Imagem capturada na Internet para fins ilustrativo
(Fonte: JusBrasil)
Eu, particularmente, adoro as crônicas de Martha Medeiros. Sua sensibilidade expressa entre linhas varia do humor à seriedade, em todos os aspectos da vida social, política e econômica do nosso país.
Selecionei para fechar as publicações do mês de julho, um tema
muito controverso e atual, grave, cujos reflexos interferem direta e/ou
indiretamente cada um de nós e, mais do que isso, aos olhos externos nos
condenam, quando somos vítimas e, ao mesmo tempo, co-responsáveis pelo nível
baixo que imputa a política brasileira.
A crônica abaixo reflete o sentimento de muitos brasileiros...
Martha Medeiros
Não sou só eu que tenho a impressão de que estamos sentados
sobre um barril de pólvora. É só dar uma espiada nos comentários deixados nas
redes sociais, em conversas de bar, nas trocas de mensagens por WhatsApp, nos
telejornais. O Brasil descarrilou, e agora?
Apagões, crise hídrica, obras superfaturadas que não terminam,
escândalos de corrupção em todas as esferas, ausência crônica de segurança,
aumento de impostos, saúde e educação vergonhosas, desgoverno evidente e início
de uma recessão de que não se conhece ainda as consequências. Uma amiga
pergunta no Facebook: “Todo mundo já decidiu para onde vai se mudar?”.
Ah, se fosse fácil assim. Fazer as malas e se mandar para
algum lugar em que se pudesse caminhar pelas ruas sem medo, em que os policiais
fossem bem treinados, em que houvesse metrô e muitas ciclovias, em que não se
racionasse nada, a luz não caísse no meio da tarde e os tributos pagos
revertessem em uma vida digna. É claro que qualquer nação tem problemas, mas o
Brasil abusou da prerrogativa.
Eu adoraria fechar minhas contas e zarpar. Tenho condições de
que raríssimas pessoas dispõem para fazer isso, a começar pelo meu trabalho,
que não depende de nada a não ser de um laptop. Ainda assim, é muito difícil
deixar amigos e familiares. E é frustrante desistir. Quem deserta está
colocando um ponto final na confiança que um dia teve.
Por ora, ficarei, mas me pergunto: como ajudar este raio de
país? De nada adianta declarar guerra à ponderação e incitar a violência. Em
termos coletivos, o melhor caminho continua a ser a defesa da imprensa livre e
sair todos às ruas de forma pacífica, como fizeram recentemente os parisienses
por ocasião do atentado à Charlie Hebdo, como fizeram os argentinos por ocasião
da morte do promotor Alberto Nisman, como fizemos nós mesmos em 2013 – é o
jeito de exercer pressão e mostrar que nosso povo não é tão mole quanto parece.
Detalhe: de cara limpa, sem máscaras, sem queimar ônibus e
destruir agências bancárias. Depredações são prova de fraqueza, não de força.
Nossa indignação coletiva precisa ser fotografada, filmada e
difundida para o Planalto e o planeta, sem deixarmos de lado as atitudes
particulares, que são fundamentais. É hora de agir com total responsabilidade
dentro de casa, apagando as luzes, fechando as torneiras, economizando os
gastos do prédio, do condomínio, da empresa. Essa corja política não merece
nossos sacrifícios, eu sei, mas não podemos continuar esperando que eles
resolvam hoje o que nunca os preocupou antes. Temos que tomar conta do Brasil,
assumir este país que deu profundamente errado, mas que é nosso. Porque até
aqui, perdemos de lavada. Eles lavavam dinheiro e nós lavávamos as mãos. Deu no
que deu: escassez de água e de futuro.
Fonte: ZH
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