sábado, 29 de abril de 2023

1985: Tragédia em Armero e a Jovem que Virou Símbolo do Desastre Natural e da Negligência do Governo

Cidade de Armero coberta por hahar
Imagem capturada na Internet
Fonte: Wikipedia
Foto: 
Jeffrey Marso, USGS 


Como prometi no post anterior, eu irei iniciar esta publicação – referente à tragédia ocorrida em novembro de 1985, na Colômbia, com relação à erupção do vulcão Nevado del Ruiz - com a reportagem da época do Jornal Nacional, reportada pelo âncora Cid Moreira.  


Recentemente, não lembro a data certa, eu liguei a TV no canal “Curta!” e assisti – já em andamento - um documentário sobre a cidade de Armero, na Colômbia. O trecho do documentário que eu comecei a assistir consistia no depoimento de moradores (sobreviventes) que perderam tudo, no dia 13 de novembro de 1985, quando o referido município foi soterrado e, praticamente, sumiu do mapa em consequência de um enorme lahar (fluxo de lama e de detritos de rochas vulcânicas).  

Essa exibição desse documentário no referido canal deveria estar relacionada aos sinais de atividades sísmicas do vulcão Nevado del Ruiz, na Colômbia (Cordilheira dos Andes), no final do mês de março deste ano.  

Tentei rever o respectivo documentário, desde o seu começo, mas eu não tive sucesso em minhas buscas, tanto no âmbito do site quanto da Programação do Canal Curta. Mas, a minha curiosidade era grande e procurei pelo nome do município, Armero. E, para minha surpresa (até então, eu desconhecia o caso abordado no documentário), este foi considerado a terceira maior tragédia natural da América do Sul e a segunda em terras colombianas.  

Mais triste ainda foi saber as circunstâncias e o desfecho da história da jovem Omayara Sánchez Garzón, de 13 anos, que comoveu o pais e o mundo, tornando-a símbolo do desastre natural e, ao mesmo tempo, da negligência do governo local e nacional.

Omayara Sánchez Garzón
Imagem capturada na Internet
Fonte: Portal Amazônia
Foto: Reprodução/Daily Facts

Semanas antes da erupção, o vulcão Nevado del Ruiz (5.400 metros de altitude), que faz parte do chamado “Círculo de Fogo do Pacífico” (ou Cinturão de Fogo), deu sinais de atividade vulcânica.  

Vulcão Nevado del Ruiz
Imagem capturada na Internet
Fonte: Painel Global

Devido a esse registro de atividade do Nevado del Ruiz que, a princípio, estava adormecido quase de sete décadas, as autoridades do município avisaram sobre os riscos de uma erupção ao Governo Federal e aos membros do Congresso. Mas, as autoridades federais estavam muito ocupadas e envolvidas com outro problema emergencial, o enfrentamento com os “guerrilheiros del M-19” que, dias antes, haviam tomado o Palácio da Justiça. 

Com isso, os alertas quanto aos altos riscos de haver erupção vulcânica e esta atingir as cidades nos arredores do vulcão, não foram levados a sério, como deveriam ter sido. Resultado, nenhuma medida foi tomada, nem mesmo a de evacuação das cidades, pelo Governo Federal e/ou pela Prefeitura de Armero, teve sucesso, pois quando tentaram, bem mais tarde, os sistemas de comunicação estavam desligados, o que impossibilitou a emissão de alerta a toda a população. 

No entanto, os sinais da atividade vulcânica não deixavam dúvidas (ou deixavam?). De acordo com as fontes de pesquisa, além do forte cheiro de enxofre, relatado por sobreviventes, houve precipitação de cinzas vulcânicas, evidenciando que o vulcão adormecido estava prestes a “explodir”. Só que estas ocorrências já vinham acontecendo há cerca de um ano, sem que houvesse uma erupção propriamente dita. Contudo, no dia 13 de novembro de 1985, a dinâmica interna da Terra foi mais violenta e o Nevado del Ruiz explodiu!                           

A primeira erupção ocorreu às 21h09, expelindo milhões de toneladas de fragmentos de rocha e lava. Na segunda erupção, ocorrida por volta das 23h30, as altas temperaturas da lava derreteram as geleiras e as chamadas neves eternas que cobriam o cume do vulcão, gerando uma grande quantidade de lahar (fluxo de lama e de detritos de rochas vulcânicas), que desceu pelas encostas e atingiram 12 cidades situadas na base do vulcão. 

Entre os municípios, o mais atingido foi Armero, situado a 48 Km de distância do vulcão, que foi praticamente soterrado pela avalanche de lama (lahar).

Município de Armero
Imagem capturada na Internet
Fonte: Medium
 

Só para se ter uma ideia do poder de destruição de sua atividade vulcânica, a população total do município de Armero, na ocasião, era em torno de 28 mil habitantes e, com este episódio natural (vulcanismo), morreram mais de 21.000 pessoas.

Vista aérea de Armero destruído por lahars 
Imagem capturada na Internet
Fonte: USGS


Imagem capturada na Internet
Fonte: Semana



Cidade de Armero
Imagem capturada na Internet
Fonte: Medium/Casos em Crise e Desastre


Imagem capturada na Internet
Fonte: Portafolio

Imagem capturada na Internet
Fonte: Portafolio

Em Chinchiná, importante centro cafeicultor do país, conhecido como o "coração do café" da Colômbia, localizado do outro lado das montanhas, morreram cerca de 2.000 pessoas, por conta de outro lahar. No total, as erupções vulcânicas do Nevado del Ruiz, em novembro de 1985, mataram cerca de 25 mil mortos. 

Vale ressaltar aqui, que existem controvérsias nas fontes de pesquisa acerca do número de vítimas fatais, assim como a população absoluta de Armero, na ocasião. 

Como não houve nenhuma ordem para evacuar as cidades, localizadas na base do vulcão, a população se manteve em sua residência, seguindo as orientações dadas pela Defesa Civil local. 

Por volta das 23h30, Armero foi atingido por um enorme lahar (fluxo de lama e detritos vulcânicos). A cidade ficou praticamente coberta de lama (soterrada). Não só houve grandes perdas materiais como, também (e mais lamentável), perdas humanas e feridos. 

Um caso a se destacar, aqui, foi o da jovem Omayara Sánchez Garzón, filha de Álvaro Enrique e Maria Aleida, que foi encontrada viva e consciente, mas presa aos escombros do imóvel de sua família, submersa até quase ao pescoço. 

Sua situação era bastante difícil e bem dramática...  

Para pedir ajuda aos socorristas, que faziam uma varredura nas áreas afetadas pelos lahars, Omayara estendeu sua mão e acenou para fora dos escombros. Os socorristas conseguiram abrir espaço para a cabeça da jovem para que a mesma pudesse respirar melhor, só que – infelizmente – eles não tiveram a mesma sorte em removê-la, pois a jovem se encontrava presa aos escombros de sua casa e, também, suas pernas estavam cercadas pelos braços da tia, falecida em consequência da tragédia. Ela só ficou livre da cintura para cima. 

Imagem capturada na Internet
Fonte: Medium


Imagem capturada na Internet
Fonte: Impala


Imagem capturada na Internet
Fonte: Medium


Imagem capturada na Internet
Fonte: Portafolio
 

Local do túmulo de Omayra
Imagem capturada pela Internet
Fonte: AFP Correspondente
Foto: Luís Acosta/AFP


Os socorristas observaram que a tentativa de a remover, a colocaria também em risco de afogamento, pois a água cobriria o seu rosto totalmente. No momento, não havia bomba de sucção de água.  

Com tamanha dificuldade em seu resgate, uma das alternativas cogitadas foi a de amputar-lhe as pernas, mas não haviam equipamentos cirúrgicos imprescindíveis tanto no procedimento propriamente dito quanto no caso dos efeitos da amputação dos membros inferiores. Em razão disso, os médicos presentes concordaram que a solução mais humana era deixá-la morrer.

Mesmo vivendo esta situação crítica, Omayara – quase sempre se mostrava otimista - conversava com os socorristas e outras pessoas presentes, cantava, pediu doces, refrigerantes e até concedeu o seu registro em fotos e uma entrevista a um escritor.   

É claro que houve momentos de choro e de oração, quando sua resistência era posta à prova conforme o tempo passava e as tentativas de salvá-la fracassavam.  A jovem Omayra Sánchez só tinha 13 anos 

A realidade de sua família não era menos trágica, tendo em vista que, além de sua tia, que morava no mesmo imóvel deles, o seu pai também morreu em consequência da erupção do Nevado del Ruiz. 

Sua mãe e seu irmão sobreviveram à tragédia. A mãe se salvou, pois antes do episódio, ela viajou - a negócios - para Bogotá, capital do país. A menina chegou a gravar mensagens para toda a família, como à sua mãe:

 "Mamãe, se você me ouve,

quero que reze para

que tudo termine bem" 

O drama vivido pela Omayara Sánchez, acompanhado pela imprensa nacional e internacional, durou 60 horas, mas – conforme as horas passavam – sua saúde física e mental mostrava sinais de desgaste e de esgotamento 

Na terceira noite, segundo fontes de pesquisa, ela teve alucinações e balbuciou, ainda confusa, frases referentes ao fato de estar atrasada para a escola e de uma prova de matemática.  

Após essas 60 horas de forte resistência, um tanto quanto heroica, no dia 16 de novembro, às 10h05, sua saúde piorou e a jovem Omayara Sánchez Garzón veio a óbito 

Por ter estado muito tempo dentro da água, possivelmente, a causa de sua morte foi por hipotermia (quando a temperatura do corpo se encontra abaixo dos 35°C) ou por gangrena (em consequência de ter ocorrido a morte do tecido corporal em razão da interrupção do fluxo sanguíneo). 

Todos que acompanharam o drama, vivido pela jovem colombiana, não tinham nenhuma dúvida a quem atribuir a responsabilidade da morte de Omayara Sánchez, ou seja, às autoridades. E a indignação popular quanto ao papel omisso das autoridades tanto em termos de prevenção quanto em termos de enfrentamento de desastre natural deste tipo foi marcada em uma faixa exposta em um funeral de várias vítimas da tragédia, em Ibague, capital do Departamento de Tolima:

"O vulcão não matou 23 mil pessoas.

O governo matou". 

Embora, o prefeito de Armero, Ramón Rodriguez, tenha solicitado ajuda do Governo Federal, alegando que o vulcão era uma verdadeira "bomba relógio", ele mesmo não tomou a providência de evacuar a cidade. 

Daí a jovem Omayara Sánchez Garzón ter se tornado o símbolo do Desastre Natural (vulcão Nevado del Ruiz) e da Negligência do Governo. 

Era uma tragédia anunciada, mas que poderia ter sido evitada! 

E é por este episódio ocorrido há cerca 38 anos, que a preocupação da população e das autoridades colombianas voltou a aumentar, desde o final do mês de março deste ano, pois o conhecido "Leão Adormecido", isto é, o vulcão Nevado del Ruiz vem dando sinais e aumento de suas atividades.

Afinal, ele continua ativo, bem ativo!


Fontes:

. CUYLER, Rebeca: A destruição da cidade colombiana de Armero durante a erupção vulcânica de 1985 do Nevado del Ruiz (2018) – Medium/Casos em Crise e Desastre 

. Omayra Sánchez – Wikipédia  

. Omayra Sánchez: A menina símbolo de tragédia com 23 mil mortos por vulcão na Colômbia (2021) – O Globo  

. SÁNCHEZ, Felipe: A ressurreição da cidade colombiana que ficou enterrada na lama – El País  

. Tragédia de Armero - Wikipédia

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