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Fonte: Setembro Amarelo
“A palavra suicídio (...)
não é um ato de coragem e nem de covardia,
é um ato de desespero.
E por ser um ato de desespero, precisamos ficar
atentos à situação e aos possíveis sinais comportamentais, pois a pessoa
necessita de ajuda, de apoio da família, dos amigos e,
dependendo de sua gravidade, precisará do auxílio de um profissional
especializado, um psicólogo ou psiquiatra. O
ideal seria que ele tomasse a iniciativa e falasse,
conseguindo expor os seus sentimentos e
os problemas que o atormentam...
Ao mesmo tempo, tocar no assunto ou estimular
as discussões acerca do mesmo é algo muito complicado,
pois além deste ainda ser considerado um grande tabu em muitos
países, inclusive, no nosso, a sua explanação pode surtir efeito
contrário e acabar incitando a sua prática. O que está longe das
minhas intenções!
Não vou negar que, por conta disso, eu demorei muito para
decidir acerca da publicação deste artigo... Além disso, tive muitas
dificuldades em encontrar levantamentos mais atualizados, o que me fez
descobrir que isso faz parte da abrangência restrita que envolve o seu
universo.
Na próxima 5ª feira, dia 10 de setembro, comemora-se
o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, o qual foi constatado,
em 2019, como a segunda causa de morte no mundo,
entre os adolescentes e jovens (15 a 29 anos), segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), só perdendo para as mortes por acidente
de trânsito.
Considerado um problema de saúde pública e
um fenômeno social mundial, a prática do suicídio – embora,
com certa variação - ocorre em todas as faixas de idades e classes
sociais, podendo ser motivadas por diferentes razões (depressão,
dificuldades financeiras, solidão, Bullying, drogas, perdas
afetivas, histórico familiar de suicídio, entre outros).
De acordo com o Boletim Epidemiológico sobre Suicídio,
publicado em 2017, pelo Ministério da Saúde, no período
compreendido entre 2011 e 2016, em nosso país, 62.804
pessoas tiraram suas próprias vidas, sendo a maior parte do sexo
masculino (79%), enquanto as mulheres perfizeram os 21% do
geral.
Nas tentativas de cometer o suicídio, sem
haver a sua consumação, as mulheres são a maioria. Das 48.204
pessoas que tentaram tirar a própria vida, no período levantado (2011
a 2016), 69% eram mulheres e 31% homens. A proporção de
tentativas de caráter recorrente, mais de uma vez, também foi maior entre o
sexo feminino
Neste universo, os idosos, na faixa de 70
anos a mais, foram os que apresentaram as maiores taxas,
contabilizando 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes.
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Fonte: Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio
De acordo com a Sra Fátima Marinho,
Diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos
Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde, as taxas entre os idosos vêm
aumentando, pois é o grupo que mais sofre com doenças crônicas, com
a depressão e, também, com o abandono familiar.
Segundo a mesma, esse quadro entre os idosos vem sendo observado no mundo todo.
Outro aspecto a ser apontado, em relação aos dados do referido
Boletim, é a questão do aumento dos registros de casos entre os povos
indígenas.
Eu já tinha certa noção destas ocorrências, pois fui
responsável por uma turma do Ensino Médio que apresentou o tema “Os Desafios
dos Índios Brasileiros na Contemporaneidade”, no âmbito do Projeto
Étnico-Cultural do Colégio Estadual Profa Sonia
Regina Scudese, no ano passado (2019).
E um dos Grupos da mesma turma, junto a outras questões
pertinentes aos desafios enfrentados por estas populações, explanou acerca dos
casos de suicídios entre os índios brasileiros.
Em comparação a média nacional que foi de 5,7 óbitos
para 100 mil habitantes, os casos de mortes provocadas (suicídios)
nas aldeias indígenas foram quase três vezes maiores, isto é,
registrou-se 15,2 óbitos para 100 mil habitantes.
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Fonte: Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio
Destes registros, a proporção de óbitos de crianças e
adolescentes indígenas (10 a 19 anos) foi na ordem
de 44,8%, o que equivale aproximadamente 6,8 óbitos.
Isso, na verdade, é muito grave e preocupante,
pois – conforme afirma a Sra Fátima Marinho, “o alto risco de
suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que
elas também há um alto risco de mortalidade infantil”.
Além dessa realidade dos grupos indígenas, o número crescente
de suicídios infantis nas áreas urbanas vem
preocupando as autoridades e, principalmente, os especialistas. Embora, estas
ocorrências sejam mais raras, elas estão acontecendo e, por isso, aumentam as
preocupações quanto a não percepção prévia do problema e a imediata intervenção
de um adulto na prevenção, seja por meio de diálogos abertos e/ou
por meio de tratamento com um profissional capacitado (psicólogos ou psiquiatras).
“Diferente do que o senso comum da maioria das pessoas
imagina,
o suicídio não está ligado à gravidade ou
quantidade de problemas,
mas, sim, à intensidade do sofrimento
e os recursos emocionais para lidar com a dor.
Neste sentido, conseguimos entender a razão
de crianças e adolescentes estarem mais
propensos e vulneráveis a recorrerem ao suicídio.”
Embora, as crianças e adolescentes sejam
considerados mais vulneráveis, assim como os da Terceira Idade (idosos),
os casos de suicídios atingem todas as faixas de idades e, como sabemos, as
pessoas propensas a cometer suicídio, em geral, se encontram em um quadro
de estado depressivo.
Dita como doença silenciosa, o indivíduo com depressão não
é de falar abertamente, ao ponto de expor os seus problemas, nem mesmo, às
pessoas mais próximas (familiares, amigos e outros) e, por isso, mergulha cada
vez mais no seu mundo interior, oculto e solitário.
Contudo, mediante a essas dificuldades de comunicação
verbal, os especialistas advertem que os responsáveis, amigos e outros
adultos mais próximos devem ficar atentos à linguagem e sinais não
verbais (músicas, desenhos, poemas, tipo de roupa etc.), bem como a
alguns sintomas indicativos de um possível quadro
depressivo, como por exemplo, isolamento, tristeza profunda, alteração no
humor e no apetite.
Como fenômeno social mundial, o Brasil também
figura no ranking dos países com taxas de suicídios, mas a falta de
levantamentos mais recentes não me permite assegurar a sua atual posição do
país nesta relação. O que encontrei, até de publicação mais atuais, fazem
referências a números de anos anteriores (no máximo, de 2016).
Até mesmo, o ranking dos países com os maiores índices
de suicídios no mundo, apresentado no Relatório da Organização
Mundial da Saúde (OMS), em 2018, no qual o Brasil aparece
em oitavo lugar, atrás da Índia, China, EUA, Rússia, Japão e
Paquistão, os números são referentes a um levantamento realizado em 2014, assim
como outros de 2016.
Junto a esta falta destes dados mais atualizados, não devemos
desconsiderar que a tendência, na conjuntura atual, é que o número de
casos deve ter aumentado devido à pandemia do
Novo Coronavírus. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma
que bilhões de pessoas, no mundo todo, que foram afetadas direta e/ou
indiretamente pela Covid-19 sofrerão um impacto
negativo em sua saúde mental e que, isso, poderá
acarretar um aumento do número de suicídios.
Essa baixa disponibilidade e qualidade dos dados tanto de
suicídio quanto de tentativas de cometê-lo implicam na falta de dados mais
atualizados. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/Brasil) isso
se deve, sobretudo, a sensibilidade do assunto e a ilegalidade
do comportamento em alguns países. Daí ser plausível haver a
subnotificação e, também, a sua má classificação dos casos.
A OPAS destaca que a melhoria na vigilância e
no monitoramento tanto do suicídio quanto
das tentativas são fundamentais como medidas
estratégicas de prevenção. Cabendo a cada país, com suas diferenças
peculiares em termos de padrões de suicídios e características, melhorar a sua
a abrangência, qualidade e resposta precoce quanto às taxas pertinentes ao
suicídio e acrescenta:
“Isso inclui o registro vital
do suicídio,
registros hospitalares de tentativas de suicídio e
inquéritos nacionalmente representativos
que coletem informações das tentativas de suicídio auto
relatadas.”
Independente de termos acesso ou não aos números de casos
tanto de suicídios quanto de tentativas de cometê-los é preciso fazermos algo
na direção de sua abordagem preventiva. Daí a importância de
tocarmos no assunto, em especial, neste mês de setembro,
como meio de conscientização e de prevenção à
chamada “ideação suicida” (pensamentos suicidas), sobretudo, em pessoas
já com quadro depressivo.
No entanto, vale ressaltar que, embora a campanha Setembro
Amarelo esteja em curso, neste mês, o assunto por
ser sério e grave, torna-se de fundamental
importância discorrer sobre a prevenção do suicídio durante
todos os doze meses do ano, ou melhor dizendo, “Setembro Amarelo, Ano Inteiro Amarelo”.
Segundo estudo realizado pela UNICAMP, em algum
momento da vida, 17% dos brasileiros cogitaram em acabar
com à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a
planejar como o fariam. Daí a importância de não ficarmos calados e de braços
cruzados!
De acordo SAMPAIO & TELLES-CORREA (2013 apud PEREIRA,
2020), o comportamento suicida envolve três
momentos, isto é, a ideação suicida (pensamentos e desejos
suicidas), a tentativa de suicídio (considerá-lo) e o suicídio (consumação
do ato).
E, como mencionei anteriormente, a tendência da
situação é piorar em face aos efeitos da pandemia da
Covid-19, quando bilhões de pessoas, no mundo todo, foram afetadas direta
e/ou indiretamente pela doença, seja pelo confinamento em casa mediante as
medidas protetivas de isolamento social e de quarentena, seja pela perda
afetiva de um ente querido pela doença, seja pela perda de emprego, entre
outros fatores.
Não restam dúvidas que esse período, atual, acarretou e
acarretará um impacto negativo na saúde mental das
pessoas, sobretudo, em termos de quadros de ansiedade e de depressão.
Isso pode ser comprovado, estatisticamente,
através de um levantamento junto aos profissionais ligados
à área de Saúde Mental, como os psicólogos e psiquiatras.
A procura para tais serviços especializados aumentou muito,
sendo realizados, majoritariamente, on line por “vídeo
chamadas”.
“Se a pessoa já tinha tendências depressivas,
vai piorar. O medo do desconhecido desse vírus,
a perda de pessoas queridas, economia e
outros fatores precipitam um número maior
de pessoas depressivas e ansiosas”
(Psicólogo Sérgio Fonseca – Diário
do Rio Doce)
O Brasil é signatário do Plano de Ação em Saúde Mental,
lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2013, que
tem como meta a redução em 10% da taxa de suicídio até este ano (2013-2020).
Sob a esta mesma direção em termos de prevenção, o governo
brasileiro assinou o Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020, apresentado
pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com o objetivo de
acompanhar o número anual de mortes e o desenvolvimento de programas
preventivos.
Entre as ações do Ministério da Saúde,
objetivando proteger e reduzir os riscos de suicídio, está a
criação de Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece
assistência a pessoas com necessidade de tratamento em Saúde Mental,
com quadro de depressão, ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno
obsessivo-compulsivo, esquizofrenia, além daquelas com necessidades decorrentes
do uso e abuso de drogas (álcool, crack e outras).
Outra iniciativa em prol deste Plano de prevenção e redução do
suicídio foi firmar, em 2015, uma parceria com o Centro de
Valorização da Vida (CVV), que oferece serviço gratuito de apoio
emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem conversar.
Realizado sob total sigilo e anonimato, os serviços são oferecidos
por telefone, presencialmente e on line (via
Internet).
E foi por iniciativa do Centro de Valorização da
Vida (CVV) em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e
a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)No Brasil,
que a Campanha Setembro Amarelo teve início no Brasil,
em 2015, visando promover não só o diálogo sobre o suicídio
com a sociedade, como também a conscientização (quebrar o tabu sobre o assunto)
e a sua prevenção.
Brasília, capital do país e do Distrito
Federal, foi a primeira cidade a promover a campanha Setembro
Amarelo. No ano seguinte (2016), outros estados também passaram
a aderir ao movimento no sentido de reforçar a importância do
diálogo e a prevenção do suicídio.
Por isso, se você apresenta algum sintoma de depressão e/ou
pensamentos suicidas ou, ainda, se conhece alguém nesta situação, não hesite,
busque ajuda ou o oriente a procurar.
O mais importante é falar e expor os seus sentimentos e
problemas a uma pessoa amiga ou próxima a você.
Por telefone, basta ligara para o número
188 (24 horas e sem custo de ligação). Pessoalmente, o CVV
dispõe de mais de 120 postos de atendimento (para achá-los,
clique AQUI!).
Mas, como estamos em plena Pandemia da Covid-19, os serviços presenciais se
encontram suspensos. Pela Internet através do seu site - www.cvv.org.br - por chat ou por e-mail.
Ou ainda melhor, buscar ajuda a um profissional
especializado na área de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra).
Como mencionei anteriormente, devido a conjuntura atual de Pandemia, a maioria
está trabalhando em Home Office, ou seja, on line por “vídeo
chamadas”.
Escolha a melhor opção para você, mas não deixe de lado ou
ignore aquele que se encontra depressivo, triste e isolado. Ele precisa de
ajuda!
Ah, já ia me esquecendo... Não se esqueçam de fazer a
sua parte também nesta Campanha Setembro Amarelo, ou seja,
mesmo em isolamento social, em casa, exponha algo na tonalidade amarela,
seja uma lâmpada amarela acesa à noite, seja um tecido desta
cor pendurado na janela ou, quando sair na rua,
você pode variar com uma fita presa na roupa, uma das peças
da vestimenta ou até a própria máscara. O importante é que
a cor seja amarela para enfatizar o sentido
da Campanha Setembro Amarelo, que é conscientização e
a prevenção do suicídio!
Fontes de Consulta
. Campanha Setembro Amarelo - Centro de Valorização da Vida (CVV)
. Folha informativa: Suicídio, 2018 - Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS/Brasil)
. LIMA, Eduardo. Psicólogos explicam como isolamento e
pandemia podem causar depressão, 2020 – Diário
do Vale do Rio Doce
. Mortes por Suicídio/Brasil 2011-2016 – Agência Brasil,2017
. Pandemia por Covid-19 e o risco de suicídio – Portal PEBMED
. PENSO, Maria Aparecida e SENA, Denise Pereira Alves de: A
desesperança do jovem e o suicídio como solução - Revista
Sociedade e Estado – Volume 35, N° 1, Janeiro/Abril 2020
. PEREIRA, Edileide da Silva. A Ideação Suicida no Paciente
Depressivo: Uma Intervenção Preventiva na Perspectiva da Terapia
Cognitivo-Comportamental, 2020 - MultidisciplinaryScientific
Journal – Núcleo do Conhecimento
. Suicídio entre crianças e adolescentes: um drama constante - MundoPsicologo
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