terça-feira, 8 de setembro de 2020

Setembro Amarelo, Ano Inteiro Amarelo (Parte I)


Imagem capturada na Internet

A palavra suicídio (...) 
não é um ato de coragem e nem de covardia,
é um ato de desespero.

E por ser um ato de desespero, precisamos ficar atentos à situação e aos possíveis sinais comportamentais, pois a pessoa necessita de ajuda, de apoio da família, dos amigos e, dependendo de sua gravidade, precisará do auxílio de um profissional especializado, um psicólogo ou psiquiatra. O ideal seria que ele tomasse a iniciativa e falasse, conseguindo expor os seus sentimentos e os problemas que o atormentam...

Ao mesmo tempo, tocar no assunto ou estimular as discussões acerca do mesmo é algo muito complicado, pois além deste ainda ser considerado um grande tabu em muitos países, inclusive, no nosso, a sua explanação pode surtir efeito contrário e acabar incitando a sua prática. O que está longe das minhas intenções!

Não vou negar que, por conta disso, eu demorei muito para decidir acerca da publicação deste artigo... Além disso, tive muitas dificuldades em encontrar levantamentos mais atualizados, o que me fez descobrir que isso faz parte da abrangência restrita que envolve o seu universo.

Na próxima 5ª feira, dia 10 de setembro, comemora-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, o qual foi constatado, em 2019, como a segunda causa de morte no mundo, entre os adolescentes e jovens (15 a 29 anos), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só perdendo para as mortes por acidente de trânsito.

Considerado um problema de saúde pública e um fenômeno social mundial, a prática do suicídio – embora, com certa variação - ocorre em todas as faixas de idades e classes sociais, podendo ser motivadas por diferentes razões (depressão, dificuldades financeiras, solidão, Bullying, drogas, perdas afetivas, histórico familiar de suicídio, entre outros). 

De acordo com o Boletim Epidemiológico sobre Suicídio, publicado em 2017, pelo Ministério da Saúde, no período compreendido entre 2011 e 2016, em nosso país, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas, sendo a maior parte do sexo masculino (79%), enquanto as mulheres perfizeram os 21% do geral.

Nas tentativas de cometer o suicídio, sem haver a sua consumação, as mulheres são a maioria. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida, no período levantado (2011 a 2016), 69% eram mulheres e 31% homens. A proporção de tentativas de caráter recorrente, mais de uma vez, também foi maior entre o sexo feminino

Neste universo, os idosos, na faixa de 70 anos a mais, foram os que apresentaram as maiores taxas, contabilizando 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes. 

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Fonte: Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio 

De acordo com a Sra Fátima Marinho, Diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde, as taxas entre os idosos vêm aumentando, pois é o grupo que mais sofre com doenças crônicas, com a depressão e, também, com o abandono familiar. Segundo a mesma, esse quadro entre os idosos vem sendo observado no mundo todo.

Outro aspecto a ser apontado, em relação aos dados do referido Boletim, é a questão do aumento dos registros de casos entre os povos indígenas.

Eu já tinha certa noção destas ocorrências, pois fui responsável por uma turma do Ensino Médio que apresentou o tema “Os Desafios dos Índios Brasileiros na Contemporaneidade”, no âmbito do Projeto Étnico-Cultural do Colégio Estadual Profa Sonia Regina Scudese, no ano passado (2019).  

E um dos Grupos da mesma turma, junto a outras questões pertinentes aos desafios enfrentados por estas populações, explanou acerca dos casos de suicídios entre os índios brasileiros.

Em comparação a média nacional que foi de 5,7 óbitos para 100 mil habitantes, os casos de mortes provocadas (suicídios) nas aldeias indígenas foram quase três vezes maiores, isto é, registrou-se 15,2 óbitos para 100 mil habitantes




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Fonte: Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio 

Destes registros, a proporção de óbitos de crianças e adolescentes indígenas (10 a 19 anos) foi na ordem de 44,8%, o que equivale aproximadamente 6,8 óbitos.

Isso, na verdade, é muito grave e preocupante, pois – conforme afirma a Sra Fátima Marinho, “o alto risco de suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que elas também há um alto risco de mortalidade infantil”.

Além dessa realidade dos grupos indígenas, o número crescente de suicídios infantis nas áreas urbanas vem preocupando as autoridades e, principalmente, os especialistas. Embora, estas ocorrências sejam mais raras, elas estão acontecendo e, por isso, aumentam as preocupações quanto a não percepção prévia do problema e a imediata intervenção de um adulto na prevenção, seja por meio de diálogos abertos e/ou por meio de tratamento com um profissional capacitado (psicólogos ou psiquiatras).  

Diferente do que o senso comum da maioria das pessoas imagina,
o suicídio não está ligado à gravidade ou quantidade de problemas,
mas, sim, à intensidade do sofrimento
e os recursos emocionais para lidar com a dor.
Neste sentido, conseguimos entender a razão
de crianças e adolescentes estarem mais
propensos e vulneráveis a recorrerem ao suicídio.”

Embora, as crianças e adolescentes sejam considerados mais vulneráveis, assim como os da Terceira Idade (idosos), os casos de suicídios atingem todas as faixas de idades e, como sabemos, as pessoas propensas a cometer suicídio, em geral, se encontram em um quadro de estado depressivo.  

Dita como doença silenciosa, o indivíduo com depressão não é de falar abertamente, ao ponto de expor os seus problemas, nem mesmo, às pessoas mais próximas (familiares, amigos e outros) e, por isso, mergulha cada vez mais no seu mundo interior, oculto e solitário.

Contudo, mediante a essas dificuldades de comunicação verbal, os especialistas advertem que os responsáveis, amigos e outros adultos mais próximos devem ficar atentos à linguagem e sinais não verbais (músicas, desenhos, poemas, tipo de roupa etc.), bem como a alguns sintomas indicativos de um possível quadro depressivo, como por exemplo, isolamento, tristeza profunda, alteração no humor e no apetite.

Como fenômeno social mundial, o Brasil também figura no ranking dos países com taxas de suicídios, mas a falta de levantamentos mais recentes não me permite assegurar a sua atual posição do país nesta relação. O que encontrei, até de publicação mais atuais, fazem referências a números de anos anteriores (no máximo, de 2016).

Até mesmo, o ranking dos países com os maiores índices de suicídios no mundo, apresentado no Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2018, no qual o Brasil aparece em oitavo lugar, atrás da Índia, China, EUA, Rússia, Japão e Paquistão, os números são referentes a um levantamento realizado em 2014, assim como outros de 2016.

Junto a esta falta destes dados mais atualizados, não devemos desconsiderar que a tendência, na conjuntura atual, é que o número de casos deve ter aumentado devido à pandemia do Novo Coronavírus. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que bilhões de pessoas, no mundo todo, que foram afetadas direta e/ou indiretamente pela Covid-19 sofrerão um impacto negativo em sua saúde mental e que, isso, poderá acarretar um aumento do número de suicídios.

Essa baixa disponibilidade e qualidade dos dados tanto de suicídio quanto de tentativas de cometê-lo implicam na falta de dados mais atualizados. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/Brasil) isso se deve, sobretudo, a sensibilidade do assunto e a ilegalidade do comportamento em alguns países. Daí ser plausível haver a subnotificação e, também, a sua má classificação dos casos.

A OPAS destaca que a melhoria na vigilância e no monitoramento tanto do suicídio quanto das tentativas são fundamentais como medidas estratégicas de prevenção. Cabendo a cada país, com suas diferenças peculiares em termos de padrões de suicídios e características, melhorar a sua a abrangência, qualidade e resposta precoce quanto às taxas pertinentes ao suicídio e acrescenta:
                                                                                                   “Isso inclui o registro vital do suicídio,
registros hospitalares de tentativas de suicídio e
inquéritos nacionalmente representativos
que coletem informações das tentativas de suicídio auto relatadas.”
  
Independente de termos acesso ou não aos números de casos tanto de suicídios quanto de tentativas de cometê-los é preciso fazermos algo na direção de sua abordagem preventiva. Daí a importância de tocarmos no assunto, em especial, neste mês de setembro, como meio de conscientização e de prevenção à chamada “ideação suicida” (pensamentos suicidas), sobretudo, em pessoas já com quadro depressivo.

No entanto, vale ressaltar que, embora a campanha Setembro Amarelo esteja em curso, neste mês, o assunto por ser sério e grave, torna-se de fundamental importância discorrer sobre a prevenção do suicídio durante todos os doze meses do ano, ou melhor dizendo, “Setembro Amarelo, Ano Inteiro Amarelo”.

Segundo estudo realizado pela UNICAMP, em algum momento da vida, 17% dos brasileiros cogitaram em acabar com à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a planejar como o fariam. Daí a importância de não ficarmos calados e de braços cruzados!

De acordo SAMPAIO & TELLES-CORREA (2013 apud PEREIRA, 2020), o comportamento suicida envolve três momentos, isto é, a ideação suicida (pensamentos e desejos suicidas), a tentativa de suicídio (considerá-lo) e suicídio (consumação do ato).

E, como mencionei anteriormente, a tendência da situação é piorar em face aos efeitos da pandemia da Covid-19, quando bilhões de pessoas, no mundo todo, foram afetadas direta e/ou indiretamente pela doença, seja pelo confinamento em casa mediante as medidas protetivas de isolamento social e de quarentena, seja pela perda afetiva de um ente querido pela doença, seja pela perda de emprego, entre outros fatores.

Não restam dúvidas que esse período, atual, acarretou e acarretará um impacto negativo na saúde mental das pessoas, sobretudo, em termos de quadros de ansiedade e de depressão.

Isso pode ser comprovado, estatisticamente, através de um levantamento junto aos profissionais ligados à área de Saúde Mental, como os psicólogos e psiquiatras. A procura para tais serviços especializados aumentou muito, sendo realizados, majoritariamente, on line por “vídeo chamadas”.

“Se a pessoa já tinha tendências depressivas,
vai piorar. O medo do desconhecido desse vírus,
a perda de pessoas queridas, economia e
outros fatores precipitam um número maior
de pessoas depressivas e ansiosas”
(Psicólogo Sérgio Fonseca – Diário do Rio Doce)

O Brasil é signatário do Plano de Ação em Saúde Mental, lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2013, que tem como meta a redução em 10% da taxa de suicídio até este ano (2013-2020).

Sob a esta mesma direção em termos de prevenção, o governo brasileiro assinou o Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020, apresentado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com o objetivo de acompanhar o número anual de mortes e o desenvolvimento de programas preventivos.

Entre as ações do Ministério da Saúde, objetivando proteger e reduzir os riscos de suicídio, está a criação de Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece assistência a pessoas com necessidade de tratamento em Saúde Mental, com quadro de depressão, ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, esquizofrenia, além daquelas com necessidades decorrentes do uso e abuso de drogas (álcool, crack e outras).

Outra iniciativa em prol deste Plano de prevenção e redução do suicídio foi firmar, em 2015, uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece serviço gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem conversar. Realizado sob total sigilo e anonimato, os serviços são oferecidos por telefonepresencialmente e on line (via Internet).

E foi por iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)No Brasil, que a Campanha Setembro Amarelo teve início no Brasil, em 2015, visando promover não só o diálogo sobre o suicídio com a sociedade, como também a conscientização (quebrar o tabu sobre o assunto) e a sua prevenção.

Brasília, capital do país e do Distrito Federal, foi a primeira cidade a promover a campanha Setembro Amarelo. No ano seguinte (2016), outros estados também passaram a aderir ao movimento no sentido de reforçar a importância do diálogo e a prevenção do suicídio.

Por isso, se você apresenta algum sintoma de depressão e/ou pensamentos suicidas ou, ainda, se conhece alguém nesta situação, não hesite, busque ajuda ou o oriente a procurar.

O mais importante é falar e expor os seus sentimentos e problemas a uma pessoa amiga ou próxima a você.

Por telefone, basta ligara para o número 188 (24 horas e sem custo de ligação). Pessoalmente, o CVV dispõe de mais de 120 postos de atendimento (para achá-los, clique AQUI!). Mas, como estamos em plena Pandemia da Covid-19, os serviços presenciais se encontram suspensos. Pela Internet através do seu site - www.cvv.org.br - por chat ou por e-mail.

Ou ainda melhor, buscar ajuda a um profissional especializado na área de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra). Como mencionei anteriormente, devido a conjuntura atual de Pandemia, a maioria está trabalhando em Home Office, ou seja, on line por “vídeo chamadas”.

Escolha a melhor opção para você, mas não deixe de lado ou ignore aquele que se encontra depressivo, triste e isolado. Ele precisa de ajuda!

Ah, já ia me esquecendo... Não se esqueçam de fazer a sua parte também nesta Campanha Setembro Amarelo, ou seja, mesmo em isolamento social, em casa, exponha algo na tonalidade amarela, seja uma lâmpada amarela acesa à noite, seja um tecido desta cor pendurado na janela ou, quando sair na rua, você pode variar com uma fita presa na roupauma das peças da vestimenta ou até a própria máscara. O importante é que a cor seja amarela para enfatizar o sentido da Campanha Setembro Amarelo, que é conscientização e a prevenção do suicídio!  

Fontes de Consulta

. Campanha Setembro Amarelo - Centro de Valorização da Vida (CVV)

. Folha informativa: Suicídio, 2018 - Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/Brasil)

. LIMA, Eduardo. Psicólogos explicam como isolamento e pandemia podem causar depressão, 2020 – Diário do Vale do Rio Doce

Mortes por Suicídio/Brasil 2011-2016 – Agência Brasil,2017

. Pandemia por Covid-19 e o risco de suicídio – Portal PEBMED

. PENSO, Maria Aparecida e SENA, Denise Pereira Alves de: A desesperança do jovem e o suicídio como solução - Revista Sociedade e Estado – Volume 35, N° 1, Janeiro/Abril 2020

. PEREIRA, Edileide da Silva. A Ideação Suicida no Paciente Depressivo: Uma Intervenção Preventiva na Perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental, 2020 - MultidisciplinaryScientific Journal – Núcleo do Conhecimento

. Suicídio entre crianças e adolescentes: um drama constante - MundoPsicologo

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