terça-feira, 15 de setembro de 2009

Crônica: Tipo assim...



Tô ficando velho! Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente na saída de um show. Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa. "E aí, o show foi legal?". A resposta veio de uma das mais exaltadas do banco de trás:

"Cara! Tipo assim, foda!". E outra emendou: "Tipo foda mesmo!"

Fiquei tipo assim calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista. Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão logo logo vamos precisar de tradução simultânea.

Pra piorar ainda mais, inventaram o ICQ, essa praga da internet onde elas ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código secreto.

Tipo assim : "kct! vc tmb nunk tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys".

O que significa : "Cacete! Você também nunca está tranqüila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas. Jubys".

Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis". Só que este é o nome de batismo de minha filha Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia de juventude", que eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda, olhando a lua... Pois Jubys é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na orelha que quer encher o corpo de piercings e tatuagens.

Tô ficando velho!

Outro dia tentei explicar pro mesmo bando de adolescentes o que era uma máquina de escrever. Nunca viram uma. A melhor definição que consegui foi: "É tipo assim um computador que vai imprimindo enquanto você digita". Acho que não entenderam nada.

Eu sou do tempo do mimeógrafo. Pra quem não sabe, é uma máquina que você coloca álcool e dá manivela pra imprimir o que está na folha matriz. Por sua vez, essa matriz precisa ser datilografada (ver "datilografia" no dicionário) na tal máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você só descubra os erros depois do trabalho feito), com o papel carbono invertido... Tipo, é melhor você procurar na internet que deve haver algum site sobre mimeógrafo, papel carbono, essas coisas. Se eu ficar explicando cada vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar meu próprio raciocínio.

Voltando às garotas, a cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de Brad Pitt e a de Leonardo de Caprio. Há anos tento convencê-las a ver "Cantando na Chuva", mas sempre fica para depois. Um dia, cheguei entusiasmado em casa com a fita de um filme francês que marcou minha infância: "A guerra dos botões". Chamei a Jubys para a exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos, pois ela inventou "um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar tipo amanhã, senão perde ponto".

Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um telefone de discar. Sabe telefone de discar? É tipo assim um aparelho sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo corresponde a um algarismo. Você enfia o dedo indicador no buraco correspondente ao número que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua de metal e solta a roleta, que lá por dentro está presa a uma mola que a faz voltar a posição inicial. Esse aparelho serve para conversar com outra pessoa como qualquer telefone comum, desde que esteja, é claro, conectado na parede.

Eu sou do tempo em que vidro de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha estribo e quebra vento. Não espalha, mas eu andei de Simca Chambord, de DKW, Gordini, Aero Willis e até de Romiseta. Não dá pra explicar aqui o que era uma Romiseta, só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo, com 3 rodas, que a gente entrava pela frente e a direção era grudada na porta.

Procure na internet, deve haver um site. Tá bom, tá bom, confesso mais. Usei Camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Banlon, assisti à Jovem Guarda, ao Direito de Nascer... mas é mentira essa história de que meu primeiro disco gravado foi em 78 rotações.

Há pouco tempo, João, meu filho de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado. Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando dentro do sulco do vinil. Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando... mas aí ele já estava jogando o Pokemon Stadium no Game Boy. Não é que ele seja desinteressado, eu é que fiquei tipo patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as "histórias do tempo em que eu era criança". Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco, ele "viajou" na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores.

Acho que de certa forma ele tem razão. Tipo assim...

Luís Fernando Veríssimo

É a evolução das idéias e da técnica ao mesmo tempo... Eu também, às vezes, me sinto... Tipo assim... Marli Vieira

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NOTA: Desculpe-me, eu sei que o correto não é alterar a matéria após a sua publicação, mas achei melhor fazer este comentário na mesma postagem.

Eu conheci esta crônica, sendo de autoria de Luís Fernando Veríssimo, mas ao procurar o ano de sua publicação (para responder um comentário), descobri que esta é usada indevidamente como obra deste, sendo na verdade de autoria de Kledir Ramil, da dupla gaúcha Kleiton e Kledir.

Procurei investigar a autoria oficial e constatei a referência aos dois nomes. No entanto, há um maior número de fontes indicando a Fernando Veríssimo, tal como eu sabia, o responsável pela obra. Se alguém souber, com maior precisão, que a referida crônica é mesmo de autoria de Kledir Ramil, peço que entre contato comigo, neste espaço ou por e-mail.

6 comentários:

  1. Professora, algumas coisas da crônica eu conheço, mais tem umas que eu nunca ouvi falar rs.
    eu ri muito dessa crônica, tipo assim, é muito engraçado :D

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  2. Eu também ri muito, quando a li pela primeira vez.

    Devo confessar que temi por postá-la neste espaço, pois logo no início há palavras que eu jamais uso e dificilmente colocaria no Blog. Mas, como é justamente para compartilhar e o autor assim a escreveu, resolvi deixar. Ademais, quem nunca ouviu ou falou as referidas expressões, não?

    Só mesmo alguém, tipo assim... como eu!

    Beijos

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  3. rsrsrsrs ah professora a senhora de "meio pijama, meio dormindo, indo buscar adolescentes na saida de um show" é muito ..."fora de época"!

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  4. Eu ri muitooo dessa postagen , kra!rsrsrrsrsrsrrs brincadeira!

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  5. Que bom, "Anônimo"! Pelo menos consegui lhe fazer rir!

    Para ser sincera, esta (a risada, a graça) - muitas das vezes - acaba sendo consequência da própria crônica ao expressar as relações entre um determinado fato e a pessoa.

    Fora de época! É evidente, não? Pois este é o contexto.

    Fico feliz por seu comentário e por ter-lhe feito rir.

    Há Livro super interessante, inclusive, eu escolhi no Programa da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, "As cem Melhores Crônicas Brasileiras" (Ed. Objetiva, 2007). Neste, você encontra crônicas de diversas épocas, desde 1850 até os anos de 2000.

    Vale a pena, comprar e ler!

    Abraços

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  6. Oi Marli,
    Estou também procurando o verdadeiro autor ... e achei. É o Kledir Ramil, sim. Leia esta crónica.
    http://livrocaiunarede.blogspot.com/

    beijos
    anaC

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