segunda-feira, 24 de julho de 2017

Atafona e a sua agonizante vida atrelada aos avanços das águas do mar


Praia de Atafona
Imagem do meu acervo particular
(Foto tirada em 16/07/2017) 
 



Atafona e sua dinâmica costeira de grandes efeitos destrutivos...  
É a praia do litoral brasileiro que mais sofre as consequências da invasão das águas do mar.
 
Pertencente ao município de São João da Barra, na Região Norte Fluminense (RJ), o Distrito de Atafona consiste no trecho do litoral brasileiro que mais sofre invasão das águas do mar e as consequências destrutivas destas. Sem falar, também, do avanço de dunas nas áreas urbanas tanto de Atafona quanto de Grussaí, Distrito vizinho que faz parte do mesmo município.
 
 Localização do município de São João da Barra
Fonte: Wikipédia
 
 Mapa com a localização dos
Distritos de Grussaí e de Atafona
 
 

 
Praia de Grussaí
Na foto acima observa-se, ao fundo, o Porto do Açu
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 
No dia 16 deste mês (domingo), eu fui com a minha família conhecer as praias de Grussaí e de Atafona. Na verdade, há muito tempo eu desejava conhecer especificamente Atafona, não meramente como um passeio turístico, mas – sobretudo – para observar “in loco” os efeitos “destrutivos” de sua dinâmica costeira, conhecidos tanto por publicações científicas quanto por matérias jornalísticas.
 
A reportagem mais recente data do início deste mês, quando mais uma vez, a água do mar invadiu a praia, mais precisamente, o Pontal de Atafona (junto à foz do rio Paraíba do Sul), inundando a área, levando o deque que existia no local, destruindo o muro de sacos de areia que foi montado para tentar amenizar os efeitos erosivos das águas do mar, comprometendo as estruturas e os acessos a vários estabelecimentos comerciais, ali existentes.  
 


 
 

 
  Pontal de Atafona - destruição parcial após a
invasão da água do mar no dia 02/07/2017
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 

Esse problema a nível de processos costeiros não é exclusivo do Distrito de Atafona, no Rio de Janeiro, pois ao longo do litoral brasileiro, tem-se outros casos similares, em decorrência de episódios de maré alta e ressacas do mar, como já aconteceu em Saquarema (RJ), em Florianópolis, (SC), entre outras cidades litorâneas brasileiras. O problema é que os agentes atuantes na dinâmica costeira no trecho Grussaí-Atafona são vários, integrados, o que lhe imprime uma complexidade maior.
 
Segundo especialistas nas áreas de Geologia, Geomorfologia e Meio ambiente, a dinâmica costeira na área é bastante complexa, pois envolve o sistema fluvial (Rio Paraíba do Sul) e o sistema marinho (oceano Atlântico), a partir da energia preponderante das águas do mar (regime das ondas e das marés) em face a vazão reduzida do rio.
 
 

  Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 
 
 
  Foz do Rio Paraíba do Sul
e o encontro da água do mar
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 

Associado à dinâmica costeira há, ainda, a intensidade e a ação frequente do vento Nordeste, que vem do mar em direção ao continente, no sentido NE-SO. Este é responsável pelo deslocamento das dunas para as áreas urbanas, cobrindo as vias pavimentadas e parte das edificações.
 
Só para se ter uma ideia, ABREU (2011) cita que durante o período de 1954 a 2008, o mar avançou três metros por ano, enquanto que no período de 2008 a 2009, o avanço foi de 7,5 metros.
 
E, quanto ao deslocamento das dunas, desde 1945, elas avançaram sobre mais de 20 quarteirões de ruas, destruindo mais 400 diferentes edificações, entre casas, prédios públicos, hotéis, igreja e posto de gasolina.
 
Perda total: material, econômica e, até, imaterial (ligada aos aspectos culturais locais).
 
No entanto, os efeitos mais destrutivos, envolvendo a interação das forças das águas (fluvial e marinha) e também dos ventos incidem na praia de Atafona, intensificados devido à localização da foz do Rio Paraíba do Sul.
 
A foz do Paraíba do Sul é do tipo deltaico, isto é, ele tem a forma de um delta em cúspide (pontiagudo, com bordas ligeiramente côncavas em direção ao mar), caracterizado como sendo destrutivo devido ao embate das águas do mar.
 
A sua vazão hídrica é reduzida em decorrência das ações antrópicas (do homem) ao longo do seu curso, tornando-o mais vulnerável em sua foz, no Distrito de Atafona, em relação à energia das águas do mar. E, entre essas intervenções do homem se destacam: o processo de assoreamento do seu leito, o desmatamento da mata ciliar (em suas margens) em muitos trechos deste e, sobretudo, da construção de barragens para geração de energia elétrica (represas de Ilha dos Pombos e Furnas) e para a transposição de suas águas.
 
Quanto a esse último aspecto, destaca-se a construção da barragem de Santa Cecília que desvia as águas do rio Paraíba do Sul para o rio Gandu, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro. De acordo com ABREU (2011), os processos erosivos em Atafona começaram a aparecer após a construção da referida barragem, em 1953. 
 
Processos Erosivos versus Processos de Progradação
Como se pode avaliar, quem sofre as consequências direta dos processos costeiros são os próprios moradores das praias de Atafona e de Grussaí. No entanto, há diferenças quanto a dinâmica dos mesmos entre ambas as praias, as quais são bastante perceptíveis.
 
Como mencionei anteriormente, os efeitos mais destrutivos - processos erosivos ou de degradação - incidem na praia de Atafona, envolvendo a interação e o desequilíbrio das forças das águas fluvial e marinha devido à localização da foz do Rio Paraíba do Sul. Verifica-se a subtração de área da praia.
 
Para alguns moradores, a culpa de tanta destruição
é de quem construiu a capela de Nossa Senhora dos Navegantes
de costas para o mar.
A capela também foi engolida
e reconstruída na década de 1990.
Desta vez de frente para o mar,
mas nem a padroeira resolveu.
(ABREU, 2011)
 
Em Atafona, a frequência e intensidade do vento Nordeste também é grande, provocando o transporte de areia.
 
 Praia de Atafona
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 

 





  Restos de construção já destruída e engolida pelo mar
 

 
 
 
Intensidade e direção dos ventos

 
 
 
Na praia de Grussaí, por sua vez, o processo verificado é de progradação, quando se verifica uma taxa de sedimentação maior, apresentando a faixa de areia da praia bem mais larga.
 
 
 


Praia de Grussaí
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 
Em ambas as praias (Atafona e Grussaí) é bastante visível que a ocupação humana tanto em termos residenciais (muitas configuradas como “segunda residência”, casa de veraneio) quanto comerciais continuam sofrendo fortes impactos, negativos, em razão desses processos costeiros, gerando sérios problemas sociais e econômicos que tendem a se agravar de forma igual ou pior dos antigos quarteirões que foram engolidos pelo mar ou que jazem sob as dunas.
 
 
  

  Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 
 Para amenizar os efeitos do vento Nordeste em relação à mobilização das dunas e conter o avanço das mesmas nas áreas urbanizadas, ao longo trecho das praias de Grussaí e de Atafona, foram plantadas espécies de vegetação (arbórea e arbustiva) da família Casuarinaceae, de origem australiana, as “casuarinas”, que são parecidas com os pinheiros. Sua maior abundância ocorre no trecho de Grussaí, o que a faz ser conhecida, popularmente, como a "praia das casuarinas".
 
Sua distribuição disposta paralelamente à via principal e na faixa de areia da praia expressa, em muitos pontos das praias, não só a frequência, como a direção e a intensidade dos ventos a partir da inclinação de suas copas.
 
 




Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017) 
 
Atafona agoniza...
A relação da dinâmica na foz do rio Paraíba do Sul diretamente associada aos processos erosivos e o avanço das águas do mar em Atafona tende a se agravar nos próximos anos com o acréscimo de outros fatores – de derivações antrópicas - como o projeto do Governo de São Paulo para a transposição das águas do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, a fim de solucionar o problema hídrico do estado.
 
“Este ano será inaugurada uma obra que promete
acabar com o risco de falta d’água em São Paulo,
mas ninguém sabe o que acontecerá com Atafona.
A interligação do Paraíba do Sul com o Sistema Cantareira
poderá captar 5.130 litros por segundo de água.
Com vazão ainda menor,
é imprevisível o impacto no Paraíba do Sul
e na costa de Atafona.”
 
Não resta dúvida que a situação é muito preocupante, o que pode significar que as diferentes instâncias de Governo (Federal, Estadual e Municipal) não levam em consideração as pesquisas científicas realizadas pelas universidade brasileiras, embora saibamos que para aprovação de projetos desta natureza, em qualquer região do país, são exigidos um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e um Relatório de Impacto de Meio Ambiente (RIMA) ou um Relatório de Controle Ambiental (RCA) e um Plano de Controle Ambiental (PCA).
 
Pesquisadores tanto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) quanto da Universidade Federal Fluminense (UFF) vêm estudando e monitorando a dinâmica costeira em ambas as praias do município de São João da Barra (Grussaí e Atafona) desde 2004.
 
Embora, eu já tivesse noção do que iria encontrar em Atafona, estar ali, inserida naquele cenário em ruínas, com destroços de sonhos destruídos totalmente e/ou parcialmente,  resultantes tanto da força das águas do mar quanto dos avanços das dunas me surpreendeu muito. 
 
É triste presenciar todo esse cenário de destruição, a princípio, sem controle efetivo por parte da ciência e da tecnologia e ter consciência que a população local, os pescadores e comerciantes são os reféns e vítimas das relações estabelecidas, ao longo do tempo, entre o homem, o rio e o mar, as quais nunca perpassaram em termos de conservação e preocupação futura.
 
O desequilíbrio ambiental foi criado pelo homem e o embate de forças sempre vai sobrepor a energia vigorante do mar sobre o frágil rio, em seu deságue, onde ambos se enfrentam.
 
Praia de Atafona
Imagens do meu acervo particular
 
 
 
 Fontes de Pesquisa
 
. ABREU, Fellipe. O Fim do Mundo em Atafona. Clima indd. UERJ, 2011
Endereço:
 
. Ambiente Deltaico. Endereço:
. BASTOS, Alex Cardoso & SILVA, Cleverson Guizan. Caracterização morfodinâmica do litoral Norte Fluminense, RJ, Brasil. Revista Brasileira de Oceanografia, 48(1):41-60, 2000. Disponível em Pdf: www.scielo.br/pdf/rboce/v48n1/04.pdf
 . Delta. Biomania - Portal Biológico da Internet
. Jornal O Globo (impresso) – 02/07/2017, Pag. 22
 
. O GLOBO (on line)
Endereço:
 
RIBEIRO, Gilberto Pessanha. Avaliação da Dinâmica do Campo de Dunas em Atafona, São João da Barra (RJ), como Requisito para Interpretação do Processo de Erosão Costeira. Monografia - Museu Nacional/Departamento de Geologia e Paleontologia - UFRJ, 2007.
 
. RIBEIRO et all. Processos Costeiros: Erosão em Atafona e Progradação em Grussaí, São João da Barra (RJ) – Morfometria para Retratação Espacial desses Eventos e Identificação de sua Tendência Evolutiva. IV Simpósio Nacional de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology. UFG - Goiânia, GO, 2006.

 

3 comentários:

  1. Gostei
    Ana Carolina Amorim Geraldo Turma 1701

    ResponderExcluir
  2. Muito triste ver o resultado do que o homem faz contra si e sua geração. E agora? Fazer o quê? Cobrar de quem? Há que se pensar muito sobre como solucionar este problema...

    ResponderExcluir
  3. Bom dia!
    Durante essa semana conhecemos Grussaí ( Sesc Mineiro ) e Atafona, curtindo as férias junto minha família.

    Ontem em 14/02/19 conhecemos Atafona, ficamos impressionados pela força do mar, causando total destruição como visto nas imagens.

    Pudemos ver nos rosto das pessoas ( moradores ) , um tristeza tão grande em ver suas casas sendo destruída pelo mar, além da grande inserteza o que ainda pode vim acontecer, a cidade pede socorro...


    Alexandre Barros

    ResponderExcluir