sábado, 30 de setembro de 2023

Desastres Naturais que Marcaram Setembro de 2023 - Parte II

Imagem capturada na Internet
Fonte: G1/Globo

 

Dando continuidade a outros desastres naturais que marcaram este mês (setembro), vejamos:

. MARROCOS (08 de setembro): Um forte terremoto atingiu o centro do Marrocos. Foi o mais devastador em décadas no país, desde 1960.  

O tremor atingiu os arredores de Marrakech (cidade histórica, Patrimônio Mundial da Unesco), com magnitude de 6,8 na escala Richter, segundo os serviços geológicos dos Estados Unidos. Já o Centro Marroquino de Pesquisa Científica e Técnica registrou magnitude de 7,0. 

O abalo sísmico ocorreu pouco depois das 23 horas (hora local). O seu epicentro foi na Cordilheira do Atlas, a cerca de 71 km a sudoeste de Marrakech.  

E o seu hipocentro (ponto no interior da crosta) foi a 18,5 Km, considerada uma profundidade relativamente rasa.  

Em razão da baixa profundidade e das ondas sísmicas percorrem camada menor de rochas, não houve como absorver o seu impacto. Com isso, os seus efeitos foram mais intensificados, causando grande devastação na superfície. De acordo com especialistas, quanto mais superficial, maior é o seu impacto.  

Associado a isso, a maioria das construções – casas de tijolos de barro, pedra e madeira em áreas montanhosas - contribuiu para os efeitos destrutivos nas cidades atingidas. Daí, também, o elevado número de feridos e de mortos decorrentes.  

De acordo com o Boletim divulgado pelo Ministério do Interior do país, no dia 12/09, foram cerca de 5.530 feridos, mais de 2.900 mortes e centenas de desaparecidos.  

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 300 mil marroquinos tenham sido afetados por este terremoto. 

Réplicas foram registradas após este evento principal, sendo o primeiro tremor secundário - de magnitude 4,9 - sentido 19 minutos após a ocorrência deste. De acordo com as fontes de pesquisa, ao menos, 20 foram registrados.  

A Cordilheira do Atlas, situada no noroeste da África, se estende por Marrocos, Argélia e Tunísia, cobrindo uma extensão de 2.400 km. Ela separa as terras costeiras tanto do mar Mediterrâneo quanto do oceano Atlântico do deserto do Saara 

A referida cordilheira consiste em um Dobramento Moderno, tendo sido formada pelo encontro de duas placas tectônicas: a placa Euroasiática (ao norte) e a placa Africana (ao sul). Daí ela ser uma área de instabilidade tectônica (zona sísmica). 


Imagens da Localização da Cordilheira do Atlas
Imagens capturadas na Internet
Fonte: Wikipedia 


Contudo, nesta região de Marrocos (na costa do Oceano Atlântico), eles são bastante incomuns, além de nunca ter ocorrido terremoto de magnitude superior a 6,0 em um raio de 500 Km em torno do epicentro atual, pelo menos, desde quando os registros sísmicos passaram a ser disponibilizados (1900). 

A região de maior atividade sísmica fica a nordeste, próximo à fronteira das placas tectônicas Euroasiática e a Africana 

Certamente, na região afetada, nem as edificações foram construídas à prova de terremotos desta magnitude, assim como as autoridades e nem a população esperavam e se encontravam preparadas para o seu enfrentamento.  

Imagem capturada na Internet
Fonte: Brasil de Fato
Foto: Fethi Belaid/AFP

Imagem capturada na Internet
Fonte: Observador

No passado, o país já enfrentou fortes terremotos, como - em 2004 - quando um sismo de magnitude 6,3 na escala Richter atingiu a cidade de Al Hoceima, no nordeste de Marrocos, causando a morte de 628 pessoas ou em 1960, quando outro sismo (magnitude 5,7) sacudiu Agadir, cidade do sul do país, na costa do oceano Atlântico, matando 12 mil pessoas. 

Diversos líderes mundiais prestaram solidariedade e ajuda ao governo e ao povo marroquino. Mas, de acordo com as mídias, apesar das diversas ofertas de ajuda dos países, o governo de Marrocos falhou por não solicitar, formalmente, assistência, que é um pré-requisito para assegurar a mobilização e o atendimento de equipes de resgate externas.  

A dinâmica interna da Terra é uma verdadeira “caixinha de surpresa”. Nem sempre os sinais são visíveis ou sentidos... Ainda mais quando ela está prestes a ser sacudida por um ou mais terremotos! 

"A única maneira de proteger as pessoas contra terremotos

é através de construções à prova de terremotos"

(Fabrice Cotton, professor de Sismologia do

Centro de Pesquisa Geográfica em Potsdam, Alemanha).

Fontes de Pesquisa: 

. Cordilheira do Atlas – Wikipedia 

. MARCOLINO, Aline: Entenda o que causou o terremoto no Marrocos (2023) – Poder360 

. Número de mortos no terremoto no Marrocos sobe para 2.901; ajuda externa segue travada por governo – G1/Globo 

. Número de mortos após terremoto no Marrocos passa de 2.800 – Poder360 

. O que se sabe sobre terremoto no Marrocos que já deixou mais de 2,8 mil mortos – BBC News Brasil 

. VERGIN, Júlia: Cordilheira dobrada: por que terremoto no Marrocos foi tão devastador - DW

Desastres Naturais que Marcaram Setembro de 2023 - Parte I

 

Desastres naturais sempre nos surpreendem, pois – em geral – somos pegos de surpresa. Mas, dois, três ou mais fenômenos naturais ocorrendo consecutivamente em diversos pontos do mundo é assustador.  

De forma negativa, o meio ambiente e a sociedade sofrem direta e/ou indiretamente os efeitos dos seus impactos. 

Entre os desastres naturais mais comuns podemos destacar, tanto os causados por agentes endógenos, como vulcanismo, terremotos e a formação de tsunamis quanto aqueles gerados por agentes exógenos, como são ciclones, furacões, tornados, inundações e deslizamentos. 

Neste mês de setembro, pudemos observar alguns destes, entre os quais destaco: 

Ciclone Extratropical
Imagem capturada na Internet
Fonte: G1/Globo
Foto: Reprodução/Regional and Mesoscale Meteorology Branch


. BRASIL (04 de setembro) 

Um ciclone extratropical se formou sobre o oceano Atlântico, após a passagem da frente fria e atingiu a Região Sul do Brasil, provocando muita chuva, fortes rajadas de vento e até queda de granizo. Os estados mais afetados foram o Rio Grande do Sul e Santa Catarina 

Muitas cidades sofreram temporais, enchentes, danos nas redes elétricas, quedas de árvores e de galhos, destelhamentos de casas e de estabelecimentos comerciais, entre outros problemas. 

De acordo com o Boletim do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), divulgado no último dia 20/09, no período de 1º a 19 de setembro, os volumes de chuvas - registradas no Rio Grande do Sul - ficaram em torno de 450 milímetros (mm). 

Não restam dúvidas as destruições causadas pelo ciclone extratropical e as enchentes no Rio Grande do Sul foram as mais devastadoras, principalmente, na região do Vale do Taquari, a qual é constituída por trinta e seis municípios. 

Classificado como o segundo maior desastre natural do Rio Grande do Sul, em número de vítimas fatais, ao todo foram 49 mortos e 09 desaparecidos, segundo dados divulgados no último dia 20/09. 

De acordo com Portal do G1, a principal causa das mortes na região foi por afogamento. Mediante a subida do nível de água dos rios, muitos carros, casas e pessoas foram levadas pelas correntezas.

Cidade de Muçum, no Vale do Taquari
Imagem capturada na Internet
Fonte: G1/Globo
Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini


Além da influência do Aquecimento Global, que tem colaborado para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos (formação mais rápida e mais impactante), os especialistas concordam que o fenômeno El Niño está potencializando ainda mais a força das precipitações pluviais (chuvas), justamente pelo aumento da umidade (aquecimento das águas do oceano Pacífico). 

Alagamento e Destruição em Venâncio Aires (RS)
Fonte: BBC News Brasil

Formados nas médias e altas latitudes, fora dos trópicos, os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica (áreas ciclonais). Ele é formado pelo contraste de duas massas de ar de temperaturas diferentes, isto é, uma massa quente e a outra fria. 

Como é de conhecimento de muitos, os ventos são gerados e se deslocam das áreas de alta pressão (onde existe mais ar e é mais frio/áreas anticiclonais) para as áreas de baixas pressões atmosféricas (menos ar e mais quente/ áreas ciclonais). 

Parte da sua ação é sugar toda a umidade para a região do centro da área de baixa pressão e jogar para a atmosfera, onde há a condensação e a transformação da umidade do ar em nuvens. É nesse processo há precipitação pluviométrica (chuvas) e a ação dos ventos. 

Os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. 

Em comparação com os ciclones tropicais, os ciclones extratropicais se caracterizam por ventos mais fracos e de efeitos de menor duração. 

Relembrando, os três diferentes tipos de ciclones: 

. Ciclones Tropicais: conhecidos, também, como furacões ou tufões, estes se formam em regiões equatoriais (próximas à linha do equador), sobre os oceanos, retirando sua energia do calor extraído dos mares e oceanos; 

. Ciclones Extratropicais: são gerados em áreas de latitudes médias e altas, sendo formados pelo contraste de temperaturas de diferentes massas de ar (quente e fria); 

. Ciclones Subtropicais: possuem características de ambos anteriores. Tipicamente, estes se formam quando um ciclone extratropical se desenvolve sobre o oceano e encontra temperaturas na superfície do mar mais aquecidas. 

Segundo Estael Sias (meteorologista do MetSul Meteorologia), 

"Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico

se formam toda semana, dezenas deles às vezes.

Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante.

Por isso não mencionamos na previsão do tempo

- um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa

não vai causar nenhum efeito para a população." 


Além da influência do Aquecimento Global, que tem colaborado para o surgimento de ciclones extratropicais atípicos (formação mais rápida e mais impactante), os especialistas concordam que o fenômeno El Niño está potencializando ainda mais a força das precipitações pluviais (chuvas), justamente pelo aumento da umidade (aquecimento das águas do oceano Pacífico).

Formados nas médias e altas latitudes, fora dos trópicos, os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão atmosférica (áreas ciclonais). Ele é formado pelo contraste de duas massas de ar de temperaturas diferentes, isto é, uma massa quente e a outra fria. 

Como é de conhecimento de muitos, os ventos são gerados e se deslocam das áreas de alta pressão (onde existe mais ar e é mais frio/áreas anticiclonais) para as áreas de baixas pressões atmosféricas (menos ar e mais quente/ áreas ciclonais). 

Parte da sua ação é sugar toda a umidade para a região do centro da área de baixa pressão e jogar para a atmosfera, onde há a condensação e a transformação da umidade do ar em nuvens. É nesse processo há precipitação pluviométrica (chuvas) e a ação dos ventos. 

Os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. 

Em comparação com os ciclones tropicais, os ciclones extratropicais se caracterizam por ventos mais fracos e de efeitos de menor duração 

Relembrando, os três diferentes tipos de ciclones: 

. Ciclones Tropicais: conhecidos, também, como furacões ou tufões, estes se formam em regiões equatoriais (próximas à linha do equador), sobre os oceanos, retirando sua energia do calor extraído dos mares e oceanos;  

. Ciclones Extratropicais: são gerados em áreas de latitudes médias e altas, sendo formados pelo contraste de temperaturas de diferentes massas de ar (quente e fria); 

. Ciclones Subtropicais: possuem características de ambos anteriores. Tipicamente, estes se formam quando um ciclone extratropical se desenvolve sobre o oceano e encontra temperaturas na superfície do mar mais aquecidas. 

Segundo Estael Sias (meteorologista do MetSul Meteorologia),  

"Ciclones extratropicais no Oceano Atlântico

se formam toda semana, dezenas deles às vezes.

Mas é comum que se formem perto do polo sul, muito distante.

Por isso não mencionamos na previsão do tempo

- um ciclone extratropical a mil quilômetros da costa

não vai causar nenhum efeito para a população."

 

O pior é que neste período do ano, eles são mais comuns, tendo formações sucessivas durante as semanas.  

Vale ressaltar aqui que os outros desastres naturais que escolhi para esta postagem, vou deixar para as próximas, senão esta publicação vai ficar muito extensa.

 

Fontes de Consulta:

. El Niño 2023: saiba detalhes sobre o monitoramento, previsões e os possíveis impactos do fenômeno no Brasil (2023) – Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) 

. KESSLER, Ticiano: Pelo menos 10 mil casas e prédios foram atingidos pelas enchentes no RS (2023) – Jornal da Band  

. PEIXOTO, Roberto: Ciclone extratropical: entenda como se forma e por que fenômeno se tornou mais comum no Brasil (2023) – G1/Meio Ambiente 

. Relatório aponta que 10 mil imóveis foram afetados por enchentes no RS; em Muçum, um terço dos prédios foram atingidos (2023) – G1/Rio Grande do Sul 

. Saiba quem são as vítimas do ciclone que atingiu o RS em setembro (2023) – G1/Rio Grande do Sul

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Sambaqui: Breve Resumo

 

Perfil de um Sambaqui
Imagem capturada na Internet
Fonte: Wikipédia
Foto: Thigruner


SAMBAQUI: BREVE RESUMO 

Por Marli Vieira de Oliveira da Silva


- Sítio arqueológico, pré-histórico, constituídos basicamente por várias camadas compostas de areia, terra e conchas 

- As camadas arqueológicas superpostas dos sambaquis representam sucessivas ocupações humanas, sendo que as inferiores as mais antigas e as camadas superiores as mais recentes.

- Os indígenas surgiram depois dos sambaquieiros. Daí os sambaquieiros serem considerados povos originários do nosso território. 

- Os sambaquis se encontram distribuídos ao longo de quase toda a costa litorânea brasileira, havendo também registros em ambientes fluviais (rios), ou seja, eles habitam próximos aos locais em que haviam bastante alimentos. 

- Foram por populações humanas que viveram no período de cerca de 7.000 a 1.000 anos BP. 

- Na língua tupi, sambaqui significa "tamba" (= moluscos) e "ki" (= amontoado ou depósito), ou seja, quer dizer, “amontoando de conchas”. 

- Em suas camadas são encontrados inúmeros vestígios de atividade humana, como artefatos líticos, ósseos e de conchas, restos de fogueiras, sepultamentos humanos, entre outros materiais. 

- Os sambaquis variam de pequenas elevações (de 2 metros de altura, por exemplo) até estruturas maiores, com mais de 30 metros de altura 

- Os maiores sambaquis do Brasil se encontram em Santa Catarina, nos municípios de São Francisco do Sul, Jaguaruna, Laguna e Garuva.

. Funções dos sambaquis: Habitação; Sepultamento e/ou ambos (Habitação e Sepultamento). Sob esta última função (Habitação e Sepultamento) pode-se afirmar que - no mesmo local - os sambaquieiros moravam, se alimentavam, confeccionavam suas armas e ferramentas e enterravam os seus mortos. 

- Os sambaquieiros eram povos pré-históricos, pescadores, coletores e caçadores que viviam em um determinado local por uma grande parte de suas vidas. Daí eles serem considerados, para muitos, povos sedentários. 

- Eles desconheciam a agricultura (cultivo de alimentos) e a domesticação de animais (criação). 

- Importância de seu estudo: informações sobre quem eram os sambaquieiros (ou o homem do sambaqui), como eram suas vidas e costumes, bem como o meio natural da época (e seus elementos). 

- Os sambaquis são “Bens Nacionais”, protegidos pela Lei Federal 3924 de 26 de julho de 1961 (Monumentos Arqueológicos e Pré-Históricos).

 

Fontes de Consulta 

. CRANCIO, Filomena: Os sambaquis de Saquarema (2010) – O Saquá (O Jornal de Saquarema) 

. GUIDA, Victor: Você sabe o que é um sambaqui? – Arqueologia e Pré-História 

. KNEIP, Lina Maria et al: Coletores e Pescadores Pré-Históricos de Guaratiba, Rio de Janeiro (1985) – UFRJ/UFF 

. KNEIP, Lina Maria et al: O Sambaqui de Manitiba I e Outros Sambaquis de Saquarema, RJ (2001) – Documento de Trabalho – 5: 1-91. Departamento de Antropologia/ Museu Nacional - UFRJ 

. OLIVEIRA, Nanci Vieira de; FUNARI, Pedro Paulo A ; MARIA, J. B. M. . Preservação e Conservação de Sítios Arqueológicos no Estado do Rio de Janeiro: Arqueologia em Angra dos Reis e Educação Patrimonial (2007). Apresentação de Trabalho/Comunicação 

. PINTO, Lilian Cardoso e Silva Costa: Arqueologia dos Sambaquis de Sernambetiba e Amourins (Recôncavo da Baía de Guanabara, RJ): Um Histórico das Pesquisas Zooarqueológicas - Rio de Janeiro, Museu Nacional, UFRJ, Departamento de Geologia e Paleontologia, 2012, x, 43pp. – Monografia de Especialização em Geologia do Quaternário (em PDF)

Texto: Você sabe o que é um sambaqui?

Para complementar as minhas explicações orais aos alunos que trabalharam sobre Sambaqui e os Povos Sambaquieiros (Grupo sob a minha responsabilidade), eu usei o texto abaixo, o qual compartilho neste espaço, de forma íntegra (exceto os negritos, que foram aplicados por mim).

Embora, implícito no texto (mas, talvez não perceptível para o aluno), eu ressaltei que os sambaquieiros eram povos coletores, pescadores e caçadores

 

Você sabe o que é um sambaqui?

                                                         Victor Guida

 

Ao longo de boa parte do litoral brasileiro, é possível que você encontre montes próximos a praias e lagoas que parecem ser feitos de conchas e areia. Alguns são enormes com mais de 40 metros de altura, outros são bem pequenos e não passam de 2 metros. Você já pode ter estado em cima de algum e não ter percebido o que era, ou então já parou observando de longe um desses montes e se perguntou o que era aquilo e como foi parar ali. 

Distribuição de sambaquis pelo Brasil
Imagem: Maria Dulce Gaspar

Acontece que essas estruturas, chamadas de sambaquis, são construções humanas feitas há tempos por grupos que ocuparam a costa do Brasil. As evidências arqueológicas mais antigas sugerem que grupos, conhecidos como sambaquieiros, teriam começado a erguer esses montes cerca de 8.000 anos atrás. O ápice da construção de sambaquis foi ocorrer somente alguns milênios mais tarde, entre 4.000 e 2.000 anos atrás, período ao qual pertencem a maioria dos sambaquis descobertos. Apesar de estarem presentes há tanto tempo na costa e de se estenderem por grandes regiões, essa prática cultural passou a não ser mais feita por volta de 1.000 anos atrás, e isso foi concomitante ao aparecimento de outros grupos no litoral. 

Mas afinal, o que de fato são sambaquis, qual a importância deles para as populações que os construíram e o que se sabe sobre essas populações? A arqueologia e suas áreas afins podem nos ajudar a responder essas questões e a compreender melhor quem eram os sambaquieiros. 

Os sambaquis são sítios constituídos basicamente por várias camadas compostas de areia, terra e conchas. A construção era um processo contínuo, sendo que alguns sambaquis ficaram ativos por milhares de anos. Dentro deles são encontrados inúmeros vestígios de atividade humana, incluindo artefatos líticos, ósseos e de conchas, fogueiras, sepultamentos humanos e diversos remanescentes de animais e de plantas. É devido às formas como foram construídos e aos vestígios neles encontrados que os sambaquis são sítios considerados bastante complexos. É também devido a essa riqueza e complexidade que temos informações sobre quem eram os sambaquieiros, como eram suas vidas e costumes. 

Sambaqui de Garopaba do Sul
Foto: Alexandro Demathé, 2010



Sambaqui da Figueirinha, em Santa Catarina
Foto: Maria Dulce Gaspar


Para começar, os sambaquieiros eram grupos caçadores-coletores que viviam em um determinado local pela maior parte de suas vidas. Possuíam grande intimidade com o ambiente marinho, o que é demonstrado pela localização dos sítios (próximos ao mar, lagoas e mangues), pelas atividades que realizavam, como canoagem e remo, e pela sua fonte principal de alimentação, os peixes. Inclusive, pesquisas apontam que sambaquieiros provavelmente possuíam diversas técnicas de pesca que incluíam o uso de rede, anzóis, armadilhas e espinhéis. Mas não só de peixes viviam os sambaquieiros. Também se alimentavam de moluscos, aves, mamíferos terrestres e aquáticos, e de vegetais (há até evidências de cultivo de alguns vegetais!!). Como podemos ver, a alimentação dos sambaquieiros era bem variada. 

Os sambaquieiros tinham uma produção bem variada de artefatos que atendiam a diversos propósitos e eram fundamentais para suas atividades de subsistência, ritos e costumes. Conchas e ossos de pequenos animais eram modificados para criação de instrumentos de pesca (ex.: anzóis), de caça (ex.: pontas ósseas) e acessórios (ex.: colares). Diferentes tipos de rocha eram utilizados na confecção de ferramentas de pedra polida, como machados, moedores e almofarizes; e de pedra lascada, como pontas de flecha e raspadores. Alguns grupos sambaquieiros também produziam esculturas líticas com formatos de animais, chamadas de zoólitos, que, apesar de pouco se saber sobre elas, demonstram sobretudo uma grande intimidade desses grupos com o ambiente marinho. 

Zoólito platiforme do Sambaqui de Imaruí,
Pescaria Brava, 1973.
Fonte: Museu do Homem do Sambaqui
"Pe. João Alfredo Rohr, S.J./Colégio Catarinense
Foto: Jefferson Garcia, 2017

Um dos aspectos fundamentais e mais marcantes dos grupos sambaquieiros é a importância dos rituais funerários. A própria construção dos sambaquis estaria centrada neles. Era comum a ocorrência de sepultamentos com acompanhamentos funerários, os quais incluíam animais inteiros e artefatos, como colares de conchas, joias, ferramentas, entre outros. Eram também realizados festins funerários durante o sepultamento e em visitas posteriores aos locais de enterramento, ocasiões em que se comia em grandes quantidades e se fazia oferendas com alguns animais. 

Croqui de um sepultamento encontrado 
no Sambaqui Morro do Ouro e seus
acompanhamentos funerários.
As setas indicam zoólitos.
Imagem: Modificado de Tiburtius; Bigarela (1960)


Como visto, os sambaquieiros eram grupos socialmente complexos e heterogêneos, com uma cultura material bastante diversa e que tinham os rituais funerários como um dos pontos centrais de suas sociedades e na construção dos sambaquis. Apesar de tanto conhecimento gerado acerca dos sambaquieiros e dos sambaquis ao longo de décadas de pesquisa arqueológica, ainda há muito a se descobrir e conhecer sobre esses grupos que ocuparam parte do nosso litoral tempos atrás.

Fonte: Arqueologia e Pré-História

Feira Cultural: A Influência Africana na Cultura Brasileira - Turma 1701

 

Cartaz confeccionado e pregado na porta da sala

No dia 05 de setembro, na E.M. Dilermando Cruz, foi realizada a Feira Cultural, evento previsto para 3° Bimestre.  

Cada turma do Ensino Fundamental II, de ambos os turnos do diurno (manhã e tarde), esteve sob a coordenação de um ou mais professores, cuja temática abordada era focada na ancestralidade. 

Eu e outros professores estivemos à frente das turmas 1701 e 1705, estando a primeira sob a coordenação dos professores Alex (Educação Física), minha (Geografia) e Fábio (Matemática). 

A turma 1705 ficou sob a responsabilidade dos professores Valter (Matemática), eu (Geografia) e Daniela (Ciências).  

Para efeito descritivo de cada uma das abordagens, vou especificá-las separadamente. 

Problemas quanto à elaboração e à apresentação propriamente dita, no dia da referida Feira Cultural, ocorreram em ambas as turmas. 

Ademais, por recomendação da Direção e da Coordenação, as salas de aulas tiveram que ser divididas em dois espaços, sendo um para a turma da manhã e o outro para os alunos da tarde. Medida esta que dificultou muito o desenvolvimento dos trabalhos e o espaçamento dos estudantes.  

Não restam dúvidas que esta situação é normal e até previsível. No entanto, é algo que nos aborrece muito, pois explicamos passo a passo como deve ser feito e, muitos alunos, não seguem as nossas orientações. 

O tópico principal da Turma 1701 foi a influência africana na cultura brasileira. Para este tópico foi tomado - por base - o samba-enredo da Mocidade Independente de Ilhabela, SP (2014), o qual já trabalhei com o Ensino Médio, em outra Feira Cultural e, como tópico no Círculo de Leitura, neste ano. 

ÁFRICA BRASILEIRA

Edmara Gonçalves (enredo) e Osvaldo de Filinho (samba-enredo)

Samba enredo da Mocidade Independente de Ilhabela, SP (2014)

 

Vem no batuque Iô Iô, vem Ia Iá

Vem com a Mocidade nosso canto entoar

            Tem agogô, ago, tem berimbau   (3 x)

Na batida do tambor

A gente faz o ¨Carnaval¨

 

Ó Mãe África

Berço da existência humana

A vida se refaz

na sua fértil savana

Viemos louvar o seu povo

Que mesmo na dura escravidão

Preservou sua cultura e a sua devoção

Com seu trabalho muito contribuiu

no alvorecer das riquezas do Brasil, do meu Brasil

 

Então chegou Zumbi

E a luta pela liberdade

Valeu, valeu Zumbi

Hoje a luta continua pela igualdade

 

E tem também Maracatu, Caxambu, Afoxé

E o batuque da senzala

que virou samba no pé (BIS)

 

Reis e Rainhas e

suas Divindades

Salve Mandela,

Salve a Mocidade

 

Os tambores vão rufar a noite inteira

E o samba vai até de manhã

E a Águia Guerreira com a velha afã

Vem na esperança de ser Campeã...


  

Apesar da letra conter uma falha, pois não menciona a influência africana na culinária brasileira, um dos subgrupos explanou a respeito. 

Além do subgrupo de alunos que trabalharam com o Prof. Fábio (Matemática), os demaissob a minha orientação e do Prof. Alex (Educação Física) – abordaram os seguintes tópicos: 

1° Subgrupo: África: Do Berço da Humanidade ao Tráfico de Escravos;

         - A razão da África ser o Berço da Humanidade;

         - A Escravidão na África e o tráfico de escravos

            para o Brasil;             

         - Principais rotas do tráfico de escravo África-Brasil.

 

2° Subgrupo: África Brasileira: A Influência Africana em 

                             nossa Cultura;

         - As diversas contribuições da cultura africana em 

            nosso país (os alunos subdivididos por tópico):

                   2.1. Instrumentos Musicais;

                   2.2. Culinária;

                   2.3. Danças;

                   2.4. Religiões e o Sincretismo Religioso.

 

3° Subgrupo: Personalidade/Zumbi;

         - Quem foi, o seu papel junto ao Quilombo dos 

            Palmares e sua morte.


4° Subgrupo: Personalidade/Nelson Mandela.

         - Quem foi, o seu papel contra o regime de segregação 

            racial (Apartheid) na África do Sul e sua morte. 

Os alunos da 1701 foram muito prejudicados, pois a apresentação oral deles e a atividade finalizadora do Grupo (cantar o samba-enredo) foram afetadas diretamente pela turma, ao lado, que fez uso de instrumento musical de grande sonoridade, o bumbo. 

Esses problemas foram relatados à Direção, sem prejuízo à avaliação da turma. 

Em termos de lembrancinha para os professores-visitantes e responsáveis foi oferecido junto, a um tambor, a “Lenda do Tambor Africano”, que consiste em um conto popular da Guiné-Bissau. 

A sorte dos alunos foi que o comércio do SAARA (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) já estava vendendo peças natalinas, como o tambor para enfeite de árvore de Natal.

 


FEIRA CULTURAL 2023 - TURMA 1701

Conto Popular da GUINÉ-BISSAU

 

 LENDA DO TAMBOR AFRICANO 

Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo 

Macaquinho de nariz branco.

 

Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco 

resolveram fazer uma viagem à Lua 

a fim de trazê-la para a Terra.   

 

Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, 

um deles, dizem que o menor,

teve a ideia de subirem uns por cima dos outros, 

até que um deles conseguiu chegar à Lua.

 

Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, 

menos o menor, que ficou pendurado na Lua. 

Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir.

 

A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, 

como regalo, um tamborinho.

 

O macaquinho foi ficando por lá, 

até que começou a sentir saudades 

de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

     

A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, 

pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, 

assim que chegasse, 

tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.

 

O Macaquinho foi descendo feliz da vida, 

mas na metade do caminho, 

não resistiu e tocou o tamborinho. 

Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou 

que o Macaquinho houvesse chegado à Terra 

e cortou a corda.

 

O Macaquinho caiu e, antes de morrer,

ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, 

que aquilo que ele tinha era um tamborinho, 

que deveria ser entregue aos homens do seu país.

 

A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. 

Vieram pessoas de todo o país e, 

naquela terra africana, 

ouviam-se os primeiros sons de tambor. 


Imagem do meu acervo particular
Alguns alunos do Grupo do Prof. Fábio 
(Matemática)





Grupos orientados por mim e pelo Prof. Alex

1° Subgrupo (África)

2° Subgrupo 
(2.1. Influência africana na Música)






2° Subgrupo
(2.2. e 2.3. Influência africana na Culinária e
na Dança)

2° Subgrupo
(2.4. Influência africana na Religião)


3° e 4° Subgrupos
(Personalidades: Zumbi e Mandela)