Imagem capturada na Internet Fonte: You Tube |
Como muitos sabem, eu sempre gostei de trabalhar letras de músicas contextualizadas, pois, além destas exercerem um grande poder de atração sobre os alunos, por uma atividade mais agradável, ao mesmo tempo, do ponto de vista pedagógico, elas são interessantes e educativas mediante ao trabalho interpretativo dos conteúdos implícitos e explícitos em seus versos e refrãos.
No âmbito da aula de Círculo de Leitura, eu aproveitei – depois de trabalharmos um texto meu (Racismo: Um Combate Diário em um Campo Minado), postado neste espaço no dia 18 de setembro deste ano - para explorar a letra da música Meu Guri, do compositor e cantor, Chico Buarque.
É claro que todo um procedimento prévio é realizado:
1. Ouvir a música acompanhando a leitura (silenciosa)
da letra;
2. Devidos esclarecimentos quanto às dúvidas,
levantadas pelos alunos, e de alguns termos da letra (de importância
para a análise da música) e outros;
3. Ouvir novamente a música e, ao mesmo tempo, cantar em voz alta.
A Atividade Dirigida de interpretação da letra da música, na maioria das vezes, eu não realizo no mesmo dia. Ainda mais com essa, a qual pedi para que cada aluno – na sala – desenhasse o “seu Guri” (como eles o imaginavam) em uma folha padrão (trazida, por mim, para exposição).
Eles ainda pintaram e descreveram dados dele, com nome, apelido (opcional), idade, altura, cor, estilo de roupa e acessórios.
Eu só pude fazer isso, sequencialmente, porque em ambas as turmas de Círculo de Leitura, deste ano, possuem dois tempos de aula no mesmo dia.
A letra desta música é bastante rica e abre um leque
muito grande de discussões acerca de racismo, desigualdade social, econômica, relações familiares (mãe e filho), entre outros aspectos.
MEU GURI
Chico Buarque
Quando,
seu moço, nasceu meu rebento
não era o
momento dele rebentar
já foi
nascendo com cara de fome
e eu não
tinha nem nome pra lhe dar.
Como fui
levando não sei lhe explicar.
Fui assim
levando ele a me levar
e na sua
meninice ele um dia me disse
que
chegava lá, olha aí, olha aí,
olha aí,
ai o meu guri, olha aí,
olha aí,
é o meu guri e ele chega.
Chega
suado e veloz do batente e
traz
sempre um presente pra me encabular
tanta
corrente de ouro, seu moço,
que haja
pescoço para enfiar.
Me trouxe
uma bolsa já com tudo dentro
chave, caderneta,
terço e patuá
um lenço
e uma penca de documentos
pra
finalmente eu me identificar, olha aí,
olha aí,
ai o meu guri, olha aí,
olha aí,
é o meu guri e ele chega.
Chega no
morro com o carregamento
pulseira,
cimento, relógio, pneu, gravador.
Rezo até
ele chegar cá no alto
essa onda
de assaltos tá um horror.
Eu
consolo ele, ele me consola
boto ele
no colo pra ele me ninar
de
repente acordo, olho pro lado
e o
danado já foi trabalhar, olha aí,
olha aí,
ai o meu guri, olha aí,
olha aí,
é o meu guri e ele chega.
Chega
estampado, manchete, retrato
com venda
nos olhos, legenda e as iniciais
eu não
entendo essa gente, seu moço
fazendo
alvoroço demais
o guri no
mato, acho que tá rindo,
acho que
tá lindo de papo pro ar
desde o
começo eu não disse, seu moço?
Ele disse
que chegava lá
olha aí,
olha aí,
olha aí,
ai o meu guri, olha aí,
olha aí,
é o meu guri.
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