Praia de Atafona
Imagem do meu acervo particular
(Foto tirada em 16/07/2017)
Atafona e sua
dinâmica costeira de grandes efeitos destrutivos...
É a praia do litoral brasileiro que mais sofre as consequências
da invasão das águas do mar.
Pertencente ao município de São João da Barra, na Região
Norte Fluminense (RJ), o Distrito de Atafona consiste no trecho do litoral
brasileiro que mais sofre invasão das águas do mar e as consequências
destrutivas destas. Sem falar, também, do avanço de dunas nas áreas urbanas
tanto de Atafona quanto de Grussaí, Distrito vizinho que faz parte do mesmo município.
Localização do município de São João da Barra
Fonte: Wikipédia
Mapa com a localização dos
Distritos de Grussaí e de Atafona
Fonte: Blog do Roberto Moares
Praia de Grussaí
Na foto acima observa-se, ao fundo, o Porto do Açu
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
No dia 16 deste mês (domingo), eu fui com a minha
família conhecer as praias de Grussaí e de Atafona. Na verdade, há muito tempo
eu desejava conhecer especificamente Atafona, não meramente como um passeio
turístico, mas – sobretudo – para observar “in
loco” os efeitos “destrutivos” de sua dinâmica costeira, conhecidos tanto
por publicações científicas quanto por matérias jornalísticas.
A reportagem mais recente data do início deste
mês, quando mais uma vez, a água do mar invadiu a praia, mais precisamente, o
Pontal de Atafona (junto à foz do rio Paraíba do Sul), inundando a área,
levando o deque que existia no local, destruindo o muro de sacos de areia que
foi montado para tentar amenizar os efeitos erosivos das águas do mar,
comprometendo as estruturas e os acessos a vários estabelecimentos comerciais,
ali existentes.
Pontal de Atafona - destruição parcial após a
invasão da água do mar no dia 02/07/2017
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Esse problema a nível de processos costeiros não é
exclusivo do Distrito de Atafona, no Rio de Janeiro, pois ao longo do litoral
brasileiro, tem-se outros casos similares, em decorrência de episódios de maré
alta e ressacas do mar, como já aconteceu em Saquarema (RJ), em Florianópolis, (SC),
entre outras cidades litorâneas brasileiras. O problema é que os agentes
atuantes na dinâmica costeira no trecho Grussaí-Atafona são vários, integrados,
o que lhe imprime uma complexidade maior.
Segundo especialistas nas áreas de Geologia,
Geomorfologia e Meio ambiente, a dinâmica costeira na área é bastante complexa,
pois envolve o sistema fluvial (Rio Paraíba do Sul) e o sistema marinho (oceano
Atlântico), a partir da energia preponderante das águas do mar (regime das
ondas e das marés) em face a vazão reduzida do rio.
Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Foz do Rio Paraíba do Sul
e o encontro da água do mar
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Associado à dinâmica costeira há, ainda, a
intensidade e a ação frequente do vento Nordeste, que vem do mar em direção ao
continente, no sentido NE-SO. Este é responsável pelo deslocamento das dunas para as áreas urbanas, cobrindo as vias pavimentadas e
parte das edificações.
Só para se ter uma ideia, ABREU (2011) cita que durante
o período de 1954 a 2008, o mar avançou três metros por ano, enquanto que no período
de 2008 a 2009, o avanço foi de 7,5 metros.
E, quanto ao deslocamento das
dunas, desde 1945, elas avançaram sobre mais de 20 quarteirões de ruas,
destruindo mais 400 diferentes edificações, entre casas, prédios públicos,
hotéis, igreja e posto de gasolina.
Perda total: material, econômica e, até,
imaterial (ligada aos aspectos culturais locais).
No entanto, os efeitos mais destrutivos,
envolvendo a interação das forças das águas (fluvial e marinha) e também dos ventos incidem
na praia de Atafona, intensificados devido à localização da foz do Rio Paraíba do Sul.
A foz do Paraíba do Sul é do tipo deltaico, isto
é, ele tem a forma de um delta em cúspide (pontiagudo, com bordas ligeiramente
côncavas em direção ao mar), caracterizado como sendo destrutivo devido ao
embate das águas do mar.
A sua vazão hídrica é reduzida em decorrência das ações antrópicas (do homem) ao longo do seu curso, tornando-o mais
vulnerável em sua foz, no Distrito de Atafona, em relação à energia das águas do
mar. E, entre essas intervenções do homem se destacam: o processo de assoreamento do seu leito, o desmatamento da
mata ciliar (em suas margens) em muitos trechos deste e, sobretudo, da construção
de barragens para geração de energia elétrica (represas de Ilha dos Pombos e
Furnas) e para a transposição de suas águas.
Quanto a esse último aspecto, destaca-se a construção
da barragem de Santa Cecília que desvia as águas do rio Paraíba do Sul para o rio
Gandu, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro. De acordo com
ABREU (2011), os processos erosivos em Atafona começaram a aparecer após a
construção da referida barragem, em 1953.
Processos
Erosivos versus Processos de Progradação
Como se pode avaliar, quem sofre as consequências
direta dos processos costeiros são os próprios moradores das praias de Atafona
e de Grussaí. No entanto, há diferenças quanto a dinâmica dos mesmos entre ambas
as praias, as quais são bastante perceptíveis.
Como mencionei anteriormente, os efeitos mais
destrutivos - processos erosivos ou de degradação - incidem na praia de Atafona, envolvendo a interação e o desequilíbrio das forças das
águas fluvial e marinha devido à localização da foz do Rio Paraíba do Sul.
Verifica-se
a subtração de área da praia.
“Para alguns moradores, a culpa de tanta destruição
é de quem construiu a capela de Nossa Senhora dos Navegantes
de costas para o mar.
A capela também foi engolida
e reconstruída na década de 1990.
Desta vez de frente para o mar,
mas nem a padroeira resolveu. ”
(ABREU, 2011)
Em Atafona, a frequência e intensidade do
vento Nordeste também é grande, provocando o transporte de areia.
Praia de Atafona
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Restos de construção já destruída e engolida pelo mar
Intensidade e direção dos ventos
Na praia de
Grussaí, por sua vez, o processo verificado é de progradação, quando se verifica uma taxa de sedimentação maior, apresentando a faixa de areia da praia bem mais larga.
Praia de Grussaí
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Em ambas as praias (Atafona e Grussaí) é bastante visível
que a ocupação humana tanto em termos residenciais (muitas configuradas como
“segunda residência”, casa de veraneio) quanto comerciais continuam sofrendo
fortes impactos, negativos, em razão desses processos costeiros, gerando sérios
problemas sociais e econômicos que tendem a se agravar de forma igual ou pior dos
antigos quarteirões que foram engolidos pelo mar ou que jazem sob as dunas.
Imagens do meu acervo particular
(Fotos tiradas em 16/07/2017)
Sua distribuição disposta paralelamente à via
principal e na faixa de areia da praia expressa, em muitos pontos das praias, não só a frequência, como a
direção e a intensidade dos ventos a partir da inclinação de suas copas.
Atafona
agoniza...
A relação da dinâmica na foz do rio Paraíba do Sul
diretamente associada aos processos erosivos e o avanço das águas do mar em
Atafona tende a se agravar nos próximos anos com o acréscimo de outros fatores –
de derivações antrópicas - como o projeto do Governo de São Paulo para a
transposição das águas do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, a fim
de solucionar o problema hídrico do estado.
“Este ano será inaugurada uma obra que
promete
acabar com o risco de falta d’água em São Paulo,
mas ninguém sabe o que
acontecerá com Atafona.
A interligação do Paraíba do Sul com o Sistema
Cantareira
poderá captar 5.130 litros por segundo de água.
Com vazão ainda
menor,
é imprevisível o impacto no Paraíba do Sul
e na costa de Atafona.”
Não resta dúvida que a situação é muito
preocupante, o que pode significar que as diferentes instâncias de Governo (Federal,
Estadual e Municipal) não levam em consideração as pesquisas científicas
realizadas pelas universidade brasileiras, embora saibamos que para aprovação
de projetos desta natureza, em qualquer região do país, são exigidos um Estudo
de Impacto Ambiental (EIA) e um Relatório de Impacto de Meio Ambiente (RIMA) ou
um Relatório de Controle Ambiental (RCA) e um Plano de Controle Ambiental (PCA).
Pesquisadores tanto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) quanto
da Universidade Federal Fluminense (UFF) vêm estudando e monitorando a dinâmica
costeira em ambas as praias do município de São João da Barra (Grussaí e
Atafona) desde 2004.
Embora, eu já tivesse noção do que iria encontrar em Atafona, estar ali, inserida naquele cenário em ruínas, com destroços de sonhos destruídos totalmente e/ou parcialmente, resultantes tanto da força das águas
do mar quanto dos avanços das dunas me surpreendeu muito.
É triste presenciar todo esse cenário de
destruição, a princípio, sem controle efetivo por parte da ciência e da
tecnologia e ter consciência que a população local, os pescadores e
comerciantes são os reféns e vítimas das relações estabelecidas, ao longo do
tempo, entre o homem, o rio e o mar, as quais nunca perpassaram em termos de conservação
e preocupação futura.
O desequilíbrio ambiental foi criado pelo homem e o embate
de forças sempre vai sobrepor a energia vigorante do mar sobre o frágil rio, em seu deságue,
onde ambos se enfrentam.
Praia de Atafona
Imagens do meu acervo particular
Fontes de Pesquisa
. ABREU, Fellipe. O Fim do Mundo em Atafona. Clima
indd. UERJ, 2011
Endereço:
. Ambiente Deltaico. Endereço:
. BASTOS, Alex Cardoso & SILVA, Cleverson
Guizan. Caracterização
morfodinâmica do litoral Norte Fluminense, RJ, Brasil. Revista Brasileira de
Oceanografia, 48(1):41-60, 2000. Disponível em Pdf: www.scielo.br/pdf/rboce/v48n1/04.pdf
Endereço: http://biomania.com.br/artigo/delta
. Jornal O Globo (impresso) – 02/07/2017, Pag. 22
. O GLOBO (on line)
Endereço:
https://oglobo.globo.com/rio/avanco-do-mar-volta-assustar-moradores-pescadores-em-atafona-1-21543149
. RIBEIRO, Gilberto Pessanha. Avaliação da
Dinâmica do Campo de Dunas em Atafona, São João da Barra (RJ), como Requisito
para Interpretação do Processo de Erosão Costeira. Monografia - Museu Nacional/Departamento de Geologia e Paleontologia - UFRJ, 2007.
. RIBEIRO et all. Processos Costeiros: Erosão em
Atafona e Progradação em Grussaí, São João da Barra (RJ) – Morfometria para Retratação
Espacial desses Eventos e Identificação de sua Tendência Evolutiva. IV Simpósio
Nacional de Geomorfologia/Regional Conference on Geomorphology. UFG - Goiânia,
GO, 2006.
Disponível em Pdf em: http://www.labogef.iesa.ufg.br/links/sinageo/articles/288.pdf
Gostei
ResponderExcluirAna Carolina Amorim Geraldo Turma 1701
Muito triste ver o resultado do que o homem faz contra si e sua geração. E agora? Fazer o quê? Cobrar de quem? Há que se pensar muito sobre como solucionar este problema...
ResponderExcluirBom dia!
ResponderExcluirDurante essa semana conhecemos Grussaí ( Sesc Mineiro ) e Atafona, curtindo as férias junto minha família.
Ontem em 14/02/19 conhecemos Atafona, ficamos impressionados pela força do mar, causando total destruição como visto nas imagens.
Pudemos ver nos rosto das pessoas ( moradores ) , um tristeza tão grande em ver suas casas sendo destruída pelo mar, além da grande inserteza o que ainda pode vim acontecer, a cidade pede socorro...
Alexandre Barros