Trecho do leito do rio Negro Imagem capturada na Internet Fonte: Agência Brasil Foto: Alex Pazuello (SECOM) |
Outro tópico referente a desastres naturais que marcou muito o mês de setembro e, que ainda, se encontra em curso na região Norte do nosso país é a estiagem severa (seca) que atinge, principalmente, os estados da Amazônia Ocidental (Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre). Notadamente, a estiagem deste ano está sendo mais seca e mais longa que os episódios anteriores, causando impactos ambientais negativos na região.
Não resta dúvida que este evento, em si, não é novidade nenhuma no Norte do Brasil, tendo em vista que em outros anos (2005, 2010, 2015 e 2016), também, houve períodos de estiagens severas, com registros de graves problemas ambientais e socioeconômicos.
Além de afetar a dinâmica ambiental da região, a forte estiagem atinge direta e/ou indiretamente a população local, seja esta ribeirinha ou não, tanto em termos de abastecimento de água quanto à questão econômica, prejudicando o transporte de cargas nas principais hidrovias e as atividades produtivas, sobretudo, do setor Primário (agricultura, criação de animais, extrativismo).
Várias imagens que circularam e que, ainda, circulam em diferentes
reportagens acerca este respeito, mostram as consequências desta estiagem severa na região Norte do Brasil, as quais destaco, entre outros efeitos:
- Baixos níveis das águas dos rios e lagos;
Comunidade de Catalão, Iranduba Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: Gato Júnior (Rede Amazônica) |
Imagem capturada na Internet Fonte: Forbes |
- Trechos do leito fluvial secos e lagos secos;
Trecho do leito do rio Madeira seco Greta de contração causada pela perda de água (desidratação) Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: Emily Costa (RO) |
Imagem capturada na Internet Fonte: Globo Rural Foto: Yan Boechat |
- Formação de bancos de areias ao longo do leito fluvial (rio);
Bancos de areia Imagem capturada na Internet Fonte: Tribuna Popular |
Município de Benjamin Constant (AM) Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: Rôney Elias (Rede Amazônica) |
- Mortandade de diversos botos vermelhos, de tucuxis (espécie de golfinho de água doce) e, também, de outras espécies da fauna dos rios (peixes, filhotes de jacarés etc.);
Com exceção dos peixes, estima-se que foram mais de 150 animais mortos em meio a esse período de estiagem severa na região e de aquecimento da água;
Boto morto encontrado no Lago Tefé, no médio Solimões (AM) Imagem capturada na Internet Fonte: Agência Brasil |
Tucuxi morto no Lago Tefé (AM) Imagem capturada na Internet Fonte: Conexão Planeta Foto: Miguel Monteiro (Instituto Mamirauá) |
Diferenças entre o Boto e o Tucuxi Imagem capturada na Internet Fonte: Facebook Página: Comunidade Espaço Paraense |
Peixes mortos no rio Amazonas Imagem capturada na Internet Fonte: Brasil Amazônia Agora |
Animais mortos no rio Solimões, em Manacapuru (AM) Imagem capturada na Internte Fonte: Jornal do Brasil Foto: Edmar Barros (Agência Pública) |
- Interrupção da produção de energia elétrica, mediante o baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas locais.
No caso da suspensão, por duas semanas, das operações da hidrelétrica de Santo Antônio (RO), no rio Madeira, por duas semanas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu pelo acionamento de duas usinas termelétricas, a Termonorte I e Termonorte II, ambas localizadas em Porto Velho, a fim de garantir o fornecimento de energia para os estados de Rondônia e do Acre;
Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, a quarta maior em produção de energia no país, teve que interromper suas operações Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: Beethoven Delano |
- Escassez e/ou falta de água potável para a população local;
Lago Mauá, Zona Leste de Manaus (AM) Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: Maurício Martins (Rede Amazônica) |
Imagem capturada na Internet Fonte: Brasil Amazônia Agora Foto: Edmar Barros (Futura Press/Estadão) |
- Aumento expressivo de doenças associadas ao consumo de água
imprópria (diarreia, dor de estômago, vômito e febre);
- Dificuldades em cultivar (agricultura familiar) e de abastecimento de
alimentos no comércio;
Mantimentos sendo levados para moradores Imagens capturada na Internet Fonte: Agência Brasil |
- Migração forçada da população para locais mais seguros;
- Ocorrência do fenômeno “terra caída” nas margens dos rios (desmoronamento do barranco junto à margem dos mesmos), que pode provocar a queda e o arraste de construções;
Fenômeno "Terras caídas" Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo |
Imagem capturada na Internet Fonte: Correio do Povo |
- Problemas quanto ao uso do transporte fluvial (muito utilizado para passageiro e para cargas, na região), devido aos níveis baixos da água e da ocorrência de bancos de areia;
Imagem capturada na Internet Fonte: Amazônia |
Embarcações encalhadas em rio seco no Amazonas Imagem capturada na Internet Fonte: Poder 360 |
Embarcações encalhadas Imagem capturada na Internet Fonte: Portal Mulher Amazônica |
- Isolamento de comunidades;
Trecho do rio Negro, no Distrito de Cacau Pirera, em Iranduba (AM) Imagem capturada na Internet Fonte: Outras Mídias (por BBC Brasil) Foto: Michael Dantas (AFP) |
Imagem capturada na Internet Fonte: SelesNafes |
Fumaça proveniente das queimadas encobriram Manaus. no dia 28/09/2023 Imagem capturada na Internet Fonte: G1/Globo Foto: William Duarte (Rede Amazônica) |
Imagem capturada na Internet Fonte: Conexão Planeta |
De acordo com os especialistas, os fatores responsáveis por
este quadro consistem na combinação de dois
fenômenos: o El Niño (aquecimento
acima da média do oceano Pacífico, próximo à linha do Equador) e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte.
Ambos estão causando essa forte estiagem, o calor intenso e o aquecimento da água. E não podemos
esquecer, também, do Aquecimento Global (causado,
sobretudo, por ações antrópicas com a emissão de gases de efeito estufa), que
deve estar contribuindo, também, para esta situação
climática crítica, embora não haja confirmação concreta dos
especialistas. Havendo apenas conjecturas...
Como eu mencionei, anteriormente, esses eventos de seca
extrema já foram registrados outras vezes na referida região,
todavia, a deste ano está sendo considerada como uma anomalia, justamente, por causa
desta combinação dos fatores, acima, reportados. E, de acordo com os
especialistas, elas ainda continuarão ocorrendo, na referida região, até o ano que vem
(2024).
Imagem capturada na Internet Fonte: Agência Brasil |
Em consequência disso, trechos dos rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira apresentaram níveis mínimos históricos, segundo dados divulgados pelo Porto de Manaus, pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) e pela Defesa Civil do estado do Amazonas.
O rio Negro, em Manaus, por exemplo, bateu o recorde negativo no último dia 16/10, com registro assinalado pela régua do Porto de Manaus na altura de 13,59 m (a mínima registrada, até então, era de 13,63 m, em 24 de outubro de 2010). E, ao longo da semana, o seu nível continuou a baixar, chegando a marca de 13,29 m no dia 19/10.
Segundo este levantamento, em 120 anos de medição do nível do rio Negro, nunca houve indicadores tão baixos quanto esses, registrados neste mês de outubro (2023).
Na 5ª feira passada (19/10), segundo Serviço Geológico do Brasil (SGB), outros rios da bacia Amazônica também bateram recordes históricos negativos.
Na estação de medição, localizada no município de Manacapuru (AM), no baixo rio Solimões, o nível atingido foi de 3,61 m, quando a última mínima registrada foi de 3,92 m, em 26 de outubro de 2010.
O rio Solimões, praticamente, virou uma superfície desértica, com enormes bancos de areia dispostos em seu leito, nas imediações das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, em Tefé. E, com isso, os indígenas ficaram isolados.
Com o consumo de água imprópria há comunidades que estão apresentando um aumento expressivo de nativos com diarreia, vômito, dor de estômago e febre.
A perspectiva é que ocorra uma subida lenta do nível das águas do rio Solimões, pois choveu no Peru e no alto Solimões, em cidades como Tabatinga (AM) e Benjamin Constant (AM).
Já, na estação de medição da cidade de Itacoatiara (AM), o nível do rio Amazonas, marcou 90 cm, abaixo de 1 metro, cujo recorde negativo anterior foi de 91 cm, em 24 de outubro de 2010.
O rio Madeira apresentou registros de níveis mínimos históricos em Nova Olinda do Norte (AM) e Humaitá (AM), ambos batendo os últimos recordes negativos de 1995 e 1969, respectivamente, segundo o controle feito pela Defesa Civil do estado do Amazonas.
No rio Madeira, em Porto Velho (Rondônia), a mínima histórica registrada este ano (8 de outubro), foi de 1,10 m. A última mínima foi registrada em 2022.
Com o baixo nível de suas águas, a usina hidrelétrica Santo Antônio, a quarta maior do Brasil, localizada no rio Madeira, precisou paralisar suas operações por duas semanas. Ela só voltou a operar após a subida do seu nível hídrico, no dia 16 do mês vigente.
Vale ressaltar, ainda, que essa forte estiagem e o calor intenso por efeito do El Niño facilitaram, ainda, a prática de queimadas (ilegais) e, também,
que a propagação do fogo ocorresse
de forma mais rápida na região (queimada
descontrolada). Em geral, as queimadas são empregadas para limpeza de terreno para posterior cultivo (agricultura)
ou pastagem (pecuária).
Com o período de estiagem mais forte e duradouro, essa
recorrência
da prática
das queimadas dificulta ou torna inviável a recuperação das áreas já
degradadas, tornando irreversível a recomposição das mesmas.
Além disso, eles afetam a geração de umidade na floresta Amazônica, o que – decisivamente - interveem na dinâmica dos chamados “rios voadores” amazônicos.
Toda essa situação é muito grave e preocupante, pois atinge toda a população (ribeirinha, da floresta, rural, urbana e indígena), tanto na esfera social quanto na área econômica, política e ambiental.
A vida aquática amazônica se encontra seriamente ameaçada, contudo a causa da morte de botos e de tucuxis ainda não foi identificada. O que se sabe é que a grande mortandade de ambas as espécies, bem como de outros animais da fauna aquática (rios e lagos) ocorreu neste período de estiagem severa na região Norte do país.
Segundo os pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, as medições realizadas na água Lago Tefé (AM) registraram 40°C de temperatura, em uma profundidade de três metros, enquanto a temperatura média histórica mais alta, registrada, era de 32°C.
Para agravar, a população de vários municípios já está
sofrendo com a falta
de alimentos e de água potável, assim como do desabastecimento
de combustíveis e da falta de acesso ao transporte fluvial, que impedem diretamente
a locomoção das pessoas a outras áreas.
Imagem capturada na Internet Fonte: Amazônia Real |
“A seca severa na Amazônia, em 2023, destaca a interconexão
dos fenômenos climáticos globais e regionais.
É
um lembrete contundente da importância
de
abordar o tema das emissões de gases de efeito estufa
e
a proteção ambiental.
Para
evitar cenários mais desastrosos,
ações
coordenadas são necessárias para mitigar
os impactos da crise climática na região e
em todo o mundo.”
(Jesuítas Brasil, 2023)
Fontes de Consulta
. Amazônia: na seca histórica, o suplício das famílias (2023) – Outras Mídias
. CARVALHO, Rosiene: ‘Aqui não chega socorro na seca’, relatam comunidades em lago no Amazonas (2023) - Pública
. CASEMIRO, Poliana: Seca extrema pode ter agravado desmoronamento que engoliu vila no interior do Amazonas; entenda – G1/Globo
. CRUZ, Jaíne Quele: Seca histórica do rio Madeira paralisa operações em uma das maiores hidrelétricas do Brasil (2023) - G1/Globo
. Em meio à seca na Amazônia, 110 botos são achados mortos no Lago Tefé (AM), aponta Instituto Mamirauá (2023) – G1/Globo
. Estiagem assola a região amazônica em 2023: impactos globais
e o fenômeno das ‘terras caídas’ (2023) – Jesuítas Brasil
. FARIAS, Elaíze: Seca no Amazonas deixa cidades isoladas e com escassez de alimento (2023) – Amazônia Real
. FERRARI, Hamilton e NAPOLI, Eric Napoli: Seca no Norte reduz atividade econômica e pode impactar a inflação (2023) - Poder 360
. GARCIA, Mariana e CALGARO, Fernanda: Seca fora do normal em rios da Amazônia tem relação com El Niño e aquecimento do Atlântico Norte; entenda (2023) – G1/Globo
. GIRARDI, Giovana: Aquecimento anormal do Atlântico agrava seca na Amazônia e traz riscos ‘imprevisíveis’ (2023) - Pública
. LIMA, Leanderson: Os sem água e sem peixe (2023) – Amazônia Real
. Mais da metade das cidades do AM entram em situação de emergência devido à seca severa (2023) – G1/Globo
. MONTEIRO, Eliena e PAIVA, Jucélio: Com mais um lago de Manaus totalmente seco, quase 50 famílias têm dificuldade de locomoção e de acesso a água potável (2023) - G1/Globo
. NASCIMENTO, Luciano: Sobe para 23 total de cidades em situação de emergência no Amazonas (2023) – Agência Brasil
. O aquecimento do Pacífico e do Atlântico está intensificando a
seca na Amazônia (2023) – Brasil Amazônia Agora
. PUTINI, Júlia: Em meio à seca na Amazônia, 110 botos são achados mortos no Lago Tefé (AM), aponta Instituto Mamirauá (2023) – G1/Globo
. Relato de uma certa Amazônia: a pior seca em mais de dez anos (2023) – Portal Mulher Amazônica
. Rio Amazonas enfrenta baixa histórica de 8 metros com seca extrema (2023) - Brasil Amazônia Agora
. Seca do Madeira: operações da Usina de Santo Antônio são retomadas após duas semanas de paralisação em RO (2023) – G1/Globo
. Seca do Rio Madeira: Comitê autoriza governo a acionar termelétricas para garantir energia em Rondônia e no Acre (2023) – Tribuna Top
. Seca extrema faz rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira atingirem mínimas históricas (2023) – Tribuna Popular
. Seca extrema na Amazônia deve durar até dezembro de 2023, afirmam pesquisadores do MCTI (2023) – Amazônia
. Seca extrema na Amazônia pode se agravar e bater recorde histórico (2023) - WWF
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