quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Trabalhando com Letra de Música Contextualizada: Meu Guri

Imagem capturada na Internet
Fonte: You Tube

 

Como muitos sabem, eu sempre gostei de trabalhar letras de músicas contextualizadas, pois, além destas exercerem um grande poder de atração sobre os alunos, por uma atividade mais agradável, ao mesmo tempo, do ponto de vista pedagógico, elas são interessantes e educativas mediante ao trabalho interpretativo dos conteúdos implícitos e explícitos em seus versos e refrãos. 

No âmbito da aula de Círculo de Leitura, eu aproveitei – depois de trabalharmos um texto meu (Racismo: Um Combate Diário em um Campo Minado), postado neste espaço no dia 18 de setembro deste ano - para explorar a letra da música Meu Guri, do compositor e cantor, Chico Buarque. 

É claro que todo um procedimento prévio é realizado:

1. Ouvir a música acompanhando a leitura (silenciosa) da letra;

2. Devidos esclarecimentos quanto às dúvidas, levantadas pelos alunos, e de alguns termos da letra (de importância para a análise da música) e outros;

3. Ouvir novamente a música e, ao mesmo tempo, cantar em voz alta.  

A Atividade Dirigida de interpretação da letra da música, na maioria das vezes, eu não realizo no mesmo dia. Ainda mais com essa, a qual pedi para que cada aluno – na sala – desenhasse o “seu Guri” (como eles o imaginavam) em uma folha padrão (trazida, por mim, para exposição). 

Eles ainda pintaram e descreveram dados dele, com nome, apelido (opcional), idade, altura, cor, estilo de roupa e acessórios. 

Eu só pude fazer isso, sequencialmente, porque em ambas as turmas de Círculo de Leitura, deste ano, possuem dois tempos de aula no mesmo dia. 

A letra desta música é bastante rica e abre um leque muito grande de discussões acerca de racismo,  desigualdade social, econômica, relações familiares (mãe e filho), entre outros aspectos.

  

MEU GURI

                            Chico Buarque

 

Quando, seu moço, nasceu meu rebento

não era o momento dele rebentar

já foi nascendo com cara de fome

e eu não tinha nem nome pra lhe dar.

 

Como fui levando não sei lhe explicar.

Fui assim levando ele a me levar

e na sua meninice ele um dia me disse

que chegava lá, olha aí, olha aí,

olha aí, ai o meu guri, olha aí,

olha aí, é o meu guri e ele chega.

 

Chega suado e veloz do batente e

traz sempre um presente pra me encabular

tanta corrente de ouro, seu moço,

que haja pescoço para enfiar.

Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro

chave, caderneta, terço e patuá

um lenço e uma penca de documentos

pra finalmente eu me identificar, olha aí,

olha aí, ai o meu guri, olha aí,

olha aí, é o meu guri e ele chega.

 

Chega no morro com o carregamento

pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador.

Rezo até ele chegar cá no alto

essa onda de assaltos tá um horror.

Eu consolo ele, ele me consola

boto ele no colo pra ele me ninar

de repente acordo, olho pro lado

e o danado já foi trabalhar, olha aí,

olha aí, ai o meu guri, olha aí,

olha aí, é o meu guri e ele chega.

 

Chega estampado, manchete, retrato

com venda nos olhos, legenda e as iniciais

eu não entendo essa gente, seu moço

fazendo alvoroço demais

o guri no mato, acho que tá rindo,

acho que tá lindo de papo pro ar

desde o começo eu não disse, seu moço?

 

Ele disse que chegava lá

olha aí, olha aí,

olha aí, ai o meu guri, olha aí,

olha aí, é o meu guri.


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