terça-feira, 18 de março de 2014

Entenda a Crise da Ucrânia e da Crimeia


Manifestações em Kiev (2013) - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Wikipédia - Foto de Nessa Gnatoush)
 
Estou há muito tempo para postar algo sobre a crise da Ucrânia, mas não tive tempo de parar e escrever, tal como expliquei aos alunos por ocasião que comentei sobre a conjuntura atual do país em sala de aula.
 
Como eu mesma expliquei e correlacionei à matéria deste bimestre, assim como dos anos anteriores para algumas turmas, a crise atual na Ucrânia nos remete ao período da Guerra Fria, ora por seu legado como ex-república soviética (URSS) ora por ressuscitar um conflito de influência entre Ocidente e Oriente, tanto internamente em seu território dividido, quanto externamente com o desencadeamento da disputa sobre a Crimeia (nome oficial, República Autônoma da Crimeia) entre Moscou (capital da Rússia) e o Ocidente (Kiev e países ocidentais).
 
Para entendermos a crise da Ucrânia, a situação vigente do país, a crise da Crimeia e, inclusive, o quê esteve em jogo, no domingo passado (16 de março), com a realização do referendo sobre o destino desta república autônoma, localizada junto ao mar Negro é preciso que retomemos o final do ano passado, quando tudo começou. 
 
Mas, antes de tentar sintetizar a crise ucraniana e, a sua conjuntura atual, com o desencadeamento da crise da Crimeia em um único texto torna-se vital uma abordagem breve sobre o país a fim de que possamos entender a sua diversidade étnico-cultural, que é a base do sentimento separatista que baliza a relação da República Autônoma da Crimeia com a Ucrânia.
 
Para saber acerca da Ucrânia, acesse a postagem referente ao país, AQUI!
 
A crise na Ucrânia teve início, em novembro de 2013, quando o então presidente Viktor Yanukovich (deposto recentemente, em fevereiro) rejeitou assinar o acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia (UE), declarando que buscaria firmar relações com o seu principal aliado comercial, a Rússia.
 
A Rússia, em troca, ofereceu ao governo ucraniano um pacote de ajuda financeira avaliado em US$ 15 bilhões e, ainda, a redução do valor do gás importado para o país. 
 
A União Europeia, na verdade, esperava firmar acordos com mais cinco ex-repúblicas soviéticas, a saber: Geórgia, Moldávia, Bielo-Rússia, Armênia e Azerbaijão. No entanto, ela só conseguiu com a Geórgia e a Moldávia, que são pequenos países sem grandes projeções econômicas.
 
Das quatro que rejeitaram o acordo com o bloco econômico europeu, a Ucrânia é a mais importante, sobretudo, por sua localização estratégica tanto pelo acesso ao Mar Negro e, a partir deste, ao Mar Mediterrâneo quanto à Europa Oriental, como também por seu potencial econômico (tecnologias bélica e aeroespacial de ponta, extração de minério de ferro e produção de aço, principal produto de exportação de Kiev), entre outros.
 
Para a Federação Russa, motivos não faltam para justificar a sua pressão sobre o governo ucraniano para fechar acordos comerciais com Moscou e abdicar da aproximação com o Ocidente através da União Europeia.
 
Além de fortes laços históricos e culturais, que os mantêm ligados, herança do período da Guerra  Fria e de outros registros, que servem como esteio às relações políticas e comerciais, a Ucrânia firmou um acordo com a Rússia, desde 2010, no qual ela autoriza a presença de forças armadas de Moscou na República Autônoma da Crimeia.

Imagem capturada na Internet (Fonte: Informação Incorreta) 

A Ucrânia abriga, até hoje, instalações militares e mísseis da antiga URSS. Ademais, é dependente do gás natural e do petróleo da Rússia, além de ser considerada de grande relevância geoestratégica para os russos em razão do escoamento destes combustíveis fósseis através de gasodutos e oleodutos em seu território.
 
Pois bem, logo após a rejeição ao acordo com a União Europeia, uma onda de manifestações populares, denominada de Euromaidan ("Europraça"), marcou o país na tentativa de fazer o governo ucraniano voltar atrás em sua decisão, exigindo a integração do país à UE. 

Mas, como reflexo de sua grande diversidade étnico-cultural, as divergências políticas também se mostraram na população, dividida, quanto apoio às partes desta relação comercial com a União Europeia ou com a Rússia.
 
Em razão deste seu legado histórico e cultural, marcado, entre outros fatos, com o seu ingresso na URSS (1922) e, depois, com a sua independência após o desmantelamento da União Soviética (1991) e, ainda, no âmbito da Guerra Fria, com a anexação da República Autônoma da Crimeia em seu território (1954), a população ucraniana se mostra dividida, nos levando a perceber que o seu território é assinalado por mais de uma Ucrânia, tal como cita FERNANDES (2014), em seu artigo “Ucrânia: as três dimensões do conflito”:
 

Por fim, está sempre presente a diversidade regional, histórica,
cultural, religiosa e linguística da Ucrânia,
que se traduz em mentalidades e interesses
por vezes opostos entre a Ucrânia Ocidental e a Oriental
— para não falar na Crimeia —
e que se pode resumir numa fórmula:
‘Há várias Ucrânias’.”


  Imagem capturada na Internet (Fonte: Último Segundo - Mundo - Reuters e AP)

Ou seja, o conflito iniciado após a desistência do governo em associar-se, política e comercialmente, com a União Europeia - sob forte pressão da Federação Russa - foi  alimentado pela posição controversa de sua população dividida, concentrando a oposição nas regiões Norte e Oeste do país (inclusive, na capital Kiev), onde se verificam tendências ocidentais (europeia), favoráveis à associação comercial à UE.


Manifestante Pró-UE - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Revista Veja - Foto: Alexander Demianchuk/Reuters


Em contrapartida, nas regiões Leste e Sul da Ucrânia, a população é predominantemente russa ou mantém costumes russos, sobretudo, a língua. A população destas regiões demonstrou total apoio à decisão do presidente Viktor Yanukovich. Étnica e culturalmente, cerca de 20% da população ucraniana é de origem russa.

Manifestante Pró-Rússia - Imagem capturada na Internet
(Fonte: Revista Veja - Reuters)

A crise se agravou com a intervenção violenta da polícia nas manifestações populares, com registros de feridos e de prisões de manifestantes. As primeiras vítimas fatais ocorreram em janeiro deste ano, aumentando mais ainda o clima hostil entre as partes (manifestantes x manifestantes e manifestantes x governo).

Confronto entre manifestantes e policiais em Kiev, capital da Ucrânia.
Imagem capturada na Internet (Fonte: Revista Veja - AFP)  


Imagem capturada na Internet (Fonte: Revista Veja - AFP)

Em janeiro do ano em curso, as negociações estabelecidas entre a oposição e o governo não tiveram sucesso. Outros fatores contribuíram para o acirramento dos conflitos, como a insatisfação da população com o regime autoritário e corrupto do governo na Ucrânia e, posteriormente, com a intervenção direta da Federação Russa, inclusive, com ameaças de sanções comerciais ao país e a presença de tropas russas em seu território (terrestre e marítimo).

Atendendo as reivindicações dos manifestantes e, ao mesmo tempo, alegando que sua atitude foi uma tentativa para solucionar pacificamente a crise, o Primeiro Ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, renunciou ao seu cargo no final do mês de janeiro, mas de nada adiantou, pois os protestos nas ruas continuaram.

O governo ucraniano, então, sancionou novas leis que limitam os protestos populares e reprimiu severamente, com muita violência, os manifestantes, sobretudo, aqueles que tomaram praças e prédios públicos. Armas de fogo foram usadas por ambas as partes e o número de mortos, no final de fevereiro, chegou a oitenta e duas vítimas fatais. 

No dia 22 de fevereiro, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich foge do país, indo para a Rússia. Ele é deposto pelo Parlamento.

Viktor Yanukovich - Imagem capturada na Internet (Fonte: Wikipédia)

 
Com isso, um novo governo, interino, passa a ser montado, cuja responsabilidade de reestruturação do poder fica a cargo da própria oposição ao governo, grupos de manifestantes e ativistas, os quais foram denominados de Comitê ou Conselho de Maidan (principal acampamento dos protestos em Kiev, capital do país).
 
Um dia depois da deposição de Viktor Yanukovich, foi nomeado - como o presidente interino (Chefe de Estado) – o líder do Parlamento, Oleksander Turchinov, que ficará no cargo até às próximas eleições presidenciais, as quais foram antecipadas para o dia 25 de maio.
 
A nomeação do novo Chefe de Governo (Primeiro-Ministro) aconteceu no dia 24 do mesmo mês, para o qual foi nomeado Arseniy Yatsenyuk, líder do Partido Fatherland e um dos principais nomes da oposição durante as manifestações de rua.
 
Tais medidas foram consideradas pela população Pró-Rússia (população das regiões Leste e Sul da Ucrânia), assim como da Crimeia e da própria Rússia, como um Golpe de Estado.

Com isso, as tensões separatistas na região da Crimeia se intensificaram com o embate entre os grupos de manifestantes pró-Rússia e pró-Kiev. Rumores foram espalhados, no mesmo dia da nomeação do Primeiro-Ministro, sobre a separação da região da Crimeia ser discutida na mesma sessão. Boato este, desmentido pelo presidente do Parlamento, Volodymir Konstantinov.
 
Durante tal confronto, os manifestantes anti-Rússia (pró-Kiev) chegaram a invadir o prédio do Parlamento da Crimeia.

Em virtude da crescente tensão militar na República da Crimeia, o Senado russo aprovou o pedido do presidente Vladimir Putin, e tropas russas foram enviadas para a região, agravando o clima de instabilidade política.
Nesta conjuntura, a crise da Crimeia é instalada não só com os confrontos populares diretos, mas  também pela presença de tropas da Rússia região.

A República Autônoma da Crimeia acabou tornando-se alvo de disputa e de grande tensão entre os dois lados, a chamada “Ucrânia Ocidental” e a “Ucrânia Oriental”.
 
A Crise na Crimeia
 
A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia, sob a forma de uma península (ponta de terra que avança sobre o mar), localizada no Sul do país junto ao Mar Negro.
 
Sua importância geopolítica, neste contexto, não se refere apenas ao acesso ao mar Negro e o escoamento de gás e petróleo russo, mas também pela existência de uma base naval russa neste, mais especificamente em Sebastopol e por sua população ser, majoritariamente, de origem russa, o que acabou fortalecendo o enfrentamento russo neste conflito.
 
A disputa entre a Rússia e o Ocidente sobre a República Autônoma da Crimeia foi considerada uma das mais graves crises geopolíticas na Europa, desde o fim da Guerra Fria. E o seu desfecho ainda é incerto, mesmo com o resultado do referendo de ontem, domingo (16/03), ter sido a favor de sua integração à Federação Russa.
 
Uma vez que, tanto os EUA quanto à Organização das Nações Unidas (ONU) alegam a ilegitimidade do referido referendo e ameaçam com sanções à Rússia.
 
Como a população da Crimeia é majoritariamente russa (60%), tendo 25% de ucranianos e 12% de tártaros, o resultado das urnas já eram previsíveis.
 
O governo interino da Ucrânia confirmou a ilegalidade do referendo, dando ordens de prisão tanto ao presidente do Parlamento da Crimeia, Volodymyr Konstantynov, quanto ao Primeiro-Ministro, Sergei Aksyonov, sob a acusação de tentativa de tomada de poder do Estado. No entanto, com a presença das forças russas na Crimeia, as autoridades ucranianas não tiveram como impedir a realização da consulta popular.
 
O referendo foi realizado, sem a presença da imprensa e de observadores, tal como fora anunciado anteriormente as mídias. A população da Crimeia foi às urnas para decidir, democraticamente, se ela deveria permanecer integrada à Ucrânia ou deveria passar a fazer parte da Federação Russa.
 
Desde a divulgação das primeiras parciais, os resultados já davam uma margem muito grande à opção de anexação da Crimeia à Federação Russa. Resultado este já esperado, mesmo com toda as controvérsias que envolveram o seu processo. Opção da própria população local, votante.
 
Saber se a crise da Crimeia ou da própria Ucrânia chegou ao fim é difícil definir, pois as consequências deste processo ainda não sabemos.
 
Mas, não resta dúvida que a encruzilhada por qual a Crimeia se encontrava tinha, como pano de fundo, os interesses econômicos e políticos de ambos os lados, tanto da Rússia quanto da União Europeia.
 
Não resta dúvida que o sentimento separatista permeia muitas nações em conflitos, tal como a Ucrânia ou a República Autônoma da Crimeia, cuja herança histórica resulta em grande instabilidade política em razão da união de povos distintos, com grandes diferenças étnico-culturais, dentro de um único território. A Crimeia e a própria Ucrânia são exemplos disso.
 
 
Fontes de Consulta
 
 

. Folha de São Paulo (diversas edições on line)

. G1 (diversas edições on line)


. Opinião & Notícias (diversas edições on line)

Público   e outras edições


. Último Segundo (diversas edições on line)

. Wikipedia

7 comentários:

  1. Parabéns pelo conteúdo. Atual e bem fundamentado !

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  2. sou eu o aluno luan saavedra dos santos da turma 1901 eu gostei da postagem sobre a situaçao na crimeia agora estou mais informado sobre a situaçao de lá

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  3. Sempre é preciso estar pontuado sobre a atualidade, conteúdo muito bom.

    Jonas 1901

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  4. ola professora sou o aluno luan saavedra dos santos da turma 1901 graças a essa postagem eu estou sabendo mais sobre essa crise que esta tendo na crimeia

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  5. Achei interessante o conteúdo, e achei muito bom falar sobre a obesidade,porque poucas pessoas dão importância em relação a esse assunto !!!!!!!!

    Franciele Lima de Freitas/1801

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  6. Kassiara, Samara e Franciele, eu ainda não consegui entender os comentários de vocês sobre obesidade... Não entendi!

    Depois, na sala de aula, me expliquem. Beijos

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  7. Haroldo, Luan e Jonas,

    Obrigada pelos comentários e fico feliz por terem gostado. Meninos (Luan e Jonas) espero que vocês, realmente, tenham entendido a crise, pois como falei em sala de aula, vocês precisam ficar atentos quanto estes temas da atualidade.

    Abraços,

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