Apoio ao acordo de paz na Colômbia
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Fonte: Público
"Eu vou a luta,
eu vou armado de coragem e
consciência
Amor e esperança
A injustiça é a pior das
violências
Eu quero paz, eu quero
mudança.
Dignidade pra todo cidadão
Mais respeito, menos
discriminação
Desigualdade, não.
Impunidade, não
Não me acostumo com essa
acomodação."
(Paz, Gabriel Pensador)
A proposta de negociar a paz entre o governo colombiano e as Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) não é recente e, embora, tenha
iniciado desde 1983, durante os governos dos presidentes Belisario Betancur (1982
e 1986), César Gaviria (1990 a 1994) e de Andrés Pastrana (1998 a 2002), todas essas
tentativas de um acordo definitivo com a guerrilha fracassaram.
No entanto, em 2012, elas foram retomadas em Havana (Cuba) e, após esses quatro anos de negociações foi assinado, no último dia 26 de setembro, em Cartagena de Índias (Colômbia), um acordo histórico entre o governo colombiano e as FARC, colocando
o fim ao conflito armado instalado no país desde 1964 (há 52 anos).
A guerrilha surgiu de um levante camponês, conduzido
por um grupo de liberais armados e liderado por Pedro Antonio Marín, seu fundador (mais conhecido como "Tirofijo" ou Manuel Marulanda Véles), em Marquetalia, na região de
Tolima, quando estes tentavam conter o Exército colombiano em suas ações
militares sobre uma comunidade autônoma de camponeses que existia na referida
localidade.
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Fonte: El Diario
A ratificação do acordo de paz pela população colombiana selaria
o fim da maior e a mais antiga guerrilha
da América do Sul e de toda a América, cujo conflito responde por diversos sequestros e por mais de 220 mil
mortes, sem falar das dezenas de desaparecidos
e a migração forçada de milhões de campesinos (camponeses rurais).
O referido acordo selaria não só o fim do conflito como, também, conferiria novas perspectivas ao país em diferentes áreas (política, econômica,
social etc.). Além disso, o referido acordo previa atender seis pontos, os quais
permeavam a reforma rural, a participação política dos membros da Farc (no
caso, os ex-integrantes poderiam formar um partido e concorrer às eleições locais
e/ou nacionais), o cessar-fogo definitivo (de ambas as partes), a solução quanto
ao problema das drogas ilícitas (cocaína e heroína, por exemplo), a indenização
às vítimas da guerrilha e mecanismos de implementação e verificação.
O uso do verbo no futuro do pretérito é proposital, uma vez
que o acordo, embora tenha sido assinado por ambas as partes, não se firmou
diante do último acontecimento.
De acordo com o que foi acertado entre ambas as partes, o acordo
de paz firmado ainda deveria ser submetido e endossado pela população
colombiana via plebiscito, o qual foi realizado, ontem, dia 02 de outubro.
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Fonte: Revista Isto É
E, para surpresa de muitos, o resultado da votação não foi
condizente com as pesquisas preliminares que apontavam a vitória do “sim” à
assinatura do acordo.
Com 50,24% dos votos,
a proposta de reconciliação e de paz entre ambas as partes foi rejeitada pela população colombiana,
que - em número reduzido - compareceu para votar. De acordo com as últimas
notícias, a alta abstenção nas urnas
foi uma das mais altas da história do país, já que 63% dos eleitores não
participaram do plebiscito.
Mas, tal como a letra da música “Paz”, de autoria de Gabriel, O Pensador, Thiago Mocotó e Lenine
menciona e, também, segundo a opinião de diversos analistas políticos, a impunidade foi um dos fortes fatores a
ter pesado na rejeição popular, uma vez que os membros das Farc não teriam uma
reclusão tradicional, ou seja, muitos teriam seus movimentos limitados e
vigiados, sem a necessidade de irem para uma prisão normal.
Além da impunidade que margeia a proposta de reconciliação
entre o governo colombiano e as Farc, ambos também são impopulares, ou seja, a população colombiana se mostra avessa às
Farc pela responsabilidade de diversos assassinatos, estupros, massacres e outras
formas de violência praticados nesses anos todos e, ao governo, pela rejeição a
sua política. Este último, inclusive, é acusado de ter coagido prefeitos a se
posicionarem contrários às campanhas pelo “não” que circularam, no país, antes
do plebiscito.
Manifestação popular contra o atual presidente colombiano
Juan Manuel Santos
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Fonte: G1 Globo (Foto de AFP Photo/Luis Robayo)
Além desses fatores, impunidade
e rejeição popular em relação ao
governo e às Farc, o fato da intenção da participação
dos membros das Farc na política,
com formação de partido e disputa eleitoral a nível local e/ou nacional também
pesou na hora de decidir o voto. Para muitos, esse fator já consolida o sentido
da impunidade.
De acordo ainda com os analistas políticos, a falta de empatia por parte da população
das grandes cidades foi a principal responsável pelos altos índices de abstenção (mais de 60% dos eleitores) no dia
da consulta popular (domingo), tendo em vista que o maior apoio à proposta de paz
ocorreu na costa do país e nas regiões limítrofes, cuja densidade demográfica é
significativamente menor e, com certeza, os que mais sofreram com as ações da
guerrilha.
Mesmo a opção pelo “sim” também ter vencido em Bogotá (capital
do país) e em importantes cidades, como Cali e Barranquila, outros grandes
centros urbanos, como Medellín, Bucaramanga, Cúcuta e Pereira, a rejeição
popular venceu nas urnas.
De acordo com a analista política, María Victoria Duque (O
Globo, 3/10/2016, pag. 43):
“As grandes cidades há
muito tempo
não sentem os efeitos do conflito
e não conhecem a dor,
o medo e a
falta de liberdade da zona rural.
Isso criou uma falta de empatia
que se
estendeu por décadas
e se manifestou no referendo. ”
Mapa assinalando as regiões com maior índice de
"sim" (verde) e de "não" (vermelho) ao acordo
de paz entre o governo colombiano e as Farc
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Fonte: Xadrez Verbal
Com este alto índice de abstenção ao plebiscito, grande parte da população
colombiana revelou-se indiferente à importância dessa questão
política, mas – ao mesmo tempo e, em contrapartida – mostrou-se a favor da justiça social em face da rejeição à forma de impunidade que se criou em acatar as negociações com os integrantes das Farc.
Neste contexto, o analista de conflitos da Corporação
Latino-americana Sur, Pedro Santana, além de destacar que houve diversos erros
por parte do governo durante a campanha pré-plebiscito, enfatiza e defende que
o acordo se tratava de uma proposta de negociação com as Farc e, não de um ato
de rendição da guerrilha no campo de batalha.
Sendo assim, a assinatura do acordo de paz entre o Governo colombiano
e as Farc não só selaria apenas o fim do conflito armado, como também o poder
de diálogo aberto e de negociação pacífica entre o entrave "guerra versus paz", cabendo ao descarte, o
primeiro que, sob a égide da forma de política de guerrilha (violência armada),
tanto atravancou o desenvolvimento do país e provocou tantos massacres e
mortes. Enquanto, a paz deveria ser primazia para todo e qualquer cidadão que
almeje o desenvolvimento, o fim da guerra e da guerrilha no país.
Caravana colombiana contrária ao acordo de paz
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Fonte: Revista Veja (Foto de Felipe Caicedo/Reuters)
O resultado do plebiscito de ontem, na Colômbia, fez o sonho
da Paz desmoronar-se, desfazendo as expectativas de muitos e lançando o país a
um futuro cheio de incertezas e temeridades. Mas, esta situação também já era
esperada pelo governo.
No momento, o que importa é que, tanto do lado do governo quanto do
lado das Farc, a direção é única e é da conciliação pela paz, com o fim
definitivo da guerra e da guerrilha. Agora é aguardar uma nova rede de
negociações, diálogos mais abertos e a busca de um acordo de paz perfeito,
capaz de atender a todos os segmentos envolvidos, o governo, as Farc e a
população colombiana, em geral.
“As Farc mantêm sua
vontade de paz e reiteram sua disposição de usar apenas a palavra como arma de
construção para o futuro”
(Palavras do chefe das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, o “Timochenko”)
Fontes de Consulta
. G1 Globo On line (várias edições)
. Jornal O Globo (várias edições impressa)
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