Marcovitch, Prof. Dr. Haroldo Mattos,
Prof. Carlos Fernando Galvão (mediador das Mesas Redondas)
e o Prof. Sérgio Besserman
Sem dúvida nenhuma, cada palestrante - da parte da manhã - nos abrilhantou com o seu conhecimento e experiência na área, sob um clima que mesclava análises pessoais com certa dosagem de humor, principalmente, após a participação do Prof. Sérgio Besserman Vianna (economista e ecologista).
O primeiro palestrante foi o Prof. Dr. Jacques Marcovitch, autor do livro A Gestão da Amazônia (edição 2011, EdUSP), que recebemos junto com o material de divulgação no momento do credenciamento.
O Prof. Dr. Jacques Marcovitch destacou a importância do reconhecimento das particularidades de cada um, enquanto pessoa (identidade) e dos espaços, afinal cada um de nós, cada sociedade e cada país possui características distintas. E a pergunta lançada por ele e que deve ser a base para a mudança diante da atual conjuntura, ou seja, da crise ambiental (a caminho da insustentabilidade...) deve ser “O que nós podemos fazer, como sociedade, para mudar estas questões?”
O mesmo ressaltou que ao pensarmos na construção do futuro devemos ter em mente que a sua construção depende da inovação tecnológica ambiental, da sustentabilidade e da equidade.
- Redução do consumo de energia por unidade;
- Redução das emissões dos gases de efeito estufa;
- Redução do consumo de água;
- Redução de dejetos;
- Aumento da cobertura florestal.
Desconhecendo que muitos de nós, professores, já trabalhamos com projetos e a temática ambiental com os nossos alunos, o referido professor trouxe sugestões de atividades didáticas em diferentes áreas disciplinares, como a Geografia, Português, Matemática, Artes e História.
A Prof.ª Sueli Vieira (E.M. Dilermando Cruz e minha irmã), retrucou, pois ele não mencionou a sua área de conhecimento, ou seja, Ciências.
A preocupação do professor em dispor propostas pedagógicas ao público presente, majoritariamente, docente, nos remete a um fato incontestável: a própria SME não tem noção do trabalho desenvolvido, por muitos professores da Rede, no que tange à questão ambiental.
Há pouca divulgação ou interesse em divulgar, seja a iniciativa, o envolvimento dos agentes responsáveis (professor e alunos) sejam os resultados obtidos.
Prof. Dr. Jacques Marcovitch
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O palestrante seguinte, Prof. Sérgio Besserman, ressaltou a importância do Rio+20, mesmo diante das incertezas do seu resultado, bem como da cidade do Rio de Janeiro enquanto sede do referido evento e da participação da Secretaria Municipal de Educação (SME). Ao mesmo tempo, ele enfatizou a inalterabilidade dos fatos diante de tantas discussões arroladas, nestes últimos 19 anos, após a Eco 92 (Rio 92).
O referido professor foi categórico em suas afirmações acerca da atual crise ambiental, acendendo em seu discurso a relação do homem e das Ciências sobre a questão ambiental, provocando a todos com a premissa que viver neste momento é, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição, pois não sabemos a solução. Nem mesmo as Ciências sabem o que é Desenvolvimento Sustentável. Segundo o mesmo, a única coisa que sabemos é que o desenvolvimento atual é insustentável. E este é o grande desafio...
Este deixou bem claro que o maior erro foi conceber o ser humano separado da natureza e, sob este contexto relacional, o primeiro (homem) se achar e agir como onipotente e supremo sobre a dinâmica do segundo. E, com base nestes preceitos, ter-se instituído um modelo de desenvolvimento desarticulado com a dinâmica do meio ambiente e, ao mesmo tempo, de forma desigual.
Esta separação entre “nós” e o meio ambiente não existe... há uma teia nos envolvendo...
“Somos muito pequenos”... Se nada for feito para minimizar os efeitos e a insustentabilidade para qual a humanidade caminha, uma nova Era Geológica vai ocorrer na história da Terra, sucedendo a atual (Cenozóica), com as seguintes características, sem nós (humanos), mas com a perpetuação da natureza, evidentemente, adaptada às condições ambientais vigentes.
A crise atual do meio ambiente tem, não restam dúvidas, múltiplas facetas e abrangência, mas a parcela da humanidade que mais vai sofrer os seus efeitos e consequências (por ser mais vulnerável) é a população mais pobre.
Podemos dizer até que a palestra do Prof. Sérgio Besserman não trouxe nenhuma novidade, mas as suas colocações foram bem contundentes no que – até hoje – foi realizado a nível de mudanças: nada!
Ao discursar sobre esta relação dicotômica entre o homem x natureza e no modelo de desenvolvimento econômico instituído, baseado na exploração irracional dos recursos naturais e firmando-se por uma desigualdade de acordo com o poder político e econômico de uns sobre os outros, requer que as discussões tenham uma dimensão não só a nível global, mas - sobretudo - local.
E este ratificou, não há como definir uma receita, mas passar as métricas locais, da casa, da escola e do bairro como expressões de desafios.
Eu fiz uma pequena pesquisa sobre a sua atuação profissional do referido palestrante, além de descobrir sua vasta carreira nas áreas da Economia e do Meio Ambiente, deparei-me com um detalhe de sua vida particular (familiar), que me fez compreender o seu humor nato.
De acordo com os dados levantados na Internet (várias fontes), o referido professor se formou em Economia na PUC/Rio de Janeiro. Foi Diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), presidente do IBGE e do Instituto Pereira Passos. Foi membro da missão diplomática brasileira em duas Conferências das Partes da Convenção-Quadro da Mudança Climática e da reunião C-40 (cidades contra o aquecimento global), em Nova Iorque em 2007.
É membro do Conselho Diretor da WWF-Brasil (“World Wildlife Fund”/“Fundo Mundial da Natureza”), Presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, comentarista de sustentabilidade na Globonews e da cidade na rádio CBN.
Nesta pequena pesquisa descobri que o humor é um traço característico de sua família, pois o humorista Bussunda (Cláudio Besserman Vianna) - do programa Casseta & Planeta - falecido em 2006, era seu irmão.
Prof. Sérgio Besserman
Prof. Sérgio Besserman e o Prof. Jacques Marcovitch (sentado)
O terceiro e último palestrante da parte da manhã foi o Prof. Dr. Haroldo Mattos que direcionou o seu discurso para alguns dados atuais de comprometimento da sustentabilidade do planeta e reafirmando que temos chance de mudar a história.
Tomando por base o documento do Global Change and the Earth System a planet under pressure, este destacou as mudanças que marcaram o século passado e que, nós, enfrentamos atualmente.
- O aumento demográfico (a população mundial passou de 1,5 bilhões em 1950 para 6 bilhões em 2000);
- O crescimento da atividade econômica, na ordem de 10 vezes, no mesmo período compreendido (1950 a 2000);
- O problema dos recursos naturais, citando o exemplo da maioria dos pesqueiros mundiais terem sido sobre-explorados, ou seja, de forma predatória. Ele, inclusive, citou o exemplo do salmão, que atualmente é de criadouro (no Chile), uma vez que a sua demanda natural caiu vertiginosamente.
- A questão energética acerca dos combustíveis fósseis (recursos não-renováveis), sobretudo, do petróleo (40% de suas reservas se encontram esgotadas) e a necessidade premente de novas alternativas de fontes de energia.
Sua palestra foi conduzida na projeção de slides com as suas devidas interseções. Assim, como os palestrantes anteriores, o Prof. enfatizou que as discussões ocorrem, a importância de se promover o Desenvolvimento Sustentável é claro, mas que não há uma receita pronta, ou seja, soluções efetivas.
Ele utilizou a definição publicada no Relatório “Nosso Futuro Comum”, 1987 (Comissão Brundtland), que afirma que o Desenvolvimento Sustentável “Atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.
E para isso, ele relacionou três grandes desafios que precisamos enfrentar:
1º Desafio: Garantir a disponibilidade de recursos naturais, ou seja, dispor destes em face da necessidade básica do ser humano (alimentação), bem como em termos de produção de bens e de serviços.
Neste aspecto, o professor foi enfático sobre o problema da velocidade desigual sobre a exploração e a reposição (natural e/ou artificial), citando, como exemplos, a exploração da madeira e a atividade pesqueira (o caso do salmão, citado anteriormente).
Além destes, considerados recursos renováveis, ele voltou a mencionar a questão energética, com relação à principal fonte de energia do planeta, ou seja, o petróleo (recurso não-renovável). O desafio é garantir que tecnologias e fontes alternativas sejam desenvolvidas a tempo de substituir as fontes de energia ditas tradicionais.
2º Desafio: Não ultrapassar os limites da Biosfera para assimilar resíduos e poluição. Não esquecendo, sobre este, que a produção de bens e de serviços geram resíduos e poluição. Muito se foi falado sobre a questão do consumismo por quase todos os palestrantes nos dois dias do Fórum.
3º Desafio: Reduzir a pobreza no mundo. Desafio mais do que pertinente à temática, uma vez que – como o próprio Prof. Sérgio Bressamnn enfatizou – os países mais pobres são os mais vulneráveis. O desnível econômico e social existente entre as nações, de um lado as de maior renda e, de outro, as de renda mais baixas precisa, urgentemente, ser repensado.
E, nesta perspectiva, a retórica - mais uma vez - do Prof. Sérgio Bressamnn é validada... Há décadas, as questões pertinentes ao atual modelo de desenvolvimento econômico e social estão na berlinda e nada ou pouco foi feito.
Prova disso é o princípio para uma nova Ordem Mundial do III Relatório do Clube de Roma (1976), que diz: “Muito antes de esgotarmos os limites físicos do nosso planeta ocorrerão graves convulsões sociais provocadas pelo grande desnível existente entre a renda dos países ricos e dos países pobres”.
Como se pode observar, apesar das palestras da parte da manhã não terem acrescentados nenhuma novidade acerca da temática, elas permearam - à luz das discussões - a atual crise ambiental e seu raio de abrangência, bem como a necessidade de haver mudanças e os grandes desafios que precisamos enfrentar, tal como era o objetivo da Mesa Redonda (“Sustentabilidades: mais do que um conceito, uma filosofia de vida”). Eu, particularmente, gostei muito das apresentações e intervenções.
Após o encerramento da palestra do Prof. Haroldo Mattos foi aberto o debate com o público presente.
Prof. Dr. Haroldo Mattos
Explanação com apoio de projeção de slides
Outro aspecto que apreciei neste Fórum, contrariamente visto em outros eventos que participei, foi a preocupação quanto ao cumprimento dos horários pré-estabelecidos. Mesmo com o “caos atmosférico” que marcaram este primeiro dia, a programação e o horário fixado foram cumpridos a contento.