Tereza de Benguela
Imagem capturada na Internet
Fonte: Herdeiras de Aqualtune
Hoje é comemorado o Dia Nacional da Mulher Negra
(Lei nº 12.987 – 02/06/2014) em homenagem à ex-escrava Tereza de Benguela. Daí a data também ser
referenciada como o Dia Nacional de Tereza de Benguela em reconhecimento a sua
importância junto à comunidade de escravos e índios fugidos que viviam no
Quilombo do Piolho ou do Quariterê, localizado entre o rio Guaporé e a atual
cidade de Cuiabá.
A homenagem a esta personalidade feminina também se estende às mulheres negras, nos dias atuais, no contexto de
suas lutas quanto à valorização das raízes africanas, contra o preconceito
racial, às desigualdades de oportunidades e de gênero e outras mazelas sociais que permeiam as relações
humanas discriminatórias em nossa sociedade.
Não restam dúvidas quanto à importância de Tereza
de Benguela ou, como também era chamada, a “Rainha Tereza”. Considerada um
ícone da resistência negra no período colonial, Tereza de Benguela, que havia
sido escrava do capitão Timóteo Pereira Gomes, tornou-se um símbolo de força e
luta pela liberdade, sobretudo, após a morte de seu esposo, José Piolho, que
até então comandava o referido Quilombo, região fronteiriça entre Mato Grosso e
Bolívia, marcada – na época - pela decadência das minas de ouro.
Com a morte de seu companheiro, esta passou a
comandar o Quilombo, que foi considerado a maior comunidade de resistência da
capitania do Mato Grosso, no século XVIII.
Seu diferencial e sucesso, como líder do Quilombo,
couberam às suas formas de organizar e gerenciar, com firmeza e rigor, o
cotidiano de sua comunidade interna e de defesa aos possíveis embates externos,
sob o comando da Coroa Portuguesa.
Graças a implantação de uma estrutura política,
econômica e administrativa capaz de dinamizar e assegurar certo grau de
segurança, o Quilombo do Quariterê era governado – desde a época de seu marido
(José Piolho) - por um sistema análogo a um Parlamento, com um Conselho
de representantes para a tomada de decisões. Daí a expressão usada em
referência à esta como a “Rainha Tereza de Benguela” (seu marido, quando vivo,
era chamado de Rei). Após a morte de seu esposo, o Conselho passou a ser
presidido por ela.
Economicamente, as necessidades básicas da
comunidade eram supridas, pois eles desenvolviam e produziam quase tudo em
termos de alimentação e vestuário. Eles praticavam a caça, a pesca (proximidade
de rios, como o Guaporé e seus afluentes), criação de galinhas e a policultura,
cujos excedentes eram comercializados. Entre os cultivos haviam o do milho,
feijão, favas, mandioca, batatas, bananas, abóboras, fumo, algodão e
outros.
O cultivo de maior destaque era o de algodão,
utilizado para a produção de tecidos e roupas para os próprios habitantes e,
também, para a comercialização. Eles possuíam teares.
“(...) este era o principal produto de venda
e troca,
o tecido era tão bom
o tecido era tão bom
que havia mercados ambulantes
que iam até o quilombo para adquirir.”
que iam até o quilombo para adquirir.”
(Trecho do texto do Módulo 4).
Seu sistema de defesa contava com armas de fogo obtidas na
troca com os produtos excedentes do Quilombo com os brancos ou resgatadas das
vilas próximas, assim como o uso alternativo dos objetos de ferro, usados
contra os mesmos enquanto escravos, em instrumentos de trabalho, já que
dominavam o uso da forja. Além desses, era comum o uso também de arcos
e fechas.
Ainda, no âmbito de política de segurança, no
Quilombo do Quariterê não era admitida a deserção de qualquer membro da
comunidade, a qual era punida rigorosamente com a pena de morte.
Toda essa estrutura foi capaz de oferecer
condições favoráveis a subsidiar a resistência do grupo ao sistema escravocrata
vigente e a vida do grupo em uma comunidade fechada (o Quilombo) por muitas
décadas, de 1730 a 1770.
A formação de quilombos sempre representou um
sério problema tanto para a Coroa Portuguesa quanto para os proprietários de
escravos fugidos. Além desse aspecto geral, de forma mais específica, a
localização geográfica do Quilombo do Quariterê incomodava e preocupava as autoridades
portuguesas, tendo em vista a disputa entre a Espanha e Portugal pelo
território de Mato Grosso.
Os limites fronteiriços impunham duas situações
distintas, o lado castelhano (espanhol) era alvo de conquista à liberdade,
enquanto no lado de domínio português, a opção era manter-se rebelados e
refugiados em quilombos.
De acordo com FARIAS JR. (2011:88) vários são os
registros históricos de fugas de escravos para os domínios espanhóis:
“São inúmeros os esforços dos
administradores coloniais para que
os representantes da Coroa de Castela
restituíssem os escravos
que se encontravam em território espanhol.
(...)
A fuga para os domínios castelhanos
dificultava a recaptura
e impedia a realização de expedições
punitivas.
Dessa forma, em 20 de dezembro de 1777,
oficiais da Câmara de Vila Bela escreveram à
rainha dona Maria
para que ela intercedesse junto aos
castelhanos a recaptura dos escravos fugidos,
quando estes estivessem em seus domínios,
no qual poderiam ser presos e remetidos,
ou então, os proprietários tivessem liberdade
e passaporte
para persegui-los seja em domínio luso ou
castelhano. ”
A preocupação maior da Coroa Portuguesa era que,
mediante o crescimento do quilombo, Tereza de Benguela passasse a comandar um
mercado binacional na faixa fronteiriça do Mato Grosso com a
Bolívia.
Depois de décadas resistindo, sob um sistema
rígido e fortificado, o Quilombo do Quariterê foi atacado e destruído. Sob as
ordens do governador da capitania de Mato Grosso, Luís Pinto de Sousa Coutinho,
no dia 27 de junho de 1770, uma Companhia - especificamente montada com esta
finalidade – atacou e destruiu o Quilombo, tendo parte de sua população morta
ou aprisionada, enquanto outra conseguiu fugir a tempo.
Quanto à morte de Tereza de Benguela há controvérsias acerca de como esta ocorreu. Alguns relatam que ela foi executada, outros mencionam que
a mesma foi presa e cometeu suicídio ou, ainda, que a causa de sua morte foi
por doença.
Segundo fontes de pesquisa, após a sua morte, sua
cabeça foi cortada e suspensa no alto de um poste, no meio da praça do Quilombo
do Quariterê, a fim de servir de exemplo e ficar para memória de todos.
Embora, o fim de Tereza tenha sido nessas
circunstâncias, indiscutivelmente, o seu exemplo assinala a coragem, a
determinação e o poder de persuasão em um período tão
conflitante e desumano como foi o sistema colonial e escravocrata em nosso
país.
Mulher, negra, viúva, escrava fugida, líder e
rainha de um Quilombo, Tereza de Benguela tornou-se símbolo de força e luta
pela liberdade dos escravos.
Fontes de
Pesquisa
. FARIAS JR, Emmanuel de Almeida. Negros do
Guaporé: O Sistema Escravista e as Territorialidades Específicas. Revista do
Centro de Estudos Rurais (RURIS), Volume 5 , Número 2, UNICAMP, São Paulo,
Setembro de 2011.
Disponível em Pdf em:
. Textos do Curso de História – História das Mulheres (modalidade de EAD)
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