Manifestações em Kiev (2013) - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Wikipédia - Foto de Nessa Gnatoush)
Estou há muito tempo para postar algo sobre a crise da
Ucrânia, mas não tive tempo de parar e escrever, tal como expliquei aos alunos
por ocasião que comentei sobre a conjuntura atual do país em sala de aula.
Como eu mesma expliquei e correlacionei à matéria deste
bimestre, assim como dos anos anteriores para algumas turmas, a crise atual na
Ucrânia nos remete ao período da Guerra Fria, ora por seu legado como
ex-república soviética (URSS) ora por ressuscitar um conflito de influência entre
Ocidente e Oriente, tanto internamente em seu território dividido, quanto
externamente com o desencadeamento da disputa sobre a Crimeia (nome oficial,
República Autônoma da Crimeia) entre Moscou (capital da Rússia) e o Ocidente
(Kiev e países ocidentais).
Para entendermos a crise da Ucrânia, a situação vigente do
país, a crise da Crimeia e, inclusive, o quê esteve em jogo, no domingo passado (16 de
março), com a realização do referendo sobre o destino desta república autônoma,
localizada junto ao mar Negro é preciso que retomemos o final do ano passado,
quando tudo começou.
Mas, antes de tentar sintetizar a crise ucraniana e, a sua conjuntura
atual, com o desencadeamento da crise da Crimeia em um único texto torna-se
vital uma abordagem breve sobre o país a fim de que possamos entender a sua
diversidade étnico-cultural, que é a base do sentimento separatista que baliza
a relação da República Autônoma da Crimeia com a Ucrânia.
Para saber acerca da Ucrânia, acesse a postagem
referente ao país, AQUI!
A crise na Ucrânia teve início, em novembro de 2013, quando
o então presidente Viktor Yanukovich (deposto recentemente, em fevereiro) rejeitou
assinar o acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia
(UE), declarando que buscaria firmar relações com o seu principal aliado
comercial,
a Rússia.
A Rússia, em troca, ofereceu ao governo ucraniano um pacote
de ajuda financeira avaliado em US$ 15 bilhões e, ainda, a redução do valor do
gás importado para o país.
A União Europeia, na verdade, esperava firmar acordos com
mais cinco ex-repúblicas soviéticas, a saber: Geórgia, Moldávia, Bielo-Rússia,
Armênia e Azerbaijão. No entanto, ela só conseguiu com a Geórgia e a Moldávia,
que são pequenos países sem grandes projeções econômicas.
Das quatro que rejeitaram o acordo com o bloco econômico
europeu, a Ucrânia é a mais importante, sobretudo, por sua localização
estratégica tanto pelo acesso ao Mar Negro e, a partir deste, ao Mar Mediterrâneo quanto à Europa Oriental, como também por seu potencial econômico (tecnologias bélica e aeroespacial de ponta, extração de minério de ferro e produção de aço, principal produto de exportação de Kiev), entre outros.
Para a Federação Russa, motivos não faltam para justificar a sua pressão sobre o governo ucraniano para fechar acordos comerciais com Moscou e abdicar da aproximação com o Ocidente através da União Europeia.
Além de fortes laços históricos e culturais, que os mantêm ligados, herança do período da Guerra Fria e de outros registros, que servem como esteio às relações políticas e comerciais, a Ucrânia firmou um acordo com a Rússia, desde 2010, no qual ela autoriza a presença de forças armadas de Moscou na República Autônoma da Crimeia.
Imagem capturada na Internet (Fonte: Informação Incorreta)
A Ucrânia abriga, até hoje, instalações militares e mísseis da antiga URSS. Ademais, é dependente do gás natural e do petróleo da Rússia, além de ser considerada de grande relevância geoestratégica para os russos em razão do escoamento destes combustíveis fósseis através de gasodutos
e oleodutos em seu território.
Pois bem, logo após a rejeição ao acordo com a União Europeia, uma
onda de manifestações populares, denominada de Euromaidan ("Europraça"), marcou o país na tentativa de fazer o governo
ucraniano voltar atrás em sua decisão, exigindo
a integração do país à UE.
Mas, como reflexo de sua grande diversidade étnico-cultural, as divergências políticas também se mostraram na população, dividida, quanto apoio às partes desta relação comercial com a União Europeia ou com a Rússia.
Mas, como reflexo de sua grande diversidade étnico-cultural, as divergências políticas também se mostraram na população, dividida, quanto apoio às partes desta relação comercial com a União Europeia ou com a Rússia.
Em razão deste seu legado histórico e cultural, marcado, entre
outros fatos, com o seu ingresso na URSS (1922) e, depois, com a sua independência após o
desmantelamento da União Soviética (1991) e, ainda, no âmbito da Guerra Fria, com a anexação da República Autônoma da Crimeia em seu território (1954), a
população ucraniana se mostra dividida, nos levando a perceber que o seu
território é assinalado por mais de uma Ucrânia, tal como cita FERNANDES
(2014), em seu artigo “Ucrânia: as três dimensões do conflito”:
“Por
fim, está sempre presente a diversidade regional, histórica,
cultural,
religiosa e linguística da Ucrânia,
que se traduz em mentalidades e interesses
por vezes opostos entre a Ucrânia Ocidental e a Oriental
— para não falar na
Crimeia —
e que se pode resumir numa fórmula:
‘Há várias Ucrânias’.”
Imagem capturada na Internet (Fonte: Último Segundo - Mundo - Reuters e AP)
Ou seja, o conflito iniciado após a desistência do governo
em associar-se, política e comercialmente, com a União Europeia - sob forte pressão
da Federação Russa - foi alimentado pela posição controversa
de sua população dividida, concentrando a oposição nas regiões Norte
e Oeste do país (inclusive, na capital Kiev), onde se verificam tendências ocidentais
(europeia), favoráveis à associação comercial à UE.
Manifestante Pró-UE - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Revista Veja - Foto: Alexander Demianchuk/Reuters
Em contrapartida, nas regiões Leste e Sul da Ucrânia, a
população é predominantemente russa ou mantém costumes russos, sobretudo, a
língua. A população destas regiões demonstrou total apoio à decisão do
presidente Viktor Yanukovich. Étnica e culturalmente, cerca de 20% da população ucraniana
é de origem russa.
Manifestante Pró-Rússia - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Revista Veja - Reuters)
A crise se agravou com a intervenção violenta da polícia nas
manifestações populares, com registros de feridos e de prisões de
manifestantes. As primeiras vítimas fatais ocorreram em janeiro deste ano,
aumentando mais ainda o clima hostil entre as partes (manifestantes x manifestantes e
manifestantes x governo).
Confronto entre manifestantes e policiais em Kiev, capital da Ucrânia.
Imagem capturada na Internet (Fonte: Revista Veja - AFP)
Imagem capturada na Internet (Fonte: Revista Veja - AFP)
Em janeiro do ano em curso, as negociações estabelecidas
entre a oposição e o governo não tiveram sucesso. Outros fatores contribuíram
para o acirramento dos conflitos, como a insatisfação da população com o regime
autoritário e corrupto do governo na Ucrânia e, posteriormente, com a
intervenção direta da Federação Russa, inclusive, com ameaças de sanções comerciais
ao país e a presença de tropas russas em seu território (terrestre e marítimo).
Atendendo as reivindicações dos manifestantes e, ao mesmo tempo, alegando que sua atitude foi uma tentativa para solucionar pacificamente a crise, o Primeiro Ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, renunciou ao seu cargo no final do mês de janeiro, mas de nada adiantou, pois os protestos nas ruas continuaram.
O governo ucraniano, então, sancionou novas leis que limitam os protestos populares e reprimiu severamente, com muita violência, os manifestantes, sobretudo, aqueles que tomaram praças e prédios públicos. Armas de fogo foram usadas por ambas as partes e o número de mortos, no final de fevereiro, chegou a oitenta e duas vítimas fatais.
No dia 22 de fevereiro, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich foge do país, indo para a Rússia. Ele é deposto pelo Parlamento.
Atendendo as reivindicações dos manifestantes e, ao mesmo tempo, alegando que sua atitude foi uma tentativa para solucionar pacificamente a crise, o Primeiro Ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, renunciou ao seu cargo no final do mês de janeiro, mas de nada adiantou, pois os protestos nas ruas continuaram.
O governo ucraniano, então, sancionou novas leis que limitam os protestos populares e reprimiu severamente, com muita violência, os manifestantes, sobretudo, aqueles que tomaram praças e prédios públicos. Armas de fogo foram usadas por ambas as partes e o número de mortos, no final de fevereiro, chegou a oitenta e duas vítimas fatais.
No dia 22 de fevereiro, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich foge do país, indo para a Rússia. Ele é deposto pelo Parlamento.
Viktor Yanukovich - Imagem capturada na Internet (Fonte: Wikipédia)
Com isso, um novo governo, interino, passa a ser montado, cuja responsabilidade de reestruturação do poder fica a cargo da própria
oposição ao governo, grupos de manifestantes e ativistas, os quais foram
denominados de Comitê ou Conselho de Maidan (principal acampamento dos protestos
em Kiev, capital do país).
Um dia depois da deposição de Viktor Yanukovich, foi nomeado
- como o presidente interino (Chefe de Estado) – o líder do Parlamento, Oleksander Turchinov, que ficará no
cargo até às próximas eleições presidenciais, as quais foram antecipadas para o
dia 25 de maio.
Tais medidas foram consideradas pela população Pró-Rússia (população das regiões Leste e Sul da Ucrânia), assim como da Crimeia e da
própria Rússia, como um Golpe de Estado.
Com isso, as tensões separatistas na região da Crimeia se intensificaram com o embate entre os grupos de manifestantes pró-Rússia e pró-Kiev. Rumores foram espalhados, no mesmo dia da nomeação do Primeiro-Ministro, sobre a separação da região da Crimeia ser discutida na mesma sessão. Boato este, desmentido pelo presidente do Parlamento, Volodymir Konstantinov.
Durante tal confronto, os manifestantes anti-Rússia (pró-Kiev) chegaram
a invadir o prédio do Parlamento da Crimeia.
Em virtude da crescente tensão militar na República da Crimeia, o Senado russo aprovou o pedido do presidente Vladimir Putin, e tropas russas foram enviadas para a região, agravando o clima de instabilidade política.
Nesta conjuntura, a crise da Crimeia é instalada não só com os
confrontos populares diretos, mas também pela presença de tropas da Rússia região.
A República Autônoma da Crimeia acabou tornando-se alvo de
disputa e de grande tensão entre os dois lados, a chamada “Ucrânia Ocidental” e
a “Ucrânia Oriental”.
A Crise na Crimeia
A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia, sob a forma
de uma península (ponta de terra que avança sobre o mar), localizada no Sul do
país junto ao Mar Negro.
Sua importância geopolítica, neste contexto, não se refere
apenas ao acesso ao mar Negro e o escoamento de gás e petróleo russo, mas
também pela existência de uma base naval russa neste, mais especificamente em
Sebastopol e por sua população ser, majoritariamente, de origem russa, o que
acabou fortalecendo o enfrentamento russo neste conflito.
A disputa entre a Rússia e o Ocidente sobre a República
Autônoma da Crimeia foi considerada uma das mais graves crises geopolíticas na
Europa, desde o fim da Guerra Fria. E o seu desfecho ainda é incerto, mesmo com
o resultado do referendo de ontem, domingo (16/03), ter sido a favor de
sua integração à Federação Russa.
Uma vez que, tanto os EUA quanto à Organização das Nações Unidas
(ONU) alegam a ilegitimidade do referido referendo e ameaçam com sanções à Rússia.
Como a população da Crimeia é majoritariamente russa (60%),
tendo 25% de ucranianos e 12% de tártaros, o resultado das urnas já eram
previsíveis.
O governo interino da Ucrânia confirmou a ilegalidade do referendo, dando
ordens de prisão tanto ao presidente do Parlamento da Crimeia, Volodymyr
Konstantynov, quanto ao Primeiro-Ministro, Sergei Aksyonov, sob a acusação de
tentativa de tomada de poder do Estado. No entanto, com a presença das forças
russas na Crimeia, as autoridades ucranianas não tiveram como impedir a
realização da consulta popular.
O referendo foi realizado, sem a presença da imprensa e
de observadores, tal como fora anunciado anteriormente as mídias. A população da Crimeia foi
às urnas para decidir, democraticamente, se ela deveria permanecer integrada à
Ucrânia ou deveria passar a fazer parte da Federação Russa.
Desde a divulgação das primeiras parciais, os resultados já davam uma margem muito grande à opção de anexação da Crimeia à Federação Russa. Resultado este já esperado, mesmo com toda as controvérsias que envolveram o seu processo. Opção da própria população local, votante.
Saber se a crise da Crimeia ou da própria Ucrânia chegou ao
fim é difícil definir, pois as consequências deste processo ainda não sabemos.
Mas, não resta dúvida que a encruzilhada por qual a Crimeia se
encontrava tinha, como pano de fundo, os interesses econômicos e políticos
de ambos os lados, tanto da Rússia quanto da União Europeia.
Não resta dúvida que o
sentimento separatista permeia muitas nações em conflitos, tal como a Ucrânia ou a República Autônoma da Crimeia, cuja herança histórica resulta em grande instabilidade política em razão da união de povos distintos, com grandes diferenças étnico-culturais, dentro de um único território. A Crimeia e a própria Ucrânia são exemplos disso.
Fontes de Consulta
. Euronews
. Folha de São Paulo (diversas edições on line)
. G1 (diversas edições on line)
. Opinião & Notícias (diversas edições on line)
. Público e outras edições
. Último Segundo (diversas edições on line)
. Wikipedia
Parabéns pelo conteúdo. Atual e bem fundamentado !
ResponderExcluirsou eu o aluno luan saavedra dos santos da turma 1901 eu gostei da postagem sobre a situaçao na crimeia agora estou mais informado sobre a situaçao de lá
ResponderExcluirSempre é preciso estar pontuado sobre a atualidade, conteúdo muito bom.
ResponderExcluirJonas 1901
ola professora sou o aluno luan saavedra dos santos da turma 1901 graças a essa postagem eu estou sabendo mais sobre essa crise que esta tendo na crimeia
ResponderExcluirAchei interessante o conteúdo, e achei muito bom falar sobre a obesidade,porque poucas pessoas dão importância em relação a esse assunto !!!!!!!!
ResponderExcluirFranciele Lima de Freitas/1801
ResponderExcluirKassiara, Samara e Franciele, eu ainda não consegui entender os comentários de vocês sobre obesidade... Não entendi!
Depois, na sala de aula, me expliquem. Beijos
Haroldo, Luan e Jonas,
ResponderExcluirObrigada pelos comentários e fico feliz por terem gostado. Meninos (Luan e Jonas) espero que vocês, realmente, tenham entendido a crise, pois como falei em sala de aula, vocês precisam ficar atentos quanto estes temas da atualidade.
Abraços,