Imagem capturada na Internet (Fonte: Veja - Coluna Ricardo Setti)
Há tempo estou para abordar este tema não só pela própria indignação diante do fato, mas também pela relação de causa e efeito presentes na sua concretização.
Estou me referindo ao assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli (47 anos), morta a tiros - dentro do seu carro – quando chegava em casa, em Piratininga, Niterói (Rio de Janeiro), no último dia 11 de agosto.
Cumpridora de suas reais funções como autoridade pública e membro do Poder Judiciário, Patrícia Acioli não se intimidou diante dos riscos de vida que, diariamente, ficava exposta em um país marcado – entre tantas outras mazelas – pela impunidade.
Juíza há 20 anos e trabalhando na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, ela era conhecida - segundo diferentes matérias jornalísticas - por seu rigor contra grupos de extermínio, constituídos – na maioria dos casos – por policiais e ex-policiais.
E, diante desta realidade, dura e de difícil conversão (país de impunidade e corrupto), o seu erro foi fazer cumprir a lei, os seus princípios morais, éticos e os de justiça, ou seja, o exercício pleno de suas funções como magistrada.
Ela foi assassinada pela força de um Poder paralelo, que – tal como outros - faz pressão e sobrepõe ao Poder Público, ao da justiça.
Esta não foi a primeira vez que a referida juíza sofreu um atentado. No início de sua carreira, quando era defensora pública na Baixada Fluminense, ela teve o seu carro metralhado. Desta vez, infelizmente, os executores do atentado alcançaram o objetivo, pois a juíza Patrícia Acioli morreu após ser atingida por 21 tiros.
Desde o dia do seu assassinato, diversas manifestações públicas ocorreram assinalando a indignação do povo, dos magistrados, dos familiares, dos amigos e tantos outros que, ainda acreditam, na justiça e condenam o estado geral de impunidade que vem se delineando, sobretudo, no Poder Político.
O temor proferido no discurso do presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, no dia seguinte do assassinato, quando foi feito um ato público em repúdio à morte da juíza, na Praia de Icaraí, em Niterói, faz sentido e nos leva também a refletir sobre o papel do Estado e da própria população diante do episódio e de outros que ocorreram e que ainda podem ocorrer.
De acordo com Antônio Carlos Costa (presidente da ONG Rio de Paz), “Esse caso é emblemático, aponta para um processo de mexicanização do Rio de Janeiro”.
A referência ao México, como expliquei em sala de aula para algumas turmas, diz respeito ao quadro de violência alcançado no país diante do poder e das ações do narcotráfico, entre as quais se registram diversas ameaças, subornos, sequestros, assassinatos etc.
A lei do “Silêncio ou morte” é notória – sobretudo - à imprensa, afetando inúmeros jornalistas que trataram o tema em suas matérias e/ou tentaram fazer o seu trabalho sobre o mesmo.
Como eu mesma citei anteriormente, é o Poder paralelo sobressaindo e impondo regras sobre todos e a todos.
Retomando o caso da juíza Patrícia Acioli, ela estava relacionada em uma chamada “lista negra” com 12 nomes, provavelmente lista de crimes encomendados, a qual foi encontrada com Wanderson Silva Tavares (Gordinho), preso no início deste ano (janeiro) Guarapari (ES).
Este é considerado chefe do grupo de extermínio investigado pela referida juíza e responsável por - pelo menos - 15 mortes em São Gonçalo (RJ), nos últimos três anos.
Não podemos permitir que calem a Justiça e, muito menos, contribuir e incentivar a impunidade.
Eu já postei, neste espaço, a citação abaixo, de autoria de Rui Barbosa. Ela é muito pertinente a estes fatos...
“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se
os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.”
12 de agosto: Ato público pela morte da juíza Patrícia Acioli, realizado na praia de Icaraí, em Niterói (RJ) pela Organização Não Governamental (ONG) Rio de Paz. Velas foram acesas na areia da praia, uma cruz de 5 m foi erguida e uma faixa com a seguinte indagação “Quem silenciou a voz da Justiça?”
Fonte: Jornal do Brasil
20 de agosto: Manifestação da ONG Rio e Paz junto com familiares e amigos da juíza assassinada, também, na Praia de Icaraí, na altura da Rua Miguel de Frias, em Niterói (RJ). Os manifestantes ficaram sentados 20 minutos na areia, com uma faixa preta na boca.
Fonte: O Dia OnLine
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