sábado, 31 de outubro de 2020

Brasil: Fogo que arde por queimar - Parte II (Fatores Naturais e Antrópicos)

Imagem capturada na Internet
Fonte: AC24horas

Texto: Marli Vieira de Oliveira da Silva

Todo ano é a mesma coisa...

Porque há uma combinação de fatores naturais sazonais e antrópicos que resultam na chamada “temporada das queimadas”.

Como muitos sabem, através do Blog mesmo, eu morei dois anos e meio em Araguaína, no norte do estado do Tocantins. No dia em que cheguei à cidade, o avião teve dificuldades de pousar no aeroporto devido às péssimas condições de visibilidade em decorrência da espessa camada de fumaça proveniente das queimadas nos arredores do município (predominantemente voltada para a pecuária de corte). Assim como também presenciei fogo em um pasto, situado paralelo a uma rodovia e as labaredas invadindo a pista. Perigo eminente de acidente! Ambos os casos aconteceram em agosto de 1993, ou seja, há 27 anos.

E, de lá pra cá, quase nada mudou! Não, pelo contrário, só agravou!

Em relação às medidas punitivas aos verdadeiros responsáveis pelos desmatamentos e pelas queimadas em nosso país, nada ou quase nada mudou em termos de aplicação de modo efetivo.

Como reflexo das medidas do governo federal relativas à redução ou corte do orçamento e do número de agentes fiscalizadores nas operações, o quantitativo de multas aplicadas às ocorrências de desmatamento e queimadas ilegais pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), este ano, por exemplo, no Mato Grosso do Sul, caíram 22% em comparação com ao mesmo período do ano passado (2019).

"O número de autuações lavradas é um dado importante
que pode traduzir o esforço do governo em punir 
realmente aqueles que cometem crimes ambientais.
Quanto menor a presença da fiscalização em campo,
fazendo o seu trabalho de responsabilizar os infratores,
maior a sensação de impunidade"
(servidor do Ibama – não identificado - à BBC News Brasil 
publicado no G1 - Natureza)

Não resta dúvida que, além das diversas brechas existentes no âmbito da legislação ambiental brasileira, ela - por si só - perde sua força quando há outras relações envolvidas e interesses mais fortes, como em situações semelhantes a esta...

O período da estiagem e, consequentemente, das queimadas acontece no inverno, ou seja, na estação mais seca do ano, cujo período se estende de 20 de junho a 22 de setembro.

Estamos em plena primavera, que é uma estação mais chuvosa. A tendência é que estas atividades diminuam gradativamente, pois as chuvas passarão a ser mais frequentes. Mas, isso não significa que as mesmas serão encerradas, não! Outras queimadas, por sua vez, estarão ocorrendo em pontos diferentes do país, em função das condições climáticas mais favoráveis.

Infelizmente, a previsão é que estas queimadas, nas regiões Norte e Centro-Oeste, ainda terão continuidade até, pelo menos, este mês de outubro, assim como em outras áreas do país. O Nordeste, por exemplo, apresenta maior incidência no período de outubro a janeiro (GASPAR, 2012).

Como já foi dito em reportagens e confirmados por levantamentos, agosto e setembro são e foram os meses mais críticos, tal como foi observado por meio dos noticiários e reportagens divulgados, diariamente, nas mídias.

Além dos fatores de caráter natural, sazonal, característicos do inverno (tempo seco, baixa umidade do ar, ventos), temos aqueles de caráter antrópico, causados pelo homem, que se encontram associados à estrutura agrária do nosso país, baseada tanto na agropecuária quanto no extrativismo vegetal (exploração de madeira) e na exploração mineral, além da forte pressão dos latifundiários e das empresas do agronegócio, os quais, direta e/ou indiretamente, se encontram envolvidos, entre outras coisas, aos desmatamentos, à abertura de novas fronteiras agrícolas, bem como e, em consequência disso, à grilagem de terras, aos conflitos e a violência no campo nestas regiões.

Em hipótese alguma podemos atribuir a culpa exclusivamente à estação seca, pois - na maior parte dos casos - a queima é provocada pelo homem, de forma intencional ou não.

Sabe-se que ela pode ser de origem natural, como em situações onde houve a queda de um raio na vegetação seca. Não é impossível de acontecer, mas – contudo – são mais raros.

O tempo seco e a baixa umidade contribuem para o fogo e, assim como os ventos fortes para a sua propagação para outros espaços.  Mas, nas proporções espaciais gigantescas, como estão sendo vista, no Brasil, os especialistas garantem que são por efeito da ação do homem, ou seja, são de origem antrópica, ilegais e criminosas.   

De acordo com o IBAMA (2020), 95% dos incêndios florestais que ocorrem no país são de origem antrópica, provocado pelo homem de forma proposital ou acidental.

Além das causas acima citadas, outras também são recorrentes aos incêndios florestais ou outros tipos de queima, por negligência ou até mesmo por uma questão de falta de educação, a saber: queima lixo, sem acompanhamento do seu processo de queima até o final, velas usadas em rituais religiosos, vandalismo, piromania (distúrbio mental, no qual o indivíduo provoca incêndios por prazer), guimba do cigarro jogada ainda acesa sobre a vegetação seca, fogueiras sem acompanhamento, balões, entre outros.

Todas estas atitudes impõem riscos e podem ter graves consequências. Contudo, entre estas, vale chamar a atenção de uma bastante perigosa, de grande irresponsabilidade para quem a pratica ao ponto da mesma ser considerada crime.

Ela ocorre em qualquer lugar, porém é mais recorrente em áreas urbanas. Trata-se da soltura de balões, a qual – embora proibida por lei - ocorre até hoje no país, de forma ilegal. Eu mesma tenho vários registros fotográficos de balões no céu.

As quedas de balões são preocupantes porque estes não têm direção certa, pois são levados pelos ventos, podendo cair em qualquer lugar (terreno baldio, área de mata, no telhado de uma residência, em uma indústria, em ruas ou avenidas movimentadas, em rede elétrica de alta tensão ou em uma pista de aeroporto).

Quanto a este último, o fator de risco é mais grave. Os balões ao colocarem em risco as aeronaves, diretamente, estarão envolvendo um número muito grande de vítimas, no caso de haver um acidente. Daí a atividade de soltar balão ser considerada um ato criminoso, de acordo com o Artigo 261 do Código Penal, o qual cita a questão de exposição dos meios de transportes ao perigo, bem como impedir ou dificultar a sua navegação (meios de transportes marítimos, fluviais ou aéreas). A penalidade a quem cometer é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Ademais, devido ao fato de sua queda provocar incêndios tanto em áreas urbanas quanto florestais, a mesma se enquadra como crime ambiental, como diz a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, em seu Artigo 42:

 Fabricar, vender, transportar ou soltar balões
que possam provocar incêndios nas florestas 
e demais formas de vegetação,
em áreas urbanas ou qualquer tipo 
de assentamento humano:
Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou
ambas as penas cumulativamente.”

  
 Registro Fotográfico do meu acervo particular

Balão próximo à Igreja da Penha
Registro Fotográfico do meu acervo particular

Incêndio provocado pela queda de balão
 Registro Fotográfico do meu acervo particular

Incêndio provocado pela queda de balão
 Registro Fotográfico do meu acervo particular


Encosta queimada
 Registro Fotográfico do meu acervo particular


ANTERIOR (Parte I)...                             PRÓXIMO (Parte III)...

Fontes:

. Confira medidas que podem ajudar a evitar incêndios florestais no período da seca – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), 2020.

. Manual para Formação de Brigadista de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 2010 (Pdf)


. SILVA, Romildo Gonçalves da. Manual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), 1998 (Pdf) 

Brasil: Fogo que arde por queimar - Parte I (Jogo de Forças e Interesses)

Imagem capturada na Internet
Foto (crédito): Mayke Toscano (Secom/MT)

Texto: Marli Vieira de Oliveira da Silva

Todo ano é a mesma coisa...

Chega junho e o processo se inicia. Algumas vezes, começa até antes disso, mas com o passar dos meses se agrava. No entanto, nos últimos anos, a sua prática vem se intensificando cada vez mais e as intervenções – por parte das diferentes instâncias de governo – mostram-se as mesmas, ou seja, ineficientes.

As ações quase sempre são eventuais, seja por razões de aporte de recursos orçamentários insuficientes seja pelo número reduzido de agentes fiscalizadores para cobrir suas extensas áreas.

Paralelamente a essa situação, ao invés de vermos a conjugação de forças entre o governo, agentes políticos, pesquisadores, ambientalistas, indígenas, pequenos agricultores, civis e outras representatividades em prol de um bem comum, assistimos discursos e comportamentos controversos, totalmente opostos, inclusive, ao alinhamento das legislações vigentes quanto à defesa e à prevenção.

Melhor dizendo, seja por não proceder de forma contundente à punição dos infratores, o que acaba perpetuando a legitimidade destas práticas ilegais, seja pelo descaso ao delegar importância secundária a estes problemas e suas consequências futuras.   

O pior é saber que tais procedimentos partem, justamente, daqueles que deveriam cobrar e fazer cumprir a legislação. No entanto, usufruindo do seu poder político, estes são capazes de enfraquecê-la, todas as vezes, que a mesma se configura como um empecilho aos seus interesses.

Estou me referindo às queimadas e aos incêndios florestais que vêm ocorrendo no Brasil, as quais não são novidades, tendo em vista que estas atividades são registradas, anualmente, em todo o território nacional. Que fique claro que são as chamadas “queimadas ilegais”, já que o Código Florestal Brasileiro, autoriza o uso do fogo (queimada controlada) no trato da terra, tanto em atividades agropecuárias quanto florestais, quando este se faz necessário, assim como no âmbito de pesquisa científica e tecnológica (IBAMA, 2017).

Todavia, vale ressaltar que, para fazer uso deste (queima legal) é preciso obter uma autorização prévia junto ao órgão do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), com atuação na respectiva área.

As queimadas ilegais e os incêndios florestais no Brasil sempre foram questões de grande preocupação e ao mesmo tempo, de contestações, tanto a nível nacional quanto internacional, principalmente, no que tange à Amazônia. No entanto, além desta, todos os demais biomas brasileiros são afetados pelo fogo, anualmente, como o Cerrado, a Mata Atlântica, os Pampas, a Caatinga e o Pantanal.

Sob este contexto, grupos de posições e interesses totalmente antagônicos suscitam fortes polêmicas acerca destes problemas ambientais.

De um lado, o grupo que apoia tais atividades em prol do desenvolvimento econômico da região às custas do desmatamento e das queimadas, com base na exploração da madeira, no fortalecimento do agronegócio a partir da expansão de novas áreas de cultivos agrícolas e de pastagens (principalmente, a pecuária bovina). Este grupo é constituído por latifundiários, donos do agronegócio e por políticos, em geral.

Na outra vertente há o grupo que defende o meio ambiente com a conservação das florestas, da vegetação nativa não-florestal, das atividades primárias sem o uso do fogo ou com uso deste de forma controlada. Este segundo grupo, embasado em um discurso conservacionista e de conhecimento científico é formado pelos ambientalistas, pesquisadores (Instituições de Pesquisa e Universidades), pequenos agricultores (agricultura familiar), povos indígenas, entre outros.

Ultimamente, estas discussões se tornaram mais acirradas, após diversas declarações e o anúncio de medidas políticas pelo governo federal, as quais ratificaram a priorização da questão econômica em defesa do agronegócio em detrimento ao meio ambiente, indo totalmente na contramão da conservação.

Cabe destacar, aqui, que o conceito de Conservação não implica em almejar uma situação de floresta “intocável”. Nem se pode pensar nisso, pois não devemos ignorar que existe o homem da floresta, do Cerrado, do Pantanal, da Caatinga e dos demais biomas do país. 

No caso da Amazônia tem-se mais de um povo na floresta, ao considerarmos a partir do povo nativo indígena, tem-se o seringueiro (extrai o látex da seringueira), o piaçabeiro (extrai a fibra da palmeira da piaçava), o peconheiro (extrai o açaí do açaizeiro), o ribeirinho, o quilombola, o pescador, o agricultor e outros (no caso da Amazônia).

Índios
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Fonte: BRASIL 247

Seringueiro
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Foto (Crédito): WWF-Canon/Edward Parker

População Ribeirinha
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Isis Tatiane da Silva
Historiadora e uma das lideranças do quilombo Criaú (Amapá)
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Foto (Crédito): Lilo Clareto/ISA

Neste sentido, o termo Conservação se aplica ao “uso apropriado do meio ambiente dentro dos limites capazes de manter sua qualidade e seu equilíbrio, em níveis aceitáveis” (Vocabulário Básico de Meio Ambiente, FEEMA, RJ, 1992). O seu conceito, portanto, explicita a utilização racional dos recursos naturais, com o desenvolvimento de atividades econômicas inerentes às características de sua natureza, mas cabendo evitar a sua destruição efetiva, pois desta, a sobrevivência dos chamados “homens da floresta” depende. O que se alinha ao conceito de desenvolvimento sustentável.

Indiscutivelmente, os conflitos de interesses são grandes e as forças simplesmente desproporcionais, como sempre constituíram. E o embate continua...  

Outro ponto importante a ser tratado, aqui, se refere às definições de queimadas e incêndios florestais, as quais, mais adiante, retornarei a comentar.

A queimada é definida como técnica rudimentar de limpeza e preparo da terra voltada para a produção agropecuária, ou seja, ela é empregada para facilitar o manejo do solo antes de um novo plantio ou para a renovação de pastagens (pastos degradados). Hoje, ela é empregada de forma controlada, mediante a autorização e monitoramento de um Órgão ambiental.

Já o incêndio florestal se refere à incidência de fogo sem controle sobre qualquer forma de vegetação. O fogo pode ser tanto de origem natural, como na ocorrência da queda de um raio, por exemplo, quanto de derivação antrópica, quando o homem é o responsável, podendo este ser desencadeado por um ato intencional ou negligente. 

Fazendo, à parte, referências às possíveis causas (naturais e antrópicas) do incêndio florestal, a Defesa Civil do Rio de Janeiro o define de forma mais específica:

"É a propagação do fogo, em áreas florestais e de savana (cerrados e caatingas), normalmente ocorre com frequência e intensidade nos períodos de estiagem e está intrinsecamente relacionada com a redução da umidade ambiental”.



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Fontes:

. A Amazônia também é negra – Amazônia Notícia e Informação

. GASPAR, Lúcia. Queimadas no Brasil - Pesquisa Escolar Online - Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 2012. 

. Incêndios Florestais – Defesa Civil do Rio de Janeiro

. KAFRUNI, Simone, PERES, Edis Henrique e BOSCO, Nathália . Queimadas se alastram pelo país, atingindo Pantanal, Amazônia e Cerrado - Correio Braziliense, 2020.

. Os povos da Floresta – Amazônia

. Queima Controlada – IBAMA

. Queimadas, Incêndios Florestais – Ambiente Brasil

Brasil: Fogo que arde por queimar - Parte Introdutória

Amazônia – Agosto/2020 
Imagem capturada na Internet 
Fonte: (o) eco - Foto: Greenpeace


"Os incêndios florestais e as queimadas 
são um dos principais causadores
de perda de cobertura vegetal no país,
pois causam, dentre outros efeitos negativos: 
a destruição da fauna e da flora,
com significativo prejuízo à biodiversidade;
o desgaste da camada superficial do solo,
inclusive com o aumento drástico da erosão,
com perda de solos e assoreamento de corpos de água.
Causam, também, inúmeras doenças respiratórias 
nos seres humanos em razão da inalação de fumaça e cinzas,
gerando danos que afetam 
os interesses da população em geral." 

Demorei, mas consegui terminar os artigos, cujo tema é o mais comentado e, ao mesmo tempo, controverso. Todo ano, o referido assunto levanta muitas discussões entre os grupos de defesa com os que condenam.  

E este ano não foi diferente, mas, para ser sincera, ultimamente, está sendo até pior, pois parte deles tem o apoio e se fortalece com os mandos e desmandos do governo federal na área ambiental. 

Sob interesses escusos, em diversas situações, vê-se o descrédito atribuído ao papel das Ciências, a desvalorização dos trabalhos dos próprios órgãos federais que fazem o monitoramento, o menosprezo a determinados grupos sociais, sobretudo, os povos indígenas e comunidades tradicionais, a legislação não sendo aplicada efetivamente, o direcionamento da responsabilidade dos fatos a quem não pertence a culpa, entre outros aspectos.  

Não foi e nem é a minha intenção, aqui, me aprofundar no seu campo de sua abrangência. A minha mera explanação se baseia em tudo que aprendi, ao longo dos anos, seja nas aulas da Graduação e da Pós-Graduação (Especialização em Meio Ambiente) seja participando de Congressos, Palestras, bem como em minhas pesquisas em artigos científicos, em reportagens publicadas nas mídias, entre outros recursos.  

Sobre uma linha contínua de raciocínio, foquei mais nos aspectos principais dos fatos, nas reportagens divulgadas nas mídias e naqueles em que os meus alunos sempre apresentaram dúvidas.  

Como o artigo ficou muito extenso, muito extenso mesmo, eu optei por compartilhá-lo em várias postagens, as quais são sequenciais de acordo com a minha ideia inicial, sob uma mesma epígrafe: “Todo ano é a mesma coisa...”  

Para contemplar o texto em sua continuidade, ao final de cada postagem, disponibilizei o link de acesso, tanto em termos de prosseguir "Próximo" à leitura sequencial quanto em termos de retornar à postagem "Anterior" 

Por fim, vou compartilhar diversas charges, como sugestões para trabalhar em atividades de leitura e interpretação crítica do tema com alunos. Eu, particularmente, gosto muito de trabalhar em exercícios, atividades dirigidas, testes e provas.  

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

15 de Outubro: Dia do Professor

 

Minha mãe, ao centro, e as filhas 

Texto atualizado em 18/11/2020 às 20h50

Ontem comemorou-se o Dia do Professor (15 de outubro) e, como já comentei neste espaço, justamente, em referência a esta data, eu poderia ter postado uma bonita mensagem, criada por mim mesma ou transcrita, afinal a Internet oferece uma ampla riqueza de opções e de imagens contextualizadas, mas optei por não fazer nenhuma delas. 

E quem me fez tomar outra direção foi o meu sobrinho Bruno Martins, mais conhecido, como Bruno Mad (32 anos), professor de Educação Física e Personal Trainer, em Niterói. 

Em homenagem às tias (todas professoras) e à avó dele, minha mãe Edith Fontes (já falecida), ele publicou no Grupo da Família, no WhatsApp, uma foto onde todas nós estávamos reunidas (a foto acima). Da direita para esquerda, Sueli, Eu (Marli), Roseli, Doroti, Nanci e minha mãe, ao centro.

E, as lembranças vieram na mesma hora, assim como toda a nossa história movida sob uma relação não apenas entre mãe e filhas, mas de educadora, também. 

Nascida em Chavantes (São Paulo), minha mãe foi professora primária na capital paulista e deixou de dar aula, assim que casou com o meu pai e veio morar no Rio de Janeiro. Por opção própria, ela não voltou mais a lecionar por causa do nascimento da primeira filha, da segunda, da terceira... da quinta filha. Isso mesmo, cinco meninas... Quanto trabalho! 

Mas, tanto a sua dedicação como mãe quanto o amor à sua formação docente, a fez ser nossa primeira professora, ao ensinar as primeiras sílabas, a ler e escrever antes de estarmos em um estabelecimento de ensino formal. E, também, ao acompanhar todo o processo escolar de cada uma de nós, orientando e tirando as dúvidas quando estas surgiam ou em preparação para as provas. 

Sendo assim, além de mãe, ela foi uma grande professora, dedicada e amorosa. E foi a sua dedicação que nos despertou o gosto e o interesse para aquele que seria a nossa profissão futura, o magistério. 

Dizem que a vocação se desenvolve com base na aptidão e no interesse da pessoa, sendo o primeiro um potencial inato e o segundo, de caráter externo, sob influência das experiências vividas e do ambiente em que se vive. Daí ser compreensível a escolha de nós cinco, da mais velha a mais nova, Nanci, Sueli (já aposentada), eu, Roseli e Doroti em sermos professoras. E eu posso assegurar, a escolha foi por vocação! Sempre fizemos por amor, tal como ela sempre fez.  

É claro que a realidade de uma sala de aula é totalmente diferente! Mas, as péssimas condições de trabalho, quando das aulas regulares (antes da pandemia da Covid-19), com salas superlotadas, falta de material didático, infraestrutura escolar precária e/ou inadequada, indisciplina dos alunos, falta de acompanhamento familiar, entre outros problemas, não são capazes de nos fazer desacreditar em nossa capacidade de encontrar outros caminhos e estratégias para alcançarmos nossos objetivos. 

Ou seja, mesmo enfrentando esses desafios diários, não desistimos nunca, pois sabemos a importância da Educação e, sobretudo, do nosso papel como agente transformador, responsável pela formação e preparação do aluno para a vida. 

Parabéns a todos os professores! 


"Quando uma pessoa ama o seu trabalho,

ela se destaca entre as demais,

visto que é capaz de viver com 

uma paixão e alegria constantes" 

                                            (autor desconhecido)

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Rede de Ensino Público do Rio de Janeiro em Greve pela Vida

 

Imagem capturada na Internet
Fonte: Pixabay 

Amanhã, dia 13 de outubro, estaremos completando 7 meses de adoção de medidas de segurança e sanitária para conter o avanço do Novo Coronavírus e, consequentemente, da doença Covid-19, no Rio de Janeiro ou, praticamente, em quase todos os estados brasileiros. 

Entre as medidas tomadas pelos governos do estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura da cidade do Rio, como em todo território nacional, constava o isolamento social, o fechamento de estabelecimentos comerciais (não-essenciais), a suspensão das aulas nas escolas da rede pública e privada, entre outras.

Ultimamente, muitas notícias foram publicadas nas mídias quanto ao retorno das aulas presenciais na rede pública de ensino (Municipal e Estadual) do Rio de Janeiro. Entre os anúncios de retorno, já com data fixada e, posteriormente, recuos nestas decisões e a continuidade das aulas remotas (on lime), algumas escolas da rede privada retornaram às atividades presenciais, após a liberação por determinação judicial (Tribunal de Justiça do Estado do Rio - TJRJ). Contudo, o retorno marcado para o início do mês (1° de outubro) foi baixo. 

Há uma perspectiva da rede estadual ter o retorno de suas aulas presenciais no dia 19 de outubro, mas só para as turmas da 3ª Série do Ensino Médio. Na rede municipal (Rio de Janeiro) ainda não há previsão de retorno. 

Eu vou ser sincera, na conjuntura atual, ainda sob a vigência da pandemia Global, enquanto não houver uma vacina eficaz de combate ao Novo Coronavírus e à própria doença Covid-19, o melhor é aguardar. 

Eu reconheço que a situação é muito delicada e complexa, mas as notícias que chegam de outros países acerca de decisões a favor do retorno e, depois, os mesmos voltarem atrás, é uma questão que tem de ser tomada com base na opinião da Comunidade Científica, dos especialistas na área da Saúde. É a minha opinião... 

O que era uma epidemia na China, se espalhou pelo mundo - graças à evolução dos meios de transportes (avião, principalmente) – e se converteu em uma pandemia global. O pior é que parece que está longe de terminar. Houve uma desaceleração em sua propagação, mas os números de novos contaminados não devem ser ignorados. Eles continuam altos.  

No dia 28 de setembro passado, o número de mortos, vítimas da Covid-19, chegou à marca de 1 milhão de pessoas. Ontem (11/10), segundo os dados do mapa interativo da Universidade John Hopkins, esse número atingiu 1.074.492, estando o Brasil na segunda posição do ranking dos países com maior número de óbitos, com um total de 150.198 mortos, atrás dos Estados Unidos (214.639). Hoje, 12 de outubro, no entanto, esse número aumentou e o nosso país já contabiliza 150.488 mortos, ou seja, o acréscimo foi de 290 pessoas mortas por causa da Covid-19, em 24 horas. Ele permanece atrás dos EUA. 


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A tendência é desses números de óbitos não parar de crescer, uma vez que a única medida que poderia frear o avanço do Novo Coronavírus e o aumento tanto do número de casos de infeccionados e de mortos seria haver uma vacina de combate à Covid-19 ou medicamento eficaz, disponível e acessível a todos. Fatos que ainda não podemos contar. 

Só que o comportamento de uma parcela significativa da população parece não acreditar nos riscos e na real necessidade de seguir as orientações do Ministério e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. É preciso que todos cooperem usando a máscara corretamente, seguindo a medida de isolamento social, evitando as aglomerações, entre outras regras. Mas, o que a gente observa nas ruas, seja a qualquer hora do dia, não condiz com isso e, sendo assim, infelizmente, esse problema de saúde pública vai ser de longa duração e mais mortes teremos. 

Infelizmente, nem todos podem cumprir o isolamento social, pois precisam trabalhar. Mas, enfatizo os bares, as praias e outros pontos que estão aparecendo com forte concentração de pessoas e, a maioria, sem uso de máscaras. 

E o pior é que, segundo o Correio Braziliense, a cidade do Rio de Janeiro (capital do estado)  é a que apresenta o maior número de óbitos, com 11.406 mortos, seguido pelos municípios de Duque de Caxias (758), São Gonçalo (739), Nova Iguaçu (630), São João de Meriti (463), Niterói (452), Campos dos Goytacazes (400), Belford Roxo (311), Magé (231) e Petrópolis (227). 

De acordo com o mesmo, até ontem, o estado do Rio de Janeiro possuía 19.308 óbitos e 283.675 casos confirmados, sendo que 372 óbitos se encontram em investigação

Em função disso e de sabermos que, verdadeiramente, a única maneira de estarmos seguros seria poder contar com uma vacina eficaz de combate à Covid-19, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE-RJ) e o Sindicato dos Professores do Município do Rio (SINPRO-Rio), em assembleias realizadas, neste último final de semana, decidiram manter “greve pela vida”, tal como a categoria já havia demonstrado seguir. 

"Os professores e funcionários das escolas estaduais

mantiveram as posições contrárias à volta do trabalho presencial

nas unidades escolares como forma de resguardar

a saúde da categoria, dos alunos e da população em geral

 em um momento em que a média diária

de casos do coronavírus se mantém elevada"

(Comunicado do SEPE-RJ) 

E eu concordo! A greve é pela vida! Já perdi duas primas, vários colegas de profissão e conhecidos, responsáveis e parentes de alunos, todos por causa da Covid-19. Temo, inclusive, pela minha vida, pois faço parte do Grupo de Risco, sou diabética e hipertensa. Não há como ficar tranquila! 

Como sempre falo para os meus alunos nas aulas remotas,   

Devemos continuar seguindo todas as orientações sanitárias e preventivas da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério e das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde. Todo cuidado é pouco! Não se exponham muito, afinal o Novo Coronavírus ainda circula em nossa sociedade, pegando carona em muitas pessoas. Só a gente que não vê (inimigo invisível)! 

Fiquem em CASA! Só saiam se for muito, mas muito necessário! E, pela sua saúde e de terceiros, não deixem de usar a máscara corretamente, cobrindo a boca e os olhas. Além disso, cumprindo com as demais medidas preventivas (não tocar no rosto com as mãos, lavá-las sempre água e sabão de forma adequada, usar sempre álcool em gel após tocar objetos e superfícies, tirar e lavar toda a roupa que esteve na rua e tomar banho). 

Vamos evitar o aumento dos números de casos da Covid-19!