domingo, 9 de fevereiro de 2025

Entendendo a diferença das Nomenclaturas: Índio e Indígena

Aproveitando o contexto da última postagem – acerca do Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas – vou explicar o motivo do termo “índio” não ser mais empregado, atualmente, sendo considerada mais apropriado o uso da expressão “indígena”.

A mudança das respectivas nomenclaturas é recente, datada de 2022, ou melhor, tornou-se oficial a partir da aprovação da Lei Nº 14.402, de 8 de julho de 2022, na qual ficou instituído que o dia 19 de abril passaria a celebrar, anualmente, o Dia dos Povos Indígenas. 

O motivo principal incide no fato da palavra "índio" ser considerada um termo genérico, pouco específico, não levando em conta a diversidade existente entre os diversos povos indígenas brasileiros. 

De acordo com a Professora e Doutora em História Social pela USP, Márcia Mura ou Tanãmak, de origem indígena e integrante do povo Mura (Rondônia), esta mudança se fez necessária e foi de grande importância, tendo em vista que: 

“Índio é um termo genérico, que não considera as especificidades

que existem entre os povos indígenas,

como as especificidades linguísticas, culturais e

mesmo a especificidade de tempo de contato com a sociedade não indígena. ”


Profª e Drª Márcia Mura ou Tanãmak
Imagem capturada
 na Internet
Fonte: G1

Além disso, sua alteração foi imprescindível para refletir as ideias e as lutas dos diversos povos indígenas.

Em razão de toda uma trajetória histórica marcada pela violência, pelas invasões de suas terras e pela luta pela sobrevivência de seus povos, os defensores das causas indígenas, tal como a Professora e Doutora Márcia Mura, consideravam que 19 de abril deveria ser celebrado o "Dia dos Povos Indígenas" e, não, o Dia do Índio. 

Ainda, segundo a própria, a ideia eurocêntrica de que os indígenas são atrasados e iguais, tão intrínseco no antigo pensamento dos colonizadores europeus, não levava em consideração as diferenças linguísticas e culturais. 

palavra "indígena" é mais apropriada, pois significa "natural do lugar em que vive", exprimindo que cada povo, seja de onde for, é único, respeitando a individualidade de cada um deles. 

Tal premissa, também, é defendida pela Professora e Mestra em Linguística Aplicada pela PUC/SP, Maria Vitória Berlink, que afirma que a adoção do termo "indígena" é mais significante, pois representa a exposição das individualidades dos povos. Segundo a mesma, 

"Os colonizadores portugueses e espanhóis, 

principalmente,

usavam a palavra 'índio' para qualquer povo originário

 que encontravam pelo território.

É um termo raso, 

que não considera qualquer traço individual destes povos.

O que estes mesmos povos tentam fazer agora é 

tomar para si  o direito de se definirem e 

de mostrar que são mais do que o termo exprime".

 

Com isso, mais do que tratar apenas da nomenclatura, Márcia Mura reforça a necessidade de respeitar essa identidade cultural individual de cada povo, tratando as etnias pelo nome. 

"Quando dizemos que não somos índios,

queremos dizer que somos Mura, Uruéu-Au-Au, Guarasugwe,

todos habitantes do território Pindorama,

que é como os Tupinambá chamam o que os colonizadores

deram o nome de Brasil, mas diferentes".

 

Resumindo, ao se referir ao indivíduo, devemos empregar o termo “indígena” e não a expressão “índio”. 

A palavra “indígena” denota "indivíduo originário, aquele que está ali antes dos outros" e, também, valoriza a diversidade de cada povo. 

Outra coisa, não devemos mencionar que o dia 19 de abril é o Dia do Índio. Devemos nos referir a esta data ao Dia dos Povos Indígenas.


Fontes de Consulta

. LEI Nº 14.402, DE 8 DE JULHO DE 2022: Institui o Dia dos Povos Indígenas – Presidência da República 

. SANTOS, Emily: Brasil celebra 1º Dia dos Povos Indígenas após mudança em lei; entenda a diferença entre índio e indígena – G1/Educação

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