Retomando a temática anterior acerca do Dia da Favela (04 de novembro), agora, sob o contexto histórico de sua origem, muitas palavras se misturam sob o mesmo ensejo, como Guerra de Canudos, Exército Brasileiro, Antônio Conselheiro (líder religioso), Morro da Providência, Faveleira e delegado Enéas Galvão.
Enfim, o que estas palavras nos remetem? Remetem-nos, justamente, à origem do termo “favela” e, ao mesmo tempo, a sua ligação histórica entre o atual município de Canudos (Bahia) e o Morro da Providência (Zona Central da cidade do Rio de Janeiro).
A ligação histórica entre essas duas áreas tem a ver com a Guerra de
Canudos (07 de novembro de 1896 a 05 de outubro de 1897), travada no
sertão, no atual município baiano (na época tratava-se de uma "comunidade"),
entre o Exército
Brasileiro e os seguidores de um movimento social e religioso, liderado por
Antônio Conselheiro.
Sem entrar no mérito de explorar e aprofundar o conflito armado, em questão, a vitória das tropas do Exército só veio a acontecer na quarta expedição militar, depois três fracassadas, o que resultou na destruição total da comunidade de Canudos.
Soldados de vários estados brasileiros foram convocados para lutar na Guerra de Canudos e, consequentemente, nas quatro expedições do Exército.
Segundo fontes de pesquisa, em ambos os lados, o número de mortos foi muito elevado. Estima-se que entre as baixas houve aproximadamente vinte e cinco mil sertanejos mortos (seguidores de Antônio Conselheiro e, inclusive, o próprio) e cerca de cinco mil soldados. Daí a Guerra de Canudos ser conhecida como o “grande massacre nordestino”.
Na ocasião, o governo junto ao Ministério da Guerra prometeu aos soldados – em caso de vitória dos mesmos no conflito - a entrega de uma residência a cada um deles, o que não foi cumprido.
Mediante a essa situação, os soldados (cerca de 10 mil combatentes) e migrantes nordestinos (incluindo ex-escravos) ocuparam e se apropriaram da encosta do atual morro da Providência, localizado no Centro do Rio de Janeiro, próximo à Estação Ferroviária Central do Brasil.
Muitos, na perspectiva de fazer uso do solo com plantações na nova
área, trouxeram - do sertão baiano - mudas de uma planta bastante comum na região sertaneja
conhecida, popularmente, como Favela ou Faveleira (Cnidoscolus quercifolius),
as quais foram plantadas no morro. Daí o seu nome inicial ter sido Morro da Favela.
Posteriormente, não se tem a data precisa, o mesmo passou a ser referenciado como “morro da Providência” em razão do seu histórico ligado, justamente, à “providência” tomada pelos soldados em ocupar a encosta do morro diante do não cumprimento da promessa por parte do governo aos combatentes.
Segundo reportagem publicada na revista EXAME (2022), o Morro da Providência foi citado, pela primeira vez, como uma favela - há 122 anos - após a divulgação de um documento oficial elaborado pelo delegado de Polícia, Enéas Galvão, o qual foi direcionado ao governador do Rio de Janeiro na época.
Neste documento, datado do dia 4 de novembro de 1900, o delegado Enéas Galvão se referiu à esta favela (Morro da Providência) como um lugar de “desgraça, de lixo, de guerra, de gente estranha e tudo que era ruim”.
Por ter sido mencionado oficialmente, pela primeira vez, o termo favela, nesta data (4 de novembro) é que ela foi escolhida como referência ao Dia da Favela.
E, em razão disso, considera-se - oficialmente
- o Morro da
Providência como a primeira favela do Rio de Janeiro e do Brasil.
. Dica de Exposição Fotográfica: Morro da Providência – Blog Geografia em Foco
. Dia da Favela: conheça a história do 4 de novembro, nas palavras de Celso Athayde, da Cufa - EXAME
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