domingo, 22 de novembro de 2020

Brasil: Racismo Velado e Racismo Explícito

 

Imagem capturada na Internet

Ainda sob o contexto das comemorações do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra...  

O verdadeiro sentido desta data nos faz refletir em algo que nos incomoda e é inconcebível, ainda mais nos dias de hoje, quando a sociedade se move para uma maior conscientização quanto à importância do exercício da cidadania, do cumprimento conjugado de direitos e deveres de cada um e de que a base de tudo é o respeito. Só assim teremos um país, uma sociedade justa e igualitária, sob os princípios da verdadeira democracia.  

Respeitar o cidadão...

    Respeitar a opinião do outro...

         Respeitar as diferenças...

              Respeitar o espaço de cada um...

                    Respeitar o seu papel e o seu status social...

                          Respeitar o credo das pessoas...

                                Respeitar a si mesmo...

                                     Respeitar o ser humano...

                                          Independente de sua COR.                                                         

Entre tantos casos já ocorridos, movidos direto e/ou indiretamente pelo mesmo motivo, dois fatos que aconteceram esta semana chocaram o país. E eu volto a dizer, inconcebíveis nos dias de hoje!  

Pois, assim como as Ciências e as tecnologias desenvolveram, com o passar do tempo, as sociedades também evoluíram acompanhando a conjuntura vigente. Sob um longo processo, ela passou de Sociedade Pré-Industrial à Sociedade Industrial, com as revoluções industriais, cujo processo teve início no final do Século XVIII e, a partir da revolução técnico-científica ou III Revolução Industrial (2ª metade do Século XX), esta passa a se caracterizar como Sociedade do Conhecimento ou da Informação 

E é por isso que não podemos admitir, hoje, que a discriminação, o racismo, o menosprezo ao outro, o preconceito e outros comportamentos ofensivos e de crença de níveis de superioridade humana entre as pessoas se mantenham e continuem sendo disseminados na sociedade. Seja por qualquer motivo, desigualdade social, por gênero, por credo, pela aparência física, pela cor, pela faixa etária (o da terceira idade, principalmente), pela opção sexual, suas origens e outros.  

Até porque...

- Somos um dos países de maior miscigenação do continente americano;

- Somos um país plural;

- Cerca de 56% da população faz parte do grupo de negros (pretos e pardos);

- A participação do negro africano não se fez apenas com mão de obra escrava, fez muito pela cultura, pela economia e pela formação da população brasileira;

- Somos todos iguais, perante à Lei (artigo 5° da Constituição Federal de 1988) e à Deus, envolvendo os dois patamares de análise e de interpretação. 

A roupa suja é a única coisa que se deve separar por cor!”  

O que aconteceu com o gerente de uma grande e conhecida loja varejista em um Shopping Center (GV Shopping) no município de Governador Valadares, em Minas Gerais, no dia 15 deste mês, dia do Primeiro Turno das Eleições Municipais. É uma prova de que o racismo ainda existe em nosso país, embora muitos políticos e, até o nosso vice-presidente, Hamilton Mourão, insistem em negar. Não sei qual é o pior, pois até o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, também teve o mesmo discurso, isto é, que no Brasil não há racismo. Dá para acreditar?  

Pra quem não lembra ou não soube, um casal de idosos, ao entrar na loja do Shopping, perguntou pelo gerente. Bruno Mendes, o gerente, estava próximo e se apresentou como tal: “sou eu, em que posso ajudar?”  

Perplexa, a idosa o teria olhado de forma crítica, fazendo o seguinte comentário ao seu esposo: “é inadmissível que um negro gerencie uma loja tão grande como esta”. Saindo, ambos, logo em seguida do estabelecimento comercial.  

Segundo o “Olhar sobre acidade”, o gerente, Bruno Mendes (29 anos) foi zagueiro do Esporte Clube Democrata, em 2013.    


Bruno Mendes - Gerente e vítima de racismo
Imagem capturada na Internet

Sem esperar por esta reação da senhora, Bruno Mendes totalmente surpreso e, ao mesmo tempo, constrangido com o ocorrido, no seu ambiente de trabalho, se dirigiu para parte interna da loja (de acesso só de funcionários).  

Um dos funcionários que testemunhou o triste episódio foi atrás do gerente para tentar conversar e o encontrou totalmente chorando. Aquele casal de idosos foi capaz de abalar a estrutura emocional do Bruno, que por educação e no cumprimento de seu dever, os atendeu, prontamente, se identificando na sua função de gerente, a fim de poder ajudá-los.    

No dia seguinte (16/11), ao chegar no GV Shopping, para mais um dia de trabalho, Bruno Mendes foi recepcionado, em uma das entradas do mesmo, por um funcionário que segurava um cartaz com a seguinte frase: “Você é importante”.  

A surpresa não ficou só por aí... Ao entrar na loja em que trabalha, toda a equipe já o aguardava com diversos cartazes nas mãos com mensagens de repúdio à intolerância, ao racismo e ao preconceito, tais como:

- “Estamos com você, Bruno”,

- “Racismo é crime”,

- Minha cor, meu amor”,

- “O racismo é a prova do quanto ainda somos primitivos",

- “A roupa suja é a única coisa que se deve separar por cor!”, entre outras.  

O casal que o abordou e o destratou não foi identificado.

O vídeo da recepção e homenagem ao gerente Bruno Mendes, ao chegar na loja, viralizou na Internet, sendo compartilhado nas redes sociais. Para assisti-lo, clique na palavra VÍDEO!   


Vidas negras importam!! Não só nos EUA” 

O outro caso explícito de racismo foi mais grave, pois resultou em morte... Movido também sob crime de racismo, o episódio ocorreu mais recentemente, no último dia 19, ou seja, na véspera do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (20/11).  

De acordo com as notícias divulgadas, por meio televisivo e na Internet, João Alberto Silveira Freitas (40 anos) foi espancado e asfixiado até a morte, por dois vigilantes de segurança (Grupo Vector), em uma unidade do Hipermercado Carrefour, em Porto Alegre, situado no bairro Passo D'Areia.  


Imagem capturada na Internet
Fonte: UOL Notícias 

João Alberto estava acompanhado da esposa e, segundo o que foi publicado nas reportagens, a agressão começou após ele ter se desentendido com uma funcionária do Hipermercado, tendo sido retirado da área dos caixas pelos dois vigilantes e levado para a entrada da loja. Em outro site, gazetaweb, afirma que, na entrada da loja, para onde foi levado, a briga começou após o João Freitas ter desferido um soco em um dos vigilantes, que era um PM. O outro era um ex-militar.  

O espancamento foi filmado. E segundo as mídias, João Alberto pedia ajuda, mas os vigilantes impediam que alguém chegasse perto dele. 

Este caso teve repercussão internacional e até foi comparado ao caso ocorrido nos EUA, quando George Floyd (40 anos) foi morto por um policial, em Minnesota, no final de maio deste ano. 

A imprensa estrangeira também noticiou, como – por exemplo - os jornais “The Washington Post” (EUA) e o “La Nación” (Argentina), assim como também as agências internacionais de notícias, como AFP e Reuters 

Até a Organização das Nações Unidas (ONU) se manifestou em repúdio a este caso e ao racismo no Brasil. Em nota, ela expressou que “milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo as suas formas mais cruéis e violentas “. Ressaltando que o racismo e a discriminação racial precisam ser extintos e para isso torna-se necessário promover um debate com todos os seus agentes da sociedade, incluindo o setor privado.  

E fez questão de lembrar que “a proibição da discriminação racial está consagrada em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e também na legislação brasileira” 

A ONU Brasil solicitou a plena e rápida investigação do caso, bem como a punição apropriada aos autores do crime, entre outras medidas.  

Vários protestos populares também aconteceram em nosso território nacional, inclusive, afetando diretamente algumas unidades do Hipermercado Carrefour, com depredações, saques e pequenos incêndios.  

Imagem capturada na Internet
Fonte: Portal G

O Grupo Vector, empresa terceirizada contratada pelo Carrefour, rescindiu os contratos de trabalho dos dois vigilantes, por justa causa. Era o de se esperar!  

Ambos, vigilantes de segurança estão presos. Foram autuados em flagrante por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e por impossibilidade de defesa da vítima. 

 

Fontes  

. Correio Braziliense  

. G1 – Vales de Minas Gerais 

. Gazeta Web – Portal de Notícias  

. O Sul  

. Olhar sobre a Cidade  

. Poder 360

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