Marli Vieira
Recentemente, no dia 3 de julho, todas as mídias jornalísticas (escrita e falada) divulgaram – em destaque – o fim do sequestro da ex-senadora, franco-colombiana, Ingrid Betancourt.
Mais do que um desfecho feliz de sequestro cometido pela guerrilha, o seu resgate e de mais 14 reféns coloca em xeque a força estratégica e ideológica das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), considerada a maior e a mais antiga guerrilha do continente americano.
A história da Colômbia – país latino-americano situado na América do Sul – é marcada por diversos embates e insurreições populares, contrárias ao poder político vigente, tanto durante o período da colonização espanhola (por resistência ao modelo e, também, através de lutas pela sua emancipação) quanto após a sua independência (em oposição à oligarquia colombiana, sob a influência do sistema bipartidário vigente no país).
Falar da história deste país é algo que nos leva a pensar não só na relação governo colombiano versus as FARC, mas também na produção de cocaína, no narcotráfico, nos paramilitares de direita, na intervenção e influência dos EUA etc.
Aspectos estes, históricos e interligados, tal como uma rede sistêmica, interdependente, de causas e efeitos.
Não vou aprofundar muito sobre a temática, mas de forma bem sucinta, espero delinear a seqüência dos fatos históricos para podermos entender a formação das FARC.
Historicamente, o poder político colombiano sempre foi marcado pela ausência de um partido popular, mas, em contrapartida, pela competição de dois grandes partidos burgueses e oligarcas tradicionais, o partido Liberal e o Conservador.
Enquanto, o primeiro sempre lutou por liberdade política e religiosa, os conservadores se empenhavam às garantias individuais e a favor do poder da Igreja (Católica Apostólica Romana).
Esta competição nunca foi amistosa, pelo contrário! Desde a independência até às eleições de 2006, quando assume o poder de Estado, o atual presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, as relações travadas entre os liberais e os conservadores, na maior parte do tempo, sempre foram caracterizadas pela violência, ultrapassando o nível de simples adversários políticos.
Como ressalta o professor Antonio Carlos Peixoto (UERJ), em entrevista ao Observatório da Imprensa: “Ao contrário do que a mídia em geral informa, a violência colombiana não começa com guerrilheiros indo para o mato na segunda metade do século XX. A violência vem do século XIX, quando, por exemplo, os liberais tomavam o poder, fechavam as igrejas e matavam os padres. Eram anticlericais furiosos. E, evidentemente, quando os conservadores pegavam os liberais, fuzilavam também.”
Ou seja, os liberais e conservadores eram verdadeiros inimigos. E, em função disso, acrescido da política e do modelo econômico adotado, foi mantido a supremacia da oligarquia vigente, fracassando qualquer tentativa de reformas progressistas no país.
Este embate político partidário resultou, também, na primeira guerra civil entre liberais e conservadores denominada de “Guerra dos Mil Dias” (1899 a 1903), a qual registrou mais de 100 mil vítimas fatais.
O desfecho da guerra, sob efeito de um acordo entre ambos os partidos, foi o ponto para a vigência de governos conservadores, no poder, por um período de 30 anos.
Durante a década de 30 (Séc. XX), a Colômbia foi governada por liberais, cujo poder sucessório – no período de 1934 a 1946 – foi sob o comando de Olaya Herrera, Alfonso López Pumarejo, Eduardo Santos, Alfonso López Pumarejo e Alberto Lleras Camargo.
Apesar das reformas políticas e sociais implantadas por Alfonso López Pumarejo, este em seu segundo mandato (1942 – 1945) sofre um golpe, por pressão interna do partido, assumindo o seu vice (Alberto Lleras Camargo).
Nas eleições presidenciais de 1946, o Partido Liberal se dividiu em duas alas, cada qual apoiando um candidato distinto (Jorge Eliécer Gaitán e Gabriel Turbay).
Tal divisão acabou favorecendo e contribuindo para a vitória de Mariano Ospina Pérez, candidato do Partido Conservador.
Em 1948, o liberal Jorge Eliecér Gaitán é assassinado e sua morte desencadeou uma grande rebelião popular, a qual ficou conhecida como o "Bogotazo" (em referência à Bogotá, capital da Colômbia).
Deu-se, logo em seguida, o início da "A violência", guerra civil entre os liberais e os conservadores, a qual durou 10 anos (1948-1958), sendo reprimida tanto durante o governo de Laureano Gómez (1950-1953) como durante a ditadura do general Rojas Pinilla (1953-1957).
Os primeiros registros de atuação de grupos guerrilheiros na Colômbia datam desta época (década de 40, Século XX), pois após o assassinato de Jorge Eliecér Gaitán, uma onda de confrontos se sucedeu em todo o território nacional, com ações de guerrilhas por parte de uma ala de dirigentes liberais.
Em 1958, os liberais e os conservadores firmaram um Acordo de Pacificação, dividindo pacificamente o poder entre si e a responsabilidade por cada instância do Estado a fim de evitar mais violência no país, com novos conflitos e confrontos civis.
O grupo radical do Partido Liberal e o grupo do Partido Comunista da Colômbia foram contrários a este acordo e, lutando por seus ideais, iniciaram ações de guerrilhas no país, mantendo-se na ilegalidade.
A alternância em termos de representatividade nos cargos políticos e públicos, estabelecida entre os dois partidos, se estendeu de 1959 a 1974, ficando conhecida como a época da Frente Nacional.
Na década de 60 (Séc. XX), um grupo de 48 camponeses comunistas se reuniu em Marquetália, onde aprovaram um programa de reforma agrária revolucionária que se baseava no "confisco da propriedade latifundiária" e por meio das " terras ocupadas por companhias imperialistas".
Em razão da política econômica e do modelo de estrutura fundiária do país, baseada na concentração da terra nas mãos dos grandes proprietários (latifundiários), estes grupos guerrilheiros tiveram apoio da grande maioria da população rural (pequenos produtores).
Durante este período, as operações do Exército colombiano sobre a guerrilha aumentaram, enquanto os referidos grupos guerrilheiros se fortificaram sob a forte influência da Revolução Cubana (1959).
No dia 27 de maio de 1964, o Exército colombiano, com o apoio dos EUA, realizou uma operação na região, com o intuito de acabar com a atuação do referido grupo dos camponeses rebelados.
A operação do Exército contou com a ajuda de 16.000 soldados, helicópteros, aviões e instrutores norte-americanos e derrotou a guerrilha, dentro da estratégia militar dos EUA para a América Latina conhecida como Doutrina de Segurança Nacional.
A data da Operação “Marquetália”, 27 de maio de 1964, é considerada como a da fundação das FARC (Forças Armadas Revolucionáris da Colômbia), a maior e a mais antiga guerrilha do continente americano.
O Exército conseguiu expulsar a guerrilha de Marquetália, tendo o grupo se refugiado nas selvas e montanhas, sob o comando de Manuel Marulanda Vélez, o "Tirofijo" (Tiro Certo), principal dirigente do grupo, na época.
Neste mesmo período, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) se fortificaram. Sua estratégia principal de ataque ao governo colombiano é baseada em seqüestros de personalidades políticas, militares e outros, com objetivos distintos. No início, os cativeiros se localizavam em áreas de floresta e montanhosas, de difícil acesso.
Neste mesmo período, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) se fortificaram. Sua estratégia principal de ataque ao governo colombiano é baseada em seqüestros de personalidades políticas, militares e outros, com objetivos distintos. No início, os cativeiros se localizavam em áreas de floresta e montanhosas, de difícil acesso.
Depois, estes desceram as montanhas e, além da selva, passaram a ocupar as planícies junto à cordilheira dos Andes.
Ao longo dos seus 44 anos de existência, as FARC se transformaram em um grupo político armado, com quase 30 mil homens, os quais se apresentavam em 60 frentes guerrilheiras, atuando em todo o território nacional.
Apesar de viverem na clandestinidade, das operações ilegais, da violência praticada através de seqüestros, extorsões de pequenos produtores e, inclusive, após o seu posterior envolvimento com o narcotráfico, as FARC se auto-proclamaram como sendo Exército do Povo (FARC – EP).
Apesar de viverem na clandestinidade, das operações ilegais, da violência praticada através de seqüestros, extorsões de pequenos produtores e, inclusive, após o seu posterior envolvimento com o narcotráfico, as FARC se auto-proclamaram como sendo Exército do Povo (FARC – EP).
A Colômbia, nos anos 70 (Séc. XX), além de propiciar uma abertura maior na política do país, ela registrou a efetivação de um problema ascendente no país: a expansão da produção de cocaína e do domínio dos cartéis da droga no cenário econômico e político nacional, principalmente, o de Medellín liderado por Pablo Escobar. Vale ressaltar, aqui, que a Colômbia já era uma grande produtora da maconha.
O narcotráfico aumentou sua força dentro da Colômbia, inclusive, porque o país passou a ser o maior produtor e exportador de cocaína do mundo.
A relação das FARC com o narcotráfico se dá, inicialmente, em razão da localização geográfica das plantações de coca, que ficam próximas das áreas de dominação da guerrilha. Diante das dificuldades financeiras, a aliança com o narcotráfico se firma sob a égide de milícia protetora das áreas de cultivo de coca ou através da cobrança de taxas dos seus produtores.
Neste cenário de fortalecimento das FARC e do narcotráfico, o Estado se mostrou – cada vez mais - ineficaz no combate e na repressão definitiva de ambos. Mediante a isso, na década de 80, vê-se formar uma nova conjuntura no país, mantendo-se na ilegalidade e marcada pela violência, mas acrescida pela formação e atuação de grupo paramilitar denominado de AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) e pelo ELN (Exército de Libertação Nacional).
Os paramilitares são policiais e, principalmente, ex-militares treinados pelos EUA, no combate ao narcotráfico e às FARC, os quais recebem financiamentos de empresas nacionais e, principalmente, estadunidenses. Estes passaram a responder, também, por violências no território colombiano, como seqüestros e homicídios de colombianos resistentes, a pretexto de serem traficantes de drogas ou colaboradores das FARC.
A relação das FARC com o narcotráfico se dá, inicialmente, em razão da localização geográfica das plantações de coca, que ficam próximas das áreas de dominação da guerrilha. Diante das dificuldades financeiras, a aliança com o narcotráfico se firma sob a égide de milícia protetora das áreas de cultivo de coca ou através da cobrança de taxas dos seus produtores.
Neste cenário de fortalecimento das FARC e do narcotráfico, o Estado se mostrou – cada vez mais - ineficaz no combate e na repressão definitiva de ambos. Mediante a isso, na década de 80, vê-se formar uma nova conjuntura no país, mantendo-se na ilegalidade e marcada pela violência, mas acrescida pela formação e atuação de grupo paramilitar denominado de AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) e pelo ELN (Exército de Libertação Nacional).
Os paramilitares são policiais e, principalmente, ex-militares treinados pelos EUA, no combate ao narcotráfico e às FARC, os quais recebem financiamentos de empresas nacionais e, principalmente, estadunidenses. Estes passaram a responder, também, por violências no território colombiano, como seqüestros e homicídios de colombianos resistentes, a pretexto de serem traficantes de drogas ou colaboradores das FARC.
Esta cooperação entre a Colômbia e os EUA no combate ao narcotráfico e às FARC foi intitulada de Plano Colômbia (ou Plano Patriota). Todavia, muitos autores enfatizam que a mesma poderia ser chamada de "Plano América do Sul", tamanha é a sua influência e interferência direta e/ou indireta sobre toda a região.
Nota-se que embora, ao longo dos anos, vários caminhos diferentes tenham seguidos no combate às FARC, somente após a chegada de Álvaro Uribe no governo, em 2002 (e sua reeleição em 2006), percebeu-se um quadro que mostra as FARC em posição de retaguarda.
Com a recente libertação dos 15 reféns sob o domínio das FARC, através de uma operação que envolveu a infiltração de agentes secretos na guerrilha, o presidente Álvaro Uribe, que segue uma linha autoritária, centrada no poder absoluto do chefe de Estado, deve – com certeza – aumentar a sua popularidade e acabar optando por ficar na história como o único presidente, que foi capaz de provar a fragilidade e enfraquecimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ou, quem sabe, arriscar a um terceiro mandato, alterando a legislação vigente no país.
Com a recente libertação dos 15 reféns sob o domínio das FARC, através de uma operação que envolveu a infiltração de agentes secretos na guerrilha, o presidente Álvaro Uribe, que segue uma linha autoritária, centrada no poder absoluto do chefe de Estado, deve – com certeza – aumentar a sua popularidade e acabar optando por ficar na história como o único presidente, que foi capaz de provar a fragilidade e enfraquecimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ou, quem sabe, arriscar a um terceiro mandato, alterando a legislação vigente no país.
(Imagens capturadas na rede)
. FONTES DE CONSULTAS
. http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/colombia/historia-da-colombia.php
. http://www.cti.furg.br/~marcia/b05_farc/historia.htm
. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/index.asp
. http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/farc/index.shtml
. http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=3343
. Saiba mais...
. O segundo homem das FARC morre.em bombardeio colombiano no Equador
. Lista dos Presidentes da Colômbia
. Assista o Vídeo:
. A História das FARC (Vídeo Globo.com)
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