segunda-feira, 18 de setembro de 2023

O Racismo narrado em Texto Biográfico

 

Imagem capturada na Internet
Fonte: Pinterest

Trabalhando a questão do Racismo, com os alunos do 7° Ano, no Círculo de Leitura, sob uma estruturação de Texto Biográfico. 


Racismo: Um Combate Diário em um Campo Minado

                                     Por Marli Vieira de Oliveira da Silva

 

Meu nome é Rebeca Duarte. Completei 20 anos no mês passado e moro na cidade do Rio de Janeiro, onde nasci e fui criada com os meus pais.  

Terminei o Ensino Médio no ano passado, pois parei de estudar por dois anos. Hoje, eu percebo que esta minha decisão de abandonar os estudos só me prejudicou, mas – na época – eu achava que era a coisa mais certa a fazer.  

Eu sempre sofri Bullying e racismo nas escolas por ser negra. Em cada escola, tanto do Ensino Fundamental I, do Fundamental II e do Ensino Médio, sempre haviam alunos que me provocavam e faziam piadas por causa da minha cor ou do meu cabelo. Por diversas vezes fui chamada de macaca e que o meu cabelo era duro como uma vassoura de piaçava. Eu sofria e chorava muito por isso e, com o passar dos anos, as coisas pioraram, principalmente, em relação aos deboches. 

Meus pais nunca souberam, pois eu sentia vergonha em contar, quando – na verdade – eu jamais deveria ter escondido deles. Eles sempre conversavam comigo a respeito do racismo, do preconceito e do Bullying, mas eu alegava que não sofria nada nas escolas. 

Também não contava para os professores, apesar de muitos mencionarem o assunto em suas aulas. Lembro-me do dia em que minha amiga Larissa Costa falou com a professora de Português, do 7° Ano, que eu sofria Bullying na sala e que alguns alunos me chamavam de macaca. Ela, inclusive, citou os nomes dos alunos e eu, temerosa, neguei, dizendo que havia sido apenas uma brincadeira deles. Depois, senti vergonha por ter mentido e por ter colocado a minha amiga em uma situação embaraçosa. 

Quando eu estava no 8° ano decidi deixar o meu cabelo crescer no estilo Black Power. Era moda na época. Na ocasião, a professora de História explicou que esse penteado era usado como forma de identidade e que, no Brasil, virou símbolo de resistência histórica e de empoderamento da população afrodescendente. Eu adorei saber e resolvi adotar o estilo. Afinal, mudanças como estas demonstravam aceitação e valorização de minha identidade afro-brasileira. 

Eu fiquei muito bem e adorava o meu novo estilo de cabelo, mas – infelizmente - tive de cortá-lo, pois virei – mais uma vez – motivo de piada na escola por causa dele. Foi terrível cortá-lo para me livrar das piadinhas. Chorei muito, pois me vi forçada a não deixar a minha vontade prevalecer por causa dos outros. 

No Ensino Médio, por mais que os professores falassem contra o preconceito ou da importância de tratarmos todas as pessoas de forma igual, nada mudou. Eu continuei sofrendo racismo e, ao mesmo tempo, Bullying. Vivia chorando, porque sempre havia alguém que implicava com a minha cor e com o meu cabelo. Eu vivia sob um intenso estado de sofrimento emocional e, por isso, passei a não ter mais vontade de ir ao colégio. 

Certo dia, eu não aguentei mais e decidi abandonar o colégio. Eu não deveria ter feito isso, pois acabei me prejudicando, o que me trouxe arrependimento depois. Mas, segui com a minha decisão... 

Os meus pais ficaram chateados comigo e, foi aí, que eles perceberam que eu não estava bem. Minha madrinha até sugeriu a eles, que eu fosse a uma psicóloga, mas eles não tinham condições financeiras para arcar com as despesas. E assim, minha vida continuou e me isolei mais ainda. 

Sem fazer nada, minha cabeça piorou, até que – um dia - eu mesma resolvi mudar! Eu não aguentava mais viver chorando e sendo infeliz por causa dos outros. E, o pior, com uma vida estagnada, parada. Eu tinha que ser mais forte e enfrentar os problemas de frente. É a hora de mudar de vida, assim pensei e decidi! 

Procurei e arrumei um emprego de vendedora no shopping, fiz novas amizades que me ensinaram muitas coisas, inclusive, a me valorizar como pessoa e a não me importar com a opinião dos outros. Afinal, ninguém mandava na minha vida! Eu mesma é que deveria decidir se iria continuar sofrendo, sempre sozinha ou se iria viver a minha vida, ignorando a opinião perversa dos outros. 

Mais segura e tendo a sensação de ser mais forte, retornei aos estudos à noite e me abri com os meus pais, que se culparam por não ter percebido, antes, o que se passava comigo. Mas, eu não os culpo, pois quem escondeu deles fui eu mesma. 

Hoje, eu sou outra pessoa, não admito brincadeiras de mau gosto e o preconceito por causa da minha cor ou pelo meu cabelo. O racismo é sério e deve ser combatido. Por isso, devo denunciar, pois é crime. 

Se for preciso, discuto com qualquer um contra estas atitudes tóxicas, seja por prática de Bullying seja por racismo. O importante é lutar para mudar o rumo de nossas vidas e, com isso, mudar a nossa história em busca de ser mais feliz, de ser respeitada e de fazer um mundo melhor.   

Ah, já ia me esquecendo, sinto-me muito, muitíssima feliz por ter voltado a usar o meu cabelo no estilo Black Power, pois, além da minha cor, este representa também a minha identidade afro-brasileira, da qual sinto orgulho. Afinal, sou negra, sim, com muita honra!

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