O trecho do vídeo acima, capturado do trailer oficial do filme
“SOS Mulheres ao Mar” (2014, Direção de Cris d'Amato, Produção de Globo Filmes),
retrata muito bem a falta de conhecimento no campo da Geografia e, neste caso
específico, uma deficiência em termos de localização geográfica.
Problemas como este e outros, no âmbito da ciência geográfica,
é mais comum do que se imagina, mesmo nos dias de hoje, quando a Globalização oferece
inúmeras tecnologias ligadas, sobretudo, à área da Comunicação, as quais permitem
o acesso mais democrático às informações, a mapas, imagens, entre outros
recursos que contribuem para o enriquecimento do ensino da mesma, em todos os níveis
de escolaridade (Ensinos Fundamental, Médio e Superior).
Esta deficiência de conhecimentos de Geografia é reportada ao chamado
“Analfabetismo Geográfico”. E, em
razão da importância do estudo e do ensino da Geografia, enquanto Ciência Humana
que trata o espaço geográfico e toda a dinâmica intrínseca às suas transformações
ambientais, sociais, políticas e/ou econômicas, a falta de um domínio mínimo de
sem sua área específica se mostra muito preocupante e grave diante de uma vida
em sociedade e do mundo globalizado.
Na verdade e, infelizmente, a sua falta e/ou deficiência não
tem nacionalidade, sendo bastante comum em muitos países, tanto desenvolvidos quanto
subdesenvolvidos0, ocorrendo, inclusive, em nosso país.
Embora, a deficiência de conhecimentos na área de Geografia,
por parte de muitos estadunidenses (EUA), seja amplamente conhecida, inclusive,
com registros nas mídias e em artigos, bem como satirizada em vídeos, não se pode
dizer que o problema só ocorre ou é mais grave no referido país.
Todavia, foi em razão da constatação desta deficiência de
conhecimentos básicos nesta área científica, na maior parte da população
estadunidense, que se criou nos EUA, na segunda metade do Século XX, mais
especificamente nos anos 60, a expressão “Analfabetismo
Geográfico” (em inglês, Geographic
Illiteracy).
Tal problema foi verificado em todos os segmentos da sociedade
e, não apenas, na classe estudantil, na época. Apesar de constatar que o ensino
da Geografia era precário em todos os níveis de escolaridade, do Ensino Básico
ao Universitário, a maior carência foi detectada no âmbito do Ensino Básico e
Médio.
A partir desta comprovação, a mídia estadunidense promoveu uma
intensa Campanha a fim de valorizar a Geografia enquanto disciplina importante
no currículo escolar, com vistas a aprimorar e ampliar o seu ensino no país, na
qual obteve o apoio e a participação direta de diversas Associações ligadas à
Ciência Geográfica, como a Association of American Geographers, a American
Geographical Society, o National Council for Geographic Education e a National
Geographical Society, além de professores da mesma área de conhecimento. Com
isso, a comprovação do chamado “analfabetismo geográfico” da maior parte da
população dos EUA tornou-se público, não só em território estadunidense, como
em muitos outros países. Como efeito desta mobilização em prol do resgate da
importância do ensino da Geografia, nos anos 90, houve mudança na grade
curricular, com aumento da carga horária da mesma (VESENTINI,2009).
A enorme deficiência com que o sistema escolar nos EUA apresentava,
pode ser constatada em diferentes situações, envolvendo países, em razão da
falta total de conhecimento das características geográficas dos mesmos (clima,
idioma, entre outros aspectos intrínsecos).
Segundo VESENTINI (op. cit.), os soldados estadunidenses enviados
para a Guerra do Vietnã (1959 a 1975) demonstravam um enorme desconhecimento da
localização acerca deste país asiático, com o qual estavam em combate,
imaginando - muitas vezes - que o mesmo fosse vizinho do Panamá (América).
Esta precariedade de conhecimentos na área geográfica também
pode ser registrada, com efeitos negativos, no campo de investimentos, em dois
casos envolvendo a relação comercial entre os EUA e o nosso país.
O primeiro caso envolveu a empresa de aviação norte-americana,
American Airlines (AA), por ocasião
de sua entrada no mercado brasileiro, nos anos 80 (Século XX). Desconhecendo,
totalmente, o idioma oficial do nosso país, a referida empresa treinou os seus
funcionários a dominarem a língua espanhola e, em termos de serviço de bordo,
ofereceu refeição mexicana.
O segundo tem a ver com a maior rede de comércio de varejo dos
EUA e do mundo, a Walmart, nos seus primeiros anos de negócios em nosso país (a
primeira loja no Brasil data de 1995). Desconhecendo, sobretudo, as
características climáticas e culturais do país, a empresa abarrotou as suas
lojas com artigos inadequados às condições climáticas tropicais (quente e
úmida) e aos nossos hábitos esportivos, com exposição para venda e grandes
estoques de agasalhos para frio rigoroso, roupas para esquiar, tacos de
beisebol, entre outros artigos impróprios a nossa realidade.
A existência de outros casos é mencionada pelo referido autor,
sobre os quais, ele argumenta:
“Existem ainda centenas ou talvez até
milhares
de exemplos semelhantes, não só em relação ao Brasil
mas também
frente a inúmeros países
da América Latina, da Ásia, África e até da Europa.
Conhecer
geografia, como perceberam as
autoridades norte-americanas,
é fundamental para
a atuação do país no mundo,
para exercer alguma liderança no concerto
das nações,
para os negócios no estrangeiro,
para a
guerra e para a paz.”
(VESENTINI, 2009:81)
O Cartum abaixo, de autoria de Garry Trudeau, publicado no
jornal The Guardian, em 1988, contextualiza o chamado “Analfabetismo Geográfico”, no caso específico, em se tratando da
relação entre a Geografia e a Cartografia, em termos de localização dos países.
Ficando em evidência a importância de ambas as ciências e, sobretudo, do grande
auxílio dos mapas e outros produtos cartográficos como ferramentas relevantes ao
estudo geográfico.
Imagem capturada na Internet
(Fonte: Blog Janaína Bellotti)
Em 2013, sob este mesmo contexto de localização geográfica, a emissora
norte americana CNN (Cable News Network)
cometeu um erro grotesco em uma reportagem sobre ataques de vespas gigantes que
já haviam levado 42 pessoas a óbito na China e um mapa da América do Sul,
exibido no telão, apontava a localização da cidade de Hong Kong no território
brasileiro, mais precisamente, no estado de São Paulo.
Não é difícil adivinhar as consequências deste erro da equipe
do telejornal, pois virou piada nas redes sociais e no YouTube. Para assistir,
basta clicar AQUI!
No mesmo ano, mais um caso de Analfabetismo Geográfico envolveu
uma grande empresa estadunidense no mundo virtual. Desta vez, uma empresa famosa
ligada a produtos esportivos. Trata-se da Nike que ao homenagear o time de
futebol Carolina
Panthers da cidade de Charlotte (Carolina do Norte), colocou à venda, em sua
loja on line, uma camiseta ilustrada com o logotipo do time e as iniciais NC
(North Carolina), ambos dentro do mapa do estado. No entanto, ao invés do mapa
do estado certo (Carolina do Norte), a estampa era do estado da Carolina do Sul.
Um torcedor viu o erro e comunicou a um colunista esportivo de um jornal local, que espalhou a gafe. O link logo foi retirado do ar.
Mapa de localização do estado da Carolina do Norte
(Fonte: Wikipédia)
A importância da Geografia é indiscutível, não por ser a minha área de conhecimento e de atuação profissional, mas por ser uma ciência, cujo estudo – sob uma perspectiva histórica, integrativa e interdisciplinar - percebe a dinâmica do mundo contemporâneo enquanto totalidade orgânica (social, econômica, política, ambiental e cultural).
Fontes de Consulta
. VESENTINI, José William. Repensando a Geografia Escolar para o
Século XXI. São Paulo: Plêiade, 2009, 161 p. Disponível em PDF em:
Trabalhei com meus alunos do 1º ano a charge sobre o analfabetismo geográfico e foi bem interessante. Mas o que eu queria dizer mesmo é que tive um ataque de riso assistindo aquele vídeo do youtube que localiza Hong Kong em São Paulo. Foi impagável ler os comentários dos brasileiros.
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